terça-feira, janeiro 3

d'O Guardador de Rebanhos

Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.
Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.
Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto,
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz.


Só a natureza é divina, e ela não é divina...
Se às vezes falo dela como de um ente
É que para falar dela preciso usar da linguagem dos homens
Que dá personalidade às cousas,
E impõe nomes às cousas.
Mas as cousas não têm nome nem personalidade:
Existem, e o céu é grande e a terra larga,
E o nosso coração do tamanho de um punho fechado...
Bendito seja eu por tudo quanto não sei.
É isso tudo que verdadeiramente sou.
Gozo tudo isso como quem está aqui ao sol.

Alberto Caeiro

5 comentários:

Anónimo disse...

Alberto Caeiro!(Não leste a mensagem...Não a do Fernando, a minha!)

Orlando disse...

Corrigido!
Obrigado!
Que mensagem?

Anónimo disse...

No telemóvel

Orlando disse...

Ahh!
Obrigado.
Não valia a pena!

Anónimo disse...

Falar com Deus é oração,
Se Ele responde é esquizofrenia.