segunda-feira, dezembro 12

Posts Totalitários


Considero que um post de opinião deve estimular o diálogo. Alguns posts apresentam uma posição políticamente correcta de tal forma que quem discordar ganha logo o estatuto de proscrito. Muitos blogues não publicam posts de outro tipo. Mesmo as pessoas mais abertas ao diálogo publicam de vez em quando um post totalitário. Acontece aos melhores. Vou ilustrar esta ideia com posts da Madi e do Lutz.
Como comentar um post totalitário? É preciso um niquinho de coragem para pôr em causa a ideia subjacente ao post. Se resolvermos avançar convém evitar meias palavras.
Comecemos porém por arrumar a casa. O meu post sobre o Lobo Antunes é um bom exemplo de um post totalitário. Existe algo mais politicamente correcto do que lembrar que não se deve abrir a correspondência das outras pessoas? Até é verdade. Acontece que os valores são sempre algo relativos. Se eu estivesse mesmo muito interessado na obra do LA lia mesmo as suas cartas de amor escritas durante a guerra. Nem que tivesse de pagar esta acção com as chamas do inferno. No excuses. Não é, Sofia?
Porque é que eu escrevi o post daquela forma? Não resisti a tentar captar um instantâneo com uma dimensão trágica a lembrar o rei Lear. O LA a ser levado ao pelourinho pelas próprias filhas.
A Alemanha é uma grande potência que abdicou de ter uma política externa. Um alemão quase que se pode dar ao luxo de colocar as coisas nos termos postos pelo Lutz. Um português também. É facil arranjar variantes da pergunta em que o problema se põe de outra forma.
Todos os governos americanos violam sistematicamente os direitos humanos. Um americano não deveria votar, mesmo que a opção fosse entre o Clinton e o Bush?
Alguém sabe exactamente o que se passa na Base das Lajes e nas bases americanas na Alemanha? Não serão todos os governos portugueses e alemães coniventes com violações sistematicas dos direitos humanos? Vamos deixar de votar?
Paulo Pedroso foi candidato a deputado pelo PS. Eu votei no PS. Foi um dilema muito complicado. Achei que não tinha alternativa.
O post da Madi é demasiado delicioso para o gastar já. Fica para uma próxima oportunidade.

22 comentários:

Orlando disse...

Um post totalitário pode deixar de o ser a posteriori. As linguas humanas não são livres de contexto, como as linguagens de programação.

Broken M disse...

Qual post?

:)

Sofia disse...

É, ON. :)

Mas já agora, e para que fique registado, nunca li uma biografia, nunca li o diário de Anne Frank...

Vou só para um inferno intermédio, não é?

Orlando disse...

Madi, estive a reler o post e talvez tenha sido parcialmente traído pela memória. Tenho de voltar a pensar no assunto.

Sofia disse...

:))) Parcialmente traído pela memória...

"Um post totalitário pode deixar de o ser a posteriori (...)"

A memória até tem a capacidade de transformar posts não totalitários em totalitários... :)

Já estava eu de arma em punho para contestar... ohhhhhhhhhhh... :)

Broken M disse...

lol

Eu sou um bocado totalitária. Mas daí a ser assim tão evidente...

Mas já agora, qual dos posts é que é delicioso? ;)

Orlando disse...

Só falo na presença do meu advogado:)

Anónimo disse...

Nao percebo o que quer dizer essa designacao de 'post totalitario'.

No caso do post do Lutz, a pergunta leva-nos a concluir que a nossa posicao politica nao se pode resumir a ir votar. Se eu voto naquele que eu sei que vai ser responsavel por violacao de direitos humanos porque nao existe melhor alternativas, entao: ou, (i) complemento o meu voto com uma actividade politica no sentido de contribuir para a criacao de alternativas melhores; ou, (ii) estou a aceitar de forma implicita a existencia de violacoes dos direitos humanos.

A pergunta do Lutz e', pois, uma pergunta que nos obriga a tomar consciencia das nossas responsabilidades politicas, ou civicas. Fica cada um de nos sozinho perante a sua propria consciencia.

Orlando disse...

Caro MP,
se já votou alguma vez num partido que ganhou uma eleição, já votou num governo com culpas graves nas violações dos direitos humanos.
Ver o post do Blogo Existo citado em "vemos ouvimos e lemos".
Todos temos obrigações políticas. Todos somos responsáveis por tudo o que acontece.

Anónimo disse...

ON, exacto, estou de acordo. E' isso justamente que eu estou a dizer. Isto e' muito facil de entender conceptualmente, dificil e' saber o que fazer de seguida.

Orlando disse...

"Nao percebo o que quer dizer essa designacao de 'post totalitario'."

Caro MP,
é necessário distinguir a forma do conteúdo. Um post ser totalitário tem a ver com a forma como as coisas estão apresentadas e não com o conteúdo das ideias nele expressas. Posso concordar totalmente com o conteúdo de um post totalitário.

Orlando disse...

"Madi, estive a reler o post e talvez tenha sido parcialmente traído pela memória. Tenho de voltar a pensar no assunto."

Fraquejei cobardemente.
O post sai amanhã.

Broken M disse...

Fraquejaste?

Nem parece teu, on.

Nem sequer me dizes qual é o post delicioso?

Calvin disse...

ON, o que tu chamas de post totalitário é o mesmo que um post falacioso? Um post que aborda um assunto, desenquadra ligeiramente o contexto e a seguir extrapola um conclusão? Isso não é um óptimo estímulo para a discussão? :o)

Orlando disse...

Não é isso Calvin. Uma falácia envolve uma violação das leis da lógica. Um post totalitário está ligado à escolha de um enquadramento moral dentro de um certo contexto social (os leitores habituais de um certo blogue).

Orlando disse...

Calvin,
um post totalitario pode ser subvertido pelo próprio autor à posteriori. Nesse sentido pode ser um instrumento interessante para desafiar um certo status quo.

lb disse...

Acho a questão está a ficar mesmo interessante, pois passamos não só a discutir o dilema que o meu post expõe, mas a forma como discutimos moral e política. O meu post foi entretanto apeleidado demagógico, políticamente correcto, e agora totalitário.
Espero aprender um pouco mais sobre estes conceitos, que no debate costumam ser moeda barata, mas cujo significado mais preciso me escapa muito.

Mas não vou fingir que não percebo a tua crítica. Mas não acho que ela é justificada, pelo simples facto de que nem eu tenho uma ideia preconcebida para a resposta da minha pergunta, nem é o contexto social (os leitores habituais do meu blogue) tão uniforme como pressupões: Para alem de ti, estão lá o JPT e a Zazie, pelo menos...

Vou publicitar este teu post lá nos comentários, pois acho o muito importante para a discussão.

Sofia disse...

Desculpa lá, ó Calvin: Desde quando é que tu sabes discutir?? Os bébés não discutem! PARABÉÉÉNS! :)

Orlando disse...

Lutz,

começo por transcrever dois comentários anteriores:

"Um post totalitário pode deixar de o ser a posteriori. As linguas humanas não são livres de contexto, como as linguagens de programação."

"um post totalitario pode ser subvertido pelo próprio autor à posteriori. Nesse sentido pode ser um instrumento interessante para desafiar um certo status quo."

Achei estranho que ninguém comentasse o post franceses e alemães.

Orlando disse...

Lutz,

começo por transcrever dois comentários anteriores:

"Um post totalitário pode deixar de o ser a posteriori. As linguas humanas não são livres de contexto, como as linguagens de programação."

"um post totalitario pode ser subvertido pelo próprio autor à posteriori. Nesse sentido pode ser um instrumento interessante para desafiar um certo status quo."

Totalitário é um termo técnico. Tem só a ver com a forma como se construiu o post. Não é uma (des)qualificação oral.

É preciso vencer uma certa inércia para discordar do teu post. Se fosse construido de outra forma, era mais fácil.

PS:
Achei estranho que ninguém comentasse o post franceses e alemães.

lb disse...

Não comentei porque não me ocoreu nada para dizer. Sim, os franceses conceguem esconder a sua política externa suja melhor do que os americanos. Porque? Julgo porque são menos poderosos. Lembro que fui profundamente chocado com a história do Rainbow Warrior. Que ele foi possível acontecer, e que ela não tem provocado a queda de Mitterand.
Sempre achei, e ainda hoj acho, que nenhum governo alemão sobreviveria um escândalo destes. E bem!

Orlando disse...

Não me parece que seja só isso. Os franceses escondem melhor porque a população francesa é pragma´tica. Sabe o que tem a ganhar com certas negociatas e não chateia o seu governo por aí além por coisas sem importância...