quinta-feira, dezembro 15

Cajamarca

Decorre amanhã mais um aniversário da mais simbólica batalha de sempre. A 16 de Dezembro de 1532 um destacamento de 168 espanhóis comandados por Francisco Pizarro derrotou 6.000 incas em trinta minutos, matando 4.000 e aprisionando o imperador Atahualpa, sem sofrer uma única baixa. Pizarro encontrava-se no coração do império Inca. Não tinha acesso a reforços de qualquer tipo. Assistiram à batalha cerca de 80.000 incas. Como foi possível que tal tivesse acontecido?

Pizarro era um aventureiro em busca da fortuna. Deslocou-se com o seu pequeno grupo de sequazes até perto dos territórios por onde andava nessa altura Atahualpa, que tinha acabado de derrotar o seu irmão Huascar. O imperador convidou-o para um encontro. Quando avistaram o exército inca os espanhóis ficaram completamente aterrorizados. Compreenderam rapidamente que qualquer demonstração de fraqueza da sua parte resultaria na sua perdição. Na falta de alternativa, avançaram.

Pizarro enviou o Padre Vicente de Valverde para falar com Atahualpa. O padre aproximou-se do imperador com uma Bíblia numa mão e uma cruz na outra, invectivando-o a submeter-se às ordens de Jesus Nosso Senhor e do rei de Espanha. O imperador nunca tinha visto um livro à frente. Tentou manuseá-lo sem grande sucesso. O padre tentou tirar-lhe a bíblia das mãos para lhe mostrar como a usar. Atahualpa não gostou do excesso de familiariedade, afastou o braço do padre e atirou a bíblia para o chão. O padre correu em direcção a Pizarro, gritando que só um ataque imediato lavaria a ofensa à fé cristã. Nesta altura a situação já estava tão crispada que Pizarro não tinha outra alternativa senão atacar.
Os incas foram apanhados de surpresa. As sucessivas investidas da cavalaria, disparos dos arcabuzes e canhões desorganizavam continuamente o grupo de soldados em volta do imperador. As armaduras de aço pareciam tornar os espanhóis invulneráveis. Uma vez capturado Atahualpa, toda a resistência cessou. Os incas pagaram um resgate de 240 metros cubicos de ouro pela libertação de Atahualpa. Pizarro matou-o mal recebeu o resgate. O império inca caiu rapidamente nas mãos de um grupo de algumas centenas de espanhóis, com uma base de apoio situada do outro lado do mundo.

Durante muitos anos esta batalha foi apresentada como a prova da superioridade dos povos europeus. Já pouca gente afirma abertamente tal coisa. Actualmente é mais vulgar que esta batalha seja apresentada como um símbolo da inferioridade moral do ocidente. Que vos parece?

10 comentários:

António Araújo disse...

Moral em que sentido? A moral ou *o* moral? *O* moral parece-me ter falhado mais do outro lado :)

António Araújo disse...

Quanto à moral...Arrisco apostar que o outro lado não consistia de santos...sei que é um long-shot...

Anónimo disse...

é um episódio significativo, mas há teorias diferentes. segundo alguns os incas foram derrotados sobretudo pelo contacto com as doenças que os europeus levaram com eles e para as quais eles não tinham defesas imunológicas.
por outro lado, 168 espanhóis "conquistarem" um território de dimensão idêntica ao peru de hoje não deixa de ser outra perplexidade.
como nota dissonante deve dizer-se que o meu multiculturalismo é temperado por algum conhecimento do que eram os rituais sangrentos que integravam o quotidiano das tais civilizações destruídas. comparado com esses rituais, o acto de mutilar o clitóris das raparigas nalguns territórios africanos é brincadeira de crianças...
(mombassa.kid@gmail.com)

Anónimo disse...

Porque é que "conquistarem" está entre aspas?

Anónimo disse...

ON, "um destacamento de 168 espanhóis comandados por Francisco Pizarro" nao
representa o Ocidente. Logo, isto apenas demonstra a miseria moral desse destacamento e do poder espanhol da epoca.

E' dificil dizer se essa classe era moralmente inferior ou superior relativamente 'a dos Incas: falta-nos a informacao acerca da classe de poder dos Incas.

António Araújo disse...

É preciso ver que se Atahualpa se fazia acompanhar por um exercito de 80 000 homens foi porque gostava de os passear pelo país a tocar musica e a distribuir benesses pelo povo, num estado de perfeita harmonia ecologica e fraterna apenas destruido pela chaegada dos demonios brancos Europeus, fonte universal de todo o mal...

...e nunca, mas nunca, porque Atahualpa estava já metido numa guerra civil (literalmente fraticida, ou melhor, semi-fraticida) com o seu meio-irmão Huascar, que, tenho a certeza, foi travada com mimos e ofertas mutuas de rosas, como era habito em todos os paraisos desprovidos de demonios brancos Europeus moralmente inferiores.

Finalmente, o comportamente de Pizarro, em capturar Atahualpa "à traição" é inaceitavel pelas "leis da guerra". Tal como se espera dos capangas do Osama Bin Laden, ele deveria ter formado em linha e enfrentado os oitenta mil incas um por um em campo aberto, com os seus cento e tal espanhois. Os conflitos assimetricos foram feitos para permanecer assimetricos.

António Araújo disse...

É perfeitamente imoral que um exercito esmagadoramente superior em numero tenha ainda que se dar ao trabalho de possuir inteligencia e uma estrategia de jeito. O facto de se ser um gorila de 400 kg atribui-nos de imediato uma autoridade moral incontestavel. Afinal, se ja nos demos ao dispendio de reunir tanta gente e meios, não temos agora o direito de pôr um imbecil à frente deles?

Não, não estou a falar do Atahualpa :)

Broken M disse...

Acho que qualquer moral só faz sentido espacial e temporalmente.
Não acho que isto tenha a ver com moralidade de todo.

Anónimo disse...

Ah, ja' nessa altura se fazia ingerencia humanitaria. Grande Iberia! @:-)

Os Incas faziam muitas barbaridades. Logo, nos exterminamo-los. Os Incas nao fizeram mais barbaridades. E' verdade.

Anónimo disse...

Best regards from NY! »