quinta-feira, maio 26

Músicas



Excertos musicais que o cinema utilizou nunca mais foram os mesmos. O tecimento das notas com as imagens alterou definitivamente o modo como percebemos a natureza daqueles sons. Antes, poderiam ser beleza abstracta ou evocar determinadas imagens. A passagem pelo cinema veio sobrepor-lhes outras imagens com um carácter impositivo.

Stanley Kubrick foi um dos grandes responsáveis pela transfiguração de músicas. O "Danúbio Azul" deixou de evocar o fausto kitsch dos salões vienenses para se converter no comentário sonoro ao voo de naves interplanetárias, lá onde nenhum outro som é audível. Esta alteração de significado aconteceu em 1968 com 2001, talvez o único filme de "ficção científica" para adultos. Também aí se popularizou o "Assim falou Zaratustra" a sublinhar a imensidão e os enigmas do universo. Em 1971, com Clockwork Orange , foi a vez de subverter Beethoven e até uma canção feliz de outros tempos do cinema, Singing in the rain, para ilustrar uma banalidade: os monstros mais abjectos podem, em determinados aspectos, ter "bom gosto".

Claro que há exemplos abundantes de outras músicas cinematograficamente modificadas em obras de outros autores. Também é notável que, depois de Visconti ter filmado Morte em Veneza, se tenha tornado difícil dissociar o adagietto da 5ª sinfonia de Mahler da entrada por mar na cidade mítica, tingida de rosa e cinzento, início de uma viagem de onde não haverá regresso.

Em anos muito mais recentes, e voltando a Kubrick, é surpreendente o uso que deu à enigmática Valsa nº2 da suite para jazz nº2 de Shostakovich. Na memória de que Eyes wide shut passou a fazer parte, não sabemos a que colar aquela música insinuante e obsessiva, mas há muito por onde escolher, desde a força visual do fugaz plano inicial em que Nicole Kidmann troca de roupa, até à evocação recorrente, abstracta, do ciúme que se apodera de Tom Cruise e o arrasta numa viagem delirante fora de horas.

5 comentários:

wind disse...

É verdade:)

Pamina disse...

E o Andante do Concerto nº21 de Mozart no filme Elvira Madigan...

E a cavalgada das Valquírias no Apocalipse Now...

É bom que essas peças sejam ouvidas, mas por outro lado, o facto de certas imagens nos surgirem associadas a elas, como por exemplo o Adagietto de Mahler a Veneza, pode ser um pouco restritivo. Alguém que não conheça o filme poderá pensar num riacho na montanha ou em qualquer outra coisa.

Mitsou disse...

Pois... e eu adorava ter essa valsa do "Eyes Wide Shut" em formato mid para a pôr no blog :((
Beijinhos e óptimo fim-de-semana

Anónimo disse...

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Anónimo disse...

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