domingo, julho 31

A minha pátria

O aparecimento da internet parecia ser a machadada final na língua portuguesa. Cada vez mais as pessoas passariam a ler só inglês e passariam a comunicar preferencialmente nesta língua. Depois apareceram os blogues. De um dia para o outro redescobrimos o prazer de escrever em português.
Os mapas Geoloc desenham em cada blogue a aldeia global de Fernando Pessoa.

E eu escrevi mais linhas em português nos últimos seis meses do que tinha escrito nos últimos vinte anos.

É hoje que vou tratar do meu blog.

24 comentários:

Orlando disse...

Em Agosto vale tudo. Até republicar um post antigo...

Menina Marota disse...

Vinha comentar o Post que acabei de ler e, sorri ao ler o comentário...
"Tudo vale a pena..." já dizia o poeta...

Mas reflecti sobre o assunto do Post... e, acredite já dei muitas vezes comigo a pensar, ao ler certos Blogues, por onde passo (e que por vezes nem comento)porque será, que sendo nós Portugueses, temos uma tão estranha forma de estar, que não honramos aquilo que de bom temos "nosso" e damos mais valor a tudo o que é estrangeiro?

Publica-se poemas e textos em várias linguas, quando se visitar-mos blogues estrangeiros o que eles lá têm publicado são os autores da sua própria lingua...

Esforço-me, sinceramente, por valorizar sempre em primeiro lugar tudo o que é de autoria Portuguesa, pelo que nos meus blogues, opto sempre por valorizar os autores Portugueses...

A conversa já vai longa, por isso aqui lhe deixo...


"Original é o poeta
que se origina a si mesmo
que numa sílaba é seta
noutro pasmo ou cataclismo
o que se atira ao poema
como se fosse um abismo
e faz um filho ás palavras
na cama do romantismo.
Original é o poeta
capaz de escrever um sismo.

Original é o poeta
de origem clara e comum
que sendo de toda a parte
não é de lugar algum.
O que gera a própria arte
na força de ser só um
por todos a quem a sorte faz
devorar um jejum.
Original é o poeta
que de todos for só um.

Original é o poeta
expulso do paraíso
por saber compreender
o que é o choro e o riso;
aquele que desce á rua
bebe copos quebra nozes
e ferra em quem tem juízo
versos brancos e ferozes.
Original é o poeta
que é gato de sete vozes.

Original é o poeta
que chegar ao despudor
de escrever todos os dias
como se fizesse amor.
Esse que despe a poesia
como se fosse uma mulher
e nela emprenha a alegria
de ser um homem qualquer."

(Poema de José Carlos Ary dos Santos)

Um abraço :)

Menina Marota disse...

Ressalvo "visitarmos"

;)

Anónimo disse...

So far...

Broken M disse...

É tudo uma questão de timing, on! E penso que não há nenhuma palavra em português que signifique isto.

Anónimo disse...

Período sensível, oportunidade, prazo...

Orlando disse...

Madi, não tenho nada contra as palvaras inglesas. Basta ver o título do blog!
Quando estou no estrangeiro é normal pensar em inglês, francês ou (confesso) espanhol.

O que me parece indiscutívelmente mau é deixar de cultivar a nossa língua. Deixar de ter uma lingua que dominamos completamente. Trata-se de um perigo real para quem passa o tempo a ler e escrever em inglês, por razões profissionais.

Anónimo disse...

Poliglota!!! Beeeeeem... :) (Isto do anonimato é tão divertido! Dá trabalho a escolher um nome original, mas compensa.)

Broken M disse...

Engraçado, on.
Eu por estar sempre a ler e a escrever em inglês, tenho uma enorme necessidade de quando posso ler na minha língua-mãe.
Nunca se apresentou como um perigo para mim.:)

Other,
o que vale é que toda a gente já se apercebeu de quem tu és. Não sei qual é o anonimato aqui.

Orlando disse...

Ler sim. Mas onde escreves em português, se esquecermos o blogue?

Anónimo disse...

Que tal, soy Josué Barrera. Escribo desde México, para decirles que en mi país no tan sólo se lee a Pessoa, sino que se le admira infinitamente. Y bien por ti que te gusta Conversación en la catedral.

Saludos,
Josué


Si recuerdo el que fui, otro me
veo,
en el pasado, presente del
recuerdo.
Quién fui es alguien que amo
pero solamente en sueños.
Y la saudade que me aflige la mente
no es de mí ni del pasado visto,
sino de quien habito
por detrás de los ojos
ciegos.
Nada, sino el instante, me conoce.
Mi mismo recuerdo es nada, y siento
que quien soy y los que fui
son sueños diferentes.

Fernando Pessoa

Anónimo disse...

Boa, Madi! Sua desmancha prazeres... :))) Já agora, só para confirmar, sou... :)

Orlando disse...

Olá Josué,
Aparece!

António Araújo disse...

Hà espaço para tudo. Para escrever em Português, em inglês, em Japonês..:)

Quanto a darmos prioridade "ao que é nosso", eu gosto de pensar que o Shakespeare e o Camões são ambos meus. O mundo é todo meu, de acordo com as minhas escolhas, e não com o acidente de onde eu por acaso nasci. O que interessa mais são as minhas propensões pessoais e não a geografia e os acidentes do nascimento. Não seria triste se os nossos gostos fossem tão facilmente adivinhados a partir do B.I. e de umas linhas geo-políticas traçadas no mapa ?

Mas também, eu não tenho nem clube nem partido...sou um desleal :)

Dito isto, também escrevo em Português...quando e porque me apetece...porque é uma bela lingua. Se não fôsse, descartava-a como um acidente lamentável, e sem saudades bairristas de espécie alguma.

António Araújo disse...

A web serve esencialmente para comunicar ideias. Às vezes a linguagem é parte da ideia. Outras vezes a ideia refere-se a questões locais. Nesses casos é apropriado utilizar a lingua local. O Prozacland insere-se neste contexto, creio eu.

Mas em geral, quando a ideia é universal, a lingua utilizada deve ser o mais universal possivel. Irrita-me a mania dos alemães de fazerem sites de interesse global apenas na sua lingua. Limita a comunicação. Se fizermos todos isso eliminamos em grande parte a vantagem da internet.

É preciso uma lingua universal para lidar com questões universais. Por acidente histórico essa lingua é o inglês. Por muitos motivos não é uma má escolha. Dá-nos acesso a muita informação relevante em todos os campos do conhecimento, e permite-nos a leitura do Hamlet, o que é um bonus consideravel :)

E não me venham falar dos tradutores ( automáticos ou não ). Se não percebemos bem a lingua, com as suas nuances mais subtis, comunicamos como robots. Estar limitado à comunicação do concreto é estar limitado a ser um pedaço de concreto - em "brasileiro", um pedaço de betão armado. Armado em quê, falta saber :)

Não creio que a lingua Portuguesa esteja em riscos de desaparecer. Mas também não se arrisca a ser universal. Fazermos de conta que somos ignorantes das outras linguas não a ajuda em nada, só nos ajuda a ficar fechadinhos no nosso bairrinho lusitano.

O Prozacland é um bom exemplo da atitude certa - fala-se e escreve-se em Português quando e porque apetece. Apetecerá sempre que chegue, não há o que temer...

Orlando disse...

O meu inglês não é muito mau, mas não consigo expressar em inglês tudo aquilo que expresso em português. No meu caso pessoal, foi bom voltar a escrever em português. Há coisas que, se não as escrever em português, não o farei noutra língua.
OMWO, numa coisa não concordo contigo: o meu português escrito estava mesmo muito enferrujado. Estava em perigo. Alguns dirão que ainda está! O blogue ajudou a escrever melhor, logo a falar melhor, a pensar melhor...

Tenho amigos portugueses no estrangeiro, perfeitamente integrados no país em que vivem, para quem a língua portuguesa significa muito mais do que para mim. Eles lá sabem porquê.

O que não me parece fazer sentido são algumas defesas "institucionais" da língua portuguesa. Não se defende a língua obrigando as pessoas a escrever em português uma tese de doutoramento, quando só existe uma dúzia de pessoas em Portugal capazes de a ler.
A língua será defendida se existir um seminário regular em português onde se discutam os assuntos tratados na tese. Se não existir uma comunidade interessada no assunto, não há tese escrita em português que resolva o problema.

Já agora vou aproveitar para republicar mais um post sobre este assunto...

trela disse...

mas é um português meio cibernético. não importa a gramática.
vc, kd, naum e tantas outras abreviações que eu, às vezes, nem entendo.

Broken M disse...

Abelhuda,

Pode não ser cibernético. Se tu o quiseres usar para treinar a tua escrita não precisas usar abreviações. Eu quase nunca as uso.

Broken M disse...

A minha antiga professora de Francês, provavelmente uma das pessoas mais interessantes que eu conheci até hoje, dizia que ninguém consegue ser completamente poliglota, nem sequer bilíngue. O nosso cérebro escolhe sempre uma língua, que normalmente é aquela a que aprendemos em crianças, quando as redes sinápticas são mais facilmente formadas. E esta a língua que conseguimos melhor comunicar, com subtilezas. Claro que se não a treinarmos, perdemos grande parte das potencialidades que ela tem.
Por isso, omwo, acho que Camões será sempre mais teu do que Shakespeare.

António Araújo disse...

MaDi, não sei se é assim. Dados os reforços suficientes podemos atingir uma situação de equilibrio. Sei que tanto o meu Português como o meu Inglês sofrem de falhas relevantes. Sei também que hà coisas que consigo expressar melhor em Português do que em Inglês, e vice-versa. Sinto que as falhas são um preço pequeno a pagar pela flexibilidade que isso me dá e pela abertura que isso me permite a duas culturas interessantes. Não trocaria isso pelo dominio absoluto de apenas uma delas.

Tenho que dizer que falo Inglês desde muito cedo graças ao feliz acidente de que em Portugal não se dobram os filmes, ao contrário do que se passa em quase todos os paises Europeus, mais ricos e mais tacanhos nesse aspecto. Tenho ainda que dizer que devo muito mais da minha formação à língua Inglesa que à Portuguesa. Sinto muito se isto é imperdoavel, mas na minha opinião a contribuição da primeira para a cultura mundial é incomparavelmente maior, pelo menos naquilo que me interessa. Já para não falar em toda aquela informação que não é de origem inglesa mas que está disponivel nessa lingua. Assim sendo, não tenho grande fidelidade à lingua de Camões. Como digo, uso-a porque gosto dela, e porque vivo aqui. Mas não tenho problema nenhum em fazer um blogue em Inglês, quando o assunto não é de cariz local e quando escrevo essencialmente para os meus amigos, que são de várias nacionalidades e só se entendem em Inglês.

Em tempos a lingua dos académicos era o latim. Acham que nesses tempos eles teriam mais fidelidade a essa lingua agora morta ou áquela com que haviam nascido?

A pergunta é uma trick question (pun intended), pois a fidelidade é uma caracteristica admiravel essencialmente nos cães e não nos homens (pelo menos intelectualmente falando). :)

O motivo do ON para escrever em Português é um optimo motivo e não tem nada a ver com fidelidades: apeteceu-lhe, pessoalmente, reactivar o *seu* Português.

Pelo mesmo motivo eu posso fazer um blog em inglês.

ON, dizes que há muito tempo que não escrevias bom Português. Bom, mas o Inglês que se escrever profissionalmente também não é bom inglês. O que se fala nas conferências então é lamentavel. Sempre que vou a conferências sou influenciado momentaneamente a perder pronuncia e vocabulario pelo Ingles miseravel que lá se fala (se usares bom inglês ninguem te percebe!). É bom usar um blog para manter viva (em nós proprios) uma lingua que não podemos falar todos os dias...

Orlando disse...

Ok OMWO, percebo o que tu queres dizer. Mas eu não comecei um blogue por causa de treinar o português. Limitei-me a verificar que esse foi um bonus inesperado.

António Araújo disse...

Não queria dizer que era o *unico* motivo (também não poderia jamais afirmá-lo, não leio os teus pensamentos, só os posts :)), apenas um deles. Não fui muito claro. Mea Culpa.:)

Anónimo disse...

putting to waste some good money that could have been used in other areas of development for the business involved.

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.