domingo, julho 31

A minha pátria

O aparecimento da internet parecia ser a machadada final na língua portuguesa. Cada vez mais as pessoas passariam a ler só inglês e passariam a comunicar preferencialmente nesta língua. Depois apareceram os blogues. De um dia para o outro redescobrimos o prazer de escrever em português.
Os mapas Geoloc desenham em cada blogue a aldeia global de Fernando Pessoa.

E eu escrevi mais linhas em português nos últimos seis meses do que tinha escrito nos últimos vinte anos.

É hoje que vou tratar do meu blog.

quinta-feira, julho 28

Agosto


Um mês mais calmo, com menos posts. Tempo de recarregar as baterias. Um abraço para todos.

Yoga Tropical


A escola de Yoga em maior crescimento em Portugal é o Swasthya Yoga, uma "multinacional" criada pelo yogui Brasileiro de Rose. Esta a é a única razão que me leva a dedicar um post a esta variante do yoga. Neste tipo de yoga dá-se muita importância ao aspecto estético. O instrutor demonstra as técnicas o tempo todo, corrigindo poucas vezes a postura dos alunos. É bastante motivador ver o instrutor a executar as técnicas. Parece-me no entanto que seria mais importante focar a atenção do principiante no interior do seu corpo.
Os principiantes são confrontados desde o princípio com técnicas bastante difíceis. Algumas delas impossíveis de executar com um mínimo de alinhamento por alguém que não tenha uma excelente flexibilidade. Pessoas que não tenham à partida uma flexibilidade bem acima da média terão tudo a ganhar em escolher outra escola de yoga.

Parece-me natural que uma pessoa comece por praticar yoga e ao fim de uns anos considere a hipótese de se tornar um instrutor, começar a tirar um curso... Já devem ter visto propaganda à Universidade do Yoga. Propõe a jovens que nunca praticaram yoga que tirem o curso de instrutores. Elimina-se assim um filtro que me parece essencial.

Não consigo ler mais de duas páginas de um livro de de Rose sem ficar nauseado. Peguem num livro dele e formem a vossa opinião. Quero no entanto deixar claro que as pessoas formadas pela escola de de Rose são bons executantes. Em geral não tém é tanta capacidade de ajudar os seus alunos como instrutores formados por outras escolas. Como em tudo na vida, algumas pessoas ultrapassam estas limitações. A Eugénia Palma, que dá aulas no Solinca do Colombo e no Clube Vip é uma pessoa extraordinária e uma excelente instrutora de yoga. É uma pena que o Colombo seja um health club em decadência, onde só o yoga e a aeróbica funcionam bem.

Sexo Tântrico
O tantra é uma tradição indiana que se foi desenvolvendo paralelamente ao yoga. Estas duas tradições interpretam a relação entre o corpo e a mente de forma diferente, influenciado-se mutuamente. De Rose dá particular importancia ao tantra. Usando a terminologia do yoga, quando a kundalini sobe do coccix para a chackra imediatamente acima, a que está situada junto aos órgãos genitais, a potência sexual do yogui é tremendamente aumentada. Não me perguntem se é verdade ou não. Ainda não cheguei lá. O yogui corre o risco de ficar deslumbrado por este facto e deixar de se preocupar em prosseguir o seu caminho rumo a objectivos mais elevados. Compreensível.
Eu diria que foi isso que sucedeu a de Rose. O senhor até escreveu um livro a explicar que não acredita na monogamia, não vá alguma das suas alunas mais prendadas ter ilusões. O sexo tântrico parece ser o tema de um dos grupos de trabalho para praticantes avançados. Parece que um par consegue atingir o orgasmo sem se tocar. Acho que acabei a fazer publicidade ao de Rose...
Resumindo: se perto da vossa casa não tiverem outra opção e tiverem uma boa flexibilidade, experimentem o Swasthya. Caso contrário, esperem pelo próximo post.

terça-feira, julho 26


Sempre tão perto de mim
Procuro-te por toda a parte
Finalmente chamaste-me!
Murasaki
como é bom
ouvir a tua voz
Joana
ver o meu nome planar
na brisa quente
que sibila da tua boca
Calvin
sentir as tuas palavras
serpenteando pelo ar
MaDi
como uma fita de papel
lançada da janela
em direcção ao céu
M
cometa de brincadeira
preso ao meu dedo
Calvin
que voa, suavemente
em todas as direcções
desde que estejas lá
Sofia
onde rebentam as ondas
onde vagueia o meu sono
Calvin

Aqui fica a selecção de um ramo da árvore feita por um dos nossos leitores. Vou ter de lhe pagar um jantar. O renku continua a partir do último verso do Calvin.
M, obrigado pela nova árvore!

domingo, julho 24

A árvore do Renku


Aqui vai a árvore do Renku, desenhada pela M. Obrigado M!

sexta-feira, julho 22

Sempre tão perto de mim

Sempre tão perto de mim
Procuro-te por toda a parte
finalmente chamaste-me!

Murasaki

Aqui fica um mote para mais um renku. Desta vez pede-se aos poetas e poetisas que numerem os seus poemas e que indiquem o número do poema que pretendem continuar. Depois alguém escolherá um ramo da árvore.

Lembro que se vão alternando poemas de duas e três linhas. Cada um deve encadear no anterior. Podem encontrar aqui e aqui dois renkus anteriores. Se algém quiser usar hygas (haikus com links), faça favor. O haiku da murasaki é um exemplo de um hyga. Podem encontrar mais hygas aqui. Suspeito que foi aqui que o OMWO atingiu a iluminação.

Bom fim de semana e até segunda.

Causalidade


Olá,
Eu fico indignada com estas situações...
porque os querem, se os vão abandonar na próxima ocasião em que não os possam levar? Que egoismo...
Adoram-os quando são pequeninos, fazem gracinhas e depois deixam-os na estrada mais longe, para que não voltem ...
e morram de fome, sede e cansaço...
Será que estes donos não pensam que um dia o feitiço se pode voltar contra o feiticeiro...
e serem abandonados num local qualquer, sem terem ninguém que lhes dê a mão???
Que indignação....
Belo tema...

Reproduzo acima um comentário da Xau sobre este artigo artigo do WebClub.
Será que o facto de tratarmos mal uma pessoa ou um animal aumenta a probabilidade de o mesmo nos vir a acontecer mais tarde?
As pessoas acreditam que é assim?
Porquê?

quinta-feira, julho 21

Férias de Yoga

As pessoas começam a querer cada vez férias mais sofisticadas: viajar pelos Andes, subir o Amazonas ou ir fazer yoga para a Costa Rica. Uma alternativa mais barata é aquela que nos é proporcionada pelo Sivananda Yoga: Madrid, Alpes Austríacos, Orleans, India, etc, a preços razoáveis. O ano passado estive aqui. O Lago existe mas não me parece que se possa andar lá de barco. As pessoas eram simpáticas. O programa é bastante completo. Para além de sessões de meditação de manhã e à tarde e prática de yoga duas vezes por dia, todas as noites há uma sessão cultural com um convidado vindo expressamente para a ocasião: este post foi inspirado por uma dessas sessões.
O Sivananda Yoga é uma forma de Raja Yoga. É essencialmente virado para a meditação. Tem uma componente religiosa forte. E uma estrutura hierarquica ainda mais forte. Todos os dias havia um pretexto para que nos prostrássemos perante alguém: não era a pessoa que interessava, diziam eles. Não é coisa que me agrade por aí além. Não é pelo acto em si mas pelas razões que levam as pessoas a escolher impor aos outros esse tipo de comportamento. Existia uma folha onde se escreviam todos os pagamentos que cada pessoa fazia, sob a forma de donativos. Não gostei da ideia. Pareceu-me que quem quiser ter uma atenção especial dentro da organização é convidado a fazer donativos.O grupo Sivananda é uma grande organização internacional com uma presença reduzida em Portugal. Conheci a responsável do grupo em Lisboa. Pareceu-me uma pessoa muito simpática e aberta. Não teria problemas em praticar Raja Yoga com ela. Desde que alguém seja suficientemente independente e esteja precavido, não me parece que corra algum risco.
É a único centro de Raja Yoga de que tenho alguma experiência. Existem outros, todos com uma componente religiosa forte. Talvez no Ginásio Clube Português seja diferente. Por estranho que pareça, a forma de meditação menos marcada em termos de hierarquia e de comprometimento religioso actualmente disponível em Portugal é provavelmente o Budismo Zen.

terça-feira, julho 19

À moda do Minho

Parece ter acontecido um novo tipo de roubo em Braga.

segunda-feira, julho 18

O CA resolveu sair

Fazer um blogue é uma brincadeira. Não devia servir para as pessoas se enervarem. O CA resolveu sair. Não esqueço as muitas boas recordações destes quatro meses que andámos aqui a brincar aos blogues.

Então CA, é desta que vais arranjar tempo para vir fazer yoga para o meu Health Club?

Compreender ou não compreender?


Em 1986 o preço do petróleo caiu dos trinta para os dez dólares, destruindo a economia "planificada" argelina. Depois de o exército disparar contra os manifestantes a única saída encontrada para a crise pelo presidente Chadli Bendjedid foi a promessa da convocação a prazo de eleições livres pela primeira vez na história da Argélia pós colonial. Em 1991 a Frente Islâmica de Salvação (FIS) ganhou a primeira volta das eleições. Considerando o exército que havia o risco da FIS instalar um regime confessional e não voltar a convocar eleições, decidiu ser ele a acabar com a democracia. Ninguém se preocupou por aí além com os direitos cívicos dos argelinos. Os valores da democracia são só para os ocidentais?

Esta decisão deu origem a uma guerra civil que provocou cem mil mortos e destruiu a sociedade argelina. Este acontecimento é geralmente completamente ignorado no ocidente. Está presente na memória de todos os árabes de cada vez que nós lhes pregamos as virtudes da democracia. Mário Soares aceitou em 1998 fazer o trabalho sujo das potências ocidentais, colaborando no branqueamento da ditadura argelina. Quando fala de compreender o fenómeno terrorista, podia começar por compreender o que foi fazer a Argel em 98.

domingo, julho 17

Yogas


Fiquei de escrever um post sobre os diferentes estilos de yoga e locais onde se pode praticá-los. Comecemos por um pequeno teste. Deixe o resultado nos comentários.

sexta-feira, julho 15

Madigestion


Une promenade de saveurs dans le village.
O outro blogue da Madi é um serviço público.

domingo, julho 10

A realidade e as notícias

Neste momento não tenho tempo disponível para discutir o arrastão como gostaria. Aqui ficam estas reflexões.
Fui ver o vídeo da Diana Adringa. Estava à espera de finalmente encontrar provas documentais sobre o que tinha acontecido. Aparecem umas imagens dos acontecimentos que ocupam um por cento do tempo do video. O resto do tempo é uma entrevista ao comandante da polícia. Aprendi muitas coisas ao ver o vídeo.
Fiquei a saber que, em caso de dúvida, quando se quer saber o que aconteceu, pergunta-se à polícia. Fica registado. Vamos usar esse método da próxima vez que morrer alguém numa esquadra? É esta a posição do BE: na dúvida, pergunta-se à polícia?
Convém lembrar que Diana Adringa é candidata independente pelo BE à Camara da Amadora. Podemos considerá-la uma observadora independente? Serão as fotos escolhidas por DA para ilustrar o arrastão representativas? não serão um pouco tendenciosas?
Seria muito interessante fazer a transcrição daquilo que o o comandante da PSP diz. O seu discurso é altamente confuso.Começa frases que não acaba. Hesita. Diz a certa altura que quis mudar a versão dos acontecimentos, mas não conseguiu. Parece que não o deixaram. Não podia ter feito um comunicado?
A posição do comandante da polícia é obviamente muito delicada. Tanto mais delicada quantos mais graves tenham sido os acontecimentos. Tomá-lo como única testemunha a entrevistar parece-me muito estranho.

Finalmente o comandante da polícia acaba por confirmar o que toda a gente sabe: que umas dezenas de pessoas roubaram os banhistas enquanto umas centenas se moviam. Essas centenas de pessoas influenciam a decisão dos assaltados. Ou não será?
O vídeo não contradiz nenhum facto conhecido. Não diz nada de novo. Confirma tudo o que se sabia. Limita-se a repetir o mantra: estejam tranquilos, não aconteceu nada até á exaustão.
Pretende-se diferenciar os arrastões de cá dos do Rio: os do Rio seriam organizados e este foi espontâneo. Os arrastões do Rio começam das mesma forma que este começou. O CA poderá confirmar este facto. Basta falar com um amigo comum nascido no Rio.

Acho que ainda vou ter que fazer a transcrição da entrevista. Só a partir daí se pode discutir com seriedade o vídeo.Ninguém quer dar uma ajuda? Vai ser divertido. Divide-se em partes...

Salve-se quem puder 2

Leram Salve-se que puder? Acharam os meus comentários sobre a destruição do aeroporto de Lisboa exagerados?
Visitem o Adufe. Aqui e aqui.

sábado, julho 9

As notícias e a realidade


Muito do que pensamos, fazemos, decidimos é influenciado pelas notícias que nos chegam, na sua maioria através dos órgãos de comunicação social. O jornalismo tem técnicas próprias e sabe-se que existem modos de alterar a percepção que as pessoas têm da realidade, apresentando a mesma notícia de modos diferentes. Outras vezes a notícia que é dada distorce grosseiramente a realidade.

Tenho a sensação que uma cidadania esclarecida passa por um conhecimento mínimo do modo como os jornais funcionam e como uma notícia pode ser dada para dar uma impressão ou outra. Compreender melhor o mundo da comunicação social é compreender melhor a sociedade que nos rodeia porque compreendemos os filtros por que passa a informação até chegar a nós.

Além disto, podemos compreender a importância de obter informação de fontes diferentes dos meios de comunicação social mais tradicionais, sem que isso nos leve a pensar que essas fontes são necessariamente mais fidedignas: apenas são diferentes. Como alternativas temos, por exemplo, a Internet, com toda a diversidade de origens que as notícias podem ter.

Tudo isto vem a propósito do "arrastão" e da cobertura que lhe foi dada. Só hoje vi o vídeo que a Diana Andringa fez sobre o assunto e recomendo-o vivamente: uma verdadeira aula de educação para a cidadania.

Imagens bem humoradas

Links no Pura Economia.

Mãos limpas

Esta prática aparentemente simples de executar tem algumas regras básicas como a "obrigatoriedade" de utilizar sabonete e de a lavagem ter de durar no mínimo dez segundos para surtir efeito.

Renku Livre

Durante a próxima semana vou estar menos presente. Aqui fica mais um renku. Desta vez para funcionar em autogestão. Um renku é uma poesia em grupo. Vão-se alternando poemas de duas e três linhas. Cada um deve encadear no anterior. Podem encontrar aqui e aqui os renkus anteriores.
O mote será o haiku da Murasaki:

Duas pernas longas

balançam da mini-saia

afagadas pela chuva

sexta-feira, julho 8

Bin Laden? Não conheço...








Um amigo foi foi atropelado à porta de casa esta semana. Na passadeira. Perna partida em três sítios. Está a ser operado agora mesmo. Qual é o maior risco? Morrer atropelado ou morrer de um ataque terrorista? As estatísticas dizem que o risco de atropelamento é infinitamente maior.

Suponham que cada vez que há um ataque terrorista, as televisões passam cinco horas por dia durante uma semana a entrevistar vítimas de acidentes de trânsito. Transmitiam umas operações em directo, umas sessões de fisioterapia, umas conversas com as namoradas dos nossos motards menos bafejados pela sorte. O Bin Laden reformava-se rapidamente.

Os dois maiores aliados dos terroristas são os media e o nosso desejo de esquecer os nossos problemas. É tão fácil pensar que o terrorismo é o grande problema deste mundo. Como isso nos faz sentir puros. Como isso nos desresponsabiliza de todos os nossos pecadilhos.

Qualquer critério racional coloca o Bin Laden e os seus amigos fora da lista dos grandes problemas que enfrentamos. Fica atrás dos tremores de terra, à frente dos tsunamis e dos meteoros.

Já programaram as vossas férias? Que tal um fim de semana em Londres? Os hotéis costumam ser tão caros...

Entretanto, não era má ideia tentar apanhar o Bin Laden.
Cartoon tirado daqui.

quinta-feira, julho 7

O nosso Cherne Serial Killer

Passado um dia sobre o admirável desfecho da farsa das patentes de software na Europa, vejo que já nestas páginas foi brevemente arrastado pela lama o nome do nosso querido ex-valoroso líder, o nosso grande Presidente da Comissão Europeia (entidade subsidiária da Microsoft corporation), o nosso one and (thank God) only Durão Barroso, cognominado “O Cherne”.

Estou chocado! Os termos displicentes em que tais reparos foram feitos não são adquados a este grande personagem da política Portuguesa, talvez mesmo o único que ficará para a História das últimas décadas como verdadeiramente influente na Europa e no mundo.

Uma análise da importância política desta personagem não poderia começar melhor do que frisando os paralelos que o levaram a ser comparado ao peixe que lhe empresta o cognome. Vejamos o que a wikipedia tem a dizer acerca desta criatura:

“Garoupa, Cherne, mero, marelaço (em Cabo Verde), galinha-do-mar ou piracuca (no Brasil), são nomes vulgares de várias espécies de peixes da sub-família Epinephelinae, família Serranidae, ordem Perciformes.
As garoupas são peixes muito apreciados na culinária, devido à sua carne branca, firme, com espinhas fáceis de retirar e... um sabor especial.”

De facto, a “espinha dorsal” parece ser um acessório facilmente descartável, não só do nosso Cherne, diga-se, mas de vários dos seus amigos na Comissão Europeia. Não é por acaso que certas corporações Americanas, conhecidas pela sua argúcia negocial e jeito para a cozinha, o escolheram na praça, de entre tantos outros peixes que se encontram diariamente à venda, e o adquiriram para a sua ementa. Esta gente é muito ocupada e não tem tempo para peixes difíceis de desossar Quanto ao sabor, será certamente “um gosto adquirido”…

“As garoupas são hermafroditas sequenciais do tipo protândrico (nos primeiros estados de maturação sexual são machos e, mais tarde, convertem-se em fêmeas, (…). Durante a metamorfose para juvenis têm de endontrar um território adequado, uma vez que os adultos são demersais.”

Não sei em que fase da maturação sexual está o nosso Cherne, nem entrarei por aí, (a sua Comissão pelo menos aindou anda a dar ares do Machismo mais gritante quando ignorava displicentemente o PE, embora ontem já tenha cantado em falsete ) mas sabemos bem que ele já teve a sua “metamorfose para juvenil”. Não há nada como um antigo extremista de Esquerda para dar um bom extremista de não-se-sabe-muito-bem-o-quê (do conforto, talvez?). Teve que ser, tinha que arranjar o seu próprio território, no meio de todos aqueles adultos demersais.

“(…) São predadores activos - a maior parte tem uma boca grande e dentes aguçados, por vezes, mesmo no céu-da-boca. (…)”

E dizem ainda alguns que a wikipedia não é de confiança! Parabéns ao dentista do nosso bravo líder. Apesar de todos esses dentes suplementares é fabuloso que a sua dentição não esteja já gasta de tanto que ele deve andar a comer entre as refeições. Quanto à dentição no céu da boca, de facto para este Senhor em ascenção meteórica o céu é mesmo o limite. Ainda há pouco tempo se referiram a ele como "(...)a Napoleon Wannabee who heads the European commission(...)", o que, penso, era um elogio.

Nesta ultima passagem esconde-se ainda entre linhas uma referência mais importante, e que motiva este artigo: a sua tendência para o homicídio (político) em série. Ora vejamos:

Num belo dia, ao abandonar o País que tanto o preocupava para ir destruir, perdão, dirigir a Europa, o nosso amigo conseguiu, com a mesma inevitabilidade de quem derruba a primeira peça de dominó, assassinar, por esta ordem mais ou menos cronológica mas não de preferência ou importância:

- O governo PSD

- O Santana (a quem foi permitido mostrar o que valia, tragédia pior não lhe podia suceder)

- O Paulo Portas

- O PSD e o CDS-PP, e consequentemente, o equilíbrio esquerda/direita no nosso País.

- A Economia Portuguesa, massacrada pela instabilidade de tudo isto.

- QUASE O futuro da Informática na Europa e no mundo (our serial killer goes international - ainda lhe deu várias facadas mas a vítima recuperou miraculosamente)

- e … (?)

…e se calhar o próprio futuro da Europa. A arrogância da Comissão na questão das patentes criou uma cisão brutal com o Parlamento Europeu, e uma percepção da parte de alguns círculos da sociedade do enorme deficit democrático desta União Europeia que temos, em que o único órgão directamente eleito praticamente não tem poderes reais, e os que tem são ignorados.

Em vez de carregar em frente, dizendo sim à presente proposta de Constituição Europeia, há agora a tendência para a temer, para esperar até que os actores sejam alguém de confiança em vez destes burocratas arrogantes, corruptos, que se vendem a interesses externos por meia dúzia de cobres. Era já visível a arrogância destes senhores. Qualquer “não” obtido em referendo recebe deles um abanar de cabeça daqueles que se reservam ás criancinhas mal comportadas e ignorantes. “Esperemos um pouco e perguntemos de novo. A ver se já sabem a resposta certa”. Isto é, a deles. Foi também nesse espírito que avançou a farsa das patentes. Um não é sempre temporário, o sim é eterno. É só insistir até que um dia passe discretamente. Se é assim que querem fazer avançar a construção Europeia, não constroem nada a não ser um império de escravos, onde nem os governos nacionais poderão ser responsabilizados porque “temos que seguir as indicações de Bruxelas" será a desculpa universal. "Há lá uns senhores muito maus, está a ver”. Esquecem-se de quem é formado o Concelho? Por quem é formada a comissão? Os "nobres" escondem-se atrás dos burocratas para se tornarem invisíveis. Esperam assim escapar à guilhotina, cuja sombra é, e sempre foi, o único verdadeiro controlo sobre os seus excessos…

Isto deve pelo menos de servir de lição aos senhores da Europa que elegeram o nosso Cherne porque acharam que ele era uma escolha inofensiva (lembram-se?). Vão deixar de subestimar o nosso país. Quando fazemos merda, fazemo-la em grande! E por este caminho ainda vamos ficar na História como os "pacóvios inofensivos" que pariram a quimera Napoleão/Jack the Ripper capaz de afundar o sonho Europeu…

Por este motivos acho que é perfeitamente impróprio o post precedente acerca desta nossa grande figura. Que falem mal de nós, desde que falem. E falarão, se do nosso Grande Líder depender. Dizem-me que ele só obtem derrotas? Tolos! Não compreendem a sua estratégia brilhante! Napoleão tam mais encanto na hora da sua Waterloo. E para este nosso Napoleão, todas as batalhas são uma Waterloo. Isto é de uma beleza que só toca as sensibilidades requintadas.

Para terminar, não posso deixar de referir um comentário delicioso que alguém deixou nas paginas do slashdot, numa discussão sobre patentes:

“.., Mr Durão Barroso, dismissed the discussion on the issue. He's Portuguese. I am Portuguese. I'm apologize to you all, but we portuguese had to get rid of him somehow... The European Comission was just a lucky coincidence.”

The tube

Santana Barroso?



Logo à entrada fez voz grossa ao parlamento europeu a propósito da nomeação do comissário italiano: recuou passadas horas. Puxaram-lhe as orelhas por causa de um passeio de iate. Foi a França convencer os franceses a votar o referendo europeu: só aumentou a votação do não. Ficou paralisado após o não da Holanda. Colocou todo seu o peso político por trás da lei do software: conseguiu catorze votos a favor, levou novo puxão de orelhas do parlamento europeu.
Já fez algo de positivo?
Para onde é que ele se pisga desta vez?

quarta-feira, julho 6

Boas notícias para a Europa

Ouvia-se rumores desde ontem. O pequeno milagre aconteceu.

A directiva de patentes de software foi rejeitada por 648 votos contra 14 na votação de hoje. Na minha talvez imodesta opinião, a Europa (e o Parlamento Europeu) estão de parabéns.

Resta a forma lamentável como se portou a Comissão Europeia em tudo isto, e as cisões que causou com o Parlamento ao forçar a passagem da sua "posição comum" (designação perfeitamente cómica neste caso)...uma votação tão esmagadora terá sido contra as patentes ou contra a bofetada que a comissão desferira sobre o Parlamento em Maio passado?

PS: Melhor do que o link para a BBC que coloquei acima é este para a WikiNews. Note-se o seguinte detalhe:

Before the vote, rapporteur Michel Rocard had pointed at the irritation of the Parliament towards the Commission: "There is collective anger throughout the Parliament because of the way the directive was handled by the Commission and the Council".

E ainda melhores notícias:

During the debate on Tuesday, Commissioner Joaquín Almunia told MEPs: "Should you decide to reject the common position, the Commission will not submit a new proposal.".

Esperemos que não se esqueçam do que disseram. Isto significa que o assunto deverá estar arrumado durante os próximos dois anos pelo menos. Falta saber o que virá depois...

Salve-se quem puder

O comentário mais simpático que consigo fazer à decisão de Sócrates de avançar com o aeroporto é que o senhor em causa sucumbiu ao pânico perante a sua total incapacidade em lidar com os problemas do país. Votei nele e voltava a votar agora, por ausência de alternativas. Compreendo agora os gregos que se vendiam como escravos a um romano. Alegrem-se! Ainda estamos uns furos acima dessa situação.

PS: Não costumo ser tão raivoso. Juntei explicaçõs nos comentários.

Pontos de vista

A propósito de direitos, sociedade e estados de espírito, vale a pena ler o post da Helena sobre a situação na Alemanha.

Na Terra da Alegria de 2.ª feira o Afonso Cruz aborda o caso Galileu, sob o ponto de vista actual. A discussão continuou no Quase em Português e no Timshel. Afinal parece que eram os cardeais que estavam mais próximos da verdade! E esta, hem? Só é pena que a Terra da Alegria não permita comentários.

terça-feira, julho 5

First thing we do...

"First thing we do is kill all the lawyers."- Henry VI, Part II – William Shakespeare

A politica esta cheia de advogados. A industria esta cheia de advogados. E eu já estou “cheio” dos advogados.

O que é um advogado? É, como um cangalheiro, um sintoma de que algo correu mal. Em principio, alguém que se chamaria em caso de uma infeliz necessidade. Mas ao contrário dos cangalheiros, a quem não é permitido incitar o homicídio para aumentar as vendas, aos advogados é permitido incitar ao litígio. Isto decorre da natureza das coisas? Ate certo ponto. Acima de tudo decorre de que temos mais advogados do que cangalheiros nos órgãos de poder. Aposto que se tivéssemos tantos cangalheiros no parlamento o número de mortes prematuras começaria misteriosamente a subir em flecha…

(Por vezes penso que o motivo para tantos advogados no poder decorre disto: Todos sabemos como os governos adoram colocar à frente da agricultura alguém que não percebe de agricultura, à frente da defesa quem disso nada percebe, etc. Com os advogados estamos sempre em terreno seguro. O curso de Direito é o único em que não se aprende absolutamente nada acerca do mundo real. Como não sabem fazer nada de útil, estão qualificados para qualquer ministério.)

E sim, eis o que temiam, voltamos ao exemplo das patentes (a IT é o meu exemplo universal desta semana, mas isto aplica-se a quase todas as profissões técnicas):

Com a legislação das patentes de software os únicos que ganham são os advogados. Eles criam assim ainda mais empregos para si próprios. Hoje em dia apenas uma fracção ínfima dos recursos de uma empresa de software é gasto a fazer trabalho novo. Recursos imensos são gastos a reinventar a roda, a reprogramar partes triviais de código para não infringir este ou aquele copyright, esta ou aquela patente. Em cada passo é necessária uma multidão de consultores jurídicos e de advogados litigantes para assegurar que não estamos a atingir a “propriedade intelectual” de ninguém e que ninguém atinge a nossa.

Se simplesmente se terminasse esta farsa a poupança seria imensa. Os recursos que estão a ser gastos não são recuperáveis Os programadores que reinventam a roda estão a esgotar o seu tempo, as suas energias, a sua criatividade, os seus melhores anos. Isso não se recupera. Perdem as empresas, perdem os indivíduos, perde a sociedade. Perde-se criatividade e inovação, que é precisamente o oposto do que se pretendia com o sistema de copyright e de patentes. Os únicos que ganham são os advogados, que nada produzem, e cujos números se inflacionam, tal como as suas contas bancárias. Esta situação tem paralelos em todas as indústrias, desde o entretenimento à electrónica. Hà dúzias de leis que "protegem" os direitos dessas companhias e que não servem para nada senão alimentar as suas imensas colmeias de advogados, “standing armies” que substituíram os exércitos dos senhores feudais, mas que não são igualmente indispensáveis. Se dissolvêssemos as leis bizantinas que eles criaram para se engordar a si próprios e as substituíssemos por algo mais razoável veríamos que os prejuízos causados pela perda de “protecção” legal à “propriedade intelectual” não se comparariam às perdas incorridas em “protegê-la”. De quem é que eles nos protegem? Deles próprios. Grazie, Don Corleone!...

A nova lei de patentes de software é mais uma pedra na construção desta torre de Babel do litígio frívolo. Quem precisava dela? A que necessidade Europeia veio ela responder? Estávamos no caos antes da sua chegada? Quem pediu isto, além dos lobbies dos gigantes do software, eles mesmos meras marionetas nas mãos dos seus departamentos legais? Já nos tempos antigos era comum os Reis estarem nas mãos dos seus Senhores da Guerra…

Isto um dia destes termina mal. Os USA, à custa disto, já não são os líderes tecnológicos que em tempos foram. A Europa parece querer seguir o mesmo caminho. Há países, como a China, que não terão esses pudores, e que se quiserem, poderão agarrar a oportunidade e o espaço deixado livre. Nada contra os Chineses, mas como eu vivo aqui gostaria de não ver a Europa a dar um tiro na cabeça…

O que dizem a seguirmos o conselho do Shakespeare?

Que o primeiro comentário a este post seja uma piada de advogados (do mais negro possível) é o meu mais sincero desejo :)

LIVE 8 – The Long Walk to Justice

Uma grupo de cantores pop dão um puxão de orelhas aos G8 e explicam como se resolve os problemas do mundo. Só temos que ouvir e aprender como se faz. Será assim?
Perdoar a dívida resolve alguma coisa ou apenas permite recomeçar o jogo? Nem uma palavra sobre os governos corruptos dos países do terceiro mundo. Depois era mais difícil tira a foto com as criancinhas.
Uns estão lá porque o agente lhes disse que era um bom career move. Outros porque o contabilista lhes explicou quanto poupavam nos impostos. Muitos até acreditam no que estão a fazer. Para todos eles: o mais fantástico exercício de relações públicas que se pode imaginar. De borla.

segunda-feira, julho 4

Alternativas ao Prozac

Republico aqui o primeiro post deste blogue.

O princípio do fim dos fundos comunitários, a entrada na Comunidade Europeia de países com nível cultural superior ao nosso e salários mais baixos, a abertura das fronteiras aos produtos chineses criaram uma situação em que muitos portugueses já tem ou terão dificuldades em manter o seu nível de vida e sobretudo a sua auto estima. Este blog pretende discutir estratégias pessoais e políticas para lidar com este problema. A fuga para a frente e a ilusão de estar acima da carneirada não estão entre as nossas opções.

Más notícias para a Europa

"If people had understood how patents would be granted when most of today's ideas were invented and had taken out patents, the industry would be at a complete standstill today. The solution to this is patent exchanges with large companies and patenting as much as we can."-Bill Gates, 1991

Enquanto (segundo as minhas fontes no mundo dos tele-espectantes) os meios de comunicação nos continuam a distrair com não-notícias, algo de grave está prestes a consumar-se na Europa. Na próxima quarta-feira, e a menos de um pequeno milagre de última hora, arriscamo-nos a ser presenteados pela Comissão Europeia (contra a vontade do parlamento Europeu e da maioria dos profissionais de IT europeus) com a instituição de um regime de patentes de Software na Europa - US style! Se assim for, será o fim de uma era no campo da criação de software - o fim da era do "software de autor", e, consequentemente, o fim da inovação rápida no campo.

Em tempos dos quais ainda me recordo, a indústria do Software era um dos últimos redutos técnicos do indivíduo. As grandes inovações nesse campo provinham de indivíduos ou de pequenos grupos que trabalhavam em pequenas empresas ou nas suas casas, ou mesmo, proverbialmente, nos seus quartos em casa dos pais. Continuou a ser mais ou menos assim mesmo passada a era heróica. Mesmo na era da Microsoft muitas vezes as inovações eram compradas (ou roubadas) a estes indivíduos criativos. As inovações trazidas pelos monólitos empresariais dos quais Microsoft é bom exemplo não têm sido mais do que evolucionárias e tímidas. Veja-se a demora da Microsoft em compreender a importância da Internet. Mais recentemente, veja-se a resistência aos polémicos e verdadeiramente inovadores P2P ou Voice-over-IP.

Para alívio de muitos, estes dias de inovação “irresponsável” podem estar contados. Nos últimos anos os grandes grupos têm corrido a patentear, nos USA, todo o tipo de "inovação" trivial. Estas patentes incluem absurdos como o famoso método “1-Click” de Jeff Bezos (o patrão da Amazon) ou o "duplo click" da Microsoft de Bill Gates e uma infinidade de palhaçadas semelhantes. Trata-se de um jogo de cadeiras. O que é preciso é uma grande agressividade e rapidez para se ser o primeiro a sentar-se em cima de mais uma patente trivial. Isto requer falta de vergonha na cara e um exército de advogados mesquinhos a trabalhar nisso todo o dia. Creativity has nothing to do with it. Estas patentes são aceites porque a instituição que controla a sua atribuição 1) é incompetente, 2) recebe incentivos/pressões no sentido de conceder grande número de patentes e 3) porque a própria legislação o incentiva.

Quem lucra com isto? A maior parte destas patentes nunca são utilizadas. São tão gerais e absurdas que não há quem não esteja a infringir dezenas delas ao construir o mais simples programa. Os domínios intersectam-se e as grandes empresas estão sempre a invadir implicitamente os domínios umas das outras. O arsenal de patentes de uma corporação em boa forma serve portanto o propósito de "aniquilação mútua assegurada" em relação aos seus grandes competidores. É uma arma defensiva. Mas, usada contra indivíduos ou empresas pequena, é uma arma de ataque.

De facto, uma pequena empresa ou um indivíduo que de alguma forma desafie demasiado um dos grandes do software pode hoje em dia ser rapidamente eliminado ou assimilado. Um dia recebe uma oferta que não pode recusar, à melhor maneira da Cosa Nostra. Pode ser comprado a bem, fazendo uns cobres rápidos e perdendo o controle daquilo que construiu, ou pode ser afundado debaixo de uma torrente de processos legais, que não pode combater devido aos custos do processo, mesmo nos casos em que uma vitória fosse possível. Isto é particularmente perigoso no caso do Software Livre, e no caso de inovações polémicas como alguns programas p2p, que podem ser simplesmente eliminadas. Se podemos imaginar que um grande projecto como o Linux seja defendido com unhas e dentes, não é claro que projectos menores mas muito importantes consigam os fundos necessários para o fazer, ou que os seus autores tenham a motivação necessária para suportar o sacrifício de tempo e dinheiro a defender criações muitas vezes essencialmente altruistas ou lúdicas.

O facto desta insanidade do abuso das patentes não ser universal mantinha estas grandes empresas sob controlo. Não convinha até agora apertar demasiado o cerco pois as vitimas podiam simplesmente fugir para sítios mais seguros, como a Europa, causando um êxodo dos melhores programadores. Mais importante, não convinha fazê-lo para não assustar os Europeus, antes de os colocar debaixo das mesmas regras. Essa restrição poderá cair na próxima quarta-feira se o Parlamento Europeu não conseguir travar a proposta da Comissão. A história de como esta proposta chegou tão longe é em si própria um atentado à democracia na União Europeia, e tão grave talvez como a própria lei de patentes.

Se este regime de patentes se tornar universal, e se as empresas americanas conseguirem estender as suas patentes presentes à Europa, o que arriscamos não é apenas o alastrar à Europa do mesmo género de caos legal que contamina hoje a IT nos Estados Unidos. O que se passará será um piorar da situação tanto nos US como na Europa. Sem a existência de um refúgio Europeu, será o cair definitivo das luvas brancas. Será a caça aberta à inovação individual, e o cair da programação no “profissionalismo” mais rasteiro – passamos a ter meia dúzia de gigantes que controlam tudo, e os profissionais do campo passam a ser todos do género Dilbertiano, adequadamente “9 to 5” (em tudo menos nos horários), escravos engravatados, empregados de caixa do MacDonalds ou do Jumbo, (mas a um nível intelectual ligeiramente mais alto), sempre a trabalhar nos projectos dos outros em vez dos seus, aborrecidos de morte, à espera de mais um peixinho como uma boa foca amestrada. Quem perde é a criatividade individual, que não sobrevive em aquários, e consequentemente o progresso, e consequentemente todos nós.

Não esperem que alguma grande mudança aconteça. Nada será noticiado. O problema é precisamente que, como dizia Bill Gates na citação com que comecei (nem sob tortura se poderia arranjar melhor), as coisas vão mudar cada vez menos…

Muitos projectos desaparecerão. Muitos mais não serão sequer iniciados, por medo das consequências. O pior de tudo é que não chegaremos sequer a perceber o que estamos a perder.

domingo, julho 3

O Direito ao Trabalho

Tirado daqui.

Como diz Pacheco Pereira, os blogues são importantes porque (quando) é uma elite que está a escrever para uma elite. Vale a pena escrever um artigo de opinião para cem pessoas? Só vale se esse artigo tiver algum valor acrescentado que normalmente não se possa encontrar num jornal diário. Quando perder a ilusão de às vezes conseguir isso, fecho a loja. A primeira das coisas que não faço é expor aqui as minhas opiniões que são partilhadas pela maior parte dos leitores. Seria uma perda de tempo. Se isso leva a que algumas pessoas me tomem por fascista, que posso eu fazer?

Um exemplo do tal valor acrescentado? Todos nós temos as nossas referências. Não se pode estar a pôr tudo em causa todos os dias. Um blogue de opinião é o lugar onde podemos dar-nos ao luxo de por essas referências em causa. Convém fazê-lo uma vez por outra. Só assim podemos compreender cada vez melhor os fundamentos das nossas convicções. Só um homem de pouca fé tem problemas em discutir os valores em que acredita. Mesmo que a certa altura surja alguma dificuldade, havemos de a superar reflectindo um pouco mais sobre o assunto. A nossa compreensão do mundo sairá sempre reforçada.

Responder à opinião expressa por alguém com um artigo da Declaração dos Direitos do Homem não não me parece fazer sentido. Está-se a pretender explicar à pessoa em questão que cometeu um delito de opinião? Que tal tentar perceber a razão que levou os criadores da Declaração a incluir o artigo em questão e explicar essas razões à pessoa em causa?
A motivação do parágrafo anterior foi um comentário de um leitor anónimo ao post Donde vem a electricidade? Afirmo eu nesse post que A Constituição Portuguesa, ao assegurar o direito ao trabalho, está a contribuir para que os portugueses tenham uma visão pouco realista da forma como a sociedade funciona. Note-se que os americanos não têm esse direito. Nem os franceses.

Artigo 58.º (Direito ao trabalho) 1. Todos têm direito ao trabalho. 2. Para assegurar o direito ao trabalho, incumbe ao Estado promover:a) A execução de políticas de pleno emprego; ...

Este governo não está a promover uma política de pleno emprego. Os anteriores ainda menos. E a oposição não denuncia este facto? Ninguém faz nada? Será que a constituição está a ser levada a sério? Será que é para levar a sério? Como é possível este estado de coisas? Não deveria o governo cair por não estar a cumprir a constituição?

Quais seriam as consequências de uma política de pleno emprego? Querem mesmo seguir esse caminho? Existe uma tal política?

O que é que significa toda a gente tem direito a trabalhar?
Tem direito a trabalhar no que quiserem?
Naquilo para que estão habilitadas?
Naquilo que estiver disponível?

Para que serve então incluir uma norma deste tipo na Constituição? E na Declaração dos Direitos Humanos? Quais foram as consequências práticas destas inclusões?

sábado, julho 2

O satélite indiscreto do Google


Experimentem os mapas do Google se ainda não o fizeram. Cheguei lá por um link do Blasfémias e tenho-me divertido. Para localizar uma cidade fora dos EUA é necessário indicar o país (ex.: Lisbon Portugal ou Roma Italy). Uso o botão "satellite" para as imagens de satélite e é possível obter, para certas regiões, uma resolução que permite distinguir o prédio onde moro. Tenho aproveitado para explorar melhor a região de Lisboa, onde moro, e para explorar outras cidades que conheço menos bem. Fica aqui um detalhe com o Coliseu de Roma.

Pode ser interessante para preparar as férias mas, infelizmente, algumas cidades como Praga ou Viena não estão totalmente cobertas por imagens de alta resolução. Em Paris consegue-se ver a Torre Eiffel.

sexta-feira, julho 1

Donde vem a electricidade?


Donde vem a electricidade? Do interruptor...
Donde vem a agua? da torneira...
Donde vem o meu salário? Aparece na conta bancária...
Donde vem o bife? Do supermercado...

O relógio foi durante muito tempo o nosso modelo preferido. Modelo do universo, modelo da sociedade, modelo do nosso cérebro. Foi suplantado pelo computador. Alguns letrados falam do progresso notável desta mudança. Deixámos de estar reduzidos ao primitivismo da concepção mecanicistica do universo e da sociedade. De muitos pontos de vista esta mudança foi um retrocesso. Os relógios antigos, nós percebíamos como é que funcionavam. O computador, mais parece ser um objecto mágico. Umas vezes funciona, outras não. Vá-se lá saber porquê. Tal como os nossos carros e quase todas as geringonças que temos lá em casa.
A matemática podia ser a relíquia do passado que nos podia ajudar a reter uma concepção artesanal (não mágica) do mundo. Na matemática tudo se pode compreender e tudo se deve compreender. O mecanismo está à vista. É por isso que é difícil. Era preciso acabar com este atentado à nova concepção do mundo. Foi fácil. Bastou substituir a tabuada por uma pequena caixa negra (agora já é mais colorida) e esperar uns anos.

Recentemente foram feitas ou ameaçadas greves de médicos, professores e juízes. São greves com um certo caracter corporativista. São feitas contra o Estado que somos todos nós. Trata-se de um grupo social a lutar por uma fatia maior do bolo do Estado. O que implica que outro grupo receba menos. O Lino perguntava no outro dia porque é que estas greves continuam a ter a simpatia da generalidade da população. Mesmo daqueles que vão provavelmente perder uma parte do bolo. A razão parece-me obvia. As pessoas não interpretam as reivindicações em termos causais. Quando se reivindica algo, o bolo estica. Vá-se lá saber porquê... Esta incapacidade de compreender o mundo compromete a médio prazo o funcionamento da sociedade.
A Constituição está cheia de boas intenções ao afirmar o direito à habitação e ao trabalho. É um dos pilares onde assenta a concepção mágica do mundo actualmente em vigor na nossa sociedade. Também podemos legislar o direito a voar. Não é por lá estar escrito isso que ganhamos asas. Como é possível garantir o direito ao trabalho? Existe uma máquina de criar empregos algures na Assembleia da República? Deve é dar um certo trabalho pô-la a funcionar. Estes políticos são uns preguiçosos. O direito à habitação é mais fácil de assegurar. Já existem em Portugal casas mais que suficientes para todos os portugueses.

Não querem perder o fé no futuro da humanidade? Evitem assistir a uma reunião de um conselho científico de uma universidade. Seria de esperar que pessoas com um doutoramento e décadas da sua vida dedicadas ao estudo tivessem uma compreensão mais profunda dos mecanismos de funcionamento de uma sociedade. Não têm. Existem razões que parcialmente justificam este facto. A universidade foi durante séculos protegida das contingências do dia a dia. Havia e há boas razões para isso. Só assim é possível a alguém embrenhar-se num problema durante vários anos e produzir algo verdadeiramente novo. Correcta ou incorrectamente, a sociedade decidiu que as coisas deviam mudar. Os pivots de telejornal têm outras prioridades. Seria de esperar que numa centena de pessoas cultas e relativamente bem informadas, metade fossem capazes de se aperceber das mudanças. Seria de esperar que os que se apercebem dessas mudanças não virassem a cara para o lado e preferissem subir mais uns degraus da sua torre de marfim. Pois seria.
Quando os membros de uma sociedade não compreendem os mecanismos do funcionamento dessa sociedade, acabam por aprendê-los mais cedo ao mais tarde. À sua custa.