sexta-feira, dezembro 30

Voltando ao Reiki

Uma busca na net mostrou-me que a história que eu li na FNAC sobre o Reiki é falsa. Achei interessante contá-la, apesar de tudo. Usui nunca foi reitor de um seminário cristão. Limitou-se a ter alguma curiosidade pela cristianismo, como todo o bom japonês do século XIX. Como é que surgiu esta história, que continua a ser repetida? Bem, os americanos estão cheios de dinheiro para gastar e o Reiki até lhes faz bem. É uma pena eles serem tão intolerantes contra o que quer que seja que possa ser visto como em oposição à religião cristã. Uma mentirinha por uma boa causa não faz mal nenhum...
Esta descoberta não mudou a minha opinião sobre o Reiki. Continuo a acreditar na possibilidade de o Reiki funcionar mesmo, sem descartar a hipótese de ser uma aldrabice. Se achar que funciona, quero aprender mais sobre o assunto. Acho que fazer uma pequena investigação deste tipo é um exercício epistemológico extremamente salutar. É essa a razão que me levou a escrever estes dois posts.
A mentirinha referida acima é apenas uma forma extremamente grosseira do tipo de mitificação que encontramos neste tipo de actividades. Tanto quanto consegui perceber existiam no Japão várias praticas terapeuticas semelhantes ao Reiki. O problema dessas tecnicas era que no fim de cada sessão o terapeuta ficava exausto. Uma parte da sua energia vital era transferida para o paciente. Usui terá conseguido que a sessão terapeutica tivesse efeitos revitalizantes para as duas pessoas envolvidas.
Normalmente a historia é contada de outra maneira. Todas a pré-história do Reiki é apagada e Usui é apresentado como tendo descoberto o Reiki num momento de contemplação mística. Como todas estas coisas aconteceram há cerca de um século, não se consegue apagar tudo. Ia terminar o post com uma versão moderada das ideias expostas pelo OMWO a propósito dos Mormons. Estes jovens fogosos...
Vou apenas lembrar que nada sabemos sobre a vida de Jesus até ao dia em que foi baptizado, por volta dos trinta anos. Acho quase certo que existiu uma homem chamado Jesus. O que é que esse homem fez durante trinta anos? A resposta parece-me obvia: andou a aprender a ser Cristo. A actividade religiosa na Judeia era extremamente rica. Muita gente lhe terá ensinado muita coisa. Apagar essa história é um ingrediente fundamental da construção do mito.
Não resisto a um paralelo blasfemo. O meu ex-vizinho Mourinho tornou-se rapidamente um mito de primeira grandeza porque caiu do céu e começou a ganhar tudo de um dia para o outro. Ele é o primeiro a lembrar que levou duas décadas de trabalho duro a transformar-se num sucesso instantaneo. Não lembra demasiadas vezes porque tem uma série de contratos publicitários e não convém estar a prejudicar o negócio dos seus clientes.

32 comentários:

maria disse...

Vou começar pelo Mourinho: na RTP anunciavam uma reportagem sobre o dito. Que o homem é isto e mais aquilo. Que as mulheres, sonham com ele, etc, etc. A última imagem do anúncio era o homem a piscar o olho e a fazer a figura mais idiota possível. Naquela última imagem, caía toda a pose de mito. Enfim, nem nos meus piores pesadelos me quero encontrar com o homem.

Agora o Reiki:
por acaso em frente ao local onde trabalho, existe um "centro?" de Reiki. Vejo portanto, as pessoas que o frequentam. A maior parte, parece-me, anda a abusar do xanax. Os outros, parece que caminham dois palmos acima do chão. Eu, mulher de fé, não sou muito dada a levitações e milagres por dá cá aquela colher...mas, não conheço o Reiki nem a maioria das filosofias orientais.
O que eu sei é que esta vida não é moleza, não. E as pessoas pelam-se por um bocadinho de atenção. Por algo que as leve para lá das prestações do carro e da precaridade das relações humanas. O sofrimento, está sempre à espreita e tentamos mil e uma maneiras de lhe fechar as portas. Pertenço a uma comunidade concreta, onde muitas das pessoas que aparecem pela primeira vez, ou depois de alguns anos de interregno, são pessoas debilitadas por algum ou vários males. Por vezes, ponho-me a pensar (vês como a sacanice, me está no sangue): Será que a minha Igreja está condenada a ser um grupo de totós (eu incluída)?
Parece que estou a dar razão ao teu colega de blog.

Quanto aos milagres respondo-te no post abaixo. Quando tiver tempo.

Orlando disse...

Maria da Conceição,
tens toda a razão, o último reclame do Mourinho é um falhanço.
Os factos que apresentas sobre o Reiki não me parece que ponham em causa a sua eficiencia. Não me parece também que provem algo contra a religião católica. É também para isso que a igreja serve não é? para acolher os mais fracos quendo precisam. E muitas vezes cumpre muito bem essa sua função, isso eu não discuto. E o OMWO não tem pachorra para isso.

De atenção estamos todos necessitados.
Quando as audiências do blogue diminuem eu quase que fico em risco de me atirar ao prozac...

Orlando disse...

Maria da Conceição,
não acho que Jesus Cristo tenha dado ordens para que se apagasse o que ele andou a fazer durante esses anos.
No entanto gostava de saber a tua opinião sobre o paragrafo em questão.

Também não concordo com a definição de fé do OMWO. Acho que a fé pode ser algo bastante mais complexo. Embora normalmente não o seja.

Também gosto de te ler irritada. Se não te irritas assim de vez em quando qualquer dia começo a confundir-te com uma beata. Não queremos isso, pois não?

Orlando disse...

CA,
be a gentleman!
Não deixes a MC a aguentar o barco sózinha.
Não é que ela não consiga, mas tu ficas mal visto:)

maria disse...

Acho bem que não concordes com a definição de fé do OMWO. Eu nunca digo;"tenho fé e pronto!" e "tu se queres, tem fé e pronto!" Ou; "reza e a fé aparece-te". O D. José Policarpo disse isso ao José Barata Moura no programa prós e contras e teve de se reduzir ao silêncio com a resposta do mesmo.
A fé não dispensa a razão, nem a dúvida, senão é uma fezada.
Mas a fé supõe uma coisa que é muito mal vista na nossa sociedade ocidental: a humildade. O aceitar que não tenho neste momento resposta para tudo. A fé ao contrário do que diz o OMWO, não fecha nenhuma discussão, mantém-na sempre em aberto.

Estás a referir-te a que anos de Cristo? Até à chamada "vida pública"? Ou antes disso?

Anónimo disse...

"Uma parte da energia vital era transferida para o paciente". Essa forma de energia não existe. Como é que eu sei? Porque não PODE existir. Impossibilidade metafísica e nomológica, apesar de possível lógicamente.

Anónimo disse...

O OMWO tem a certeza absolutíssima, sem a minima reserva, que a Fé em Deus, e Deus,
é uma pêta tão ,tão, tão evidente ......que não vale qualquer interrogação e reflexão. Eh,eh,eh,eh,eh,eh,eh!
Mourinho não é um mito, é apenas um exclente treinador de bola, recário, que vai desaparecer sem deixar rasto de aqui a pouco tempo.Alás, que relevãncia tem a bola , para além de ser uma industria com enormes retornos?

Orlando disse...

Setubal,
"Uma parte da energia vital era transferida para o paciente" significa para mim:
havia um problema qualquer. Mais nada.
Achas que eu "dou erros" nestas coisas? Eu sou como o Cavaco:)))

CI,
o Mourinho é um conforto diário para milhões de portugueses. Quando se levantam para o trabalho cada manhã, com o frio que faz agora, a única coisa que lhes dá alento é pensar que o Mourinho vai mostrar no fim de semana que existem homens inteligentes em Portugal.
Deste ponto de vista, a curto prazo, o Mourinho é tão importante para os homens como a Igreja Católica para as mulheres.

A posição do OMWO não é a minha mas não a acho estúpida. Merecia uma reflexão e uma argumentação.
Que tal tentar fazê-lo? Eu também vou dar uma ajuda.

MC,
a fé é um assunto muito complicado e intemporal. Pode esperar mais umas horas:)

Anónimo disse...

É pior que um mero erro! É uma blasfémia contra o conceito sagrado de energia! É invocar o Nome em vão!(E também invocaste a Esfinge mas eu acho que descais mais pró Tirésias). É confundir prestidigitação com conservação.
(Para quando o post a vindicar os cirurgiões filipinos?)

Orlando disse...

Qual erro? eu limito-me a repetir a explicação que "eles" dão para o problema. Esses cirurgiões, não conheço. MAs tu podes explicar. Pode ser que seja interessante:)

Tu podias era mostrar aqui aos amadores como é que se fala de religião, em vez de andares a fazer de ponto!

Anónimo disse...

Pôr Mourinho e Jesus como comparáveis?
Pensar dá trabalho, olhar para o lado também.A preguiça intelectual começa a ser recorrente e louvável como corajosa.E a asneira ignara um nova ideia.Que fazer? Nada.

Orlando disse...

Não me parece que eu tenha comparado Mourinho e Jesus.

Já agora, aproveito para fazer uma comparação: comparo o conforto que Mourinho deu o ano passado aos homens portugueses com o conforto que Jesus deu. Mourinho ficou a ganhar.

Anónimo disse...

Como sabes? É uma afirmação vaidosa e egoista.Há pelo menos um, eu, a que nem adianta nem atrasa.Se não tivessse o malão cheio de massa do mafioso seria assim tão campeão?

Orlando disse...

"Como sabes?"

O Americam Express não engordava substancialmente a conta do Mourinho se ele não tivesse um impacto assinalavel nas pessoas.
O Mourinho é o primeiro português a nível mundial a ser associado a uma imagem de inteligência e autoconfiança. Isso aumenta a auto estima de muitos portugueses. Também me incluo no grupo. Gosto que os meus colegas estrangeiros me falem com respeito sobre o Mourinho. E falam mesmo.

Não sei se o impacto é maior do que o de Jesus. A frase nem sequer tem um sentido preciso. É um dedo a apontar para uma Lua.Fica ao teu cuidado olhar ou não na direcção para onde o dedo aponta.

"É uma afirmação vaidosa"
Não me chamo José Mourinho. Até embirrava com o tipo nos tempos do Barcelona.
Antes disso era um puto mais novo que andava no Liceu comigo.

"e egoista."
Não percebo. Também não ne parece muito importante.

"Se não tivessse o malão cheio de massa do mafioso seria assim tão campeão?"
Não estou a discutir a moralidade do facto. Estou simplesmente a assinalá-lo.
Mas não me parece que malão resolva o problema. Basta ver o Real Madrid.

Broken M disse...

O Setúbal,

não PODE existir? Não sei o que fazes na vida, só espero que não sejas cientista. Esta frase é a pior frase que um cientista pode emitir.

Orlando disse...

"Esta frase é a pior frase que um cientista pode emitir."

Esta frase é a pior frase que um cientista pode PUBLICAR. Quando se está a tentar fazer ciencia vale tudo. As pessoas tém crenças (apostas) sobre como é que a ciência deve ser e essas crenças são fundamentais no processo criativo.
Muitas vezes estamos tão imersos nos detalhes técnicos que não é necessário fazer apostas.
Quando fores tu a ter que escolher qual é a experiência que é mais importante fazer a seguir vais ter que decidi-lo com base em "feelings" que não tém nada de racional.

Broken M disse...

Sem dúvida, on!

Mas não PODE! Com letras maiúsculas??

Quem diz não PODE, está à partida a impedir qualquer outra coisa de acontecer. Impede o acaso. Ou ao menos, não se permite vê-lo. :)

Orlando disse...

Intimidas-te com pouco, Madi!
Ele nem sequer te insultou. Não te atirou com um candeeirp a cima. Já vi bem pior, em discussões científicas.
Mas é melhor eu não me meter onde não sou chamado. Ele sabe defender-se:)

Anónimo disse...

Oh Madi! Quem me dera impedir qualquer coisa de acontecer dizendo "não PODE"!
Ciência e "não PODE": "infusível", "insolúvel", "instável" não são conceitos científicos, pois não? E não têm nada a ver com possibilidades?
A idéia, que tu e o ON compartilham, da ciência como uma actividade aberta e flexível, não é ciência mas filosofia da ciência. Eventualmente correcta, como já afirmei. Mas necessita de ser sustentada com argumentos e não com indignações. Acima esbocei, não muito bem, uma idéia alternativa, mas não me esforço mais enquanto não passarem dos chavões psicológicos (ON) ou indignação (Madi) à argumentação.
(Ouve lá ON, parece que atirei com um candeeiro a alguém!?)

Anónimo disse...

Madi, a idéia de não se permitir ver o acaso quando se fala em impossibilidade pode ser interessante. Se desenvolveres eu digo qualquer coisa.

Orlando disse...

Vamos lá a ver, Setúbal, tenho de distinguir três tipos de situações
1-Uma discussão entre dois cientistas sobre um tópico científico.
2-Um discussão entre dois cientista que estão a trabalhar num projecto científico juntos.
3-Uma discussão sobre um tópico como o Reiki, em que não existe à partida uam terminologia estabelecida.

No caso 1 todos os rigores são poucos.
No caso 2 é necessário pelo meio admitir que se digam de vez em quando as coisas mais loucas. A nossa mente cria coisas novas de uma forma bem estranha.
No caso 3 é preciso muita caridade até se chegar a acordos provisórios sobre terminologia, metodologia, objectivos etc.

Quanto a mim tu estvas a tratar o caso 3 como se fosse o caso 1.

Broken M disse...

Setúbal,

Quando nosso cérebro admite a impossibilidade de algo, é normal que não permita que nós vejamos o que está a acontecer. Não sei se existe algum estudo científico para isto, mas já vi isso a acontecer na prática muitas vezes.
A questão é que mesmo quando estamos em ciência, acabamos por ter um comportamento um tanto quanto religioso. Acreditamos que algo é ou não (ou pode ou não ser). A questão é que isso acaba por nos influenciar. Se achamos que algo não PODE ser, olhamos para os resultados e achamos que há um erro. Tentamos encontrar outras explicações. Por vezes, as pessoas desistem do que estavam a fazer. Simplesmente porque aquele resultado não PODE ser.
Tem-se dificuldade em olhar para o acaso e ignora-se.

Anónimo disse...

Bem, o Mourinho pode engordar as contas dos patrocinadores. Se o Mourinho aumenta a tua auto-estima, excelente! Nem sei o que um treinador de futebol aumenta a minha auto-estima! Tenho-a sem o futebol. O Futebol tem uma importãcia virtualizada na Comunicação - Social devido ao sua importãncia financeira.É perene, como em tudo que pegam os financeiros, a pior raça ao cimo da Terra.Vendem dinheiro, fruto do trabalho. E o trabalho fica de bolsos vazios.
Põe a fotografia de Mourinho debaixa da almofada.

Anónimo disse...

On, talvez tenhas razão. Ou talvez seja, também, uma aversão antiga e recente resumida numa frase já não sei de quem: "He was so broad-minded that he became scatter-brain".
Uma confissão pessoal: agrada-me o espanto, o escândalo intelectual e o sentimento do mistério. Estes (como tu sugeres acima) só são possíveis se houver uma relativa inflexibilidade. Aversão antiga: chocava-me a tranquilidade com que se aceitava o Zen como ilógico, ou o orgone e os biões do Reich. Aversão recente: por razões filosóficas e científicas estou convencido que há muitas coisas que são impossíveis (um homem não pode ser uma chinela de quarto; uma vaca não pode ser um peixe; há quem ache que sim.)
Mas possívelmente, e volto a dar-te razão, devia-me ter lembrado destes versos do Odgen Nash: "Here's a good rule of thumb
Too clever is dumb."

Anónimo disse...

On, ainda relacionado com possibilidades e com o assunto de vários posts teus e do Omwo: a existência de Deus é possível?(Não estou a perguntar se Deus existe). Eu acho que se podem dar respostas (contraditórias) mesmo sem saber se Deus existe.

Anónimo disse...

Madi, de facto essa tendência existe e há uma linha de estudos em psicologia cognitiva lançada por Tversky e Kanheman (ou um nome parecido; ganhou o Nobel da Economia há poucos anos) que estabeleceu a dificuldade que temos, na nossa vida quotidiana, em lidar com o acaso. Essa dificuldade é um caso de racionalidade limitada. Mas não é racionalmente limitado tornar imune ao acaso, certos enunciados. Por ex., segundo o ON, a conservação da energia é verdadeira por definição (eu discordo mas por agora serve). É impertinente avaliar estatísticamente uma verdade por definição.

Anónimo disse...

A citação correcta do epigrama do J.V.Cunningham é "This Humanist whom no beliefs constrained
Grew so broad-minded he was scatter-brained".

Orlando disse...

"segundo o ON, a conservação da energia é verdadeira por definição"

Vamos lá a ver: isto é um blogue. Não é um forum de discussão universitário. Podem-se dizer umas piadas. O que é que eu penso sobre o assunto (e não sou um especialista, convemlembrar):
Não há uma lei da conservação da energia: há um princípio em que se acredita e em que faz sentido acreditar porque foi sempre confirmado pela experiencia: nada se perde, tudo se transforma.
Existem várias leis da conservação da energia válidas para sistemas de vários tipos. Não existe seuqer um enunciado geral por não haver uma fefinição de energia. Existem vários tipos de energia: cinetica, potencial, etc e sabemos que se podem converter uns nos outros em determinadas condições, mais nada...

Broken M disse...

Existe só uma lei da conservação da energia. Quando se aplica a um sistema é que alguns termos são cortados.

Orlando disse...

Madi
Que lei é essa e qual é a tua definição de energia?
Quantos termos existem na equação?

Estás a falar de física ou de teologia?
Desculpa a pergunta: pelo teu comentário ao post "quantas dimensões?" dá para perceber que para ti são a mesma ciência :))))

Orlando disse...

Agradeço que passem os comentarios sobre termodinamica para o post do mesmo nome, que está mais acima. Se necessário, copiem o comentário a que estão a responder. Obrigado!

Anónimo disse...

Il semble que vous soyez un expert dans ce domaine, vos remarques sont tres interessantes, merci.

- Daniel