terça-feira, junho 28

Perguntar não ofende

Quando eu morrer, podem esquartejar-me à vontade desde que isso possa ajudar alguém a viver mais uns anos. Algumas pessoas não pensam assim. Estão no seu direito. Conheço algumas que até foram assinar o documento que impede os médicos de um hospital de lhe retirarem um órgão para salvar uma vida. Essa pessoa continua a ter o mesmo direito que eu a poder beneficiar de um transplante de um morto, caso necessite dele.
Será inteligente da nossa parte dar-lhe esse direito?
Será que ele assinaria o papel se tivesse no mesmo momento de abdicar do direito de vir a beneficiar de um transplante, ou perdesse a prioridade no acesso a transplantes?
Seria razoável implementar essa medida?
Discutir isto é secundário ou é de alguma forma relevante?

22 comentários:

Anónimo disse...

A lei que permite a um cidadão recusar que lhe retirem depois de morto um orgão para salvar a vida a alguém é uma lei que concede direitos sem obrigações. Dá a ideia aàs pessoas de que tem direito a todos os direitos e que não tém de dar nada em troca. Má pedagogia.

Anónimo disse...

A nossa vida está a ser prolongada pela ciência.Não sei se certo ou errado.Cada vez se necessitam de mais órgõs para transplante.Mas quem não quer dar orgãos deve registar-se antecipadamente.E se precisar, não deve receber

wind disse...

É relevante sim, os orgãos devem ser doados depois da pessoa morrer.

Anónimo disse...

Bom, sobre este tema digo o seguinte:
Aquando da minha morte física, levem o que quiserem, mesmo para alguém que já determinou que não quer ser dador.
Nenhum de nós é um processo acabado, determinamos coisas e depois verificamos que estávamos redondamente enganados. Pode acontecer isso a alguém que disse que não dava e depois precisou.
De resto, acho que mesmo legalmente, não devemos recusar um transplante fundamentando a recusa na indisponibilidade do receptor para ser dador.
M. Conceicao

Broken M disse...

Concordo com c, a wind e primeira vez aqui.
Nem sequer percebo qual a razão porque alguém não quer doar um órgão. A única que concebo é talvez alguma convicção religiosa. Mas se não quer dar, também não quererá receber...

Anónimo disse...

Completamente irrelevante! Reparem: Quem quer (ou apenas não assinou um papel que o impeça), doar orgãos depois de morto, fá-lo, seguindo a lógica, na perspectiva de ajudar outra pessoa, ou várias, ou ainda mais que várias, no caso de estudo científico. Ora, na hora da doação, ninguém pergunta ao receptor se se considera merecedor de tal dádiva, seja porque manifestou a vontade de não fazer o mesmo pelos outros, ou porque bate nos filhos e na mulher, ou porque é um péssimo vizinho ou colega de trabalho, ou porque cospe e deita papeis para o chão, gosta de touradas e maltrata animais. Será assim tão pior, não querer doar orgãos (às tantas, porque se foi massacrado com ideias esquisitas da religião), que ter sido e, na pior das hipóteses continuar a ser depois do transplante, um ser-humano tão pouco generoso e ainda por cima vivo? Pessoalmente, tanto me faz que, caso alguém venha a ficar com o meu coração, queira ou não fazer o mesmo por outra pessoa. Eu faço-o por ele/a e isso basta-me.

Anónimo disse...

Cara Sofia, cada um sabe de si. Eu não penso assim. Gostava que aparecesse na lei a hipotese: não dou orgãos a quem não quer dar orgãos. Já faço figura de parvo vezes que chegue. Não quero continuar assim depois de morto.

Broken M disse...

Sofia,
no caso de estudo científico tens que assinar um papel antes a dizer que o teu corpo seja doado para este fim. Se não disseres nada, vai para doação de órgãos.

Broken M disse...

Já agora uma questão. No caso dos transplantes de órgãos, consideram-se todas as pessoas dadoras a não ser que ela tenha dito algo em contrário. No caso dos transplantes de medula, é necessário que as pessoas se desloquem e façam parte do banco de dados. Não acham que poderia funcionar do mesmo modo?
Eu sei que a questão é um pouco estranha, porque a medula é dada em vida.

Anónimo disse...

Convém respeitar a liberdade das pessoas.

Broken M disse...

Qual liberdade? A pessoa já morreu...

Anónimo disse...

Apraz-me saber que existem tantas pessoas com o espírito de justiceiras... "Ah, não dás? Então também não levas.". Isto até teria piada, não fosse o facto de a maior parte destas pessoas se considerarem católicas. Então e Deus? Não deveria ser ele a julgar? E o "ama o próximo, como a ti a mesmo"? Já não percebo é nada! :)

Broken M disse...

sofia,
eu não sou católica...

António Araújo disse...

Eu também não sou Católico, mas:

Exodo 21:23-25:

23 Mas se houver morte, entäo darás vida por vida,
24 Olho por olho, dente por dente, mäo por mäo, pé por pé,
25 Queimadura por queimadura, ferida por ferida, golpe por golpe.

Está aqui (21:24) bem explícito que pelo menos no que diz respeito a transplantes de olhos, de dentes, de mãos e de pés, a coisa é clara! Quem não dá não leva :)))

O 21:23 estipula que a colheita de orgãos deve esperar pela morte do dador! (vide Monty Python's Life of Brian para uma discussão erudita sobre este detalhe)

O 21:25 já está fora do contexto da presente discussão, destinando-se ao pessoal médico e de enfermagem das urgências de hospitais e centros de saúde.

Não há nada como ir às fontes para tornar tudo muito mais claro :)

A.

António Araújo disse...

Bolas, enganei-me na referência "cultural" :)

O filme dos Monty em questão é o "Meaning of life" (a cena final) e não o "Life of Brian"...

É qualquer coisa do género:
-"You are registered as a donor for a liver, sir. we need it right now"
-"well, you see, actually I'm still using it right now"
-"Come along, Sir, please cooperate. Don't be a sissy!..."

ou algo do género

Anónimo disse...

Por acaso, estou com saudades dos Monty. Vou arranjar tempo para rever.

Calvin disse...

É tão relevante discutir a questão quanto discutir se alguém é dono do seu corpo depois de morto.
Há, no entanto uma questão que não deve ser esquecida: em vida, alguém pode manifestar a vontade de manter o seu corpo 'intacto' após a morte, seja por si ou pelos seus amigos e familiares. É um desejo manifestado em vida, e que de uma maneira ou de outra, influencia a sua vida, daí dever ser respeitado.
Escolher alguém que mereça receber um orgão é impraticável e escuso-me a explicar porquê: julgo que todos entenderão porquê.

Anónimo disse...

Não entendo.

Anónimo disse...

There is no free lunch.

Calvin disse...

Anónimo, receber um orgão não é uma questão de mérito.

Anónimo disse...

Excellent, love it! »

Anónimo disse...

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