quinta-feira, janeiro 5

Berardo e a Caixa

Só quem nunca visitou uma grande capital da Europa é que não se apercebeu da reduzido espólio museológico existente em Lisboa. Eu não sou capaz de sugerir a um colega que me visite que vá ao Museu de Arte Antiga ver o Bosch. Só um? Se queremos que os espanhóis continuem a vir cá devolver uma parte do dinheiro que nós mandamos para lá todos os dias, convém arranjar-lhes umas entretengas.
Muito se tem falado sobre a colocação da colecção Joe Berardo no CCB. Esta polémica fez-me lembrar a história da sede da Caixa Geral de Depósitos. Um dos mais belos edifícios da cidade de Lisboa. Extraordinariamente bem enquadrado na área que o circunda. Cheio de detalhes deliciosos, como se pode ver aqui. Os nossos velhos do Restelo criaram um alarido completamente despropositado contra a construção da sede da CGD. Uma das consequências desse alarido foi o recuo cobarde na decisão de construir a nova sede do Banco de Portugal na Praça de Espanha. Que continua a parecer uma praça do terceiro mundo. Isso já não incomoda as nossas cabeças bem pensantes. Uma vez construida a Caixa Geral de Depósitos, nunca mais ninguém falou contra o edifício. Veremos o que acontece com a colecção Berardo.
Acham que tenho uma visão utilitária da arte? Não gostam do gosto do Berardo?
Meus senhores: se gostam de pintura, vão aprender a pintar para a Sociedade Nacional de Belas Artes, vão desenhar para o blogue do OMWO, vão ver exposições temporárias. Os museus não devem ser feitos a pensar em vocês. Custam demasiado dinheiro. Devem pagar-se a si próprios atraindo turistas, como o Prado e o Louvre fazem. É para isso que eles servem em primeiro lugar.
Espero que alguém tenha feito as contas a propósito da colecção Berardo. Mas não vi ninguém a criticar o aspecto económico do negócio...
(Foto dos Candeeiros da autoria de Jaime Olhares sobre Lisboa)

4 comentários:

rui disse...

não é que não concorde contigo "no geral" como se costuma dizer... agora que o edificio da CGD tem um arzito de palácio do Ceausescu, lá isso tem. Mas enfim, haverão antagonismos piores, sobretudo porque
1- o mamarracho está feito, está feito e ainda mais
2- a generalidade dos edificios construidos na mesma época em Lisboa são aberrantes.
e continua... falam mal do Taveira mas alguém já reparou nos escarros recentemente construidos nas Amoreiras? E tem lá as placas dos autores... de propósito para que o cidadão a quem peçam para assinar o abaixo assinado para que os projectos só possam ser assinados exclusivamente por arquitectos pense uma, duas, dez vezes e meta o papel no caixote.
O único mostrengo do cavaquismo que se aproveita é o CCB. E mesmo esse... mesmo esse custou dez vezes o orçamentado ( 50 milhões - de contos, para os 5 previstos). Claro que nesse caso, o amigo pacheco não se lembrou do "despesismo"- há-de andar por aí gravado num artigo qualquer a discussão radiofundida - sim, ele já na altura andava nisso- em que ele diz... ( vamos deixar funcionar, vamos ver no que dá...), só "aberturas de espírito", enfim e uma imensa lata.

Orlando disse...

Caterina,
há vários aspectos "económicos" a considerar. Os "bons" e os "maus".
Subornos, favores e colocações são os maus. Mas falar em economia não é sinónimo de cultivar o diabo...

Calvin disse...

Comentário ortogonal: uma instituição como a CGD, que investe em arte, devia ser obrigada a mostrar periodicamente ao público o espólio artístico que tem.
Quem possa visitar os corredores daquele edifício fica com a sensação de que a CGD trata a arte como os mecânicos tratam os calendários: Estão para lá. Onde calhar, como calhar.

Anónimo disse...

Como los portugueses no anden finos y listos, la Coleccion Berardo va a acabar en la Caixa... pero en la Caixa de Ahorros de Barcelona. Se llevaron el Archivo de Salamanca para Barcelona y se llevarán los cuadros de Tapies a Barcelona.....