quarta-feira, janeiro 11

Diego Velázquez, Las Meninas

O Pintor fixa um ponto invisível mas que nós, espectadores podemos determinar facilmente, pois esse ponto somos nós mesmos: o nosso corpo, o nosso rosto, os nossos olhos. O espectáculo que ele observa é, portanto, duas vezes invisível, pois não está representado no espaço do quadro e se situa precisamente nesse ponto cego, nesse esconderijo essencial em que o nosso olhar se subtrai a nós mesmos no momento em que olhamos. O espectáculo é também duplo. Nós e o modelo que ele realmente observa.
Da direita, derrama-se por uma janela invísivel o puro volume de uma luz que torna visível toda a representação. O fluxo de luz que ela espalha banha com a mesma generosidade a superfície da tela e o volume real que o espectador ocupa (o sítio irreal do modelo).
Na parede que constitui o fundo da sala, o autor representou uma série de quadros. Entre todas essas telas suspensas, uma brilha com singular fulgor. Mas não é um quadro, é um espelho. O espelho nada mostra do que o quadro representa. O que nele se reflecte é o que todas as personagens da tela fixam nesse momento, olhando em frente, diante delas. As figuras que o pintor olha e representa na tela.
Ao lado do espelho recorta-se um rectangulo cuja luz dourada não irradia pela sala. O homem que nos fita é o contraponto do casal real reflectido no espelho. Tão próximos quando não podiam estar mais distantes.
O primeiro e o segundo plano do quadro representam oito personagens. O centro do grupo é ocupado pela pequena infanta, com o seu amplo vestido cinzento e rosa.
Uma linha que dividisse o quadro ao meio passaria entre os olhos da princesa. O seu rosto está a um terço da altura total do quadro. É ela o tema central da composição. À esquerda, uma aia de joelhos contempla-a. Tal como o anjo contemplando a Virgem nas composições clássicas, sublinha a sua importância. À direita, outra aia enquadra Margarita. Esta aia olha para o casal real, o outro centro organizador da composição, situado simultaneamente dentro e fora da tela. Na extrema direita, o anão da princesa ocupa mais ou menos o mesmo espaço de tela, sublinhando a sua elegância.
Perante a recusa de Margarita em posar mais uma vez, Velázquez convidada-a a assistir a uma sessão do retrato dos pais e subverte todos os canones da representação. O quadro representa aquele que representa, o pintor, e aqueles que assistem ao acto da representação. O modelo a ser representado está fora dela ou quase, remetido para um reflexo no espelho, e no entanto é o polo organizador de toda a cena.
Este post é baseado no texto dedicado por Michel Foucault à genial tela de Velasquez que podem ver aqui. Mais estudos sobre este quadro aqui, aqui, e aqui.

5 comentários:

/me disse...

O meu quadro favorito! :D

Anónimo disse...

Adorei este post. Mais conhecimentos que adquiri...

Sofia disse...

Eu é mais novelas... :)

Anónimo disse...

eu não gosto...
porém tenho q fazer trabalho...

Anónimo disse...

eu sou outro anonimo...
se não gosta da tela pq vc escreveu esse comentario?
pateta...