sábado, dezembro 31

You call that a miracle?


Um milagre Católico: a anunciação da concepção sem sexo.

Um milagre Científico: o anúncio do sexo sem concepção.

Now, who's your daddy?

Deus é um amador.

sexta-feira, dezembro 30

Voltando ao Reiki

Uma busca na net mostrou-me que a história que eu li na FNAC sobre o Reiki é falsa. Achei interessante contá-la, apesar de tudo. Usui nunca foi reitor de um seminário cristão. Limitou-se a ter alguma curiosidade pela cristianismo, como todo o bom japonês do século XIX. Como é que surgiu esta história, que continua a ser repetida? Bem, os americanos estão cheios de dinheiro para gastar e o Reiki até lhes faz bem. É uma pena eles serem tão intolerantes contra o que quer que seja que possa ser visto como em oposição à religião cristã. Uma mentirinha por uma boa causa não faz mal nenhum...
Esta descoberta não mudou a minha opinião sobre o Reiki. Continuo a acreditar na possibilidade de o Reiki funcionar mesmo, sem descartar a hipótese de ser uma aldrabice. Se achar que funciona, quero aprender mais sobre o assunto. Acho que fazer uma pequena investigação deste tipo é um exercício epistemológico extremamente salutar. É essa a razão que me levou a escrever estes dois posts.
A mentirinha referida acima é apenas uma forma extremamente grosseira do tipo de mitificação que encontramos neste tipo de actividades. Tanto quanto consegui perceber existiam no Japão várias praticas terapeuticas semelhantes ao Reiki. O problema dessas tecnicas era que no fim de cada sessão o terapeuta ficava exausto. Uma parte da sua energia vital era transferida para o paciente. Usui terá conseguido que a sessão terapeutica tivesse efeitos revitalizantes para as duas pessoas envolvidas.
Normalmente a historia é contada de outra maneira. Todas a pré-história do Reiki é apagada e Usui é apresentado como tendo descoberto o Reiki num momento de contemplação mística. Como todas estas coisas aconteceram há cerca de um século, não se consegue apagar tudo. Ia terminar o post com uma versão moderada das ideias expostas pelo OMWO a propósito dos Mormons. Estes jovens fogosos...
Vou apenas lembrar que nada sabemos sobre a vida de Jesus até ao dia em que foi baptizado, por volta dos trinta anos. Acho quase certo que existiu uma homem chamado Jesus. O que é que esse homem fez durante trinta anos? A resposta parece-me obvia: andou a aprender a ser Cristo. A actividade religiosa na Judeia era extremamente rica. Muita gente lhe terá ensinado muita coisa. Apagar essa história é um ingrediente fundamental da construção do mito.
Não resisto a um paralelo blasfemo. O meu ex-vizinho Mourinho tornou-se rapidamente um mito de primeira grandeza porque caiu do céu e começou a ganhar tudo de um dia para o outro. Ele é o primeiro a lembrar que levou duas décadas de trabalho duro a transformar-se num sucesso instantaneo. Não lembra demasiadas vezes porque tem uma série de contratos publicitários e não convém estar a prejudicar o negócio dos seus clientes.

quinta-feira, dezembro 29

Miracles are for mor(m)ons

No início de uma religião os milagres são essenciais. No fundo são a única "prova" da natureza divina da mesma. O problema é que são truques de ilusionismo baratos que só convencem os imbecis e os desesperados. Mas, quando uma religião é jovem, é a esses que se dirige. (e.g. a seita, perdão, a igreja universal do reino de deus hoje em dia, ou a igreja católica no pasado)

Quando uma religião cresce envergonha-se dos seus milagres. Deixam de haver milagres novos, só ha os antigos, que estão protegidos pela tradição ancestral, que são suportáveis porque aconteceram "ha muito muito tempo atrás, numa terra muito muito distante", como nos outros contos de fadas.(e.g. a seita, perdão, a igreja católica hoje ou a igreja universal do reino de deus daqui a uns séculos)

Porquê? Porque uma religião estabelecida já conta com outras forças, e dirige-se a outro publico: ao publico geral, e mesmo ao intelectualmente desenvolvido, e esse não vai lá com milagres que lhe insultam a inteligência, a não ser os tais muito muito antigos, cobertos por um pudor nebuloso e pela força da tradição. As armas para tomar esse publico incluem ainda o medo da morte e o desespero da vida, mas já não os milagres - em vez desses temos a tradição familiar e social, o hábito, o costume - influenciados desde a nascença por pais e antepassados, as classes educadas coíbem-se polidamente de usar o cérebro para pensar na sua religião com a mesma clareza que usam ao tratar de engenharia ou física.

No outro dia duas meninas americanas da religião Moron - perdão, Mormon, vieram bater-me à porta. É uma seita comparativamente recente que teve o mau gosto de situar no século passado o seu milagre fundamental (que é idêntico à entrega das tábuas a Moisés só que sem a decência de ter ocorrido em tempos imemoriais). Pareciam-me miúdas inteligentes e fascinava-me que acreditassem naquilo. Queria saber o que as convencera. Mantive uma conversa com elas durante várias sessões até que me apercebi que os pais delas já eram Mormons. Aí perdi o interesse, não havia nada a explicar.

Aí está a minha tese: os milagres são para os morons. E é com os morons que começam todas as religiões.

REIKI

O Reiki é uma terapia desenvolvida no século dezanove pelo japonês Mikao Usui. Não se trata de uma massagem. Apenas se aproxima as mãos do corpo da pessoa e se deixa que a energia do nosso corpo flua para ela. O ideograma Ki do Reiki é o mesmo que aparece em Aikido. Representa a energia. Sempre tive curiosidade pelo Reiki. Tenho andado à espera de encontrar alguém em que pudesse confiar que me indicasse um verdadeiro especialista do assunto. Descobri outro dia que uma minha colega do yoga tem o grau máximo do Reiki. Entretanto estou a escrever este post por uma excelente razão: ainda não percebo nada do assunto.
Li há uns tempos na FNAC uma história que me intrigou um pouco. Queria partilhá-la com os leitores deste blogue. Mikao Usui era o reitor de um seminário cristão no Japão no tempo da revolução Meiji. Mikao costumava usar como grande argumento para converter os japoneses à sua fé o facto de Jesus realizar milagres. Para ele, essa era a grande prova da dividade de Jesus. Um dia um grupo de alunos do seminário perguntou-lhe se era ainda possível fazer milagres. Já que existiam provas tangíveis do poder da religião católica, queriam saber se a fé poderia ajudar alguém a curar outros.
Usui ficou extremamente perturbado com esta pergunta e depois de uma longa meditação resolveu resignar da sua posição no seminário e não descansar até poder mostrar que se pode curar alguém pelo poder da fé. Depois de estudar as mais diversas tradições sem ter obtido quaisquer resultados, iniciou um longo jejum. Quando já estava no limite das suas forças chegou-lhe finalmente a inspiração divina. Foi então que criou o Reiki.
O Reiki é actualmente muito popular nos Estados Unidos, com centenas de milhar de praticantes. Em Portugal já devem existir pelo menos uma meia centena de terapeutas. É fácil encontrar anúncios nos jornais. Estão misturados com os anúncios de outro tipo de massagens bem mais populares. O Reiki tem tido um estatuto bem mais controverso do que o do Do-in, uma outra técnica japonesa inspirada nos princípios da acupunctura. Os médicos põem em causa a sua eficácia. Alguns grupos de cristãos fundamentalistas não consideram que se trate apenas de um efeito placebo. Acham que é uma prática diabólica.
Não compreendo muito bem o raciocínio de Usui. Se os milagres de Jesus eram uma manifestação especialmente poderosa de uma técnica semelhante ao Reiki, não significaria isso que não podemos usar os milagres como uma prova da divindade de Cristo?
Termino este post com algumas perguntas.
1. Acham possível que uma técnica como Reiki seja mais do que um efeito placebo?
2. Acham que Jesus Cristo efectuou curas extraordinárias?
Acham que essas curas eram uma violação das leis da natureza?
(É essa a definição habitual de milagre)
3. Acham que é possível que as curas eventualmente efectuadas por Jesus possam ser replicadas por outros seres humanos?
4. Para os cristãos: a vossa fé depende da crença na divindade de Jesus e da crença no facto de ele ter efectuado actos sobrenaturais?

quarta-feira, dezembro 28

Pode-se prever sismos? Parece que sim...

Mais uma impossibilidade científica que desapareceu. É curioso como alguns especialistas se irritavam quando alguém ousava afirmar que alguns animais conseguiam pressentir terramotos. Agora nós também já somos capazes! Clique no título para visitar o post do CA sobre o assunto.

A mais velha profissão


Durante a pré-campanha voltámos a ouvir os comentários do costume sobre as coitadas das prostitutas exploradas pelos homens. O Francisco Louçã e os outros acreditam mesmo nas coisas que disseram?
Acredito que existam redes que exploram mulheres. É bem provavel que muitas tenham caído na prostituição depois de terem perdido o emprego. Também me parece indiscutível que muitas jovens escolhem essa via após uma análise racional da situação: não tém problemas morais de maior, não encontram outra opção "profissional" que se possa comparar com esta em termos de rentabilidade. Acham que a Anita é uma mulher explorada? Podem crer que não. Mais que não seja, porque não é uma mulher.
Parece-me claro que a percentagem de pessoas que se dedicam à prostituição sem ter sido coagidas por terceiros ou por necessidades monetárias prementes está a aumentar. Até já existe um novo género literário: o diário da call girl. Foi criada na Holanda uma escola especializada nesta profissão.
Se a prostituição é a exploração da mulher pelo homem, porque é que os homens (travestis, homossexuais, gigolos) já representam um quinto da oferta nos anúncios do Correio da Manhã ou do DN? Os prostitutos masculinos não são explorados, pois não? E porque é que uma percentagem razoável dos anúncios já se destina ao público feminino ou a casais? O que é que se quer dizer quando se usa o termo "explorar"?
Sendo a prostituição legal em Portugal, basta ver os anúncios nos jornais, porque é que não paga impostos? Estamos a criar uma nova geração de jovens habituados a ter tudo e trabalhar pouco. Sendo cada vez mais difícil arranjar um emprego bem pago, tudo o que se faça para tornar certas saídas profissionais um pouco menos lucrativas só nos deixará dormir mais descansados.

A Europa


Foi por acaso que a ciência moderna, o iluminismo e a revolução industrial aconteceram na Europa, ou nem por isso? Essa especificidade da Europa (da civilização ocidental) aconteceu por causa da separação entre o sagrado e o profano instituida pela religião cristã, ou aconteceu apesar da religião cristã ter passado a dominar a Europa?
Estas e outras questões tém estado em discussão no nosso cartão de Natal. Agora passam para aqui.

Foto: A Europa à noite.

terça-feira, dezembro 27

Amor na Net: A Margarida e a Matilde

Mais uma rosa


Estamos a perder mercados nos texteis e no calçado. Kenianos e etíopes tomaram conta das corridas de fundo. No desporto também se torna necessário procurar novos nichos, em sectores mais técnicos. Em épocas de crise as medalhas de ouro olímpicas dão sempre um pouco mais de esperança e de confiança. São um Prozac sem efeitos secundários.
A Vanessa foi a Pequim ver a pista onde se vai disputar o triatlo olímpico de 2008. Chegou ao fim da prova de natação nas dez primeiras. Filha de Venceslau Fernandes, vez juz ao nome de família e acabou a etapa de bicicleta na frente. Depois desatou a correr e foi-se embora.
A Vanessa gostou do filme e agora repete-o sempre. Já lidera o ranking mundial, aos vinte anos. A Mãe Natal do nosso contentamento?

segunda-feira, dezembro 26

Evo Morales

Em 2001 o governo boliviano, sob pressão do Banco Mundial, privatizou a companhia das águas e declarou toda a água da Bolívia propriedade privada. Para usar a água de um poço ou para recolher água da chuva era necessário obter licenças da International Water Limited, uma multinacional controlada pela Bechtel Corporation. A implementação de tais leis levaria a que nalguns distritos onde o poder de compra médio ronda os 90 euros a população tivesse de gastar 20% desse valor em água. Evo Morales foi um dos lideres do movimento que se opôs com sucesso à implementação desta lei.
A Bolívia é um grande produtor de coca. Alguma dessa coca é usada para produzir cocaína. Acontece que a coca é produzida pelos nativos desde tempos imemoriais. É muito complicado trabalhar a grandes altitudes sem mascar coca. O governo americano quer lutar contra a droga proibindo a sua plantação. Morales lidera o movimento que se opõe a essa proibição, a qual perturbaria seriamente o modo de vida dos indigenas bolivianos. Ele pediu várias vezes que fossem realizados estudos para determinar qual a percentagem de droga que é usada para produzir droga. Sempre se manifestou a favor da proibição da produção de cocaína.

Evo Morales acabou de ser eleito presidente da Bolivia. O primeiro indigena das Américas a chegar a tal posição em quatro séculos de história. Não vai ter direito aos cem dias de graça. Já se iniciou uma campanha com vista a desacreditar Morales. Não era de esperar outra coisa.
Agradeço ao Lino ter chamado a atenção para este problema.

sábado, dezembro 24

FELIZ NATAL

Boas Festas? Quando desejo algo de bom a alguém, desejo o melhor possível. Ninguém deveria ficar zangado por lhe desejarmos aquilo que para nós é o melhor possível. Neste caso, o melhor é o Natal. Ateu católico, porque foi dentro do catolicismo que me tornei ateu, acho que o Natal também é meu. As memórias que tenho de todos os natais que passei, umas melhores, outras piores, são minhas.
O cristianismo é única religião que estabeleceu uma demarcação entre o sagrado e o profano, entre Deus e César. Jesus Cristo está na origem da diferença radical entre a civilização ocidental e todas as outras. Em ultima análise, foi do estabelecimento desta demarcação que resultaram o renascimento, o desenvolvimento da ciência moderna, a revolução industrial, a liberdade de expressão, os complexos de culpa pós-modernos dos ocidentais, o ateísmo enquanto fenómeno de massas, o domínio do sul pelo norte e a bomba atómica. Merece sem dúvida que lhe seja dedicado o dia mais importante do ano.

Feliz Natal!

sexta-feira, dezembro 23

Paulo Portas

No DN, via Ponte Europa. O PP entreteve-se a microfilmar os segredos de estado do Ministério da Defesa?

Fica para o próximo

Então eu não mereço uma Gravity? Serve para trabalhar, para ler um livro repousadamente e para dormir a sesta. A Stokke é lider mundial em ergonomia. Faz umas cadeiras extraordinárias para os miúdos, que acompanham o seu crescimento. Já conheciam? Essas, são as imitações baratas. Nós adultos, também não fomos feitos para estar parados. A posição ideal, é a próxima. Quando estas cadeiras, não há dores de costas. Muito cara? Pronto, fico contente com uma variable. Não se riam, experimentem primeiro. Estes senhores tém uma parecida, mais baratinha. Nem dá para meter uma foto. O isqueiro? está aqui.

quinta-feira, dezembro 22

Trivialidades Venusianas II

A Sofia e a Madi fizeram dois excelentes posts sobre os homens em resposta ao meu desafio. Enquanto gastavam a sua energia a escrever os posts, esqueceram-se de me linchar...
A Sofia faz a comparação odiosa do costume e a Madi lembra-nos que nós homens somos pouco mais do que seres unicelulares (espermatozoides?). A Sofia lembrou também o livro Os Homens são de Marte e as mulheres são de Vénus, inspiração parcial do meu post. Melhor que este livro: a série inglesa Ligações (Coupling). Aprendemos sempre qualquer coisa e rimos ainda mais.
Mesmo os produtores desta série sentiram necessidade de se desculpar por fazerem humor com as mulheres. Embora também façam humor com os homens. Vejam as fotos abaixo. A imagem das três protagonistas foi tirada com uma iluminação perfeita, elas estão bem vestidas e bem maquilhadas. Os homens foram tratados da forma habitual...
Porque é que as coisas são assim? Entre outras coisas porque são vocês que mandam. São a maioria. Do que é que estão à espera? Elejam uma Presidenta e não se fala mais nisso.

quarta-feira, dezembro 21

Trivialidades marcianas I

Quando as mulheres falam dos seus problemas a um homem é normal que este apresente possíveis soluções para o problema ou tente resolvê-lo. A mulher fica normalmente furiosa perante essa reacção do homem. Confuso, ele vai falar com os amigos. Um mais experiente explica-lhe que quando uma mulher te fala de um problema ela só quer que tu a escutes e lhe demonstres a sua solidariedade. Mais nada. Qualquer outra acção será considerada uma falta de atenção imperdoavel.
Da vez seguinte o homem já está preparado. Resiste estoicamente mas acaba por cometer o erro. É obvio que a solução para o problema é...
Á terceira continua a não acertar. Pergunta-se porquê. Acaba por encontrar uma resposta num blogue. A linguagem corporal da mulher e a sua forma de exprimir-se são interpretados pelo sistema nervoso do homem como um pedido de socorro. Activado o sistema simpatico a libertação de adrenalina impele irresistivelmente o homem para agir, lutando ou fugindo.
Conclui de uma consulta à Wikipedia que um alto nível de adrenalina no sangue acaba por provocar dores de cabeça, palpitações, taquicardia, hipertensão e, nalguns casos, edema pulmonar agudo.
Um blogue menos digno de crédito afirma mesmo que é este tipo de interacções entre os dois sexos que explica porque é que a esperança de vida das mulheres é dois a três anos superior à dos homens.
Um blogue feminino sugere que estes problemas podem ser evitados se a mulher começar por explicar pacientemente ao homem que ele não precisa de fazer nada, só ouvi-la. Deve repeti-lo regularmente durante a conversa, sempre que o homem der sinais de ir entrar em panico.
A autora do blogue foi rapidamente desmascarada. Era um travesti. Um anónimo, certamente um homem empenhado em denegrir a imagem da milher, comentou que assim a conversa já não nos descontrai. Para além do mais, perde toda a piada.

Trivialidades Venusianas

Embora vários livros tenham explicado a cada sexo como é que o outro funciona, a minha experiência do últimos dias diz-me que não resultou daí grande melhoria nas relações entre os dois sexos. Foi por isso que escrevi o post acima.
Para equilibrar os pratos da balança, tentei escrever algo parecido, mas visto do ponto de vista das mulheres. Como isso ultrapassa largamente as minhas capacidades, aqui fica o desafio. Expliquem-nos como é que as mulheres vêem as relações com os homens. Nós queremos aprender. De preferência rindo um pouco pelo meio (se formos capazes).
Escrevam um post no vosso blogue sobre o assunto. Se não tiverem um, enviem um texto por mail. Esperamos que os homens também mostrem o que valem, embora as senhoras levem alguma vantagem. Se houver interessadas (os) até podemos organizar um pequeno concurso...

terça-feira, dezembro 20

Um Kalendário Singular

PPPEEEDDDOOOOFFFIIILLLLIIIIIIAAAAA

Não sei por é que não se fala mais do assunto. Medo de levar com um processo em tribunal?

O actual Procurador Geral da República cometeu certamente alguns erros. Convém no entanto lembrar que, antes de ele chegar ao lugar, Portugal era o único país da europa ocidental onde ninguém importante era alguma vez acusado de que quer que fosse.

Cada vez que oiço um político ou jornalista a criticar o PGR, ignorando tudo o resto, passa a haver mais uma pessoa neste país em que eu não posso confiar.
Quando chegar o próximo arquivador, não tenho dúvidas que muitos o acusarão de nada fazer, na confiança absoluta de que as suas palavras não o farão cair.

segunda-feira, dezembro 19

O Centro e a Periferia

Os pais costumavam ser poucos e os filhos muitos. Alguns morriam. Era normal. Ficavam sempre alguns para cuidar dos pais na velhice. Os mais velhos estavam no centro da família. Era-se filho de. Depois a prole começou a diminuir e o centro deslocou-se. Quando nasce a primeiro criança da nova geração todos mudam de estatuto. Passam a ser o avô da, a mãe do. Os pais da são rapidamente promovidos a motoristas da, dividindo o seu tempo entre o ballet, o inglês e a natação.
Em cada famíla uma geração pagou o preço da mudança. Nunca saíram da periferia. Envelhecer é também mais duro agora. As maleitas da idade deixaram em geral de ser compensadas com uma maior atenção e poder. São agravadas pelo afastamento para a periferia. Tudo está bem desde que aparentemos a idade de um jogador de futebol. A idade que James Bond deve aparentar, embora o actor seja muito mais velho.
Os barrigudos da primeira geração de jovens que nasceu no centro não aceitam de bom grado o afastamento para a periferia. Têm agora o direito a uma série de televisão em que o mundo é visto do ponto de vista de um quarentão barrigudo, o gangster Tony Soprano. Embora reconheçam a qualidade da série, é normal os jovens de vinte e pouco anos embirrarem com ela. Não sabem bem porquê. Talvez porque não estão habituados a ver alguém que não eles no centro do mundo?
Desperated Housewives é o equivalente feminino d'Os Sopranos.
Durante séculos as pessoas caminhavam ao longo da vida da periferia para o centro. Agora é o contrário. Esta nova situação não é estável. Ninguém quer largar o centro. Para onde irá evoluir?

O som do que não se diz (III)


Há uns dias ia no carro e ouvi momentaneamente a emissão de uma daquelas igrejas brasileiras da moda. O "pastor" dizia qualquer coisa do tipo:

"Todos os homens, independentemente da sua raça, nacionalidade, ou estatuto social, têm um desejo (...)"

O que falta aqui? Find (the invisible) Wally.

Às vezes o que não é dito diz tudo.

O maior sonho de uma religião é tornar-se tão dominante que a própria palavra "religião" deixe de existir no dicionário.

O som do que não se diz (II)


"Racism, of course, is not possible without a concept of race."- Robyn Conder Broyles


Vamos supor que negávamos a validade científica do conceito de "raça" e baníamos dos documentos oficiais qualquer referência a esse conceito. Isto não é ficção, é um dos bastiões de certas facções do politicamente correcto.

Uma vez tomado tal passo há uma miríade de medidas que não podem ser, não só tomadas, mas mesmo enunciadas em tais documentos. Há um conceito que desaparece de discussão porque não tem nome. Isto é totalmente artificial porque, "cientifico" ou não, o conceito de raça está presente nas mentes dos cidadãos, e constrange as suas interacções. Não desaparece do terreno por desaparecer do papel.

Mas agora tome o passo seguinte: proíba a menção do conceito (tornando esse simples acto como "hate crime" - note-se que não utilizei a palavra "racismo" já que não há "raça") em livros escolares, artigos de jornal, etc. Censure-o da televisão sempre que alguém o mencione em entrevistas de rua. Se fizer isto bem feito ao fim de uma geração ou duas a palavra e o conceito serão apenas usados por meia dúzia de velhotes "reaccionários" e decrépitos, e apenas às escondidas. Conversa de velhos senis!

Deixa de se poder falar de uma data de coisas. Certas frases deixam de ser compreendidas pelas novas gerações, donas de uma linguagem mais pobre. Certos comportamentos de grupo e afinidades e hostilidades mútuas tornam-se ncompreensíveis. Mas será que desaparecem?

Há quem diga que sim. Desprovido de nome, o problema esfuma-se magicamente. Na minha opinião, tal não tem funcionado, não dá mostras de vir a funcionar, e ainda que funcionasse não pagaria o preço de sermos cada vez mais uma carneirada acéfala e cobarde. Trata-se de novo de escolher: enfrentamos o mundo livremente, corajosamente, conscientemente, ou protegemo-nos, dando em troca a nossa liberdade de pensamento e de acção, e a nossa coragem?

É de novo a velha escolha entre liberdade e segurança...

domingo, dezembro 18

O amor na Net: A Sofia e a Rita

O Povo não deve ser soberano


O povo não deve ser soberano a propósito da pena de morte.

Ouvi agora mesmo esta frase no programa Eixo do Mal da Sic Notícias, proferida por Daniel Oliveira, um dos fundadores do Barnabé e membro do Bloco de Esquerda. A frase pareceu ser consensual. Ninguém se manifestou contra. Vejamos o contexto da frase. Falava-se contra o facto de os Estados Unidos admitirem a pena de morte. Foi dito que eram os cidadadãos de cada estado que decidiam, porque os estados eram soberanos. DO disse que os estados não deveriam ser soberanos. Além disso, nem o povo devia ter o direito à soberania nestas matérias.
Que lhes parece?

sábado, dezembro 17

O som do que não se diz (I):


O discurso "Politicamente Correcto", mais do que um discurso (como o "discurso de esquerda" ou o "discurso de direita") é uma linguagem. O importante não são as posições que toma mas os vocábulos que introduz, e, mais crucial que tudo, os que elimina. É um exemplo de Newspeak, um ingrediente fundamental de qualquer bom pesadelo Orwelliano. Quando limitamos adequadamente a linguagem, as críticas ao status quo deixam de ser sequer blasfémias, passam a ser frases-mal-formadas, desprovidas de significado. É esse o propósito destas "inovações linguísticas". O seu verdadeiro propósito só se sente nas gerações seguintes, que não conseguem sequer fazer o "parsing", a descodificação, das frases que no passado eram blasfemas, mas que na nova linguagem já nem frases são.

sexta-feira, dezembro 16

Politicamente Correcto

O totalitarismo costumava ter um rosto: Hitler, Staline, Mussolini. Hoje o maior perigo totalitário é o Politicamente Correcto. É um fenómeno contra o qual é difícil lutar. Como nasceu? Quem tem a ganhar com ele, quem o promove? Parece ter começado nos Estados Unidos. Começou por ser uma procura de uma solução para a convivência entre os vários grupos étnicos. Pretendia a interdição de certas expressões consideradas ofensivas. É cada vez mais uma forma de condicionar a nossa forma de pensar a todos os níveis.
Como podemos lutar contra o politicamente correcto num blogue?
A forma de luta mais elementar consiste em fazer o contrário do que é politicamente correcto. Muitos dos meus posts são desse tipo.
Outra forma consiste em desmontar alguns dos truques do políticamente correcto. Fica para uma próxima oportunidade.
Finalmente, temos o post anti-totalitário. Vamos a um exemplo. No sábado o Lutz escreve o post Interrogatório (2), onde pergunta:

Se um governo continua a permitir e encobrir a violação sistemática dos direitos humanos por serviços que lhe estão subordinados, acha sustentável votar nele, porque porventura concorda com a sua política noutros assuntos?

Eu respondo nos comentários Acho. Eu saio do quadro aceitável perversamente estabelecido por este post totalitário. Levo alguma pancada. Mais tarde o Lutz escreve um comentário onde básicamente diz o meu que eu, de uma forma menos provocadora. As pessoas aceitam. Ao fazê-lo são descondicionadas relativamente aos truques do politicamente correcto. Um post deste tipo funciona como vacina para o tipo de condicionamento que o politicamente correcto nos impõe. A posteriori, transforma-se num post anti-totalitário!

Nós pensamos da forma como discutimos. O problema fundamental do condicionamento ao nosso discurso é que ele acaba por limitar a forma como raciocinamos. O mais importante não é o número de neurónios que possuímos mas o número de sinapses (ligações) existentes entre entre essas células. Digamos que se não pudermos dizer (logo pensar) a frase a mulher é um ser inferior estamos a limitar o número de combinações que o nosso cérebro pode produzir. Estamos assim a diminuir a clareza dos nossos raciocínios e a limitar a nossa criatividade.

A Madi tem razão quando afirma que a forma como argumenta não condiciona de forma significativa as respostas dos seus interlocutores. Tem toda a razão. Na net somos todos meio anónimos e a capacidade de condicionar é limitada. Mas o facto de um discurso ser totalitário não tem a ver com o conteúdo nem com os seus efeitos mas tão só com a forma. Madi, o mesmo discurso, ao vivo, sendo tu a chefe do teu laboratório, condiciona o discurso dos teus subordinados.

O politicamente correcto é tão perigoso por nos facilitar tanto a vida. As relações entre as pessoas tendem a ser menos conflituosas. As nossas convicções deixam de ser postas em causa. Temos acesso a uma série de instrumentos para convencer outras pessoas de algumas das nossas convicções. Em troca, só perdemos a nossa alma.

Cajamarca 2

Eu diria que uma das razões porque algumas pessoas gritam a inferioridade moral dos europeus nestes casos é para não deixar ouvir as vozes que perguntam:

Os europeus ganharam porque eram intrinsecamente superiores?

Essas vozes ecoaram e ecoam dentro da cabeça de muitos peruanos e de muitos africanos.

Porque é que foram os europeus a controlar o mundo?

Esta questão não está respondida na cabeça de praticamente ninguém. Apenas existe na cabeça das pessoas o axioma de que todos os homens são iguais. Acredito nesse axioma. Todos teremos a ganhar se o provarmos a partir de axiomas mais auto evidentes. Em vez de calarmos estas perguntas.

quinta-feira, dezembro 15

Cajamarca

Decorre amanhã mais um aniversário da mais simbólica batalha de sempre. A 16 de Dezembro de 1532 um destacamento de 168 espanhóis comandados por Francisco Pizarro derrotou 6.000 incas em trinta minutos, matando 4.000 e aprisionando o imperador Atahualpa, sem sofrer uma única baixa. Pizarro encontrava-se no coração do império Inca. Não tinha acesso a reforços de qualquer tipo. Assistiram à batalha cerca de 80.000 incas. Como foi possível que tal tivesse acontecido?

Pizarro era um aventureiro em busca da fortuna. Deslocou-se com o seu pequeno grupo de sequazes até perto dos territórios por onde andava nessa altura Atahualpa, que tinha acabado de derrotar o seu irmão Huascar. O imperador convidou-o para um encontro. Quando avistaram o exército inca os espanhóis ficaram completamente aterrorizados. Compreenderam rapidamente que qualquer demonstração de fraqueza da sua parte resultaria na sua perdição. Na falta de alternativa, avançaram.

Pizarro enviou o Padre Vicente de Valverde para falar com Atahualpa. O padre aproximou-se do imperador com uma Bíblia numa mão e uma cruz na outra, invectivando-o a submeter-se às ordens de Jesus Nosso Senhor e do rei de Espanha. O imperador nunca tinha visto um livro à frente. Tentou manuseá-lo sem grande sucesso. O padre tentou tirar-lhe a bíblia das mãos para lhe mostrar como a usar. Atahualpa não gostou do excesso de familiariedade, afastou o braço do padre e atirou a bíblia para o chão. O padre correu em direcção a Pizarro, gritando que só um ataque imediato lavaria a ofensa à fé cristã. Nesta altura a situação já estava tão crispada que Pizarro não tinha outra alternativa senão atacar.
Os incas foram apanhados de surpresa. As sucessivas investidas da cavalaria, disparos dos arcabuzes e canhões desorganizavam continuamente o grupo de soldados em volta do imperador. As armaduras de aço pareciam tornar os espanhóis invulneráveis. Uma vez capturado Atahualpa, toda a resistência cessou. Os incas pagaram um resgate de 240 metros cubicos de ouro pela libertação de Atahualpa. Pizarro matou-o mal recebeu o resgate. O império inca caiu rapidamente nas mãos de um grupo de algumas centenas de espanhóis, com uma base de apoio situada do outro lado do mundo.

Durante muitos anos esta batalha foi apresentada como a prova da superioridade dos povos europeus. Já pouca gente afirma abertamente tal coisa. Actualmente é mais vulgar que esta batalha seja apresentada como um símbolo da inferioridade moral do ocidente. Que vos parece?

terça-feira, dezembro 13

Parabéns Calvin!

Como é possível seres mais velho do que eu?

Seres Totalitários

Quando uma mulher pergunta achas que esta saia me faz gorda, um homem começa a suar. É a volta dA Santa Inquisição. Se fizermos todas as piruetas e outras acrobacias com precisão milimétrica, safamo-nos com um amuo de duas horas. Uma distracção vale uma semana de abstinência.


Se discordarmos publicamente da Madi, como podemos voltar a falar com uma mulher?
Sim Madi, tens toda a razão.

segunda-feira, dezembro 12

Não ver o Mal, Não ouvir o Mal...e já chega de dizer Mal!



"Rice satisfez Bruxelas com garantia que EUA não torturam" (Público, 9.12.05)

Esta notícia, que deveria encher-nos de alívio, provocou ao que parece ainda mais ondas de choque, e um regresso às acusações de hipocrisia e afins.

Oh, santa ignorância...é o que dá a falta de educação matemática.
(et tu, ON, que, segundo consta, até fazes umas contas!)

Passo a explicar, impacientemente, revirando os olhos:

"A América não tortura" é uma proposição que pretende ser tomada como axioma (chamemos-lhe axioma 1).

Sendo um axioma, ela é verdadeira independentemente do que a América faça ou deixe de fazer, e consequentemente, serve para definir o que é tortura, ou melhor, o que não é.

Então:

Se a América asfixia, o axioma 1 não é falso por causa disso. Pelo contrário, pelo axioma 1, podemos concluir que a asfixia não é tortura (é interrupção voluntária temporária do permanente movimento involuntário dos pulmões).

Se a América tira dentes, o axioma 1 não é menos verdadeiro por tal detalhe. Pelo contrário, permite-nos concluir que tirar dentes não é tortura (é odontologia gratuita compulsiva).

E assim por diante.

Perceberam, ou querem que explique outra vez?

"When I use a word, it means just what I choose it to mean, neither more nor less."-Humpty Dumpty

Vemos, Ouvimos e Lemos

Não podemos ignorar.

Posts Totalitários


Considero que um post de opinião deve estimular o diálogo. Alguns posts apresentam uma posição políticamente correcta de tal forma que quem discordar ganha logo o estatuto de proscrito. Muitos blogues não publicam posts de outro tipo. Mesmo as pessoas mais abertas ao diálogo publicam de vez em quando um post totalitário. Acontece aos melhores. Vou ilustrar esta ideia com posts da Madi e do Lutz.
Como comentar um post totalitário? É preciso um niquinho de coragem para pôr em causa a ideia subjacente ao post. Se resolvermos avançar convém evitar meias palavras.
Comecemos porém por arrumar a casa. O meu post sobre o Lobo Antunes é um bom exemplo de um post totalitário. Existe algo mais politicamente correcto do que lembrar que não se deve abrir a correspondência das outras pessoas? Até é verdade. Acontece que os valores são sempre algo relativos. Se eu estivesse mesmo muito interessado na obra do LA lia mesmo as suas cartas de amor escritas durante a guerra. Nem que tivesse de pagar esta acção com as chamas do inferno. No excuses. Não é, Sofia?
Porque é que eu escrevi o post daquela forma? Não resisti a tentar captar um instantâneo com uma dimensão trágica a lembrar o rei Lear. O LA a ser levado ao pelourinho pelas próprias filhas.
A Alemanha é uma grande potência que abdicou de ter uma política externa. Um alemão quase que se pode dar ao luxo de colocar as coisas nos termos postos pelo Lutz. Um português também. É facil arranjar variantes da pergunta em que o problema se põe de outra forma.
Todos os governos americanos violam sistematicamente os direitos humanos. Um americano não deveria votar, mesmo que a opção fosse entre o Clinton e o Bush?
Alguém sabe exactamente o que se passa na Base das Lajes e nas bases americanas na Alemanha? Não serão todos os governos portugueses e alemães coniventes com violações sistematicas dos direitos humanos? Vamos deixar de votar?
Paulo Pedroso foi candidato a deputado pelo PS. Eu votei no PS. Foi um dilema muito complicado. Achei que não tinha alternativa.
O post da Madi é demasiado delicioso para o gastar já. Fica para uma próxima oportunidade.

sábado, dezembro 10

Cultura

Para muita gente cultura é mais ou menos sinónimo de gostar de música clássica e de literatura. Se entendermos a cultura como sendo o conjunto de instrumentos que nos ajuda a nos compreendermos a nós próprios e ao mundo que nos rodeia, é preciso mais qualquer coisa.
Ter uma ideia de como funciona um computador. Não ser aldrabado pela primeira manipulação de números que ocorre ao economista de serviço do partido X. Saber qual é a diferença entre um vírus e uma bactéria. Saber detectar uma falácia num raciocínio.
Cultura é sobretudo autoconhecimento. O João afirma: a mulher do não sei quantos dormiu com o António. Se fosse comigo, já estava com as malas à porta. Depois o João descobre que a mulher dele também dormiu com o António. Descobre também que não consegue prescindir da camisa lavada e do jantar na mesa. Como reagimos em situações extremas? Como podemos sabê-lo? Este tipo de autoconhecimento é precioso.
As situações extremas estão quase sempre relacionadas com algum tipo de violência e algum tipo de dor.
Actualmente existe um grande desconhecimento da violência e da dor. Nada é mais angustiante do que o desconhecido.
Quando era miúdo estive uma ou duas vezes em risco de levar uma valente sova de miudos mais velhos. Não havia adultos por perto. Não foi lá muito agradável mas deu-me um ponto de referência que ainda hoje me é util. Quando estou numa situação de stress dou comigo a pensar: se me safei daquela vez, também me safo desta...
Se tivesse apanhado, ficava a saber como era. Sempre é menos mau do que o desconhecido.

Não estou a recomendar que participem em excursões ao Intendente às duas da manhã. Existem muitas formas seguras de criar alguns pontos de referência.
Praticar uma arte marcial. Fazer paraquedismo ou escalada. Mais do que aprendermos a lutar, passamos a encarar a vida com outra atitude. Deixamos de fazer dramas de pequenos problemas que nada significam. Distinguimos melhor o essencial do acessório. Não é o carro novo nem o cortinado que vão resolver os problemas da nossa vida.
Mais suave: praticar yoga ou fazer longas caminhadas. É incrivel como alguns machos latinos reagem mal à perspectiva de um pequeno desconforto numa posição menos habitual.
Na verdade, basta não fugir dos problemas com que a vida nos confronta.

Vivemos numa sociedade que evita a dor. Evitamos a nossa dor, a dor dos outros, a ideia de dor. Quanto a própria ideia de dor se torna insuportável, a dor acaba por vir em nosso socorro e cura-nos da nossa doença.

Rituais

De vez em quando sai uma notícia nos jornais. Um facto incómodo. Nada que alguma pessoa bem informada pudesse afirmar que desconhecia. Durante uma semana toda a gente condena o facto, supreendida e horrorizada. Uma semana depois esquecem tudo e dormem descansados, de consciência tranquila. Até serem novamente surpreendidos pela mesma notícia.

Alguém enfia a carapuça?
Esta não é para o Lutz. Que isso fique bem claro. Nem estou a pensar em alguém em particular.

Franceses e Alemães

Os franceses sabem o que é a diplomacia. Its all about making money: NEGÓCIOS estrangeiros. Got it? De vez em quando exageram. A PAC (política agrícola comum) está na origem de todos os males da União Europeia. Os ingleses desesperam com o savoir faire dos franceses: They should play fair! Vingam-se acusando os franceses de ser efeminados: passam o tempo todo de roda das mulheres. Foi preciso uma Dama para conseguir o british check, garantindo que os ingleses não vão pagar as contas dos franceses.
A França fez uns erros na Argélia mas aprendeu com eles. Não se faz um negócio importante na África subsahariana francófona sem autorização (participação) da França. Quando alguém tenta levantar a cabeça, um pequeno grupo da Légion Etrangère (les étrangers au service de la France) vai até lá e põe a casa em ordem. Normalmente a operação mal é noticiada. A oferta da estátua da liberdade foi o mais rentável investimento político alguma vez feito...
Mas quem costuma pagar as contas dos franceses (a PAC) são os alemães. Afinal para que servem os boches? No fim da primeira guerra mundial os franceses exageraram mesmo. As indemnizações impostas pelo tratado de Versalhes destruíram a economia alemã e criaram Hitler. Os alemães tiveram culpas no cartório mas mostraram depois da segunda guerra que quando são tratados justamente, retribuem generosamente. Já passaram duas gerações. O complexo de culpa que contaminou a cultura mais adaptada ao pensamento racional com uma série de interdições politicamente correctas é um anacronismo que continua a ser instigado por Israel e pela França. Em proveito próprio.
Lutz, o pecado está expiado.
Podemos começar agora a discutir o post.

sexta-feira, dezembro 9

Pobre Lobo

Nunca li mais de três páginas de um livro de ficção do Lobo Antunes. Fico no entanto sempre tocado pelo brilho no olhar que os seus leitores exibem quando falam do seu autor preferido. Estou também fascinado pela personagem Lobo Antunes. A maneira como ele fala da sua vida e em particular da sua entrega ao trabalho é impressionante.
Como diz a Maria da Conceição, cada um de nós carrega a sua cruz. Como Cristo era homem, é natural que as cruzes das mulheres sejam maiores. Se não esquecermos este facto, podemos falar por uma vez da cruz de um homem. Um homem que admite estar no purgatório em vida para expiar os muitos pecados que cometeu. Os maiores de entre eles todos ligados à Maria José. Se julgava que já estava perto do fim do seu calvário, enganou-se.
As suas filhas desenterraram do baú as cartas que ele escreveu à mãe durante a Guerra. Aquele assunto de que ele não é capaz de falar. Nem nos livros, nem nas entrevistas. Terão elas consciência do que estão a fazer? Será uma punição? Será apenas um capricho?
As filhas devem ter-lhe pedido autorização para publicar as cartas. Que podia ele fazer? Não tem mais nenhumas.
Doía ver as entrevistas a Lobo Antunes quando da apresentação do livro:
Está contente?
...
Releu as cartas? Corrigiu-as?
Não li.
Lembra-se do que está lá escrito?
Não.
Está a pensar em relê-las quando?
Não estou a pensar nisso.
Resignado como um boi à entrada do matadouro, o António aceitava o seu destino. Mais um passo da sua via sacra.
Consumidor ávido de toda a obra não literária do António, desta vez não vou comprar o livro. Por pudor. Uma palavra que o António tantas vezes usa. Uma palavra cujo significado não conseguiu transmitir às suas filhas.

quinta-feira, dezembro 8

Alvo militar legítimo?


Quando uma nação é pequena, os seus cidadãos constituem o seu exército. Se for mesmo pequena, constituem mesmo a sua polícia. Quando um império cresce, é típico que se profissionalizem os exércitos. Assim torna-se tudo mais eficiente. Assim, apaga-se também a responsabilidade dos cidadãos nas atrocidades que são cometidas para a sua conveniência económica. Assim os cidadãos se tornam em turba. Assim declinam os impérios em pão e circo, tampas de telemóveis e futebol. Profissionaliza-se tudo, até a caridade e a coragem mais básicas. Até a responsabilidade pelas atrocidades é profissionalizada. Ao cidadão resta consumir.

É o que se passa hoje. O conceito da inocência dos civis não foi inventado para estes civis de hoje. Tinha-se em mente as mulheres e crianças e aqueles que não podiam lutar. E uma população que pouco ou nada decidia. Hoje somos tudo menos inocentes.

Os civis de hoje não são inocentes. São cobardes, moles, arrogantes. Enchem-se com os espólios das manipulações e conquistas levadas a cabo pelos políticos que elegem e pelos soldados profissionais que contratam. De tudo isto lavam as mãos, mas lavam-nas no sangue vertido a seu mando, por outrem.

Um Zé-povinho não se coíbe de dar a sua opinião, de vociferar: “É preciso é largar-lhes umas bombas em cima!”. Não se coíbe de eleger os tipos que darão as ordens de largar as ditas bombas. Arma-se em general de bancada. Mas quando é atingido de volta faz um ar de surpresa e espanto: “Mas eu sou civil! Eu sou inocente! Eu sou desprotegido”

Inocente? Um soldado de uma qualquer ditadura do terceiro mundo é mais inocente. Não pode escolher por quem luta, ou se luta. Um civil dos EUA ou de Portugal não é inocente. Eles votaram no tipo que lança as bombas. Nós votámos nos tipos que mantém alianças com ele, por conveniência económica e política. Não estou a questionar essas políticas. Digo apenas que numa democracia somos todos responsáveis pelas decisões tomadas. Muito mais que o tal soldado da republica das bananas, e apesar disso ele é “um alvo militar legítimo”. A não ser, é claro que admitam que a nossa democracia não decidimos nada…querem admitir isto?

Desprotegido? Quando os aviões chocaram com as torres gémeas não foi porque os civis estavam desprotegidos. O que isso mostrou foi que por vezes mesmo uma população extremamente protegida pode ser atingida por detrás dos seus escudos, do seu exército, da sua polícia. E mostrou também a fraqueza dessa população. Que em vez de simplesmente declarar guerra a esse inimigo, e aceitar os perigos envolvidos, deu carta verde a um burocrata com tendências a ditador para fazer dela escrava enquanto se dedica a outras guerras que não aquela a que se propôs.

Mais desprotegido é o tal soldado da república das bananas, que tem uma kalashnikov na mão contra mísseis balísticos e bombardeamentos por aviões que nem sequer vê. Nem por isso deixa de ser um “alvo militar legítimo”.

E as regras da Guerra? As regras da guerra, hoje, são escritas com o único propósito de dar a vantagem a quem a escreve. É por isso que a tortura é proibida, mas o Dick Cheney acha que ela pode ser permitida à CIA, em caso “de necessidade extrema”. Pois bem, o inimigo pode certamente alegar “necessidade extrema” de quebrar outras regras, para enfrentar uma potência militarmente invencível. Ou “as leis da guerra” implicam que o Bin Laden teria que enfrentar os porta-aviões americanos com um exército de meia dúzia de palhaços, em formação clássica, armados de kalashnikovs e toalhas na cabeça? Isso sim seria “um ataque suicida”. Porque é que as leis da guerra proíbem o terrorismo? Porque foram escritas por nações que contam com a vantagem em conflitos assimétricos. Mas nem por isso os americanos se coibiram de em tempos apoiar os contras na Nicarágua, que eram eles próprios terroristas. E muitos americanos católicos financiavam o IRA. As regras são as que dão jeito.

Que sequer se usem tais argumentos é uma prova de fraqueza da população civil. E é por essa fraqueza que o terrorismo funciona. Porque é que os americanos estão em risco de abandonar o Iraque? Por causa das bombas e dos ataques suicidas. Não foi por se aperceberem que foram ser enganados que os americanos recuaram. Já o tinham percebido antes e não se mexeram. Não foi por perceberem que guerra foi feita sob falsos pretextos e que não tem nada a ver com o terrorismo que pretendiam combater. Foi por estarem a perder. Foi por perderem uns tantos filhos, verem uns tantos caixões. Não há qualquer moral nesta gente. Só cobardia. Dessem-lhes uma vitória rápida e não teriam perguntado nada.

É com isso que conta o Bin Laden e companhia. Que nós somos tão fracos que se levarmos com umas tantas bombas em cima, vamos primeiro vociferar, depois chorar, e depois ceder.

E tem razão.

A não ser que algo mude.

Parasitismos e cobardias

Ontem fui assaltado no metro. Estava a ler, senti um encosto, e apercebi-me da falta da carteira. Sem ter a certeza absoluta da identificação tive que arriscar o bluff. Calmamente, muito matter-of-fact:

-"Oh amigo, devolve-me a carteira"
-"No comprendo!" (uma pronuncia que não consegui identificar)
-"Não compreendes uma merda. Devolve-me a carteira. Vê se percebes, não vais a lado nenhum, isto não vai acontecer. Devolve-a agora e não hà chatices nem polícias."

O diálogo prosseguiu assim por mais umas trocas. Depois tentou abandonar o metro. Eu acompanhei-o, agarrado pela lapela. Ainda tinha o livro numa mão e a mochila as costas, e só pensava "que merda, vou estragar o meu livro todo se tiver que lutar".

Ao sair da carruagem identifiquei por instinto um segundo elemento que me pareceu suspeito e que mais ou menos se mexeu em simultâneo com o primeiro. Arrisquei e agarrei-o também. Há quase sempre um parceiro nestas coisas e provavelmente já era ele quem tinha a carteira. Agarrei-os aos dois, levemente, enquanto caminhávamos e discutíamos. Sem violência, eles a tentarem esquivar-se e convencer-me, com uma ar inocentíssimo, eu a alegar uma certeza que não tinha, à espera, a qualquer momento, de uma explosão de violência súbita. Ainda não percebo, passado o instante, como raio é que estava a segurar o segundo tipo se nunca larguei o livro, mas sei que estava porque eles tentaram separar-se nas escadas rolantes e eu puxei o segundo para junto do outro.

Acabaram por desistir e atirar a carteira para longe. Agarrei-a e persegui-os até ter a certeza de que estava lá tudo. Não sei bem se tiraram algum dinheiro, mas se o fizeram não foi muito, porque ainda lá estava bastante. Um terceiro elemento tentou reter-me, estava feito com eles e fingiu ser um "civil prestável" até eu lhe quebrar o bluff. Era o mais forte dos três e estava às minhas costas ainda por cima - foi o que mais me preocupou. Acabou tudo sem violência (ainda fizeram umas ameaças a contra-gosto, mas não se mexeram) e fui-me embora satisfeito com o desfecho.

Porque falo disto?

Porque no interior da carruagem, apesar de estarmos rodeados por dezenas dos meus concidadãos, e da situação ser clara, ninguém se mexeu. Não pedi ajuda. Não acho que seja estético, "agarra que é ladrão" soa-me mal. Mas eu teria ajudado sem me pedirem. Os meninos que ameaçam de porrada o árbitro estavam todos a contemplar o tecto da carruagem com intensa concentração.

Os ladrões são só ladrões. Todos os ecossistemas complexos albergam parasitas. Mas os meus caros concidadãos metem-me asco. Caros amigos Lusitanos, a maioria de vós não passam de miseráveis cobardes. Tirem-vos a polícia e o exército, e meia duzia de palhaços da Al-Qaeda armados de fisgas tomavam Lisboa em trinta minutos.

A população civil do século XXI é só carneirada pronta a abater. Não se prefigura nada de bom.

E isto leva a outros assuntos a tratar de seguida.

MBT: Masai Barefoot Technology

Karl Müller era um engenheiro suíço que vivia na Coreia. Tinha problemas sérios a nível das costas, do joelho e do tendão de Aquiles. Apenas encontrava alívio para as suas dores caminhando pelo campos de arroz. Compreendeu que caminhar sobre superfícies macias e irregulares massajava os seu corpo, tonificando dois tipos de músculos: Os músculos profundos que servem para manter uma postura correcta e os pequenos músculos que garantem a estabilidade de articulações delicadas como a articulação do joelho. No dia a dia caminhamos sobre superfícies planas e duras que não exercitam este tipo de músculos. Procurou então desenvolver uns sapatos que simulassem o efeito da areia macia quando caminhamos sobre superfícies duras. Foi assim que nasceram os MBT.

Comprei o meu primeiro par há dois meses e nunca mais os larguei. Com estes sapatos posso andar horas e horas sem qualquer esforço. Até consigo ir ás compras num centro comercial e tudo. O princípio básico é simples. A sola é convexa e a única parte do sapato em contacto com o chão é uma pequena zona por baixo do calcanhar. Esta zona fica mesmo por baixo do osso talar, o osso que divide a pressão do peso do corpo entre os dedos do pé e o calcanhar. O nosso corpo é obrigado a manter-se em equilíbrio. Mesmo que tenhamos uma postura tão má como a do esqueleto da esquerda, passamos rapidamente a ter a postura correcta do esqueleto da direita. Algo que não se pode conseguir através de um acto de vontade.

Outras vantagens resultantes de usar estes sapatos : melhora a nossa postura e acaba por melhorar a flexibilidade, elimina dores de costas e tonifica os músculos abdominais. Qualquer pessoa que execute regularmente exercício aeróbico sofre de vez em quando de pequenas dores de articulações resultantes da repetição do mesmo movimento vezes sem conta quando acaba o exercício. Especialmente se já passou dos trinta. Essas dores podem evoluir para uma lesão mais séria. Os MBT evitam estes problemas. Muitas lesões deste tipo também são rapidamente eliminadas, mesmo que sejam crónicas e graves.

São tão caros como umas botas de senhora, mas os meus valem todo o dinheiro que paguei por eles. Podem ser comprados em quase todos os países da Europa menos em Portugal. Também podem ser comprados através da net, mais baratos. Convém nesse caso comprar meio número abaixo do normal porque o pé não escorrega para a frente como nos outros sapatos.

As namoradas de Hugh Grant usam todas MBT's. Não é uma questão de publicidade: a Janina GoldSmith é a herdeira mais rica de Inglaterra. Será outro fetiche do homem? Fica a informação. Usem-na como quiserem:)

Não percam as imagens dos esqueletos em movimento na página da MBT, secção Medical & Therapy.

quarta-feira, dezembro 7

Yoga

Os primeiros yogis usavam pedaços de maneira, pedras e cordas para ajudar a sua prática. Iyengar inventou utensílios que permitem manter posturas dificeis durante mais tempo.
Iyengar em Setubanandha Sarvangasana. Esta postura é extremamente exigente ao nível do pescoço, dos ombros e do peito. Requere anos de prática. Não deve ser experimentada sem supervisão adequada.

Yoga à portuguesa




terça-feira, dezembro 6

No Limbo

Nunca percebi como é que tantos cristãos contam ao mesmo tempo às criancinhas duas histórias: a do Pai Natal e a do Menino Jesus. Se uma é para descobrir que não é para levar a sério, será que a outra...
A hierarquia da igreja católica anda agora entretida a discutir o limbo. Aquele sítio para onde é suposto irem as criancinhas que morrem pequeninas. Em tempos em que a mortalidade infantil era muito elevada, deve ter dado algum conforto a muitos pais acreditar na existência de um tal local. Hoje em dia já não faz tanta falta. E será que alguém leva esse mito realmente a sério?
Talvez por se ter dado conta disso mesmo, o cardeal Levada resolveu acabar com o limbo e arranjar um substituto.
É outra vez a história do pai Natal. Se o limbo (e o inferno) já não existem, quanto tempo teremos de esperar para ver os outros mitos cair?
Não seria mais prudente deixar o Limbo ficar num limbo?

segunda-feira, dezembro 5

Parkour

Vi outro dia na televisão uma reportagem sobre esta nova actividade radical. Não me parece que seja realmente um desporto. As fotografias são espectaculares mas os videos podem ser impressionantes. É difícil ficar indiferente à graciosidade e à fluidez com que estes jovens ultrapassam obstáculos e sobem um prédio. O Parkour começou quando o pai de David Belle partilhou com ele algumas das técnicas que tinha aprendido enquanto militar no Vietnam. Depois o jovem Belle passou a brincar aos ninjas com os colegas nos telhados da sua escola nos arredores de Paris. Não levou muito tempo até que esta actividade se começasse a expandir e a comercializar.
Quando tentava encontrar um site sobre o assunto ia sempre parar aos motins que ocorreram em França no mês passado. Não existe à partida qualquer relação entre os dois assuntos. Não deixo porém de referir que enquanto observava o documentário não deixava de pensar na facilidade que estes jovens teriam em entrar num primeiro andar numa questão de segundos, sem usar qualquer tipo de material auxiliar, e escapar da polícia sem problemas de maior. Pode-se no entanto fazer comentários semelhantes acerca de qualquer arte marcial.

A ficção cria a realidade. Os escritores do século dezanove criaram (pelo menos popularizaram entre as massas) o amor romântico. Filmes como O Tigre e o Dragão e Matrix mostram cenas impossíveis, produzidas com efeitos especiais. Algumas dessas cenas podem ser agora vistas ao vivo. Sem recurso a profissionais.