segunda-feira, maio 30

De que falamos quando falamos do deficit?

O dinheiro não é tudo, mas a falta dele pode envenenar a nossa vida. Uma avaria no automovel, uma infiltração no tecto, um problema dentário, podem afectar o nosso equilíbrio durante meses ou anos. O primeiro luxo é poder reduzir estes problemas a operações aritméticas. É o luxo de que eu não gostaria de abdicar. É um luxo que hoje em dia está ao alcance dos membros da classe média relativamente imunes ao consumismo e com real falta de tempo para gastar dinheiro. Eu até consigo ouvir facilmente a minha colecção completa de cd´s em menos de uma semana. Os oferecidos não contam...

A esmagadora maioria das pessoas que eu conheço pertencem à classe média. Às vezes lembro-me de que para a maioria das pessoas o meu primeiro luxo não é uma opção. Menos vezes do que aquelas que me deveria lembrar.

Estou eu acima da problemática do deficit? Os reformados da classe média reduzidos pela inflacção da década de setenta a uma pobreza envergonhada também achavam que não tinham nada a temer...
Os problemas económicos ainda nem começaram. Os babyboomers reformam-se a partir de 2008. É nessa altura que que a percentagem dos trabalhadores activos vai começar a diminuir rapidamente em todo o mundo desenvolvido. O deficit da década de 20 tomará o papel da inflação da década de setenta? O grande drama começa no dia em que deixamos de ter falta de tempo. Quando falta a energia para fazer coisas. Nessa altura um pouco mais de dinheiro pode ajudar a que nos sintamos vivos. Sentir falta de tempo é ter fome de vida. Espero trabalhar pelo menos até ao setenta e cinco, cheio de falta de tempo. Espero driblar este deficit...

Muitos jovens que consomem como respiram ficam em casa dos pais até aos trinta e cinco para manter o nível de vida. E depois? Foi-lhes prometido o paraíso e a maioria deles não tem convite para entrar. Não vão ficar à porta sem protestar. Pouco posso fazer. Pela parte que me toca, acho que me vou esquivar a este.

Entretanto a falta de coragem dos políticos para emendar os erros do passado vai provavelmente fazer erodir durante os próximos anos uma boa parte do ensino universitário português. A pretexto de Bolonha e por causa do deficit. Provavelmente há outras àreas em que se estão a passar fenómenos semelhantes, só que eu ainda não sei de nada. Este deficit eu já não consigo fintar. E não me apetece escrever sobre ele.

8 comentários:

Eduardo Graça disse...

É isso!...

Madalena disse...

E pouco mais há a dizer. Droga!

Obrigada pela visita.

:)

Anónimo disse...

Já agora, ter falta de tempo é muitas vezes uma opção. Pelos menos para os homens. E uma opção que não está ao alcance de todos...

lique disse...

Para quem não lhe apetece escrever sobre ele (deficit) escreveste um bocado... :) Mas é verdade, este já não fintamos. E é uma chatice das grandes. Beijos

Luis Moutinho disse...

Temo que o deficit e Bolonha sejam duas más desculpas para cortes cegos. Cortes que não são meras reduções de despesa. São reduções de futuro.
Estamos na mão dos gagos. Tenho esperança que esses não nos deixem naufragar.

Anónimo disse...

Caro Luís Moutinho,

Mariano Gago merece mais do que o benefício da dúvida, mas a conjuntura não ajuda nada...

Anónimo disse...

Best regards from NY! » »

Anónimo disse...

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