terça-feira, janeiro 31
Liberdade, Igualdade, Fraternidade
domingo, janeiro 29
sábado, janeiro 28
Lembram-se do Souto Moura?
quinta-feira, janeiro 26
A vida é espessa
FOTO: Jamb
quarta-feira, janeiro 25
Caridade (6): um conto científico
Quando me despedi do Lino em Lisboa, tomei a liberdade de insistir com ele para que continuasse os seus trabalhos sobre pequenos divisores. Tenho a certeza que ele te pode ajudar a resolver o problema, Luís.
"O Lino? Depois de todas as humilhações que me fez passar durante o último ano? Nem pensar."
John percebeu que o Luís estava a ser dilacerado por algum conflito. Vocês em Lisboa não discutem matemática uns com os outros?
A farpa do John acertou na mouche. Mas nem isso o convencia. Mawhinsky resolveu recorrer aos grandes meios. Sabes que Arnold esteve a semana passada em Cambridge? Disse-me ao almoço que tinha dois alunos a trabalhar nesse problema. Se eu fosse a ti, despachava-me...
Uma pequena mentira, por uma boa causa. O John nem esperou pela resposta do Luís. Lino, will you join us? E encaminhou-se para o confortavel sofá ao pé da lareira.
A Matilde ensaboava as pernas. Que sensações estranhas tinham percorrido o seu corpo quando descobrira que o John vinha a Lisboa. Ir ao seminário daria muito nas vistas. Arrastou as duas amigas até ao refeitório dos professores. Ele viu-me! Como pode ignorar-me? Finalmente os seus olhos encontraram-se no café. Ela desviou os olhos daquele olhar enigmático. A semana que ela passou na cama dele fora um simples divertimento? Será que ela nunca o saberia? Afogara as mágoas no TóZé.
Aquele convite do Porto dera ao John o pretexto. Telefonou ao Lino e combinou uma passagem por Lisboa. Quem sabe, talvez pudesse entrever a Matilde. Uma última vez.
terça-feira, janeiro 24
Mariano Gago e o Ensino Superior
Não tenhamos ilusões. As instituições do ensino superior são financiadas em função do numero de alunos que conseguem colectar, independentemente de qualquer outro critério. A continuidade de muitos cursos superiores está em risco. Confrontados com a opção entre a eliminação da licenciatura e aceitar alunos sem quaisquer conhecimentos, nenhuma escola terá dúvidas sobre a opção a tomar.
À tutela não interessa a qualidade do curso, o seu interesse que para o desenvolvimento do país, a percentagem de licenciados que arranjam um emprego compatível com as habilitações supostamente obtidas. Até agora exigia-se aos alunos um mínimo de conhecimentos. Agora nem isso. Se não forem bons chumbam. Quem sabe como funcionam as coisas, sabe que não é bem assim.
Uma universidade passou a ser um edificio com alunos interessados em obter um diploma. As instituições de ensino superior deixaram de ser entendidas como instrumento de desenvolvimento do país. Passaram a ser uma mais uma forma de satisfazer as clientelas regionais.
O abandono escolar provocado pelos erros grosseiros das políticas de "ensino" desenvolvidas no ensino secundário e a evolução demográfica levaram a que o custo per capita da formação de um aluno tenha pelo menos duplicado. A crise económica tornou esta situação insustentavel. O estado tem baixado os financiamentos do ensino superior de uma forma drástica, asfixiando grande parte das universidades. Em especial as que possuem um corpo docente mais qualificado, onde a percentagem do orçamento gasta em salários é maior.
O governo anunciou medidas duras. Entre elas a avaliação das universidades e o encerramento dos cursos com poucos alunos ou de qualidade duvidosa. A partir de agora haveria um critério de qualidade...
O diploma referido no Público deixa muitas dúvidas.
O MIT? fica para uma próxima oportunidade.
domingo, janeiro 22
The Day After
Alegre morreu na praia. Um por cento a mais e as coisas seriam um pouco diferentes. A sobreposição do discurso de Socrates ao de Manuel Alegre foi um truque sujo, mas ainda não viram nada. No futuro vai ser bem pior. Salgado Zenha ousou concorrer contra Soares em 86. Pagou bem cara essa ousadia. Alegre sabe o que o espera.
Mourinho em dia não
sábado, janeiro 21
Confissões de um eleitor
PS: O momento de senilidade de Soares mostrou que a possibilidade de as suas capacidades se deteriorarem durante o mandato é não desprezível. É extraordinariamente grave que o video tenha passado uma vez na televisão e depois tenha sido censurado. É ainda mais grave que ninguém da oposição tenha denunciado este facto. A classe dirigente está lá para nos dar a ilusão que podemos escolher, mais nada. Até Garcia Pereira tem clientes do PSD Madeira e paga-lhes tributo indo à Madeira elogiar Jardim.
Confissões de um eleitor (2)
No fim do mandato de Soares, achei que tinha aprendido o ofício de eleitor.
Começo a achar agora que ainda vou ter saudades dele.
sexta-feira, janeiro 20
Caridade (5): um conto científico
Enquanto aguarda a resposta do John, o Luís recorda a conversa que tiveram em Lisboa. Por um instante julgara ter encontrado no John o pai espiritual que tão desesperadamente procurava. Tinha sido um tremendo choque conceber meia hora mais tarde que o grande John Mawhinsky o estava a aldrabar. Seis meses depois, muita coisa tinha acontecido. Ali estava ele a pedir ao John para o ajudar no artigo. Tinha-se preparado para todas as possíveis respostas do John, menos para aquele interminavel silêncio displicente. O Luís tinha chegado ao limite das suas forças. Resolveu ser ouvido em confissão.
O Luís continua a fazer o balanço dos últimos seis meses. Uma semana depois da conferência do John, a sua raiva já tinha acalmado. Começou a fazer uns calculos. Pouco a pouco foi compreendendo melhor o problema em que não tinha conseguido o mínimo progresso durante os três meses anteriores. Levou um mês a arquitectar uma estratégia para provar o teorema. Compreendeu então que tudo o que tinha feito tinha sido inspirado na conversa com o John. A ideia do John continha um erro trivial, mas era uma metáfora que apontava na direcção correcta. A série formal divergia, mas podíamos provar a existência de uma solução com um teorema de ponto fixo. Cada raciocínio algébrico elementar proposto pelo John tinha um equivalente topológico bastante mais sofisticado que fazia a estratégia funcionar!
Foi nessa altura que o Luís descobriu um buraco na prova. Tentou resolver o problema durante meses, sem sucesso. Estava certo que o teorema era verdadeiro, mas não sabia como prová-lo. O John saberia o que fazer.
Mawhinsky levantou os olhos e sorriu. Devias ter um pouco mais de caridade pelas ideias dos outros!
O Lino desce as escadas e procura discretamente uma poltrona no canto oposto da sala.
quarta-feira, janeiro 18
Evo Morales: a COCA cola e a folha de COCA
A Coca Cola nega os factos afirmando que:
- nunca comprou folha de coca
- não há cocaína no refrigerante.
Não ponho em dúvida as afirmações da Coca Cola. Mas a verdade é que não contradizem as de Evo Morales!
A formula inicial da Coca Cola incluía cocaína. A formula actual é um dos segredos mais bem guardados do mundo. Só três executivos da Coca Cola conhecem a lista completa dos ingredientes e o processo de produção na sua totalidade.
Que ingrediente dá à Coca Cola aquele gostinho especial que a distingue das outras colas?
O chá de folha de coca é essencial para resistir à altitude, como sabem todos os turistas que já foram a Machu-Pichu. É muito complicado sobreviver nos Andes sem a folha de coca. Evo Morales tem sido acusado de apoiar o narcotráfico por defender a continuação do cultivo desta planta, que os Estados Unidos querem ver proibida.
Se a folha de Coca é boa para a Coca Cola, é boa para todos nós...
Ver também este post.
Resmas e Resmas para Souto Moura
Penso que ainda vale a pena rebater uma das acusações que mais vezes tem sido repetida. A PGR tem culpa no caso da diskete:
Se me enviarem cartas que não me são destinadas, eu, como sei ler, percebo que não são para mim e devolvo-as.
À primeira vista é um sinal de grande incompetencia não reparar que uma file de Excel tem muito mais informações do que parece ter. Não sei se já repararam na complexidade de alguns processos em Portugal. A documentação reunida atinge por vezes muitas dezenas de milhares de documentos. Porquê? A defesa tenta submergir o ministério público em documentos. A defesa sabe quais são os documentos que enviou que são importantes. A acusação, não. A finitude dos meios do ministério público é explorada pelos réus com dinheiro até ao limite do possível. Quanto mais ricos e influentes são os acusados, mais incompetente será o ministério público. Se nós recebessemos cinco mil cartas por dia a tal tarefa elementar de examinar a correspondencia tornar-se-ia impossível.
Cabe-nos a cada um de nós escolher se vai ser mais um a gritar fora o arbitro, ou se vamos contribuir para que a reputação ( logo a eficiência) da PGR não seja ferida de morte.
Ver também: Souto Moura jogador de xadrez e O PGR e as marionetas.
terça-feira, janeiro 17
Teorias da Conspiração
Os Albuquerques
Por uma vez na vida, vou defender o José Barata Moura. Não se falou do pensamento de MA porque...
esse pensamento não existe. Mas então se ele era um homem extraordinário...
Não há contradição. A filosofia é uma flor muito frágil. Nenhum país onde a Inquisição prosperou teve uma tradição filosofica significativa. Um dos primeiros actos da República foi extinguir as faculdades de teologia das universidades portuguesas, integrando os seus professores nas faculdades de filosofia. Uma medida cosmética com consequencias trágicas.
O regime salazarista nunca estimulou ou sequer tolerou qualquer tipo de reflexão criativa. Bem aventurados eram os pobres de espírito (e só esses). Não existiam em Portugal até há umas décadas atrás cursos de Filosofia mas apenas cursos de Ciências Histórico-Filosóficas. Nestes cursos cultivava-se quando muito o comentário dos grandes autores, o pensamento original estava excluído à partida.
O Padre Manuel Antunes fez o melhor que pôde, e a mais não é obrigado. Perguntava um historiador durante um período menos bom da nossa história. Onde estão os Albuquerques? Deveria ele antes perguntar onde está a sociedade que permite aos melhores de entre nós serem novos Albuquerques.
Não pretendo com este post queixar-me seja do que for. Apenas fazer uma pequena contribuição para que olhemos para o nosso passado com lucidez e sem complexos.
segunda-feira, janeiro 16
domingo, janeiro 15
A Perfeição
Pasmo e desolo-me.
O meu instinto de perfeição deveria inibir-me de acabar;
deveria inibir-me até de dar começo.
Do livro do desassossego
Bernardo Soares/Fernando Pessoa
Souto Moura, jogador de Xadrez
Vai uma aposta que a pressão sobre o PGR vai aumentar imenso nos próximos dias, mas o PS deixa cair o assunto no Day After?
Não percam o post sobre o PGR da Grande Loja do Queijo Limiano.
sábado, janeiro 14
O PGR e as marionetas
Se as coisas correrem bem, SM é exonerado dois dias antes das presidenciais e nunca mais se fala nisso. O caso das facturas detalhadas surgiu portanto no momento certo. Foi pena que não tivesse sido um jornal mais reputado a lançar a notícia.
Diz-se que só a PGR podia lançar cá para fora as facturas. Mas, quem manda na Portugal Telecom?
Eu até costumo votar PS e votaria Soares contra Cavaco. Não faço parte das forças de bloqueio.
Serão os nossos opinion makers algo mais do que marionetas?
PS: Tinha acabado de escrever o post. Fiz uma busca no Google e encontrei a notícia parcialmente transcrita abaixo.
Resumindo: alguém da PT enviou para a PGR uma folha Excell onde estavam escondidos mais dados do que aqueles que se viam. Esses dados não foram pedidos pela PGR. Ninguém da PGR podia saber que eles estavam lá. No momento certo, esses dados foram enviados cá para fora. Foi repetido até à exaustão que o PGR os pediu, logo isso passa a ser verdade. Quem é que tem a ganhar com esta história? Não é certamente o PGR. Quando voltarmos aos tempos do Arquivador Geral, toda a gente vai ficar satisfeita. vai deixar de haver escandalos e o país volta à normalidade...
A Portugal Telecom (PT) assumiu um lapso na inclusão no processo da Casa Pia da facturação detalhada dos telefones fixos de algumas das mais altas individualidades do Estado, como Jorge Sampaio, Souto Moura, Mário Soares ou Almeida Santos, entre finais de 2001 e Maio de 2002, noticia hoje o Público.
...
Significa então que para além das folhas iniciais de ficheiros de Excel, acessíveis a quem abre o programa e onde só consta efectivamente o número do telefone fixo de ex-deputado socialista, existe outra informação que se encontra filtrada. É então aí que estão “escondidos” todos os registos telefónicos envolvendo individualidades como Jorge Sampaio, Souto Moura, Mária Soares ou Almeida Santos.
No entanto, segundo o jornal, alguma informação que suporta o envio desses registos continua sem fazer sentido. Por exemplo, existe um documento no processo, assinado por Maria de Lurdes Cunha, funcionária da PT, que dá conta do envio das disquetes, explicando que tal seria para satisfazer «o prometido na reunião no DIAP», no dia 29 de Abril de 2003. Não existe qualquer registo desse encontro nas milhares de folhas que constam nos autos.
Caridade (4): um conto científico
Sábado à noite no Mathematisches Forschungsinstitut Oberwolfach. Chegou o último autocarro com participantes nos New Developments in KAM theory. A conferência começa na manhã seguinte.
Luís encontra Mawhinski na sala de estar. Hello John, lembra-se do problema de que lhe falei em Lisboa? Gostaria que trabalhasse comigo nele. Seria uma honra se aceitasse. John olha através dele com um ar cansado e fita a fivela da sandália durante um tempo infinito.
Em Carcavelos, a Matilde afasta a mão do TóZé. Sexo, só às terças-feiras, quando os pais do TóZé vão ao Bingo. No banco de trás do carro, não.
O TóZé era o ponta de lança dos juvenis do Estoril. Quando terminou a idade das ilusões, transferiu-se para o Talho Central de Carcavelos. As matronas da Linha desenvolveram rapidamente uma apetência especial pelos bifes cortados pelos seus biceps.
A Dona Laura, a colega da mãe da Matilde que morava ao pé da estação, disfarçava mal as expressões de ciúme que a assaltavam cada vez que a via.
A Matilde lidava com o mundo apaixonando-se. Quando os pais se mudaram de Viseu para Carcavelos a meio da sua adolescência, apaixonou-se pelo TóZé. O namoro durou três meses. O tempo de ela se adaptar à vida na Linha.
A universidade era um novo desafio. A Matilde apaixonou-se pelo Lino. Uma paixão platónica, que sublima energia sexual em dezanoves.
A ida a Cambridge mudou a sua vida. Já tinha intuido o abismo que separa uma boa aluna de uma boa investigadora. Em Cambridge, contemplou esse abismo. O Lino lembrava-a a cada momento do desafio que a esperava quando acabasse o curso. Nasceu assim uma branda paixão pelo Luís. Um modelo que ela podia compreender e emular.
Seis meses atrás uma nova perturbação tinha mudado a vida da Matilde. Quando se cruzou com o TóZé, o seu corpo quis o dele. Descobriu no sexo uma forma de lidar com o seu espírito.
Mawhinski ajeita a meia direita.
(continua aqui)
sexta-feira, janeiro 13
Negociatas no país que temos
A oração de sapiência
Na Idade Média era vulgar o primeiro capítulo de um livro ser destinado apenas a mostrar os dotes oratórios do autor, tendo pouca ou nenhuma relação com o resto da obra. Michel Foucault recuperou essa tradição em 1966 com Las Meninas.
Quatro anos antes tinha-se iniciado um dos grandes clássicos do cinema, a série 007. Todos os filmes desta série começam com uma cena que não tem nada a ver com o resto do filme. Esta cena destina-se apenas a realçar as extraordinárias capacidades de comandante Bond. Uma versão cinematográfica da oração de sapiência.
Humberto Eco, um medievalista famoso, elabora a síntese entre estas duas versões da oração de sapiência n'O Nome da Rosa. Na cena inicial o Abade Guilherme demonstra-nos as suas excepcionais capacidades intelectuais ao descrever um cavalo que nunca viu. Até descobre o seu nome.
Já tropeçaram nalguma oração de sapiência?
quinta-feira, janeiro 12
Alguém me esclarece?
Acham que sim? O que será o despertar religiosos de um recém nascido?
Falemos então de Fé
Vamos a um exemplo. Um casal tem dificuldade em ter filhos. Infelizmente um problema cada vez mais actual. Não há nenhum impedimento claro, mas a verdade é que já tentaram várias técnicas e nenhuma resultou. Completaram recentemente trinta e cinco anos. O casal também enfrenta um desafio profissional sério. Acabaram os dois o mestrado e as suas universidades dão-lhes quatro anos para terminar o doutoramento. É a sua fonte de subsistência que está em jogo. Estes dois problemas interferem um com o outro. O stress resultante do desafio profissional interfere com o problema de fertilidade. O stress resultante de abandonar o desafio profissional também interferiria com o problema de fertilidade. O tempo e a atenção que gastaram a tratar do problema de infertilidade complicou-lhes a carreira académica.
Depois de uma longa meditação o casal conclui que o problema do doutoramento depende essencialmente deles, o problema da fertilidade não. Decidem deixar o problema da fertilidade nas mãos de Deus e dedicar todas as suas energias ao doutoramento durante dois anos. Nessa altura, reavaliarão a situação. Quem sabe, se se descontrairem um pouco até o problema se resolve por si próprio...
Será que vão conseguir seguir este plano? De que depende o seu sucesso? Eu diria que depende da intensidade da sua Fé. Só a sua Fé os pode salvar. Só a sua Fé os pode manter focados no objectivo e lhes pode manter a angústia a um nível suportável.
Esta Fé não tem de ser entendida no sentido cristão do termo. Pode-se ter esta Fé sendo ateu. Não é claro que todos os cristãos a tenham. Pode-se reescrever tudo o que eu disse até agora sem envolver qualquer terminologia religiosa.
Vamos a um segundo exemplo. Eu diria que é uma manifestação de Fé ser capaz de discutir abertamente todos os temas, sem fugir às questões. Ter a Fé de acreditar que nada de verdadeiramente importante em nós poderá ser destruido se abrirmos as defesas numa conversa sobre aquilo em que acreditamos. Quem não a tem também não é capaz de pensar livremente. Ser-lhe-á difícil encontrar soluções para os seus problemas. É um homem de pouca Fé...
Acreditar na virgindade da mãe de Jesus, na divindade de Jesus, ou no mistério da santíssima trindade são manifestações de Fé? Contribuem de alguma forma para que nos possamos ajudar a nós mesmos e ao próximo nos sentido de viver em maior harmonia as nossas vidas? Não serão manifestações do medo de sermos excluidos do grupo?
É preciso muita Fé para acreditar em algumas coisas racionais e ter força suficiente para as concretizar. Quando formos capazes de tratar destas, poderemos então preocupar-nos com as outras...
Ousar expressar a Fé de uma das duas maneiras referidas acima é perigoso. É preciso ter uma estrutura mental sólida e as ideias bem organizadas. É preciso ter uma Fé poderosa e entendê-La.
Como podemos fortalecer a nossa Fé?
quarta-feira, janeiro 11
Diego Velázquez, Las Meninas
Da direita, derrama-se por uma janela invísivel o puro volume de uma luz que torna visível toda a representação. O fluxo de luz que ela espalha banha com a mesma generosidade a superfície da tela e o volume real que o espectador ocupa (o sítio irreal do modelo).
Na parede que constitui o fundo da sala, o autor representou uma série de quadros. Entre todas essas telas suspensas, uma brilha com singular fulgor. Mas não é um quadro, é um espelho. O espelho nada mostra do que o quadro representa. O que nele se reflecte é o que todas as personagens da tela fixam nesse momento, olhando em frente, diante delas. As figuras que o pintor olha e representa na tela.
Ao lado do espelho recorta-se um rectangulo cuja luz dourada não irradia pela sala. O homem que nos fita é o contraponto do casal real reflectido no espelho. Tão próximos quando não podiam estar mais distantes.
O primeiro e o segundo plano do quadro representam oito personagens. O centro do grupo é ocupado pela pequena infanta, com o seu amplo vestido cinzento e rosa.
Uma linha que dividisse o quadro ao meio passaria entre os olhos da princesa. O seu rosto está a um terço da altura total do quadro. É ela o tema central da composição. À esquerda, uma aia de joelhos contempla-a. Tal como o anjo contemplando a Virgem nas composições clássicas, sublinha a sua importância. À direita, outra aia enquadra Margarita. Esta aia olha para o casal real, o outro centro organizador da composição, situado simultaneamente dentro e fora da tela. Na extrema direita, o anão da princesa ocupa mais ou menos o mesmo espaço de tela, sublinhando a sua elegância.
Perante a recusa de Margarita em posar mais uma vez, Velázquez convidada-a a assistir a uma sessão do retrato dos pais e subverte todos os canones da representação. O quadro representa aquele que representa, o pintor, e aqueles que assistem ao acto da representação. O modelo a ser representado está fora dela ou quase, remetido para um reflexo no espelho, e no entanto é o polo organizador de toda a cena.
Este post é baseado no texto dedicado por Michel Foucault à genial tela de Velasquez que podem ver aqui. Mais estudos sobre este quadro aqui, aqui, e aqui.
terça-feira, janeiro 10
Caridade (3): Um conto científico
Quando o Luís saiu do carro deu de caras com o Lino. Agradeceu-lhe a cotovelada com um sorriso de circunstância. O Lino retribuiu a delicadeza não perguntando o que ele estava ali a fazer, completamente fora de si.
Uma hora antes o Lino não conseguia disfarçar a sua raiva perante a imbecilidade do Luís. A Matilde arrastava as duas amigas do restaurante para o café, perdida de amores pelo Luís, sem que este se apercebesse do que quer que fosse. Só tinha olhos para o John. O Lino estava irremediavelmente apaixonado pela Matilde, que o ignorava. Este paralelo irritava-o mais do que tudo o resto.
O Lino foi tutor da Matilde quando esta entrou na universidade. Empenhou-se a fundo, como era costume em tudo o que fazia. Arranjou-lhe uma bolsa para um curso de verão em Cambridge. Quando deu por isso, já estava irremediavelmente apaixonado. Aquelas pernas longas terminadas em olhos transparentes envolviam-no durante sonhos húmidos.
A Matilde voltou das férias com as marcas do bikini a sair das calças de cintura descaída. O Lino começou a baralhar definições, errar cálculos, empastelar demonstrações. Perfeccionista compulsivo, se algo corria mal tudo acabava por correr mal. Como sempre, foi a investigação que mais sofreu. Os colegas só murmuravam comentários nas suas costas mas tudo se lhes adivinhava no olhar. Não tinham coragem de lhe dizer nada. Com excepção do Luís, claro. Até isso o Lino tolerava. Sempre tinha achado graça ao feitio conflituoso do Luís, uma novidade refrescante no ambiente do departamento.
Até ao dia em que o Lino suspeitou que a Matilde estava interessada no Luís. Aí, as coisas complicaram-se. Sempre que o Luís iniciava uma cruzada contra algo ou alguém, o Lino desmontava o seu raciocínio, expunha as suas motivações ou ridicularizava as suas intenções. A plateia aplaudia. Vindo do Lino, uma dos poucos colegas que o Luís respeitava, estas palavras certeiras feriam como punhais. A escalada do conflito continuava e já se faziam apostas sobre o seu desenlace.
Quando a Matilde se sentou na mesa ao lado do Lino, a bandeja dos cafés descontrolou-se. Quando o seu cotovelo finalmente encontrou um apoio, as faces coradas da Matilde deram ao Lino a certeza de que ela finalmente descobrira a sua existência.
(continua aqui)
segunda-feira, janeiro 9
Ariel Sharon
Rabin e Sharon eram dois falcões em muitos aspectos bem semelhantes a Spínola. Acabaram por compreender os dois à sua própria custa que as soluções em que acreditavam não iriam funcionar. O primeiro compreendeu-o antes de chegar a primeiro-ministro. O segundo depois de já lá estar. O primeiro só foi detido à bala. O segundo parece que nem a revolta do seu próprio partido o poderia deter.
Espero que ainda exista em Israel um falcão inteligente. Para bem dos israelitas. Nunca pensei vir a escrever meia dúzia de palavras simpáticas para com Ariel Sharon. Nunca acreditei que ele pudesse vir a tornar-se um novo Rabin. Nunca digas nunca.
domingo, janeiro 8
sábado, janeiro 7
Caridade (2): Um conto científico
O Luís foi buscar o café que lhe comprava o direito de se sentar à mesa. O Lino tinha-lhe deixado uma nesga para meter uma cadeira. A figura gigantesca do Lino eliminava qualquer hipótese de ele poder continuar a conversa com o Professor Mawhinsky. O John, desde há cinco minutos. E que grandiosos cinco minutos!
O John aterrou em Lisboa no domingo, de passagem para o Porto. O Lino convidou-o para dar um seminário. As más línguas dizem que o Lino apenas pretendia impressionar os colegas. Agora parece que já nem aulas de jeito consegue dar.
A conversa com o John correu muito bem ao Luís. Mawhinsky foi logo direito ao assunto: are you still interested in the stability problem? O Luís aproveitou logo para lhe explicar a dificuldade que o preocupava. Estava grato por não ter que mendigar uma ajuda ao John e saboreava as expressões de ódio e desespero que se iam alternando na face do Lino. Quando chegaram à porta do café, já o John tinha percebido o problema e contemplado o atacador do sapato direito durante trinta segundos. Enquanto o Lino foi buscar os cafés, o John explicou-lhe que this is not really like KAM theory, you know, but...
...And thats it!
O John não só tinha encontrado um caminho para resolver o problema como tinha proposto uma vasta generalização do mesmo. A generalização era fundamental para compreender o quadro natural em que o problema se punha.
Vou ter de o convidar para co-assinar o artigo? Se não o convido... A ideia não lhe agradava mesmo nada. O Luís foi salvo do seu dilema pelo cotovelo do Lino.
Acabaram todos de tomar o café. O Lino, visivelmente mais bem disposto, foi levar o John à Gare do Oriente. O Luís ficou no café a rever exaustivamente a ideia do John. Tudo batia certo. Havia que transcrever a ideia no papel!
Quando meteu a chave na fechadura do gabinete foi atravessado por uma acesso de raiva. Correu para o carro, passou três sinais vermelhos e dirigiu-se para a Expo. Aquele sacana vai pagá-las! Só a admiração que sentia pelo Mawhinsky podia explicar como é que ele tinha caído na aldrabice. Era obvio que a série inicial não convergia. A sugestão do John não valia um chavo. Se o Lino não lhe tivesse dado a cotovelada, ele teria proposto ao Mawhinsky que fizessem juntos o artigo. À frente de toda a gente. Depois não podia voltar atrás. Era assim que o velhadas mantinha a reputação, arranjando maneira de jovens brilhantes como ele lhe fazerem artigos.
Quando saiu do carro, deu de caras com o Lino. Chegou atrasado.
(continua)
sexta-feira, janeiro 6
Politicamente Correcto
quinta-feira, janeiro 5
Berardo e a Caixa
Acham que tenho uma visão utilitária da arte? Não gostam do gosto do Berardo?
Meus senhores: se gostam de pintura, vão aprender a pintar para a Sociedade Nacional de Belas Artes, vão desenhar para o blogue do OMWO, vão ver exposições temporárias. Os museus não devem ser feitos a pensar em vocês. Custam demasiado dinheiro. Devem pagar-se a si próprios atraindo turistas, como o Prado e o Louvre fazem. É para isso que eles servem em primeiro lugar.
quarta-feira, janeiro 4
Teatro Chinês
Enquanto a MPAA não passa uma lei que nos obrigue a ir ao cinema contra a nossa vontade, prossegue na sua luta heroica contra os bucaneiros dos sete mares.
Guthrie não passa de um bode expiatório, meio concessão meio insulto do governo ditatorial Chinês à pressão ditatorial Americana. Uma troca entre padrinhos de mafias distintas/indistinguíveis.
O mais fascinante é que a MPAA, para conseguir impôr leis cada vez mais draconianas, joga também ela a carta universal do terrorismo. É preciso deter a pirataria de filmes pois há grupos terroristas que se financiam com os lucros da pirataria!
Eu pergunto: Se os grupos terroristas passarem depois a viver de plantações de bananas, teremos também de ilegalizar as bananas?
O mesmo argumento falacioso poderá ser usado para passar leis cada vez mais duras contra qualquer actividade vagamente ilegal, mero crime económico que poderá passar a ser tratado com ferocidade desmedida.
Todas as actividades situadas "na fronteira" são facilmente atacadas por este argumento. Recentemente o combate à pornografia tornou-se uma prioridade do FBI. Quanto tempo até que alguém se lembre de dizer que há grupos terroristas a financiarem-se com produção de pornografia?
Assim se faz avançar, à sombra da luta contra o terrorismo, as mais variadas agendas de grupos económicos como a MPAA e políticos como a direita religiosa Americana, cansados, respectivamente, das regras enfadonhas do capitalismo verdadeiro e da democracia.
Pois é
Parece que o Mário Soares deu uma entrevista a uma televisão onde disse uma série de coisas sem nexo. A peça passou em dois telejornais de pequena audiência mas depois desapareceu. Será verdade, ou só mais um boato? Não levei demasiado a sério a história da entrevista. Até que passei pelo blogue do Calvin.
Caridade: um conto científico
Ele estava no EQUADIF o ano passado, mas passou a hora a fazer contas. Nem levantou a cabeça enquanto eu dava o meu seminário. Não se lembra de mim, de certeza. Ainda por cima, nem vou ao seminário dele...
Rodriguez tinha completado a sua tese dois anos atrás. A passagem a Professor definitivo costumava ser uma formalidade mas as coisas estão a mudar rapidamente. E o Luís era demasiado orgulhoso e perfeccionista. Quatro artigos, um deles no Journal of Differential Equations era o mínimo para que ele pudesse andar de cabeça levantada. Uma meta ambiciosa, mas o Luís não fazia as coisas por menos. Já tinha dois aceites. Fazer mais dois a tempo não seria difícil. O problema era fazer um suficientemente bom para o JDF. Tinha uma boa ideia mas há três meses que não conseguia avançar. Uma conversa de dois minutos com o Mawhinsky podia ajudar a desbloquear o problema.
Quando a aula acabou a Matilde barrou-lhe o caminho para a porta. Não tinha percebido a terceira passagem da segunda demonstração. Até era agradavel ter uma aluna que prestava atenção à aulas. Mas naquele dia! Não teve coragem de a despachar.
Ficou sózinho noutra mesa, a ouvir as conversas. Quando se convida um colega para dar uma conferência, esta é mais um pretexto para justificar a viagem do que outra coisa. O importante são as discussões nos gabinetes e durante o almoço. E ali estavam os colegas dele a gastar o tempo do Mawhinsky com graçolas e trivialidades. No fim combinaram ir tomar café do outro lado da rua. Por timidez ou orgulho, o Luís nem tentou arranjar maneira de se fazer convidar para os acompanhar. Quando tentava engolir a sua frustração juntamente com os ultimos pedaços do arroz de pato, sentiu uma mão gorda e pesada no cachaço. Helloouh Rodriguezz! That trick you performed with the Hamiltonian at EQUADIFF was very funny indeed! AhAhAhAh. Join us for a coffeeeh?
(continua)
terça-feira, janeiro 3
Termodinâmica
Não se intimidem! Dêem um salto à Wikipedia e entrem na discussão. Sofia, cinco comentários é a penitência mínima para quem compra um livro do Parvalhoti...
As leis da termodinâmica são algo tão básico como a Mona Lisa, a Nona Sinfonia e o Guardador de Rebanhos. Depois de as comprender, passamos a olhar para o universo que nos rodeia de outra forma. Até pode ser que deixemos de opinar levianamente sobre os embriões e outras coisas do género.
A ideia básica é: There is no free lunch! Como disse Lavoisier: Nada se perde, nada se ganha, tudo se transforma. Quando se faz uma experiencia de quimica, se a soma dos pesos dos componentes no fim da experiencia é inferior à soma dos pesos antes da experiencia é porque entretanto se libertou uma gás. Se aumentou é porque o oxigénio que se encontrava na atmosfera entrou na reacção. Esta é a lei da conservação da massa.
A Lei da conservação da energia diz que a energia também se conserva. O problema é que existem várias formas de energia: o calor, a energia que é libertada nas reacções quimicas, a energia cinética, a energia potencial, a energia elétrica. Estas formas de energia transformam-se umas nas outras mas a quantidade de energia é suposta conservar-se.
Se sabemos algo sobre as leis da física, sabemos que qualquer lei de conservação acaba por ser quebrada em condições suficientemente extremas, sendo então válida uma lei de conservação mais geral: quando uma bomba atómica explode, uma pequena quantidade de massa é destruida e é transformada numa grande quantidade de energia. As duas leis de conservação que referimos atrás são violadas mas verifica-se a lei de conservação da massa-energia. A transformação da massa em energia faz-se segundo a única lei da física em que toda a gente já ouviu falar.
d'O Guardador de Rebanhos
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.
Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.
Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto,
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz.
Só a natureza é divina, e ela não é divina...
Se às vezes falo dela como de um ente
É que para falar dela preciso usar da linguagem dos homens
Que dá personalidade às cousas,
E impõe nomes às cousas.
Mas as cousas não têm nome nem personalidade:
Existem, e o céu é grande e a terra larga,
E o nosso coração do tamanho de um punho fechado...
Bendito seja eu por tudo quanto não sei.
É isso tudo que verdadeiramente sou.
Gozo tudo isso como quem está aqui ao sol.
Alberto Caeiro
Quantas dimensões?
Imaginei noutro dia que o espaço em que vivemos poderia ser uma projecção de um hiperespaço (dimensão n). E que nesse hiperespaço estaria Deus.
Como a partir de uma projecção é impossível saber o que foi projectado sem condições iniciais sabidas, daí viria toda a nossa incompreensão sobre estas coisas.
Um tanto rebuscado, eu sei. O que acham?
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Platão pede-nos na República que imaginemos um grupo de prisioneiros atados por correntes numa caverna, virados de costas para a saída, que só vêem as sombras do mundo real projectadas na parede. Para Platão o mundo real é o Mundo das Ideias, do qual o nosso mundo é uma pálida sombra. A alegoria da Madi é mais uma versão da Alegoria da caverna.
Quando se tentou aumentar o número de dimensões para dois ou três surgiram problemas matemáticos insolúveis. Mais tarde reparou-se que os modelos funcionavam bem se aumentássemos o número de dimensões para certos valores como onze ou vinte e seis...
O nosso universo é qualquer coisa semelhante a uma projecção de um universo a muitas dimensões (a alegoria da Madi). As leis que regem o nosso universo são mais dificeis de perceber do que as leis simples que regem o universo quando o nível de energia é mais elevado (A alegoria do Platão).
Madi, parece que até vivemos na projecção de um universo a muitas dimensões. Apesar de tudo, continuamos a entender o que se passa. E não precisamos de um deus para explicar as coisas!
segunda-feira, janeiro 2
As três Virtudes Teologais
Quando ouvimos o Outro não devemos proceder como um advogado em tribunal. Não devemos enfiar-lhe pela garganta a baixo a primeira contradição em que caiu. Devemos procurar encontrar um sentido nas suas palavras, mesmo que mal expressas.
Isto se acharmos que a pessoa não está naquele momento de má fé. Mais que não seja para se proteger de uma pressão exterior. Também não podemos dar dinheiro a alguém cada vez que paramos num sinal luminoso.
Se não tivermos Caridade para com os outros, vamos acabar por interiorizar essa atitude. Vamos deixar de ser capazes de ouvir as ideias que Deus sopra baixinho ao nosso ouvido, de as acarinhar até elas terem pernas para andar. Deus acaba por nos condenar à esterilidade intelectual.
O filósofo ateu Carrilho Guimarães conspurca a Caridade regularmente falando desta virtude com o fim de ridicularizar os seus oponentes políticos. Mostra-se caridoso em relação a uma frase de um adversário político, tenta encontrar-lhe algum sentido. Conclui pesarosamente que não conseguiu encontrá-lo. Vai arder no inferno da irrelevancia intelectual até ao dia em que ninguém lhe inveje a Barbara. Depois, nem isso.
Vou juntar alguns exemplos numa próxima oportunidade.
Peço-vos alguma Caridade para com este post, que bem precisado está dela.