sexta-feira, junho 10

O grande segredo da sociedade portuguesa

Quando já se circula por este planeta há umas quatro décadas começa-se a pensar que já nada nos pode surpreender. E no entanto outro dia um amigo contou-me esta historia. Um jovem acabou os estudos. Arranjou um emprego a ganhar cento e vinte contos por mês, onde tinha de trabalhar bastante mais do que aquilo que para que estava preparado. Ao fim de um mês despediu-se. Explicou ao patrão: o meu pai acha que para estar a trabalhar tanto e só ganhar este ordenado mais vale ele dar-me os cento e vinte contos por mês...

Durante décadas a vida foi-se tornando sempre mais facil. Sucessivas gerações viram o seu nível de vida subir sistemáticamente ao longo do tempo. Os momento dificeis da vida existiram mas acabaram por ser esquecidos. Na escola prepararam-me para um vida dificil. Em especial durante os primeiros anos, no período em que se forma a caracter. Exigiram bastante de mim e deram-me a entender que as coisas iam ser sempre assim. Quando surgiram algumas dificuldades eu estava preparado para as aceitar e lidar com elas.

Para quê exigir tanto das crianças se afinal se vive cada vez melhor? No espaço de uma geração o ensino básico mudou completamente. Não se faz aquela pressão contínua que obriga os alunos a superarem-se um pouco todos os dias. Chegam ao ensino superior com espectativas erradas e estão a mudar as coisas. Professores cansados pela indiferença com que gerações sucessivas chumbam nas suas cadeiras acabam por simplificar as matérias. A pressão demográfica está do lado dos alunos: são cada vez menos, a oferta é maior do que a procura. São eles que tem o poder.

Quando se entra no mercado de trabalho a situação é diferente. Aí é empregador que é o rei. Muitos jovens que fizeram a escolha mais fácil começam a compreender que o dê erre que compraram não lhes vai servir de grande coisa. Esses e os outros vão finalmente entrar na escola da vida. Para eles vai ser um bastante mais dificil do que foi para a minha geração, mas vão acabar por se adaptar. Se os pais derem uma ajuda financeira durante uns tempos, é possível que consigam fazer a transição, embora a diferença entre as expectativas que lhes criaram e a realidade seja abismal.

Um jovem meu conhecido falava-me há uma ano com desprezo da possibilidade de arranjar um emprego a ganhar menos de setecentos contos por mês. Não estava a fazer nada que se visse para lá chegar. No outro dia encontrei-o numa caixa de uma grande superfície. Talvez ainda achasse que se tratava de uma solução temporária mas o primeiro passo estava dado, estava a enfrentar a realidade. Quando quiser sair da casa dos pais vai perguntar porque é que ninguem lhe explicou que a vida era assim tão dificil. Felizmente, não vou ser eu a ter de lhe dar a resposta.

5 comentários:

wind disse...

Bom post. Efectivamente os jovens de agora não estão preparados para nada e os papás que podem vão-nos mimando. Quando têm de enfrentar as coisas, muitos "caem". É de facto pena todas as facilidades que tiveram. Não os preparou para a Vida na sua generalidade.

Anónimo disse...

O que eu acho é que tanta arrogância é fanfarronice e esconde o pânico de pensar que se vai acabar numa caixa de uma grande superfície, ou coisa semelhante.

Orlando disse...

Cara Sara,
também é verdade que o medo devia ser um dos problemas, mas acima de tudo era provavelmente ignorancia.

Anónimo disse...

O futuro mete medo
Quantas vezes terei
ainda de disfarçar?:)

Anónimo disse...

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