A minha blogosfera anda a encolher. Blogs que acabaram, outros que reduziram a sua actividade... Para combater a minha preguiça, resolvi meter-me onde não sou chamado. Fui bisbilhotar os gostos de um grande blog gourmet. Espero que ele não se importe.
quarta-feira, maio 31
terça-feira, maio 30
Então andas com os ténis da moda?
Agora que os MBT já estão à venda em Portugal, vale a pena relembrar este post. Não acreditem que os MBT fazem perder peso ou eliminam a celulite. Mas ajudam imenso a nível de postura. Andar com eles é comparável a fazer uma aula de Pilates. Eliminam quase completamente as micro-lesões que surgem em qualquer pessoa que faz exercício físico regular.
segunda-feira, maio 29
A Ilegalidade pode ser serviço público?
Pode! Terça-feira pelas 21:30 vamos ter na RTP um Especial Informação sobre Violência nas Escolas. Ao que parece vamos ver imagens tiradas numa escola secundária dos arredores de Lisboa onde crianças entre dez e treze anos ameaçam e insultam professores. O Arrastão insurge-se contra a ilegalidade da recolha de imagens. Tem toda a razão. É pena que pare aí. Não me parece que noutras situações Daniel Oliveira se revele um tão escrupuloso defensor da legalidade instituida, e ainda bem que assim é.
A situação actual das escolas portuguesas é uma batalha perdida em que os professores são obrigados a lutar com um braço atrás das costas. A viabilidade económica do nosso país, tal como o conhecemos, está posta em causa. Lembrar que a inexistência de um regulamento de disciplina nas nossas escolas está a sabotar o futuro das crianças do nosso país, é certamente um serviço público.
Como se o braço atrás das costas não chegasse, a ministra da educação quer agora que os professores ensinem enquanto saltam ao pé coxinho.
A situação actual das escolas portuguesas é uma batalha perdida em que os professores são obrigados a lutar com um braço atrás das costas. A viabilidade económica do nosso país, tal como o conhecemos, está posta em causa. Lembrar que a inexistência de um regulamento de disciplina nas nossas escolas está a sabotar o futuro das crianças do nosso país, é certamente um serviço público.
Como se o braço atrás das costas não chegasse, a ministra da educação quer agora que os professores ensinem enquanto saltam ao pé coxinho.
domingo, maio 28
sábado, maio 27
Lady Elsinore
Existem cada vez mais mulheres assertivas. Ainda bem que assim é. Mas uma vez por outra ainda sou confrontado com aquelas senhoras que querem guardar o bolo e comê-lo. Exibem uma agressividade gratuita impropria de uma dama, mas esperam que os seus interlocutores honrem o antigo código de conduta dos cavalheiros. Quando o interlocutor se acha no direito de lhes responder à letra, ficam genuinamente surpreendidas e emitem sinais de socorro: donzela procura cavalheiro que a defenda. Alguns homens sentem-se na obrigação de cair no logro. Às vezes dão-se mal. Outros estão-se nas tintas, deixando-se fulminar pelo olhar das ditas cujas.
Vem isto a propósito do fim do Lugar Comum. A Carla fez umas graçolas gratuitas sobre este blog. Depois não teve estofo para encaixar uma resposta mal humorada. Só ofende quem pode. Se a autora do blog se sentiu atingida com a sugestão de que o seu blog era uma copia da Bomba Inteligente, então deve ser mesmo. Resolveu então anunciar o fim do blog. Não tinha eu qualquer dúvida que, uma vez encontrado o cavalheiro disposto ao sacrifício, o blog seria reatado. Até já tinha visto acontecer antes fenómenos semelhantes. Não se pode compreender as mulheres nem a Electrodinâmica Quântica, mas pode-se por vezes prever o comportamento de algumas com um número razoavel de casas decimais. O post que finava o blog foi alegremente deletado e a vida continua.
Nada disto seria importante se não tivesse afastado o Lutz do nosso convívio por uns tempos. Atrevo-me a prever que ele ainda volta este ano. Previsão ou wishful thinking?
Vem isto a propósito do fim do Lugar Comum. A Carla fez umas graçolas gratuitas sobre este blog. Depois não teve estofo para encaixar uma resposta mal humorada. Só ofende quem pode. Se a autora do blog se sentiu atingida com a sugestão de que o seu blog era uma copia da Bomba Inteligente, então deve ser mesmo. Resolveu então anunciar o fim do blog. Não tinha eu qualquer dúvida que, uma vez encontrado o cavalheiro disposto ao sacrifício, o blog seria reatado. Até já tinha visto acontecer antes fenómenos semelhantes. Não se pode compreender as mulheres nem a Electrodinâmica Quântica, mas pode-se por vezes prever o comportamento de algumas com um número razoavel de casas decimais. O post que finava o blog foi alegremente deletado e a vida continua.
Nada disto seria importante se não tivesse afastado o Lutz do nosso convívio por uns tempos. Atrevo-me a prever que ele ainda volta este ano. Previsão ou wishful thinking?
Black Jack
Não brinquem com reduções ao absurdo. Há sempre alguém que que acaba por achar que a tal ideia não é assim tão absurda.
Imaginem que alguém comete o hediondo crime de viver com dois filhos sem ser casado. Não será perfeitamente razoavel que corra o risco de pagar uma multa de quinhentos dolares por dia? Esta notícia já correu vários blogs, mas quero arquivá-la aqui para mais tarde contar aos meus netinhos.
Imaginem que alguém comete o hediondo crime de viver com dois filhos sem ser casado. Não será perfeitamente razoavel que corra o risco de pagar uma multa de quinhentos dolares por dia? Esta notícia já correu vários blogs, mas quero arquivá-la aqui para mais tarde contar aos meus netinhos.
sexta-feira, maio 26
A fraqueza do hábito
Durão Barroso queria enviar forças militares para o Iraque. Jorge Sampaio não estava de acordo. Encontraram a solução de compromisso possível. Enviaram um contingente da GNR para desempenhar (mal!) funções destinadas aos militares. Eu até nem apoiava o envio de tropas, mas não é isso que está em causa. Quando se faz alguma coisa, faz-se bem feito.
Com a situação em Timor a complicar-se todos os dias, o que é que a GNR vai lá fazer? Desta vez nós não vamos lá só para se poder hastear mais uma bandeira...
Com a situação em Timor a complicar-se todos os dias, o que é que a GNR vai lá fazer? Desta vez nós não vamos lá só para se poder hastear mais uma bandeira...
Ainda Timor
Diziam que só íamos para Timor com uma resolução da ONU. Uma atitude prudente que evitaria algumas confusões. Agora parece que já não é preciso. Daniel Oliveira levanta algumas dúvidas pertinentes.
Não me parece que os jornais expliquem o que realmente se está a passar. Os factos não serão talvez suficientemente politicamente correctos.
Não me parece que os jornais expliquem o que realmente se está a passar. Os factos não serão talvez suficientemente politicamente correctos.
quinta-feira, maio 25
4-4-2 versus 4-3-3
Por que é que os treinadores de futebol se equivocam tantas vezes? São tão estúpidos como os treinadores de bancada pensam? Aqui está uma das razões. Nunca é tarde para aliar à paixão do futebol algum conhecimento do jogo.
No 433 joga-se com um avançado e dois extremos, que centram bolas para o avançado. No 442 joga-se com dois avançados. O papel dos extremos é efectuado pelo médios alas, que jogam um pouco mais atrasados. Não atacam tanto, mas defendem melhor.
Quando se escolhe os jogadores que vão formar uma equipa, deve-se ter ideias claras sobre o sistema em que se vai jogar. No 433 o avançado tem de ser um avançado completo, capaz de jogar sózinho e de jogar bem de cabeça. É o caso do Jardel e do Pauleta. Não é o caso do Nuno Gomes ou do Liedson. O Nuno Gomes precisa de um ponta de lança mais avançado para combinar. O Liedson é demasiado leve para aguentar a luta de área sózinho.
Quando uma equipa mistura jogadores que não se encaixam todos no mesmo sistema, o treinador tem de fazer remendos, e a manta não consegue tapar os pés e a cabeça.
O Paulo Bento fez muito bem em sacrificar um excelente extremo, o Douala, em prol do rendimento da equipa. O elemento chave era o Liedson, como tal a equipa tinha de jogar em 442 para potenciar completamente o seu rendimento.
A selecção com a quantidade e qualidade de extremos puros que possui tem de jogar em 433. Para isso é necessário ter um ponta de lança completo para jogar no meio do ataque. Se o Pauleta baixar de forma não há ninguém para tomar o lugar dele e as coisas ficam muito complicadas.
Uma situação interessante é a do Manchester United. Esta equipa tem dois pontas de lança extraordinários, que podem jogar sózinhos num 433 ou juntos em 442. Ninguém quer meter um deles no banco, logo a opção natural é o 442. Mas está lá um génio chamado Cristiano Ronaldo, que é um jogador de 433. A certa altura Queirós recuou Wayne Rooney para o meio campo para implementar o 433. Rooney não se adaptou, como seria de esperar, e a equipa voltou ao 442. Quem perde é o Cristiano Ronaldo, que não tem mostrado tudo o que vale. Razão destes problema: a mania de coleccionar bons jogadores, sem olhar ao resto.
No 433 joga-se com um avançado e dois extremos, que centram bolas para o avançado. No 442 joga-se com dois avançados. O papel dos extremos é efectuado pelo médios alas, que jogam um pouco mais atrasados. Não atacam tanto, mas defendem melhor.
Quando se escolhe os jogadores que vão formar uma equipa, deve-se ter ideias claras sobre o sistema em que se vai jogar. No 433 o avançado tem de ser um avançado completo, capaz de jogar sózinho e de jogar bem de cabeça. É o caso do Jardel e do Pauleta. Não é o caso do Nuno Gomes ou do Liedson. O Nuno Gomes precisa de um ponta de lança mais avançado para combinar. O Liedson é demasiado leve para aguentar a luta de área sózinho.
Quando uma equipa mistura jogadores que não se encaixam todos no mesmo sistema, o treinador tem de fazer remendos, e a manta não consegue tapar os pés e a cabeça.
O Paulo Bento fez muito bem em sacrificar um excelente extremo, o Douala, em prol do rendimento da equipa. O elemento chave era o Liedson, como tal a equipa tinha de jogar em 442 para potenciar completamente o seu rendimento.
A selecção com a quantidade e qualidade de extremos puros que possui tem de jogar em 433. Para isso é necessário ter um ponta de lança completo para jogar no meio do ataque. Se o Pauleta baixar de forma não há ninguém para tomar o lugar dele e as coisas ficam muito complicadas.
Uma situação interessante é a do Manchester United. Esta equipa tem dois pontas de lança extraordinários, que podem jogar sózinhos num 433 ou juntos em 442. Ninguém quer meter um deles no banco, logo a opção natural é o 442. Mas está lá um génio chamado Cristiano Ronaldo, que é um jogador de 433. A certa altura Queirós recuou Wayne Rooney para o meio campo para implementar o 433. Rooney não se adaptou, como seria de esperar, e a equipa voltou ao 442. Quem perde é o Cristiano Ronaldo, que não tem mostrado tudo o que vale. Razão destes problema: a mania de coleccionar bons jogadores, sem olhar ao resto.
quarta-feira, maio 24
terça-feira, maio 23
Descarrilhamento
O menino Manuel Maria queixou-se aos pais do défice democrático vigente no jardim escola. Os outros meninos não gostam de brincar com ele.
Carrilho publicou um livro com as suas entrevistas enquanto ministro da cultura. Foi acusado por um dos jornalistas presentes num program da RTP de ter editado as entrevistas em centenas de passagens. Ao que parece modificou as respostas que deu, omitiu perguntas que lhe fizeram, inventou outas perguntas. Staline no seu melhor. Confrontado com estes factos, começou por negá-los. Depois passou a contrapor que nenhum jornalista se tinha queixado. Confrontado com os nomes dos jornalistas que se tinham queixado, amuou perante tal injustiça. Não só não se enfiou num buraco como continuou a dar lições de moral a todos os presentes.
De fogacho em fogacho até ao oblivio final.
Carrilho publicou um livro com as suas entrevistas enquanto ministro da cultura. Foi acusado por um dos jornalistas presentes num program da RTP de ter editado as entrevistas em centenas de passagens. Ao que parece modificou as respostas que deu, omitiu perguntas que lhe fizeram, inventou outas perguntas. Staline no seu melhor. Confrontado com estes factos, começou por negá-los. Depois passou a contrapor que nenhum jornalista se tinha queixado. Confrontado com os nomes dos jornalistas que se tinham queixado, amuou perante tal injustiça. Não só não se enfiou num buraco como continuou a dar lições de moral a todos os presentes.
De fogacho em fogacho até ao oblivio final.
segunda-feira, maio 22
Jogar o Jogo da Vida
é muito mais instrutivo do que discutir filosofia. Construa o seu próprio universo determinista aqui. Marque umas casas, a configuração inicial do seu universo. Carregue em step para ver a evolução passo a passo desse universo ou em auto para ver o universo a evoluir como na figura. Todos podemos ser Deus por quinze minutos.
As leis "físicas" que regem este universo são só quatro:
Uma celula com menos de dois vizinhos morre de solidão.
Uma celula com mais de três vizinhos morre com falta de ar.
Uma celula com dois ou três vizinhos sobrevive.
Uma celula com dois ou três vizinhos sobrevive.
Nasce uma celula numa casa vazia com três vizinhos.
(É o chamado ménage a trois)
Antes de discutir o determinismo e o livre arbitrio, nada como ver como foi complicada a vida de Deus quando (se) criou um universo determinista. Não é uma tarefa fácil criar um universo interessante! Pode encontrar aqui algumas dicas sobre como construir configurações interessantes. A figura representa uma fábrica de deslizadores.
domingo, maio 21
Kurt Gödel (1906-1978)
Comemora-se este ano o centenário do nascimento de Kurt Gödel, o lógico que ficou famoso pelo seu teorema de incompletude. Já se disseram muitas asneiras sobre o assunto, não faz mal dizer mais algumas.
A matemática é composta das mais diversas teorias mas uma pequena parte dela já contem tudo. A parte que trata das contas de somar e de multiplicar os números 1,2,3... Todas as outras construções podem ser reduzidas em última instância a estas coisinhas elementares que todos nós conhecemos.
Considere-se o conjunto de todas as afirmações verdadeiras que se podem dizer sobre os números naturais. Será que podemos escrever um Livro com uma lista de afirmações sobre os números naturais a partir das quais todas as outras afirmações verdadeiras se podem deduzir?
Godel mostrou que não. Das duas uma: ou a lista seria infinita, não cabendo em nenhum livro, ou podíamos deduzir das afirmações do Livro uma afirmação e o seu contrário (uma contradição).
Por outras palavras, o livro seria obrigatóriamente incompleto ou contraditório.
Será razoavel extrapolar as conclusões de Godel para a Bíblia, o Corão e o Talmude?
Se podemos, temos de escolher entre duas opções:
--Admitir um conjunto de princípios minimalista, que não nos diz como agir em todas as situações. Nesse caso vamos ter que ir escrevendo o livro das regras em que acreditamos ao longo da vida. É como reparar um avião em voo.
--Admitir um conjunto de regras mais completo, que responde a tudo. Mas que às vezes nos pode dar duas respostas. E duas respostas contraditórias.
Para os cristãos existem as opções de acreditar literalmente em toda a Bíblia, guiar-se pelos Dez Mandamentos, guiar-se só pelo primeiro.
Todos nós temos de decidir seguir as opiniões de autoridades ou correr o risco de aprender à nossa custa. Gödel não nos propõe nenhuma solução para este dilema, apenas nos lembra que não há forma de o evitar.
A matemática é composta das mais diversas teorias mas uma pequena parte dela já contem tudo. A parte que trata das contas de somar e de multiplicar os números 1,2,3... Todas as outras construções podem ser reduzidas em última instância a estas coisinhas elementares que todos nós conhecemos.
Considere-se o conjunto de todas as afirmações verdadeiras que se podem dizer sobre os números naturais. Será que podemos escrever um Livro com uma lista de afirmações sobre os números naturais a partir das quais todas as outras afirmações verdadeiras se podem deduzir?
Godel mostrou que não. Das duas uma: ou a lista seria infinita, não cabendo em nenhum livro, ou podíamos deduzir das afirmações do Livro uma afirmação e o seu contrário (uma contradição).
Por outras palavras, o livro seria obrigatóriamente incompleto ou contraditório.
Será razoavel extrapolar as conclusões de Godel para a Bíblia, o Corão e o Talmude?
Se podemos, temos de escolher entre duas opções:
--Admitir um conjunto de princípios minimalista, que não nos diz como agir em todas as situações. Nesse caso vamos ter que ir escrevendo o livro das regras em que acreditamos ao longo da vida. É como reparar um avião em voo.
--Admitir um conjunto de regras mais completo, que responde a tudo. Mas que às vezes nos pode dar duas respostas. E duas respostas contraditórias.
Para os cristãos existem as opções de acreditar literalmente em toda a Bíblia, guiar-se pelos Dez Mandamentos, guiar-se só pelo primeiro.
Todos nós temos de decidir seguir as opiniões de autoridades ou correr o risco de aprender à nossa custa. Gödel não nos propõe nenhuma solução para este dilema, apenas nos lembra que não há forma de o evitar.
sábado, maio 20
sexta-feira, maio 19
"Uma criança tem direito a um pai e uma mãe"
Este slogan tem sido usado para retirar às mães solteiras o direito de recorrer a um banco de esperma ou a um dador anónimo. Vamos perder um momento a analisá-lo? O que é que subentende? Se a mãe solteira recorre a um dador anónimo, está a retirar ao seu filho o direito a conhecer o pai? Será mesmo assim? Se ela não recorrer, não há filho!
Este slogan atribui subrepticiamente uma pseudoexistência a algo que ainda não existe. O slogan só faz sentido se acreditarmos que uma criança já existe sobre a forma de uma "alma" ou "proto-alma" antes de ser concebida, estando à espera num limbo que um casal o "adopte". Alguns até acreditarão em algo assim, suponho eu. Mas não tém o hábito de o explicitar...
Existe uma hipótese de a criança vir mais tarde a sentir-se incompleta por nunca vir a conhecer o pai? É possível. Temos de ultrapassar tantos traumas na vida... Vamos então legislar que não podem nascer crianças com malformações de qualquer tipo, obrigando as mães a abortar? Não me parece a melhor opção.
Se perdermos um momento a analisar os slogans com que somos confrontados todos os dias, na publicidade, na política, nos blogues, acabamos por notar até que ponto eles nos enredam em suposições que uma vez explicitadas nos fazem sorrir. Vale sempre a pena parar para pensar.
Existe uma hipótese de a criança vir mais tarde a sentir-se incompleta por nunca vir a conhecer o pai? É possível. Temos de ultrapassar tantos traumas na vida... Vamos então legislar que não podem nascer crianças com malformações de qualquer tipo, obrigando as mães a abortar? Não me parece a melhor opção.
Se perdermos um momento a analisar os slogans com que somos confrontados todos os dias, na publicidade, na política, nos blogues, acabamos por notar até que ponto eles nos enredam em suposições que uma vez explicitadas nos fazem sorrir. Vale sempre a pena parar para pensar.
quinta-feira, maio 18
O Patriarca e as maternidades
Um rei português que não sabia o que fazer ao dinheiro trocou uma fortuna gigantesca por mais um cognome para o bispo de Lisboa. Socrates vai retirar ao patriarca o seu lugar no protocolo de estado. Vai assim calar por uns tempos a ala esquerda do PS, que não gosta do aperto do cinto. O CDS estrebucha pela perda de terreno. São umas bandeiras que avançam e outras que recuam, mais um episódio do Jogo. Nada de essencial está em causa para nenhum dos lados.
Ter um filho numa maternidade onde se faz um parto por dia é um perigo. Os médicos e os enfermeiros necessitam de prática. É infinitamente mais seguro apanhar uma ambulância para uma maternidade a vinte quilómetros de distância. Acontece que aceitar a partida da maternidade é aceitar que a vila em que vivemos já não é o que era, é perder terreno para a vila do lado, é perder terreno no Jogo.
Ter um filho numa maternidade onde se faz um parto por dia é um perigo. Os médicos e os enfermeiros necessitam de prática. É infinitamente mais seguro apanhar uma ambulância para uma maternidade a vinte quilómetros de distância. Acontece que aceitar a partida da maternidade é aceitar que a vila em que vivemos já não é o que era, é perder terreno para a vila do lado, é perder terreno no Jogo.
quarta-feira, maio 17
Contra Factos
Frank Rijkaard entrou para a história do Barcelona ao ganhar hoje a liga dos campeões contra o Arsenal. Se lhe juntarmos os três campeonatos de Espanha que ganhou em três anos, Rijkaard pode agora pedir meças a Johan Cruyff no imaginário blaugrana. Alguém interessado em criar uma grande equipa de futebol, tomaria a decisão acertada ao convidar Rijkaard para treinador? Quando se tem de tomar decisões é crucial saber distinguir o essencial do aleatório.
Olhemos para Lazlo Boloni, o homem que treinou o Sporting da ultima vez que este clube foi campeão. Vários comentadores tentaram descobrir quais as suas qualidades que se revelaram decisivas. Eu apenas encontrei a sorte. No ano seguinte Jardel foi-se embora e foi o que se viu. Boloni comparou-se ao dono de um restaurante que perdeu o seu cozinheiro fora de série. Não tinha culpa de ter perdido o cozinheiro. Também não tinha tido nenhum mérito nos pratos que o cozinheiro preparava e que deram a fama ao restaurante, esqueceu-se ele de acrescentar.
Rijkaard é também o homem de sorte no lugar certo. Mais nada. Não o queria nem a treinar os juniores. Veremos o que acontece quando mudar de clube ou quando a conjuntura actual do Barcelona se modificar.
Um dos grandes atractivos do futebol é ser um modelo em miniatura do mundo em que vivemos. Um modelo onde o tempo corre mais depressa e podemos testar a nossa capacidade de analisar uma situação. É pena que tão pouca gente o aproveite para este fim.
Olhemos para Lazlo Boloni, o homem que treinou o Sporting da ultima vez que este clube foi campeão. Vários comentadores tentaram descobrir quais as suas qualidades que se revelaram decisivas. Eu apenas encontrei a sorte. No ano seguinte Jardel foi-se embora e foi o que se viu. Boloni comparou-se ao dono de um restaurante que perdeu o seu cozinheiro fora de série. Não tinha culpa de ter perdido o cozinheiro. Também não tinha tido nenhum mérito nos pratos que o cozinheiro preparava e que deram a fama ao restaurante, esqueceu-se ele de acrescentar.
Rijkaard é também o homem de sorte no lugar certo. Mais nada. Não o queria nem a treinar os juniores. Veremos o que acontece quando mudar de clube ou quando a conjuntura actual do Barcelona se modificar.
Um dos grandes atractivos do futebol é ser um modelo em miniatura do mundo em que vivemos. Um modelo onde o tempo corre mais depressa e podemos testar a nossa capacidade de analisar uma situação. É pena que tão pouca gente o aproveite para este fim.
terça-feira, maio 16
A nova lei sobre o aborto na Colombia e o JOGO
Já aqui afirmei várias vezes que me parece que questões como o aborto são muitas vezes tratadas pelos dois lados como se fossem um jogo. O que conta é não perder terreno, ou avançar um pouco mais. A Colombia criou finalmente uma lei semelhante à nossa acerca do aborto. Passa-se a poder abortar em hospitais públicos no caso de malformações do feto, violação, etc. A igreja católica colombiana está profundamente indignada por este atentado contra a vida. Estão preocupados com a Vida, ou com o Jogo?
A situação é mais clara do lado da igreja católica, porque esta é uma organização internacional que devia ter standarts a nivel planetário. O única politica mundial que o Vaticano parece ter em relação às leis sobre o aborto é retardá-las o mais possivel, sem olhar a mais nada.
Volto a perguntar a todos os católicos praticantes que passam por aqui: se vivessem em Espanha, França, Alemanha, Suécia, os tais países que tomamos por modelo, estavam contra as leis do aborto vigentes nesse país? Ou aceitavam-nas como fazem os católicos e as próprias hierarquias da igreja desses paises? Então porque não apoiam o estabelecimento neste país de leis semelhantes às que existem por toda a Europa a proposito do aborto?
Estão a deixar-se usar como peões do tal Jogo?
A situação é mais clara do lado da igreja católica, porque esta é uma organização internacional que devia ter standarts a nivel planetário. O única politica mundial que o Vaticano parece ter em relação às leis sobre o aborto é retardá-las o mais possivel, sem olhar a mais nada.
Volto a perguntar a todos os católicos praticantes que passam por aqui: se vivessem em Espanha, França, Alemanha, Suécia, os tais países que tomamos por modelo, estavam contra as leis do aborto vigentes nesse país? Ou aceitavam-nas como fazem os católicos e as próprias hierarquias da igreja desses paises? Então porque não apoiam o estabelecimento neste país de leis semelhantes às que existem por toda a Europa a proposito do aborto?
Estão a deixar-se usar como peões do tal Jogo?
Correlação versus causalidade 2
Analisemos então o estudo "científico". O estudo mostra uma correlação entre praticar yoga e perder peso. As pessoas que praticam yoga perderam mais peso ou ganharam menos do que os que não praticam yoga. Os investigadores acham que podem daí inferir uma relação de causalidade. A relação de causalidade que lhes apetece inferir é que praticar yoga faz perder peso.
A causalidade é uma noção muito mais subtil do que parece. Basta ver a discussão entre o OMWO e o /me no post Vanitas. O assunto tem consequências inclusivamente a nível religioso. Como bom católico, o /me acredita no livre arbitrio. Martinho Lutero alinhava na equipa do OMWO, se bem me lembro.
A correlação não chega para garantir causalidade. Convinha no mínimo apresentar um mecanismo que explique a causalidade. A perda de calorias resultante do yoga não é em geral suficiente para garantir que se perca peso. O yoga predisporia as pessoas a ter mais cuidado com a alimentação. Aceito a explicação, mas é um pouco fraca. Especialmente porque há outras relações de causalidade que apresentam explicações mais plausiveis para a correlação: muitas pessoas começam a praticar yoga porque decidiram mudar o seu estilo de vida. Tomaram uma série de decisões com o fazer yoga, ter cuidado com a alimentação, fazer uns passeios a pé...
Uma das formas mais normais de explicar uma correlação entre dois fenómenos é terem uma causa comum. Este tipo de causalidade é sistematicamente esquecido.
O artigo tem muitos outros pontos fracos. As estatisticas baseiam-se em entrevistas! Não se pode basear um estudo sério em entrevistas...
O artigo teve difusão porque as conclusões eram simpaticas. Esta situação acontece repetidamente. As pessoas tomam muitas vezes decisões que afectam seriamente as suas vidas e a sua carteira com base em relapsias deste tipo. As instituições e os governos fazem o mesmo. Dá muito trabalho pensar.
Este post é um exemplo do grau zero dos exercicios de logica avançados de que falava o OMWO nos comentários ao post O mercado e a vida. Um tema muito chato, sem dúvida.
PS: Não acho que os matemáticos ou os cientistas em geral pensem muito melhor fora do assunto em que se especializaram do as outras pessoas. A disciplina de pensamento de que falo está muito mais ligada à nossa forma de encarar a vida do que a qualquer outra coisa.
A causalidade é uma noção muito mais subtil do que parece. Basta ver a discussão entre o OMWO e o /me no post Vanitas. O assunto tem consequências inclusivamente a nível religioso. Como bom católico, o /me acredita no livre arbitrio. Martinho Lutero alinhava na equipa do OMWO, se bem me lembro.
A correlação não chega para garantir causalidade. Convinha no mínimo apresentar um mecanismo que explique a causalidade. A perda de calorias resultante do yoga não é em geral suficiente para garantir que se perca peso. O yoga predisporia as pessoas a ter mais cuidado com a alimentação. Aceito a explicação, mas é um pouco fraca. Especialmente porque há outras relações de causalidade que apresentam explicações mais plausiveis para a correlação: muitas pessoas começam a praticar yoga porque decidiram mudar o seu estilo de vida. Tomaram uma série de decisões com o fazer yoga, ter cuidado com a alimentação, fazer uns passeios a pé...
Uma das formas mais normais de explicar uma correlação entre dois fenómenos é terem uma causa comum. Este tipo de causalidade é sistematicamente esquecido.
O artigo tem muitos outros pontos fracos. As estatisticas baseiam-se em entrevistas! Não se pode basear um estudo sério em entrevistas...
O artigo teve difusão porque as conclusões eram simpaticas. Esta situação acontece repetidamente. As pessoas tomam muitas vezes decisões que afectam seriamente as suas vidas e a sua carteira com base em relapsias deste tipo. As instituições e os governos fazem o mesmo. Dá muito trabalho pensar.
Este post é um exemplo do grau zero dos exercicios de logica avançados de que falava o OMWO nos comentários ao post O mercado e a vida. Um tema muito chato, sem dúvida.
PS: Não acho que os matemáticos ou os cientistas em geral pensem muito melhor fora do assunto em que se especializaram do as outras pessoas. A disciplina de pensamento de que falo está muito mais ligada à nossa forma de encarar a vida do que a qualquer outra coisa.
segunda-feira, maio 15
Correlação versus causalidade 1
Um grupo investigadores do Fred Hutchinson Cancer Research Center em Seattle analisou o impacto da prática do Yoga na perda de peso. Foi publicado no número de Julho/Agosto do ano passado da revista cientifica Alternative Therapies in Health and Medicine. O inquerito feito pelos investigadores mostra que o peso das pessoas que praticam yoga se comporta melhor do que o peso da média da população. Concluiram que o yoga se revelou um excelente instrumento para perder peso para as pessoas na faixa dos 45-55 anos de idade. O estudo foi citado por muitos jornais e recomendado pelo site do equivalente americano do nosso Ministério da Saúde. Segundo esta página web os especialistas consideram que o yoga pode ajudar a mudar os hábitos das pessoas, fazendo-as perder peso.
Se conhecesse alguém nesta faixa de idade que quisesse perder peso, aconselhava-a a fazer yoga com base neste estudo? Porquê?
Este post tem pouco a ver com yoga ou dietas.
domingo, maio 14
Vanitas vanitatum et omnia vanitas
De que nos podemos orgulhar?
De termos nascido ricos? De estarmos bonitos? (não dura sempre) De sermos inteligentes? (dura mais) Da nossa personalidade?
Ter orgulho em ter nascido rico está fora de moda. Pelo menos quando é afirmado em público. Mas há outras razões para não ter orgulho em tal coisa: não nos assiste nenhum mérito nisso. Ter orgulho em estar bonito também não pode ser apregoado aos sete ventos. Embora sejam dois atributos muito úteis, sem dúvida. Ter orgulho em ser inteligente também começa a ser complicado. O /me já não cai nessa. Concessão ao politicamente correcto?
Se não há motivos para nos orgulharmos da nossa herança económica, porque haverá motivos para nos orgulharmos da nossa herança genética? Qual é o nosso mérito em termos os genes que temos? Se fizermos uma campeonato a jogar ao cara ou coroa, é provável que o vencedor tenha alguma vaidade na sua vitória. Vaidade provem do latim vanitas, que significa vazio.
Podemos orgulhar-nos de algumas decisões que tomamos? Do nosso espaço de livre arbítrio. Acho dificil distinguir o livre arbítrio do resto? Quando se começa a escarafunchar as coisas...
Será que precisamos mesmo de ter orgulho naquilo que somos?
De termos nascido ricos? De estarmos bonitos? (não dura sempre) De sermos inteligentes? (dura mais) Da nossa personalidade?
Ter orgulho em ter nascido rico está fora de moda. Pelo menos quando é afirmado em público. Mas há outras razões para não ter orgulho em tal coisa: não nos assiste nenhum mérito nisso. Ter orgulho em estar bonito também não pode ser apregoado aos sete ventos. Embora sejam dois atributos muito úteis, sem dúvida. Ter orgulho em ser inteligente também começa a ser complicado. O /me já não cai nessa. Concessão ao politicamente correcto?
Se não há motivos para nos orgulharmos da nossa herança económica, porque haverá motivos para nos orgulharmos da nossa herança genética? Qual é o nosso mérito em termos os genes que temos? Se fizermos uma campeonato a jogar ao cara ou coroa, é provável que o vencedor tenha alguma vaidade na sua vitória. Vaidade provem do latim vanitas, que significa vazio.
Podemos orgulhar-nos de algumas decisões que tomamos? Do nosso espaço de livre arbítrio. Acho dificil distinguir o livre arbítrio do resto? Quando se começa a escarafunchar as coisas...
Será que precisamos mesmo de ter orgulho naquilo que somos?
sábado, maio 13
Mergers & acquisitions
Quando à crise, nada como juntar várias empresas para conseguir sobreviver através das economias de escala. Não sei se foi algo assim que levou à criação do Lugar Comum. Haverá realmente uma crise na blogosfera portuguesa? Ou há apenas alguns bloggers que deixaram de procurar novos blogs e se surpreendem pelo desaparecimento ou baixa de produção de muitos dos que conheciam? Eu sou um deles.
Haverá espaço para os blogs que fazem um post por semana? Penso que sim, especialmente se aqueles que se cansam de visitar os seus blogs favoritos sem encontrar posts novos criarem um kinja.
O kinja acaba com o caracter utilitário da barra lateral onde se anunciam outros blogs. Esta barra passa a ser um instrumento político. Que podemos até omitir. Omissão essa que também é uma afirmação política.
Haverá espaço para os blogs que fazem um post por semana? Penso que sim, especialmente se aqueles que se cansam de visitar os seus blogs favoritos sem encontrar posts novos criarem um kinja.
O kinja acaba com o caracter utilitário da barra lateral onde se anunciam outros blogs. Esta barra passa a ser um instrumento político. Que podemos até omitir. Omissão essa que também é uma afirmação política.
quarta-feira, maio 10
O mercado e a vida
Pergunta a Maria da Conceição quanto vale uma vida humana. Escrevi em tempos um artigo sobre o assunto. Na prática, atribuimos todos os dias valor à vida de uma pessoa de forma indirecta. Nós próprios atribuimos à nossa vida um valor quando com decidimos gastar mais ou menos dinheiro na segurança do nosso carro, quando escolhemos voar numa comanhia de aviação que dá um pouco mais de garantias ou arriscamos voar num charter meio esquisito.
É possível portanto determinar o preço que na pratica uma sociedade atribui a uma vida humana. Mas não é disso que estavamos a falar, dirão alguns. Estamos a falar do valor intrinseco de uma vida humana.
Qual é o valor intrinseco de uma escova de dentes?
Marx procurou determiná-lo na primeira parte d'O Capital, onde analisa a teoria do valor. O valor intrinseco da escova de dentes é a quantidade de trabalho que se gastou na produção da escova. É hoje claro para quem se debruçou sobre o assunto que não existem forma de dar um sentido a essa quantidade de trabalho. O valor da escova de dentes é aquele que lhe é atribuido pelo mercado. Mercado = processo de interecção social que determina o valor dos bens.
À escova, tal como à vida humana, não se podem atribuir valores absolutos.
Desta vez Marx e a Igreja Católica estão de acordo.
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