segunda-feira, junho 26

Eric Gill 5

Eric Gill (1882 – 1940) foi um importante escultor, tipógrafo e gravador. Produziu as esculturas da Via Sacra da Catedral de Westminster. Produziu também vários tipos de letra bastante usados ainda hoje. Tem direito a um elogioso artigo na Encyclopædia Britannica e a uma biografia neste site sobre autores católicos. Católico extremamente devoto, Gill escreveu vários livros sobre a relação entre a arte e a religião. Foi um precursor das ideias introduzidas pelo Concílio do Vaticano II e pelos movimentos ecologistas. Criou várias comunidades cristãs auto-suficientes. Combinava as suas ideias religiosas com ideais de vida comunitária.
Gill adoptou toda a sua vida um estilo de vida boémio. O sexo em grupo era mais ou menos tolerado nas comunidades que fundou. Tinha relações sexuais com duas filhas e duas irmãs. Descreveu em grande detalhe no seu diário as suas experiências sexuais com o cão da familia. Publicou gravuras onde Cristo está envolvido em actos sexuais com uma santa. Eventualmente Maria Madalena. Este site conservador ataca-o de uma forma um pouco ridicula. É por exemplo acusado (?) de ser homossexual. Parece que não é verdade que o fosse. Ele gostava de experimentar coisas. Experimentou relações com animais pelas mesmas razões que experimentou actos homossexuais: era um tipo metódico, queria saber como era.

Se o Eric Gill dissesse que em todos os seus actos foi guiado pelo primeiro mandamento, que lhe responderiam?

44 comentários:

António Araújo disse...

Finalmente algo de jeito para ler!

Gosto muito do site do crítico ofendido, é perfeitamente titilante. Pergunto-me quantas vezes ele teve que parar de escrever para se mas...digo, para se benzer enquanto descrevia todas aquelas "imundices" :p...adoro como ele escreve F*** e A*** e P**** (FUCK, ARSE & PENIS), com um pudôr tão católico (isto é, censório), é como pôr a sala a meia luz, esconde as imperfeições todas e torna o "corpo" mais banal tão excitante quanto se queira imaginar. Uma análise Freudiana da coisa tornaria o autor da crítica tão suspeito como o criticado - mas jamais tão interessante :)

De qualquer forma não é assim tão original, num aspecto: ser pedófilo, estatisticamente falando, é quase requisito para ser Católico hoje em dia ;) (ou pelo menos padre). A parte do cãozito já é mais original, esperemos que a PETA seja clemente...

Um aparte, o traço do Gill lembra-me por vezes o Aubrey Beardsley.

E concordo contigo ON, não creio que o homeme me pareça homosexual, pedófilo, ou zoofilo. Parece-me que ele era simplesmente curioso. O indicio é a ausência de uma exclusividade doentia por esta ou aquela tara específica.

Os moralistas recalcados dâo demasiada importância aos sitios onde os outros decidem enfiar ou não aquilo que lhes pertence. As pessoas que mais criticam a liberdade sexual são no fundo as que dão ao acto uma importância desmesurada.

Sex is like Oxygen. It's *not* a big deal... unless you're not getting any.

António Araújo disse...

Quanto ao "mandamento", não me apetece discutir. Estou um bocado chateado hoje e não consigo pensar em contos da carochinha.

Já sei que vem aí um chorrilho de discussões pseudo-teológicas enfadonhas, isto se o publico dado a mitologias infantis nao se sentir demasiado ofendido pelo carácter demasiado "naturalista" deste post...

maria disse...

Ora aqui está um desafio à altura do admnistrador do Prozacland.

E agora MC?

Agora se calhar só me resta mesmo a fogueira...da vergonha :(

Algumas ideias expontâneas. Se o homem era conduzido pelo amor, nada o condena. E só quem o pode condenar é Deus.
Mas ele vive numa sociedade que tem os seus códigos morais e éticos. O OMWO diz que ele pode enfiar onde quiser. É preciso é que o dono de onde ele quer enfiar, também queira. Se não quiser e ele obrigar, ou se se servir da sua posição de superioridade física, etc, ainda podemos considerar que é por amor que o faz?

Comparar isso a uma possível relação física de Jesus com alguma mulher, não tem nada a ver. A mim, tal situação, não me aquece nem arrefece.

Orlando disse...

MC,
não li a biografia do Gill. Não sei os detalhes. Parece que ele não forçou ninguém a nada.

Obviamente, existem as leis do país em questão...
Isso saõ outras questões.
Tanto quanto parece, o confessor do Gill não achava que ele cometesse grandes pecados.

Pergunto-me: será que todos os defensores de reduzir a moral ao principio de amar o proximo como a nós mesmos estão preparados para aceitar o Gill?

Os que aceitarem, eu já não os condeno á fogueira. Mas pode haver quem condene:)))

Quando se interpreta a religião assim, deixa de haver distinção entre religiões e entre religiosos e ateus.

Se Deus é Amor, para quê dar-lhe dois nomes?

maria disse...

Por agora respondo só à tua última pergunta. :)

Só dois? Acho que já lhe deram muitos mais.
A verdade é que se sabemos pouco sobre Deus, muito menos sabemos que nome lhe dar. Vão-se-Lhe dando nomes à medida que se vai entrando em relação com Ele.
Os Judeus não se atreviam a pronunciar o seu nome e Jesus a dada altura disse que O chamassem de ABBA.

É fácil de perceber. Quando conhecemos alguém tratamo-lo de determinada maneira, se entramos em intimidade, tratamos doutra. :)

O nome aqui, é o que menos interessa, nunca arranjaremos um nome que defina ou identifique Deus.

Sofia disse...

Que o primeiro mandamento não está relacionado com buraquinhos.
Gostaria de responder isto. Mas provavelmente, nem me atreveria a abrir a boca à frente dele...

CA disse...

"Se o Eric Gill dissesse que em todos os seus actos foi guiado pelo primeiro mandamento, que lhe responderiam?"

A Sofia tem razão: "Que o primeiro mandamento não está relacionado com buraquinhos."

Mas de seguida perguntaria ao Gill como eram as suas relações, consigo próprio, com Deus, com os outros. O mandamento do Amor questiona toda a nossa vida, incluindo o modo como vivemos a sexualidade: para onde me oriento? Para ser feliz e fazer os outros felizes, vivendo em relação com eles? Esta felicidade é duradoura ou vivo de experiências pontuais e isoladas? Como é que isso afecta as minhas relações com os outros?

"Pergunto-me: será que todos os defensores de reduzir a moral ao principio de amar o proximo como a nós mesmos estão preparados para aceitar o Gill?"

A moral não se reduz a amar o próximo como a nós mesmos, mas sim a amar o próximo e a nós mesmos como Jesus nos amou. O padrão do Amor (e é mesmo necessário esse padrão!) é o amor de Jesus por nós que é a imagem do amor de Deus por nós. O Deus dos cristãos é o Pai de Jesus e o referencial do Amor são os evangelhos.

Orlando disse...

CA,
Não percebi nada. Mas parece que, afinal, há mais umas regras?

António Araújo disse...

É tudo muito complicado :)

Isto são assuntos muito sérios :p

>A verdade é que se sabemos pouco >sobre Deus,

Evidentemente. Se calhar é porque é uma personagem ficcional

> muito menos sabemos que nome lhe >dar.

Isso já é mau. Podia ter dado cabo do marketing. Felizmente deram cabo da concorrencia de outras formas. Tudo o que restou para comprar no mercado Europeu foi o mesmo Deus com nomes diferentes. Ha detergentes que se vendem segundo a mesma estrategia, com price points diferentes para publicos diferentes. É tudo o mesmo mas têm embalagens diferentes.

> Vão-se-Lhe dando nomes à medida >que se vai entrando em relação >com Ele.

Ah, hum...bom, eu despedia o argumentista, o homem está claramente a improvisar!

Aliás, o problema é que ha varios argumentistas, e nem se preocuparam em manter um minimo de consistência entre si. O facto de serem doidinhos e ouvirem vozes não ajudou. Felizmente que de tempos a tempos o produtor dá uma limpeza nos textos mais discordantes, mas mesmo assim...o Harry Potter é uma ficção mais credivel.

>Os Judeus não se atreviam a >pronunciar o seu nome e Jesus a >dada altura disse que O chamassem >de ABBA.

E foi aí que ele ganhou o festival da canção de mil novecentos e nao sei quê.

O Prince também mudou de nome, ao que me recordo, mas não funcionou muito bem.

António Araújo disse...

>Mas parece que, afinal, há mais >umas regras?

Não sabias? You make them up as you go along!

CA disse...

">Mas parece que, afinal, há mais >umas regras?
Não sabias? You make them up as you go along!"

Nas relações as regras são um auxiliar. Ajudam mas nunca são suficientes. E efectivamente as regras que ajudam mudam com as circunstâncias.

Orlando disse...

CA,
concluo portanto que não estás de acordo com os posts recentes da MC e do /me sobre tudo reduzir ao primeiro mandamento.
E que não vais voltar a escrever algumas das coisas que já escreveste em tempos no teu blog.
Para além do mais penso que concordas com as ideia central do meu post "Melhor é impossível":
Reduzir TUDO ao primeiro mandamento não é aceitavel.

CA disse...

On

Podias explicar-te melhor, por favor?

Orlando disse...

CA,

quem pediu explicações primeiro fui eu!
Parece-me que na tua ultima intervenção estás a admitir que para além de se seguir o 1º mandamento há mais umas regras que são necessários para o precisar.
Paraece-me que o /me e a MC pensam de outra forma.

Estou a entender bem o teu pensamento?

maria disse...

ON,

cada vez mais moídinha com a malvada duma gripe, que me tira qualquer vontade de debate, venho aqui fazer um reparo.

O mandamento do Amor (se eu não fosse relativista, nunca mais usava esta palavra)só não implica mais regras nenhumas, para Deus. Ele que é O Amor. Para nós, aprendizes relapsos, precisamos sim, de regras. Se fossemos capazes de amar em "estado puro" elas não eram precisas para nada. O que eu digo (e não só) é que na Igreja Católica, por vezes dá-se maior ênfase às regras do que ao Amor. As regras estão ao serviço do Amor e não o contrário.
Agora, queria dar um exemplo qualquer concreto, mas não me ocorre nada. :(

maria disse...

OMWO,

faltou-me um acento e aproveitaste-te logo :)

É Abbá.

Quanto ao resto, não estou para aí virada.

maria disse...

ON,

parece que criaste um impasse desde o teu primeiro post:"melhor é ímpossível"

O problema é que tu opões regras e amor. Na prática faz-se isso muitas vezes. Mas as regras fazem parte do amor. Não devia haver dicotomia.

Vamos pegar num exemplo:

No casamento há uma de entre várias regras - a fidelidade.
Um dos conjuges falha essa regra. O outro é confrontado com ela. O que é que deve pesar mais? O mútuo amor ou a quebra da regra? A resposta é a que cada um for capaz de dar.

CA disse...

"Parece-me que na tua ultima intervenção estás a admitir que para além de se seguir o 1º mandamento há mais umas regras que são necessários para o precisar."

Bem, dizer que o 1.º mandamento é o amor é, só por si, uma afirmação vazia, até explicarmos o que é o amor. Na nossa sociedade a palavra amor aparece associada a uma enorme diversidade de fenómenos.

Para os cristãos o amor é algo "mal definido" por duas razões: uma é que, mesmo tendo Jesus como modelo, ele não deu respostas a todas as perguntas e mesmo o que conhecemos dele está sujeito a interpretações; outra é que o amor não é redutível a um conjunto de regras e por isso este amor é algo que se vive de forma nova em cada dia. A "solução" para ambos os problemas é o Espírito Santo: ajuda-nos a interpretar o modelo e ajuda-nos a descobrir o amor quando enfrentamos situações novas. É o Espírito que mantém a relação com Deus na vida e na oração.

CA disse...

OMWO

Há muitos personagens dos quais se sabe pouco e que são descritos de modo muito diferente por quem convive com eles que são muito reais e concretos (na medida em que qualquer coisa ou pessoa o pode ser).

António Araújo disse...

Não estava a falar de Jesus quando falei de seres ficcionais. Parece-me credível que ele existiu (tal como o David Koresh, e, tal como este, também não caminhava sobre àgua nenhuma). Não, quando falava de seres ficcionais, referia-me a Deus.

CA disse...

Eu estava a pensar em Deus quando falava de personagens dos quais se sabe muito pouco e que são descritos de modo muito diferente por quem convive com eles.

Orlando disse...

CA,
admites então que o teu sistema de pensamento é de "geometria variavel"?
Ou se preferires "de borracha".
Isso basta-me.

CA disse...

"CA,
admites então que o teu sistema de pensamento é de "geometria variavel"?
Ou se preferires "de borracha".
Isso basta-me."

Basta para quê?

Orlando disse...

Admites ou não?
Eu perguntei primeiro! :))))

António Araújo disse...

>Eu estava a pensar em Deus quando >falava de personagens dos quais se >sabe muito pouco e que são descritos >de modo muito diferente por quem >convive com eles.

Ah...

"Quem convive com eles"?

Eu pensava que te referias a Cristo, já que ele de facto conviveu com algumas pessoas que o descreveram.

Mas afinal estavs a ser metafórico.

Isto é, *espero* que estivesses a ser metafórico. :)

Que eu saiba, só o George Bush e outros VIPs é que convivem com Deus regularmente.

Sabes o que dizem: Se falas com Deus, isso é fé. Se ele fala contigo, isso é esquizofrenia.

De qq forma, se te referias a Deus, então o meu comentário anterior acerca dos seres ficcionais não toma o teu como objecção, e fica aliás seriamente reforçado. Lamento, mas os crentes não convivem com coisa nenhuma, estão simplesmente a fantasiar.

Têm amigos imaginários. A psicologia explica.

Orlando disse...

OMWO,
para mim a questão da existência de Deus é um problema menor. O que me interessa é as distorções na forma de raciocinar que o aceitar dessa existência pode provocar. Essas distorções propagam-se inevitavelmente para outras áreas.

Orlando disse...

CA,
porquê esse ar tão defensivo?
Porquê responder a uma pergunta com uma pergunta?
Não consegues dar um melhor testemunho da tua fé?
Não foi com esse ar defensivo que os primeiros cristãos conquistaram outros corações:)
Vamos então responder á tua pergunta:

Dizer "isso basta-me" é em parte uma pequena vingançazinha. Irrita um bocadinho. Uma compensação por ficar irritado com as tuas mudanças de ponto de vista. Ninguém é perfeito. Nem sequer os ateus:))

Isso basta-me porque fica claro que basicamente tu acreditas que certas acções são más e outras boas e depois tentas que o teu sistema doutrinário cubra essas crenças.

Quando aparece um caso mais extremo, mas real, como o do Eric Gill, as categorias de pensamento habituais não funcionam bem. Acertar as coisas em privado seria talvez possivel. Em publico, é mais complicado...

CA disse...

OMWO

"Que eu saiba, só o George Bush e outros VIPs é que convivem com Deus regularmente.
Sabes o que dizem: Se falas com Deus, isso é fé. Se ele fala contigo, isso é esquizofrenia.
De qq forma, se te referias a Deus, então o meu comentário anterior acerca dos seres ficcionais não toma o teu como objecção, e fica aliás seriamente reforçado. Lamento, mas os crentes não convivem com coisa nenhuma, estão simplesmente a fantasiar.
Têm amigos imaginários. A psicologia explica."

A questão não é se Deus fala com os crentes. Sem julgar aqui casos excepcionais, se alguém me vier dizer que ouviu a voz de Deus, procurarei conduzi-lo a alguém que o possa ajudar e será provavelmente um psiquiatra. Mas há uma diferença abissal entre ouvir a voz de Deus e conviver com Deus. Os cristãos, como já os judeus, têm o hábito de ler a realidade e a história (pessoal e até nacional, no caso dos judeus) à luz de uma relação com Deus, de um convívio. Trata-se de procurar sentido naquilo que parece aleatório. Os cristãos convencem-se que encontram sentido nas suas experiências, à luz da sua oração e da bíblia. Será fantasia ou realidade? Aqui entra de algum modo a fé. O que eu queria dizer é que a dificuldade em caracterizar Deus não é, só por si, um indício claro da sua inexistência.

CA disse...

ON

"Admites ou não?
Eu perguntei primeiro! :))))"

Sim.

"porquê esse ar tão defensivo?
Porquê responder a uma pergunta com uma pergunta?"

Porque às vezes não percebo mesmo o que queres dizer e nesses casos acho melhor perguntar antes de presumir seja o que for.

"Não consegues dar um melhor testemunho da tua fé?
Não foi com esse ar defensivo que os primeiros cristãos conquistaram outros corações:)"

Pois.

"Isso basta-me porque fica claro que basicamente tu acreditas que certas acções são más e outras boas e depois tentas que o teu sistema doutrinário cubra essas crenças."

A questão é que o meu sistema doutrinário não é uma moral e por isso a questão das coisas boas ou más não se deduz directamente desse sistema.

"Quando aparece um caso mais extremo, mas real, como o do Eric Gill, as categorias de pensamento habituais não funcionam bem."

Claro que não. Só quem pensa que o cristianismo (com a filosofia tradicional de S. Tomás de Aquino) produz uma moral permanente e definitiva é que espera que as categorias de pensamento habituais funcionem bem em todos os casos.

A Igreja Católica tem um problema enorme com a sexualidade. Tem no seu interior pessoas que estão a caminhar para uma visão mais abrangente do assunto, mas a nível das hierarquias e de certos movimentos tradicionalistas ainda se está a tratar do assunto de forma muito limitada. Isto não quer dizer que no futuro se chegue a uma visão que permite tudo, mas que se procure descobrir o que faz as pessoas felizes e o que as faz infelizes.

Orlando disse...

CA,
não me parece que seja pedir demais que TU, uma pessoa informada que reflecte sobre estes assuntos, já tivesses consolidado um ponto de vista que te permitisse lidar com casos como o do Eric Gill sem pestanejar.
Se não soubesse a causa da tua dificuldade em lidar com estas questões, estaria perplexo perante a tua atitude.
Qual é a causa?
A influência perniciosa que a igreja católica tem sobre ti, claro!

CA disse...

ON

"não me parece que seja pedir demais que TU, uma pessoa informada que reflecte sobre estes assuntos, já tivesses consolidado um ponto de vista que te permitisse lidar com casos como o do Eric Gill sem pestanejar."

Não percebo bem o que queres dizer com o "lidar": queres que faça uma avaliação moral ou que dê regras gerais? Ou outra coisa?

Orlando disse...

Que o caso dele estivesse previsto no teu esquema de pensamento.

CA disse...

ON

Não o conhecia mas o caso dele estava previsto no meu sistema de pensamento. O Eric Gill parece oscilar entre dois aspectos. Por um lado tem uma visão da sexualidade mais livre do que a sua época. A mentalidade tradicional é extremamente repressiva e vê qualquer manifestação da sexualidade como uma ameaça. Hoje já se começa a compreender a sexualidade de modo diferente, mesmo dentro da Igreja.

Por outro lado envolve-se em experiências que me levantam sérias dúvidas mas não por razões religiosas: as relações com crianças e com animais. As crianças não têm maturidade para avaliarem o impacto que as relações terão nelas nem a responsabilidade para, pelo menos, assumirem livremente os riscos. Quanto aos animais tenho dúvidas que fizessem o Gill mais feliz mas ele era já crescido e poderia ser responsável por si. Se era casado deveria saber o que a sua mulher pensava de tudo isto.

Num sistema católico isto encaixa até talvez melhor do que um padre pedófilo e isso é relativamente frequente.

Orlando disse...

Afinal parece que começamos a convergir! parece que não é assim tão dificil:)

Sofia disse...

Excelente resposta, CA.

Só não percebo a dificuldade que às vezes existe em chamar as coisas pelos nomes.

"Por um lado tem uma visão da sexualidade mais livre do que a sua época."

Este homem, se a descrição corresponde à verdade, estava carregado de parafilias. Precisava de ajuda especializada.

E digo mais:
Se eu presenciasse e constatasse que a mulher dele sofria com isso, que os animais sofriam com isso e que as crianças (cujas idades não são especificadas) sofriam também, como católica que não sou, era capaz de o matar.

Sofia disse...

Depois podemos dizer que eu tenho uma visão do homicidio mais livre do que a da minha época...

CA disse...

Sofia

Se matássemos todas as pessoas que fazem sofrer os outros não ficava ninguém vivo.

Quanto à sexualidade e às parafilias, transcrevo o início do artigo sobre parafilias do Dr. Allen Gomes no volume I de "A Sexologia", Ed. Quarteto, 2003, onde cita Bancroft:

"Uma das maiores dificuldades da sexologia e da medicina consiste na diferenciação entre comportamentos sexuais normais e patológicos."

As coisas complicam-se quando as próprias pessoas se sentem perturbadas com as parafilias e sobretudo quando há agressão: "exibicionismo, frotteurismo/toucherismo, voyeurismo, pedofilia e violação".

Sofia disse...

CA,

Há sofrimento e sofrimento. Ambos sabemos disso, não é?

No manual DSM IV e no que toca à psiquiatria, eles estão muito bem diferenciados.
Quem quiser ter acesso a algumas definições, pode ir, por exemplo, aqui:
http://www.psiqweb.med.br/dsm/sexual4.html

CA disse...

Sofia

"Há sofrimento e sofrimento. Ambos sabemos disso, não é?"

Há muitos sofrimentos e mesmo assim não defendo a pena de morte em nenhum caso. Além disso, não acho que fazer sofrer um cão ou fazer sofrer a mulher por causa de comportamentos dele com outras pessoas ou animais justifique a morte.

"eles estão muito bem diferenciados"

O DSM é um manual com critérios clínicos que para serem úteis devem indicar factos precisos, mesmo quando esses factos sejam discutíveis. Um exemplo: refere-se "tudo isso ocorrendo durante um período mínimo de 6 meses". Penso que é óbvio que se estabelece uma convenção nos 6 meses. Outro exemplo: a homossexualidade já constou como doença em versões anteriores do DSM.

Na secção do Diagnóstico Diferencial, pode ler-se:
"Uma Parafilia deve ser diferenciada do uso não-patológico de fantasias sexuais, comportamentos ou objetos como estímulo para a excitação sexual em indivíduos sem Parafilia. Fantasias, comportamentos ou objetos são parafílicos apenas quando levam a sofrimento ou prejuízo clinicamente significativos (...)"

Globalmente: parece-me que a descrição que o ON faz do Eric Gill não permite concluir que ele tivesse qualquer parafilia.

Sofia disse...

CA,

"Há muitos sofrimentos e mesmo assim não defendo a pena de morte em nenhum caso."

Estamos a falar de coisas diferentes. Eu também não defendo a pena de morte. Mas casos há em que a justiça pelas próprias mãos é justificável. Eu penso dessa forma. Compreendo que um católico não pense assim. Como disse, seria capaz de... talvez não matar, mas fazer muito mal a quem o fizesse a um dos meus. Assumo e afirmo isto com toda a convicção.
Como afirmo que, se tivesse conhecimento deste tipo de comportamento (leia-se abuso de qualquer tipo) com um ser indefeso e contra a sua vontade (sendo que com uma criança, por exemplo, o é quase sempre), agiria de alguma forma para o impedir.

Quanto à homossexualidade, como deve saber, ainda não existe um consenso entre psis. Mas penso que, por algum motivo, os manuais são actualizados. No mais actual, continua a haver referência a muitas das anteriores situações especificas que levam à conclusão de se estar perante um quadro de patologia.

"Globalmente: parece-me que a descrição que o ON faz do Eric Gill não permite concluir que ele tivesse qualquer parafilia."

Acha?!
Eu não acho isso. Pelo contrário. Não sei que idade teriam as filhas, mas o incesto, só por si...
Além disso, sempre ouvi dizer que quem não quer ser lobo...
Se bem que esse ser deviar estar muito pouco preocupado com a sua reputação...

CA disse...

Sofia

"Quanto à homossexualidade, como deve saber, ainda não existe um consenso entre psis. Mas penso que, por algum motivo, os manuais são actualizados. No mais actual, continua a haver referência a muitas das anteriores situações especificas que levam à conclusão de se estar perante um quadro de patologia."

Estive a ver o site que referiu acima e não encontrei nada de semelhante. A que manual "mais actual" se refere?

"Acha?!
Eu não acho isso. Pelo contrário. Não sei que idade teriam as filhas, mas o incesto, só por si..."

Para haver diagnóstico de parafilia tem que haver recorrência ao longo de pelo menos 6 meses. Se o Eric Gill fazia apenas experiências pontuais isso não é classificado como parafilia.

Sofia disse...

"No mais actual, continua a haver referência a muitas das anteriores situações especificas que levam à conclusão de se estar perante um quadro de patologia."

Isto não está relacionado com a homossexualidade. Referia-me às parafilias.

O manual mais actual é o DSM IV. O V, só lá para 2010. Talvez neste exista alguma novidade :)

A recorrência ao longo de 6 meses, não significa que se pratiquem actos todos os dias durante seis meses. Para haver recorrência, como sabe, basta que num período de 6 meses o acto seja praticado duas.

Anónimo disse...

"basta que num período de 6 meses o acto seja praticado duas."

Mal interpretado!
Tem de acontecer duas vezes com vários meses de separação.
Esta menina é da Gestapo!

Já agora: a menina olha para os manuais como uma boa aluna. O seu amigo CA não tem a mesma veneração pela palavra impressa. Aprenda com os mais velhos.

Sofia disse...

A palavra impressa é o resultado da observação.

"Tem de acontecer duas vezes com vários meses de separação."

Tem?! Duas vezes? Não pode ser duas vezes e meia?
Queria falar de comportamentos regressivos, do paleocortex, da satisfação imediata de impulsos... mas, infelizmente, agora não tenho tempo.

Só uma pergunta:

Alguém viola uma criança. Vai preso e fica na prisão mais de seis meses. Entretanto, não comete mais nenhuma violação. Se levarmos tudo à letra, só nos resta concluir que não houve recorrência e que não estamos perante um possível quadro de parafilia, portanto...

Eu aprendo com toda a gente. Não só com os mais velhos. Basta que tenham alguma coisa para ensinar.

Já agora, eu sou da Gestapo e o caro T. Santos é...?