Tudo bem até certo ponto do artigo, mas no fim...a única razão para fazer o esforço é a fé na justiça divina? Brincamos?
Se ele tivesse escrito de outra forma: "A fé é um bom embuste para manter a carneirada na linha porque ELES não vêm outro motivo para fazer o esforço que não o medo da justiça divina" então eu concordaria.
Mas se me vem vender isso a mim, vai de volta com os demais. Eu já ha muito tempo que não abro a porta ás testemunhas de Jeová.
Há muitas coisas que servem como instrumento de engenharia social (ou mesmo de mantra pessoal), mas não temos que acreditar nelas: O papão, O Pai Natal, Jesus Cristo, o livre arbítrio...
Um prazer em agir da forma que nos agrada estéticamente.
Uma indiferença à derrota material, porque mudámos os critérios de satisfação, e porque sabemos que a vitória é o ópio dos fracos, e que no fim todos são equalizados. Pelo quê?
Por Deus? Foda-se Deus. Pela Morte.
Só os fracos precisam da vitória, ou da justiça final, como justificação. Napoleão nunca foi tão belo como em Waterloo. Mais vale uma derrota bela do que uma vitória torpe. De um ponto de vista estético...
Li a correr o artigo, como faço sempre que leio o das Neves, e no meio ainda vou soltando umas pragas. Logo, ainda não tive hipótese de ver se o último parágrafo é pura demagogia ou dá sentido ao resto do artigo.
Geralmente, pomos a salvação de Deus no final, no término da nossa vida. Como prémio para alguns e castigo para outros. Mas se virmos a salvaçao como algo que opera aqui e agora e terá o seu cume com a nossa morte e ressurreição, as coisas mudam racalmente e a nossa vida também. Se nos encostamos, e esperamos que um dia, Deus faça o que não fizemos, acho que estamos bem fodidos (não me ocorre palavra melhor).
Mas....isto é tudo muito lindo de se dizer, e mesmo sabendo que não trabalha cada um sozinho para si próprio, (tudo tem a ver com tudo e todos a ver com todos)não encontro resposta para o mal que ainda exclui demasiadas pessoas. E não é porque elas não se mexem. É porque por uma lotaria louca, lhes foi tirada a possibilidade de se mexerem. Para esses, não tenho melhor resposta que Deus.
O importante é que eu a aceite se e só se racionalmente e honestamente me é inevitável aceitá-la.
Por exemplo, suponhamos que Deus existe e que de facto ele queria que eu acreditasse na sua existência. Isso é perfeitamente possivel e no entanto não me interessa rigorosamente nada. O que me interessa é que eu não tinha razão nenhuma para acreditar nele. Ele não me deixou nenhumas provas decentes no mundo. Se ele depois disso me mandar para o inferno isso não quer dizer que eu estava errado na minha decisão de duvidar dele, mas sim que ele é um puto mimado e prepotente com mais poder do que eu. Eu estava factualmente errado, mas o meu procedimento estava certo, considerando os dados ao meu dispor. E isso é tudo o que se pode pedir.
Isto lembra-me de um dialogo interessante:
-A sua decisão estava errada, como o resultado demonstrou.
-Infelizmente o resultado da minha decisão não era conhecido na altura em que a tive que tomar.
Todas as coisas em que eu "acredito" me são desagradaveis: A inexistencia de Deus, da vida apos a morte, de um sentido para a vida, do simples livre arbitrio. "Acredito" nelas a contra-gosto. Quando digo "acredito" não me refiro a "fé", quero dizer meramente que os factos que conheço apontam nesse sentido. Quando me refiro ao resto, por exemplo às minhas vincadas tendencias misticas para procurar precisamente a existencia das coisas em que não "acredito", tenho a decência de chamar a isso uma aposta, uma experiencia, um salto no escuro...é uma mera questão de higiene.
"Ah, mas e se um dia a ciencia descobrir que afinal as coisas são diferentes?" Quando houver outros factos eu acreditarei noutras coisas. Até lá acredito nestas. Não é simples? Não tenho qualquer pretensão de estar certo acerca dos factos, só acerca da forma de pensar neles.
13 comentários:
Tudo bem até certo ponto do artigo, mas no fim...a única razão para fazer o esforço é a fé na justiça divina? Brincamos?
Se ele tivesse escrito de outra forma: "A fé é um bom embuste para manter a carneirada na linha porque ELES não vêm outro motivo para fazer o esforço que não o medo da justiça divina" então eu concordaria.
Mas se me vem vender isso a mim, vai de volta com os demais. Eu já ha muito tempo que não abro a porta ás testemunhas de Jeová.
Há muitas coisas que servem como instrumento de engenharia social (ou mesmo de mantra pessoal), mas não temos que acreditar nelas: O papão, O Pai Natal, Jesus Cristo, o livre arbítrio...
Principio basico de um bom traficante:
Never get high on your own supply.
Que tal:
O crime frequentemente compensa.
Não há justiça final.
No fim perdemos sempre.
E agora, o que nos pode motivar?
Um sentido de estética.
Um prazer em agir da forma que nos agrada estéticamente.
Uma indiferença à derrota material, porque mudámos os critérios de satisfação, e porque sabemos que a vitória é o ópio dos fracos, e que no fim todos são equalizados. Pelo quê?
Por Deus? Foda-se Deus. Pela Morte.
Só os fracos precisam da vitória, ou da justiça final, como justificação. Napoleão nunca foi tão belo como em Waterloo. Mais vale uma derrota bela do que uma vitória torpe. De um ponto de vista estético...
Que tal reler "the old man and the sea?"
...embora, nada paradoxalmente, se deva sempre lutar pela vitória (não me chames nihilista). Reler o Bhagavad Gita...
Ia agora mesmo escrever isso:)
Da primeira vez, nem tinha lido o ultimo paragrafo.
O argumento é sempre o mesmo:
A vida é insuportavel sem Deus, logo Deus existe.
Também se podia usar o argumento para apoiar a legalização das drogas duras.
Faroleiro,
experimente a auto-flagelação estilo da Vinci. Parece que provoca conversões instantaneas entre ateus empedernidos como eu:)
Estás sempre a surpreender-me! :)
Li a correr o artigo, como faço sempre que leio o das Neves, e no meio ainda vou soltando umas pragas. Logo, ainda não tive hipótese de ver se o último parágrafo é pura demagogia ou dá sentido ao resto do artigo.
Geralmente, pomos a salvação de Deus no final, no término da nossa vida. Como prémio para alguns e castigo para outros. Mas se virmos a salvaçao como algo que opera aqui e agora e terá o seu cume com a nossa morte e ressurreição, as coisas mudam racalmente e a nossa vida também.
Se nos encostamos, e esperamos que um dia, Deus faça o que não fizemos, acho que estamos bem fodidos (não me ocorre palavra melhor).
Mas....isto é tudo muito lindo de se dizer, e mesmo sabendo que não trabalha cada um sozinho para si próprio, (tudo tem a ver com tudo e todos a ver com todos)não encontro resposta para o mal que ainda exclui demasiadas pessoas. E não é porque elas não se mexem. É porque por uma lotaria louca, lhes foi tirada a possibilidade de se mexerem. Para esses, não tenho melhor resposta que Deus.
Mas temos de arranjar resposta para tudo?
Deus, uma resposta. A morte, outra resposta.
Não sei se temos de arranjar respostas, não podemos é desistir de perguntar.
porque é que não fechas o teu circulo? :)
Desistir é a aceitar uma resposta que não seja verdadeira...
O importante para mim nem é que seja verdadeira.
O importante é que eu a aceite se e só se racionalmente e honestamente me é inevitável aceitá-la.
Por exemplo, suponhamos que Deus existe e que de facto ele queria que eu acreditasse na sua existência. Isso é perfeitamente possivel e no entanto não me interessa rigorosamente nada. O que me interessa é que eu não tinha razão nenhuma para acreditar nele. Ele não me deixou nenhumas provas decentes no mundo. Se ele depois disso me mandar para o inferno isso não quer dizer que eu estava errado na minha decisão de duvidar dele, mas sim que ele é um puto mimado e prepotente com mais poder do que eu. Eu estava factualmente errado, mas o meu procedimento estava certo, considerando os dados ao meu dispor. E isso é tudo o que se pode pedir.
Isto lembra-me de um dialogo interessante:
-A sua decisão estava errada, como o resultado demonstrou.
-Infelizmente o resultado da minha decisão não era conhecido na altura em que a tive que tomar.
Todas as coisas em que eu "acredito" me são desagradaveis: A inexistencia de Deus, da vida apos a morte, de um sentido para a vida, do simples livre arbitrio. "Acredito" nelas a contra-gosto. Quando digo "acredito" não me refiro a "fé", quero dizer meramente que os factos que conheço apontam nesse sentido. Quando me refiro ao resto, por exemplo às minhas vincadas tendencias misticas para procurar precisamente a existencia das coisas em que não "acredito", tenho a decência de chamar a isso uma aposta, uma experiencia, um salto no escuro...é uma mera questão de higiene.
"Ah, mas e se um dia a ciencia descobrir que afinal as coisas são diferentes?"
Quando houver outros factos eu acreditarei noutras coisas. Até lá acredito nestas. Não é simples? Não tenho qualquer pretensão de estar certo acerca dos factos, só acerca da forma de pensar neles.
Como diziam nos intocaveis:
"What will you do if they repeal prohibition?"
"Then I'll go and have a drink."
Verdadeira no sentido que referes...
Não existe outro.
Mas vale a pena clarificar as coisas!
Convém porém notar que eu estava a falar em algo "não ser verdade". Muito mais simples de definir do que "ser verdade".
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