domingo, maio 29

Renku

O apresentador (Luís Filipe Barros?) de um programa mítico da rádio portuguesa (Em Órbita?), fez durante anos um desafio aos seus ouvintes. Um ouvinte escolhia três músicas. Ele passava a série seleccionada pelo ouvinte e depois uma série escolhida por ele próprio. Os ouvintes votavam qual das duas sequências tinha sido mais agradável de ouvir. O apresentador ganhava sempre. Porquê?

Uma boa primeira sequência desperta na mente do ouvinte atento sensações e sentimentos profundos. Quando ainda ressoam nos seus ouvidos as notas das três primeiras escolhas, surgem novas músicas que constroem novos estados de alma sobre os alicerces deixados pelos anteriores. Quanto melhor a escolha do desafiador, maior a vantagem do apresentador. É a história do carro que ultrapassa o outro porque beneficia de não precisar de cortar o vento. Joyce não teria subido tão alto se não tivesse construido sobre o outro Ulisses.

Basho estabeleceu a forma definitiva do renku, tal como já tinha feito com o haiku. O renku é uma poesia feita em grupo. É um encadeado de pequenos poemas onde cada poema retoma um aspecto do anterior. O primeiro poema é o mote e é proposto pelo moderador. Compete também ao moderador seleccionar o poema que vai encadear no anterior de entre as propostas apresentadas pela audiência. O mote é um haiku. Para evitar a monotonia vai-se alternando poemas de duas e três linhas. Dois poemas consecutivos devem ter autores diferentes. Cada novo poema beneficia dos contextos criados pelos anteriores, o que lhe permite ir um pouco mais longe. O haiku começou por ser apenas o mote de um renku e só mais tarde ganhou autonomia.

O mote para o nosso primeiro renku é da autoria do samurai zen e foi involuntáriamente escolhido pelo Lutz Brückelmann do Quase em português. Esperamos encadear um novo poema quase todos os dias!
Já agora, Lutz, o samurai zen teve em relação ao autor do haiku a vantagem que o Luís Filipe Barros tinha...