segunda-feira, julho 18

Compreender ou não compreender?


Em 1986 o preço do petróleo caiu dos trinta para os dez dólares, destruindo a economia "planificada" argelina. Depois de o exército disparar contra os manifestantes a única saída encontrada para a crise pelo presidente Chadli Bendjedid foi a promessa da convocação a prazo de eleições livres pela primeira vez na história da Argélia pós colonial. Em 1991 a Frente Islâmica de Salvação (FIS) ganhou a primeira volta das eleições. Considerando o exército que havia o risco da FIS instalar um regime confessional e não voltar a convocar eleições, decidiu ser ele a acabar com a democracia. Ninguém se preocupou por aí além com os direitos cívicos dos argelinos. Os valores da democracia são só para os ocidentais?

Esta decisão deu origem a uma guerra civil que provocou cem mil mortos e destruiu a sociedade argelina. Este acontecimento é geralmente completamente ignorado no ocidente. Está presente na memória de todos os árabes de cada vez que nós lhes pregamos as virtudes da democracia. Mário Soares aceitou em 1998 fazer o trabalho sujo das potências ocidentais, colaborando no branqueamento da ditadura argelina. Quando fala de compreender o fenómeno terrorista, podia começar por compreender o que foi fazer a Argel em 98.

26 comentários:

Anónimo disse...

Esta história não está contada de uma forma muito incompleta?...
E se abordassem o "arrastão" de Braga?
http://www.ocomerciodoporto.pt/secciones/noticia.jsp?pIdNoticia=43145&pIdSeccion=9

Orlando disse...

Está sim senhor. Mas não me parece que a verdade esteja deformada. Chamo a atenção para o assunto, dou um link para a Wikipedia. Parece-me correcto e suficiente. O objectivo não foi contar a história do que aconteceu mas sim dar uma pequena contribuição para a discussão em curso sobre como lidar com o terrorismo.

Acha que distorci de alguma forma a verdade?

Orlando disse...

O CA falou-me ontem dessa história. não sei se alguém vai abordar ou não, mas pelo menos deixarei aqui uma resposta mais completa.

Anónimo disse...

Tenho saudades do CA...
Como eu o compreendo!...
Por isso não vale a pena entrar nesta polémica da Argélia. Que seria interminável.

Broken M disse...

quando tiver mais tempo,já venho discutir isto.

Broken M disse...

Eu não acho que o fenómeno terrorista seja difícil de entender se considerarmos a maneira como eles vêem o mundo e principalmente a vida.
Acho que o principal problema é conseguir encontrar um modo de o combater.
Achas mesmo que a causa dos ataques terroristas têm origem em opções políticas que se fizeram, ou não terá a ver com algo mais fundamental?

Orlando disse...

Olá Madi, desculpa o atraso na resposta. Vou começar a responder agora.

"Eu não acho que o fenómeno terrorista seja difícil de entender se considerarmos a maneira como eles vêem o mundo e principalmente a vida."

Em todas as sociedades existem fanáticos. Temos ou tivemos vários problemas de terrorismo na Europa. Em França existem vários movimentos independentistas, são pouco conhecidos porque as notícias são abafadas. Alguns anos atrás explodiu uma bomba num restaurante de Lille onde eu tinha jantado na véspera.

O que nem sempre acontece é eles conseguirem recrutar tantas pessoas. É este o fenómeno que precisa de ser explicado.

Orlando disse...

"Acho que o principal problema é conseguir encontrar um modo de o combater."

Temos de o continuar a combater. Mas não vamos conseguir eliminá-lo pela vigilância. Os ingleses tém um sistema de vigilância optimo, despoletaram vários ataques. Tinha de acabar por haver um que conseguia ter sucesso. O Terrismo só acabará quando as condições históricas que os criaram forem ultrapassadas. De qualquer forma convém notar que não há razão para que o terrorismo paralise ou modifique de forma essencial a nossa sociedade.

Orlando disse...

"Achas mesmo que a causa dos ataques terroristas têm origem em opções políticas que se fizeram, ou não terá a ver com algo mais fundamental?"

As opções políticas tiveram importância. As fronteiras dos países árabes (e africanos) foram traçadas de forma a complicar ao máximo a sua vida política. Foram misturadas etnias. Foi dado o sistematicamente o poder à etnia minoritária, que só pode manter o poder com o apoio de uma força exterior.

Por outro lado é verdade que o nosso modo de vida cria por si só problemas à sociedade islâmica. O contacto com o ocidente põe em causa todos os valores em que acreditam. O problema fundamental não me parece ser religioso. Se pudéssemos por em contacto a nossa sociedade actual com uma sociedade semelhante á sociedade europeia de alguns séculos atrás, essa sociedade sofreria uma abalo terrível e muitos dos seus elementos procurariam defender os seus valores e o seu modo de vida por todos os meios.

Orlando disse...

Bernard Lewis é um dos maiores especialistas do Islão. A sua fama aumentou após o 11 de Setembro. Foi um muçulmano (da Malásia) que primeiro me falou dele. "Os muçulmanos não gostam de BL porque ele os entende".

Orlando disse...

Vale a pena ler aqui o artigo mais famoso de Lewis:

Broken M disse...

Tem dez páginas, on. Não posso ler isto agora...
Leio à noite.

Broken M disse...

Eu acho que também se trata de um problema religioso, no caso do terrorismo islâmico. E sobretudo, de uma má interpretação dos textos sagrados, do mesmo modo, como acho que os católicos muitas vezes interpretam mal a Bíblia.
Existe sempre o problema (que este que é difícil de resolver, mesmo em relações entre duas ou poucas pessoas) de se achar que o nosso sistema de vida é melhor ou mais adequado do que o do outro. As pessoas, em geral, têm uma enorme falta de capacidade de aceitar e respeitar algo que seja diferente dela. E é por isso que eu acho complicado resolver o problema.
Além disso como é que são ultrapassadas as causas históricas a que deram origem? Por exemplo no caso da questão palestino-israelita? Quem é que tem razão?
Eu percebo por exemplo que a questão basca poderia ser resolvida. Mas há outras que me parecem impossível.

Orlando disse...

Nem todos os problemas podem ser solucionados com boa vontade e inteligência, mesmo que estas existam. Todas as religiões podem ser usadas como argumento para tudo.
Acho que mais importante do que a religiâo é a questão de haver um decalage temporal entre as duas sociedades.
A religião e a raça são identificadores que ajudam a distinguir quem é quem no conflito, como os uniformes nas guerras. Mas não são o essencial da questão.

Broken M disse...

:) Gostei da tua metáfora dos uniformes.
Decalage temporal.
Tenho que pensar no assunto.
O que queres dizer com isso?
Sabes o tempo é um conceito um bocado ambíguo.

Orlando disse...

Digamos que os problemas de entre o ocidente e os países arabes são semelhantes aos problemas que decorreriam de contacto entre a sociedade europeia do século XXI e uma sociedade semelhante à europeia do século XV.

O distinção entre o sagrado e o profano que está na base do cristianismo (dá a César o que é de César...) possibilitou que a partir de certa altura o nosso relógio andasse mais depressa do que o relógio islâmico.

No tempo de Saladino as coisas não eram assim.
Os àrabes vivem na nostalgia desses tempos. A tragédia da queda do califado de Córdova, nos tempos dos reis Católicos Fernando e Isabel é vista pelos àrabes como uma tragédia que ocorreu ontem.

Como tu dizes, o tempo é um conceito um bocado ambíguo...

Vale mesmo a pena imprimir e ler o artigo de Bernard Lewis.

Broken M disse...

ok.
Só volto a comentar isto mais informada :)

Orlando disse...

Eu li o artigo há muito tempo. Mas acho que já me esqueci do que estava lá escrito :)

Anónimo disse...

http://www.truthout.org/docs_2005/printer_071005X.shtml

Lest We Forget; These Were Blair's Bombs
By John Pilger

...
Over the past two weeks, the contrast between the coverage of the G8, its marches and pop concerts, and another "global" event has been striking. The World Tribunal on Iraq in Istanbul has had virtually no coverage, yet the evidence it has produced, the most damning to date, has been the silent spectre at the Geldoff extravaganzas.

The tribunal is a serious international public inquiry into the invasion and occupation, the kind governments dare not hold. Its expert, eyewitness testimonies, said the author Arundathi Roy, a tribunal jury member, "demonstrate that even those of us who have tried to follow the war closely are not aware of a fraction of the horrors that have been unleashed in Iraq." The most shocking was given by Dahr Jamail, one of the best un-embedded reporters working in Iraq. He described how the hospitals of besieged Fallujah had been subjected to an American tactic of collective punishment, with US marines assaulting staff and stopping the wounded entering, and American snipers firing at the doors and windows, and medicines and emergency blood prevented from reaching them. Children, the elderly, were shot dead in front of their families, in cold blood.

Imagine for a moment the same appalling state of affairs imposed on the London hospitals that received the victims of Thursday's bombing. Unimaginable? Well, it happens, in our name, regardless of whether the BBC reports it, which is rare. When will someone ask about this at one of the staged "press conferences" at which Blair is allowed to emote for the cameras stuff about "our values outlast [ing] theirs"? Silence is not journalism. In Fallujah, they know "our values" only too well.

While the two men responsible for the carnage in Iraq, Bush and Blair, were side by side at Gleneagles, why wasn't the connection of their fraudulent "war on terror" made with the bombing in London? And when will someone in the political class say that Blair's smoke-and-mirrors "debt cancellation" at best amounts to less than the money the government spent in a week brutalising Iraq, where British and American violence is the cause of the doubling of child poverty and malnutrition since Saddam Hussein was overthrown (Unicef).
...

Anónimo disse...

Caro homónimo,
Considera que existe então uma justificação moral para os atentados de Londres?

Anónimo disse...

A propósito de que é que vem essa pergunta?
Ela nem merece resposta...

António Araújo disse...

Penso que o anónimo poderia perguntar:

Existe uma justificação moral para os ataques a Bagdad?

Se vamos por esse caminho...

Anónimo disse...

Anonymous 2

Eu não perguntei se havia uma justificação moral para os ataques.

Perguntei se o anónimo 1 ACHAVA que havia. É completamente diferente.

Eu acho que não há. Em nenhum dos casos. Qual é o problema de perguntar? O anónimo 1 podia responder: acho que não.

Escolheu não o fazer.

Anónimo disse...

O Anónimo 1 ainda está a tempo de dar outra resposta...

Broken M disse...

Sugiro aos anónimos se quiserem continuar anónimos que ao menos se identifiquem com uma letra, um número, um símbolo, o que seja...senão isto torna-se uma confusão.

Broken M disse...

On,
ainda estou a fazer o meu trabalho de casa. Ontem fui jantar a um vegetariano óptimo e não pude ler o texto do Lewis. Mas já vou a meio...