sexta-feira, julho 1

Donde vem a electricidade?


Donde vem a electricidade? Do interruptor...
Donde vem a agua? da torneira...
Donde vem o meu salário? Aparece na conta bancária...
Donde vem o bife? Do supermercado...

O relógio foi durante muito tempo o nosso modelo preferido. Modelo do universo, modelo da sociedade, modelo do nosso cérebro. Foi suplantado pelo computador. Alguns letrados falam do progresso notável desta mudança. Deixámos de estar reduzidos ao primitivismo da concepção mecanicistica do universo e da sociedade. De muitos pontos de vista esta mudança foi um retrocesso. Os relógios antigos, nós percebíamos como é que funcionavam. O computador, mais parece ser um objecto mágico. Umas vezes funciona, outras não. Vá-se lá saber porquê. Tal como os nossos carros e quase todas as geringonças que temos lá em casa.
A matemática podia ser a relíquia do passado que nos podia ajudar a reter uma concepção artesanal (não mágica) do mundo. Na matemática tudo se pode compreender e tudo se deve compreender. O mecanismo está à vista. É por isso que é difícil. Era preciso acabar com este atentado à nova concepção do mundo. Foi fácil. Bastou substituir a tabuada por uma pequena caixa negra (agora já é mais colorida) e esperar uns anos.

Recentemente foram feitas ou ameaçadas greves de médicos, professores e juízes. São greves com um certo caracter corporativista. São feitas contra o Estado que somos todos nós. Trata-se de um grupo social a lutar por uma fatia maior do bolo do Estado. O que implica que outro grupo receba menos. O Lino perguntava no outro dia porque é que estas greves continuam a ter a simpatia da generalidade da população. Mesmo daqueles que vão provavelmente perder uma parte do bolo. A razão parece-me obvia. As pessoas não interpretam as reivindicações em termos causais. Quando se reivindica algo, o bolo estica. Vá-se lá saber porquê... Esta incapacidade de compreender o mundo compromete a médio prazo o funcionamento da sociedade.
A Constituição está cheia de boas intenções ao afirmar o direito à habitação e ao trabalho. É um dos pilares onde assenta a concepção mágica do mundo actualmente em vigor na nossa sociedade. Também podemos legislar o direito a voar. Não é por lá estar escrito isso que ganhamos asas. Como é possível garantir o direito ao trabalho? Existe uma máquina de criar empregos algures na Assembleia da República? Deve é dar um certo trabalho pô-la a funcionar. Estes políticos são uns preguiçosos. O direito à habitação é mais fácil de assegurar. Já existem em Portugal casas mais que suficientes para todos os portugueses.

Não querem perder o fé no futuro da humanidade? Evitem assistir a uma reunião de um conselho científico de uma universidade. Seria de esperar que pessoas com um doutoramento e décadas da sua vida dedicadas ao estudo tivessem uma compreensão mais profunda dos mecanismos de funcionamento de uma sociedade. Não têm. Existem razões que parcialmente justificam este facto. A universidade foi durante séculos protegida das contingências do dia a dia. Havia e há boas razões para isso. Só assim é possível a alguém embrenhar-se num problema durante vários anos e produzir algo verdadeiramente novo. Correcta ou incorrectamente, a sociedade decidiu que as coisas deviam mudar. Os pivots de telejornal têm outras prioridades. Seria de esperar que numa centena de pessoas cultas e relativamente bem informadas, metade fossem capazes de se aperceber das mudanças. Seria de esperar que os que se apercebem dessas mudanças não virassem a cara para o lado e preferissem subir mais uns degraus da sua torre de marfim. Pois seria.
Quando os membros de uma sociedade não compreendem os mecanismos do funcionamento dessa sociedade, acabam por aprendê-los mais cedo ao mais tarde. À sua custa.

27 comentários:

wind disse...

Pois...

Orlando disse...

Parece que sou o último a partir para o fim de semana...

Anónimo disse...

Eu ainda não fui...

Broken M disse...

Eu também não.

Estou de acordo. Hoje parece que as pessoas não querem compreender.
Fiquei estupefacta com a greve dos enfermeiros (que se reformam aos 57 anos) e a justificação que deram.
Como é que é possível dizer que os enfermeiros têm que se reformar mais cedo por causa do envelhecimento da população?
Que raio de argumento é esse?

Anónimo disse...

Há aqui uma grande confusão... Mistura-se o direito à greve com o direito ao trabalho... Não é só na Constituição da RP que vem o direito ao trabalho. É, também, na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Ver o Artigo 23º:
http://www.unhchr.ch/udhr/index.htm
http://www.unhchr.ch/udhr/lang/eng.htm
Já agora: os outros artigos também são para deitar fora? O 4º por exemplo?

Orlando disse...

Não considero a declaração dos direitos do homem uma texto sagrado acima de criticas. Agora não consigo ver qual é o 4º. Se trata de liberdades, se trata de liberdades democraticas, apoio-o cem por cento. Só consegui arranjar dois minutos para vir ao blog agora. Na segunda feira respondo, ok? Até que enfim alguém faz alguma crítica!

Anónimo disse...

Leia então a DUDH! O Artigo 4º, o 23º e os outros todos.
Acho normal que não considere a DUDH um texto sagrado. Isto não é uma questão de fé... Mantenhamos, pois, a conversa a um nível mais laico.
Vejamos então: você rasga a CRP e, agora também, a DUDH. O que fica então? O Far West?
É você quem decide o que se deve apoiar “a 100%”? Acho natural. Acho lógico. Afinal é você quem compreende “os mecanismos do funcionamento da sociedade”... Olhe que eu ainda não compreendi...
E sabe uma coisa? Há sempre coisas que nós aprendemos mais cedo ou mais tarde à nossa custa. Conhece outra maneira de aprender?

Anónimo disse...

O seu texto tem muito que se lhe diga.
Já falamos sobre o direito ao trabalho. Falemos agora sobre as greves.
Comecemos por refrescar a nossa memória.
Em 20 de Fevereiro houve eleições após alguns meses de grande perturbação. Os portugueses estavam fartos de Santana Lopes e companhia.
Ganhou um partido com base num programa eleitoral.
Depois, a pretexto de que não sabia quanto era o défice (!), mandou para as urtigas as promessas feitas.
E, ao arrepio do referido programa, desata a tomar as medidas impopulares que se conhecem.
Ora, como é que um governo que não sabia quanto era o défice (um número!) tem agora tantas certezas (sobre questões muito mais complicadas que o referido número!).
A Sócrates bastaria ter falado a Sampaio que encarregasse o amigo comum Constâncio de saber quanto era o défice antes das eleições! Não o fez, ou melhor, finge que não o fez.
Sócrates prometeu. Sócrates mentiu.
Como se espera que os portugueses reajam?
Há uma nata de portugueses que vivem como nababos. Que, esses sim, gozam de fabulosos privilégios. Decretam-nos para eles e para os amigos. E, depois, dizem que tudo é legal. Muito obrigado, são eles que fazem as leis!
Como se espera que os portugueses reajam?
Nestes blogues e a propósito das greves, fala-se, ironicamente, dos “tempos heróicos em que havia classe operária”. Havia?
Todos os dias morrem, em média, x trabalhadores em acidentes de trabalho (creio que x=2 ou parecido). Morrem soterrados, electrocutados, caídos de andaimes, etc. Na construção da CGD, Campo Pequeno, ou na Ponte Vasco da Gama, ou numa autoestrada qualquer que estão a construir para nós.
Todos os dias trabalhadores são vítimas de mafias. Torturados, espancados, assassinados, chantageados.
Não são eles “classe operária”?
E no mundo inteiro, não há “classe operária”?
Que as relações de trabalho se modificaram isso é outra questão!
Não vou aqui discutir se o senhor y ao fazer greve está a proceder correctamente. Isso é lá com o senhor y. Isso são “amendoins”.
No Vale do Ave há muitas mulheres (centenas?, milhares?) que, por estarem desempregadas, se prostituem. E não só no Vale do Ave. E muitas, a maior parte, não o fazem livremente. São escravas.
Você sabe. Eu sei.
Como dizia Sophia: Vemos ouvimos e lemos - não podemos ignorar!

Orlando disse...

Queria começar por agradecer aos vários contestatários. A ausência de contestação começava a preocupar-me.
Agora que voltei do fim de semana, vou começar a responder às objecções.

lino disse...

Tanto quanto me tenho apercebido, as greves que têm estado na ordem do dia, e que "nestes blogues" foram de algum modo criticadas, não têm como objectivo lutar pelos trabalhadores que caem de andaimes nem pelos desempregados do vale do Ave, mas sim manter estatutos de privilégio - uns maiores, outros menores.

Orlando disse...

É verdade que só aprendemos à nossa custa. Mas existem vários preços possíveis:

Ouvir-com-atenção-aquela-coisa desagradável-que-aquele-tipo-que até-às-vezes-parece-que-não-é estúpido-me-está-a-querer-dizer.

Ler um bom livro.

Perder o emprego.

Perder a vida.

Convem distinguir, não é?

Orlando disse...

Sobre a minha confusão entre direito à greve e direito ao trabalho. Acha mesmo que confundi?

Não sou contra ao direito à greve. O direito à greve não obriga as outras pessoas a calar as suas opiniões sobre a greve em questão.
Ou obriga?

Orlando disse...

Caro anónimo do post mais longo. Já reparou que já praticamente não há greves no sector privado? Os trabalhadores compreenderam que uma greve não convence os patrôes a não os despedirem. Como foi possível chegar a uma situação destas? Que podemos fazer para a inverter?

Já considerou a hipotese de eu estar do seu lado da barricada? Não é necessariamente que nos dá mais pancadinhas nas costas que está do nosso lado.

Anónimo disse...

Cito:
“Nos tempos heróicos em que havia classe operária a greve era um meio de pressão sobre a entidade patronal. Prejudicar a produção levaria os patrões a negociar.
Nas democracias modernas, a greve foi transformada num direito regido por leis. Na situação portuguesa do presente a greve é uma instituição claramente doente: na prática só é utilizada pelos trabalhadores que vivem directamente do orçamento do estado. Por conseguinte o sentido que a greve tem como confronto com a entidade patronal fica pervertido. Etc., etc., etc.”
O que á aqui são duas coisas:
a) o ataque generalizado ao direito à greve;
b) a afirmação de que já não há classe operária.
Quanto a a) devo dizer que há muitos tipos de greves: justas, corporativas, com e sem sucesso, etc. A situação de degradação social a nível mundial é tal que há quem seja gravemente maltratado e dificilmente possa fazer greve (veja-se o caso dos têxteis). Resta-lhes o desemprego, a prostituição, o alcoolismo, etc. E podem, também, ir roubar para se ligarem à internet para que, aqui, lhes expliquem os “mecanismos do funcionamento desta sociedade”. E estou certo que respostas globalizadas serão tamém encontradas, pelos trabalhadores, para estes ataques aos seus direitos, avanços sociais importantíssimos conquistados no século XX.
Quanto a b), vamos lá a saber: há ou não há “classe operária”?
Pergunto ainda e a propósito de um assunto pendente: A CRP e a DUDH são para desrespeitar e para deitar fora?
A situação de degradação social é tal e o isolamento dos dirigentes é tão grande (e não só em Portugal) que receio que se passe ainda um dia aquilo que se conta a propósito de acontecimentos em França bem conhecidos. Pergunta Maria Antonieta: “Que se passa? Que barulho é este?”. Alguém lhe responde: “É o povo que protesta, senhora”. E ela, irritada: “Mas protesta porquê?”. “Dizem que têm fome, que não têm pão, senhora”. Responde ela, definitiva: “Ora essa! Não têm pão? Que comam croissants!”
Maria Antonieta acabou da maneira que se sabe, sem tempo para “compreender os mecanismos do funcionamento da sociedade” e, se aprendeu “à sua custa” de nada lhe serviu.

Anónimo disse...

No comentário anterior há, pelo menos, uma gralha: não é "á", é "há". Se houver outras gralhas, as minhas desculpas.

Orlando disse...

Maria Antonieta é um bom exemplo. Tem toda a razão. Ela devia ter aprendido mais cedo. O preço de aprender foi demasiado alto.

A questão da existência da classe operária não me preocupa.

Orlando disse...

"Pergunto ainda e a propósito de um assunto pendente: A CRP e a DUDH são para desrespeitar e para deitar fora?"

Pergunta bem. O meu post não trata desse assunto. Apenas me limito a constatar que esses documentos são irrelevantes. Não é por eles existirem ou não que passa a haver empregos no vale do Ave. Ou não será assim.

Esses dois documentos tem dois defeitos: 1) são irrelevantes,
2) criam ilusões acerca da sua relevância.

Bem gostaria eu que eles não fossem irrelevantes.

Orlando disse...

Não é a existencia ou inexistencia de classe operaria que complica as coisas. O que complica as coisas é a globalização. Se num pais houver muita agitação social as empresas vão para outro.

Convem a todos perceber rapidamente a mudança. Senao somos todos Marias Antonietas...

Anónimo disse...

Está claro, então. Eu acho que a CRP e a DUDH são relevantes. Você, não! Está claro!
Eu acho que as leis são para respeitar, ainda para mais estas leis!

Anónimo disse...

Sobre as mentiras de Socrates:
Realmente mentiu. Acho que os portugueses não tem o governo que merecem. Não merecem mais do que santana lopes. O socrates é um bonus.

So mentindo socrates teve direito á maioria absoluta que era indispensavel para fazer alguma coisa.

A mentira de socrates foi um servico a patria.

infelizmente nem assim nos safamos.

Orlando disse...

Ja leu o post de hoje?
Segundo o artigo 58 da constituição o governo é obrigado a implementar politicas de pleno emprego. Não implementa. Não acontece nada.

Eu só me limito a constatar que ninguem liga nenhuma a essas leis. A minha opiniao sobre o assunto é irrelevante!

Orlando disse...

PS: Há vários anónimos ao mesmo tempo. Que tal arranjarem uns pseudónimos. Assim é dificil dialogar...

António Araújo disse...

Já agora, um aparte. isto é totalmente irrelevante para a discussão, mas é preciso referir que (ao que julgo) a história da Maria Antonieta e dos croissants é um mito. Ela não era tão má como a pintavam, mas era estrangeira e um bode expiatório conveniente.

Anónimo disse...

...ainda sobre os mecânismos de funcionamento da sociedade...

"Se num pais houver muita agitação social as empresas vão para outro."


Quer isto dizer que quando "as empresas" se estabelecem num qualquer país, é porque aí não há "agitação social"?

Fui verificar as etiquetas da minha roupa:
China, Tailândia, Marrocos, Turquia e China outra vez. (Até os marroquinos são mais "socialmente calmos" que nós!)


ILUMINAÇÃO

Então é isso!, abdicamos do 13º mês, do subsídio de férias e de Natal, aliás, das férias, dos feriados e dos fins de semana, do subsídio de alimentação, do salário mínimo, da licença de parto, das 40 horas semanais (as 35h ainda tão longe...), do subsídio de desemprego, do direito a trabalhar e a fazer greve, do direito à constituição de sindicatos...
Melhor ainda, pagaremos para trabalhar?! Isso é que era!...


É impressão minha ou estamos a caminho de voltar a ser trabalhadores do sec. XIX?

Que importa! O importante é fazer "as empresas" voltar!!!


Atenciosamente,

Anonymous said... iluminado

Orlando disse...

Quantas vezes gritamos para calar as nossas dúvidas?

Anónimo disse...

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