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É possível portanto determinar o preço que na pratica uma sociedade atribui a uma vida humana. Mas não é disso que estavamos a falar, dirão alguns. Estamos a falar do valor intrinseco de uma vida humana.
Qual é o valor intrinseco de uma escova de dentes?
Marx procurou determiná-lo na primeira parte d'O Capital, onde analisa a teoria do valor. O valor intrinseco da escova de dentes é a quantidade de trabalho que se gastou na produção da escova. É hoje claro para quem se debruçou sobre o assunto que não existem forma de dar um sentido a essa quantidade de trabalho. O valor da escova de dentes é aquele que lhe é atribuido pelo mercado. Mercado = processo de interecção social que determina o valor dos bens.
À escova, tal como à vida humana, não se podem atribuir valores absolutos.
Desta vez Marx e a Igreja Católica estão de acordo.
15 comentários:
Voltámos às provocações! Estamos bem, estamos.
Vou dormir sobre o assunto. Mas isto não é só assim como o pintas.
O sr das barbas até fica aí muito bem, mas não chega.
E já que o post é sobre a vida... é sempre bom ver-te ressuscitado. A Páscoa ainda não acabou...
Ao certo o que se quererá dizer "dar valor", será arranjar uma unidade de medida do valor e medir o valor no sentido de dizer que ele é x vezes a unidade de medida? Talvez possamos fazer isso. Por exemplo, tomando como unidade de medida o valor de uma escova de dentes, podemos dizer que duas escovas de dentes têm valor 2. Mas já não sei o valor da pasta de dentes...
Isto parece discussões meio sérias, meio malucas, que eu tinha no newsgroup pt.ciencia.geral há uns anos. :-)
www.blog.jaimegaspar.com
Realmente...! Que provocador! Também vou pensar. Volto depois.
Jaime,
a forma como se dá valor é bastante solida. A escova de dentes vale o preço que o mercado lhe atribui a cada instante. Não é obvio que n escovas de dentes valham n vezes o valor de uma escova...
A maneira como se atribui valor a uma vida humana é indirecta, mas relativamente objectiva.
Desta vez, não estou a ser nada provocador, MC.
Pelo menos, não estou a tentar sê-lo:)
É evidente que n escovas de dentes não valem n vezes o valor de uma, embora duas - num mercado em que ha muitas - valham provavelmente *aproximadamente* duas vezes esse valor. Embora nem isso seja claro, quantas vezes já vimos "leve duas pelo preço de uma"? :)
Uma acção da companhia X vale Y Euros se eu tentar vender 100 accoes, mas quando um grande vendedor tenta despejar rapidamente uma batelada delas, elas valem X menos muito.
O que o ON está a referir é demasiado complexo para a maioria perceber. Porque a maioria ainda acha que a estatistica é uma grande confusão e a matemática é uma grande seca. Trata-se de usar a teoria da decisão como problema inverso. Em tempos eu divertir-me-ia a tentar explicar também. Agora divertir-me-ei a ver-te descalçar a bota, ON :)
A linguagem da Natureza é a matemática. Boa sorte com o hand waving :) Dá para fazer, mas eu ando demasiado exausto :)
Eu agora "é mais" cores :)
Ah, bom! Sendo assim, já nem preciso de pensar mais.
Se o OMWO, que percebe tudo muito facilmente e é o meu heroi, diz que "(...) é demasiado complexo para a maioria perceber. (...)", já nem vale a pena tentar.
Até porque a minoria é... apenas ele.
Fico muito feliz por ser o teu herói, Sofia :)
Vejo que tens bom gosto e refinado discernimento :)
A tua felicidade, OMWO, é o principal motivo da minha existência, como toda a gente sabe. Agora explica-nos lá, por favor, como se usa a teoria da decisão como problema inverso... se fores capaz, claro...
>A tua felicidade, OMWO, é o principal >motivo da minha existência, como toda a >gente sabe.
E é assim mesmo que deve ser. Mais gente seguisse o seu nobre exemplo, minha querida, e o mundo não andaria da forma que anda!...No MEU tempo não era assim!...:)
>Agora explica-nos lá, por favor, como >se usa a teoria da decisão como >problema inverso...
eu queria dizer "trata-se de um problema inverso de teoria da decisão" mas ando tão preguiçoso que nem articulei bem a coisa...
>se fores capaz, >claro...
Não só sou como fui. Uma vez, quando andava a ler sobre isso, referi ao ON um exemplo muito elucidativo no qual ao que me recordo ele até baseou um post. Tinha a ver com uma analise de custos em que explicitamente se atribuía um valor monetario à vida de uma criança. Uns politicos recusaram essa barbaridade, mas, ao tomarem uma decisão contrária às recomendações do estudo atribuiram *implicitamente* à vida de uma criança um valor desconhecido mas necessariamente mais baixo do que esse valor explicito.
Ao que me recordo tu tb fizeste uns comentarios nesse post. Tinham a ver com a historia de que se eu comer dois bolos e tu nenhum, a estatistica diz que, etc, etc, e foi nesse dia que eu decidi que ja nao te voltava a falar de estatistica a não se que queimasses hecatombes a
Marte e Dionisus. :)
E eu sei que não queimaste :p
Raios!
Este Blogspot... Já tinha escrito a resposta. Enoooorme.
Perguntava, nessa resposta (pausa para apreciar a beleza deste início de frase, se me é permitido), se a matemática sustenta, de alguma forma, a ideia de que faz sentido comparar o valor de uma vida, humana ou não, ao de um objecto.
E se a matemática também acha que tudo é redutível ao vil metal, já agora.
Perguntava também, com pode alguém que mal acabou de nascer, utilizar a expressão "no MEU tempo"...
Entretanto, lembrei-me da parte mais importante dessa resposta, que o blogspot fez o favor de fazer desaparecer (fez o favor de fazer... mais uma pausa, se me permitem). Parte essa, alusiva ao facto de eu não ter, seguramente, falado em bolos. Porque falo sempre e só em lagostas, quando o assunto é estatística. Sempre.
Quanto ao resto - e passo a reescrever-, não conheço nenhum "DioniSUS", não sou pirómana, só sou sádica em anos bissextos e, LBNL, os meus sacrifícios vão todos direitinhos para a lua.
>e a matemática sustenta, de alguma forma, a >ideia de que faz sentido comparar o valor >de uma vida, humana ou não, ao de um >objecto.
O que a *observação* sustenta, é que o fazemos *num certo sentido*, de forma implicita, quer o queiramos quer não. A matemática verbaliza esse sentido. Isso acontece quer o admitamos quer não. A unica coisa que muda se o admitirmos é que passaremos a ter consciência de como o fazemos exactamente, e podemos tomar melhores decisões, ou mais honestas. É dessa honestidade dura que nos protegem os lirismos pitorescos das avestruzes.
>Quanto ao resto - e passo a reescrever-, >não conheço nenhum "DioniSUS"
Dioniso, se insistes em ser Portuga. A não confundir com Dionísio, como é mau hábito.
>não ter, seguramente, falado em bolos
Croissants?
Dioniso, seja. Não tenho link para a wikipedia nos favoritos e continuo sem saber quem é.
Tenho hábitos péssimos, de facto...
e muito orgulho em ser portuguesa.
Obviamente que valorizamos uma vida, tal como valorizamos um objecto. Mas terão os valores que atribuímos a cada um, o mesmo significado?
Uma escova de dentes não vale uma vida. A vida de um filho, vale a de uma mãe. No meu caso, por exemplo. Não consigo dar valor à vida das minhas filhas através de números. Nem que chegasse ao pormenor de contar quantas fraldas e chuchas usaram e o dinheiro que foi necessário para as comprar. O valor da vida não é quantificável. Comparável, talvez. A vida delas vale, para mim, mais do que a minha. Mas quanto? É um absurdo.
Acabei de mudar os quatro pneus do meu carro. De acordo com as palavras do ON, eu valorizo muito a vida de quem anda no meu carro. É verdade. Valorizo a minha, a das minhas filhas, a da minha mãe...
Mas:
Se valorizasse mesmo muito, tinha comprado uns Michelin, não era?
E passava um atestado de incompetência à minha condução? A forma como guio também tem algum valor? Faz algum sentido discutir isto? Pergunto uma vez mais: Há mesmo quem pense que tudo é redutível a um valor monetário?
A vida tem valor, sim. Tudo tem valor. Mas preço, não. Por muito que lho atribuam, a vida, qualquer vida, não tem preço.
Sofia,
este post é formado por uma série de observações a um post da MC e aos comentários que por lá apareceram. Não fui eu que levantei a questão do valor da vida humana.
Limitei-me a dizer que, se se quer discutir o valor da vida humana, então...
Sofia, é por isto que eu ja nao tenho paciencia para elaborar. Ha um sentido para essas atribuições de valor, e ha um sentido em que elas são uteis. Ha mesmo um sentido em que elas são automaticas e inevitaveis. É como discutir se ha gravidade é boa ou não. Mas não se consegue sequer começar a discussão porque as pessoas pouco dadas a esse tipo de exercicios mais avançados de lógica reagem imediatamente extrapolando para campos que não são chamados ao barulho. Era o caso dos tais politicos da historia, e é o teu caso agora. E é por isso que eu deixo o assunto para quem estiver numa de Zaratustra que desceu da montanha, que penso ser de novo o caso do ON. Eu estou firmemente, por agora, mais perto do firmamento. E nao pretendo de lá sair.
Nota, nada do que eu disse acima pretende ser uma agressão contra ti. Se digo "pouco dados a exercicios avançados(...)" não quero dizer de forma alguma pouco inteligentes nem nada que se pareça. É apenas a afirmação de um facto: ha um nivel a partir do qual a esmagadora maioria das pessoas - mesmo das pesoas inteligentes - não se aventura. Nem que seja por falta de vontade, de gosto, ou de vocação. Fica a cargo de cada um, mas podiam não fazer afirmações peremptorias acerca de coisas que não estudaram e cujo sentido não adivinham.
As afirmações tontas que se fazem por aí acerca da estatistica são tipicas - dizem-se umas coisas giras tiradas do contexto, umas piadas que supostamente lhe tiram o valor, e assim esquivam-se a ter que aprender uma disciplina cujos rudimentos são essenciais ao pensamento racional avançado. E por vezes mesmo ao mais elementar. Perdemos todos com isso.
É muito interessante, este teu comentário, OMWO.
Pelo que percebo dele, dizes que é típico de quem desiste, antes de tentar compreender, não perceber "esse tipo de exercicios mais avançados de lógica".
No entanto, desististe de tentar ajudar a entender.
Eu pedi. Eu queria ver a lógica. Essa tal, mais avançada. Se quem a sabe não a partilha, perdemos, de facto, todos com isso.
Ou talvez não...
Tu ganhas o firmamento, eu ganho o vale, com uma vista soberba para a montanha.
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