sexta-feira, março 11

Pactos com o Diabo II

Um período de ditadura. estagnação e repressão de quarenta e oito anos, mesmo tendo alguns períodos de desenvolvimento, deixa muitas marcas. Para além disso cria necessáriamente convulsões nos anos seguintes que deixam também feridas profundas. Algumas dessas feridas não estão completamente saradas mas apenas esquecidas. Porquê lembrá-las? Porque este foi o período formativo da democracia portuguesa. Além disso as pessoas que tinham vinte anos nessa altura estão agora no poder. Só compreendendo o que se passava na cabeça das pessoas nesta altura se pode compreender a sociedade de hoje, em particular a sua classe dirigente.
Durão Barroso repetia contínuamente palavras de ordem do MRPP durante os seus discursos (não nos desviarão da linha correcta...). Isso era apenas um dos indícios de que o seu pensamento estratégico era modelado pela suas experiências durante os anos em que se formou a sua personalidade.
Guterres frequentou o IST no tempo em que os gorilas da PIDE controlavam o edifício. A sua geração jurou que nunca havia de decidir as coisas pela força mas sim pela persuasão. O excessivo pendor para o diálogo de Guterres não era uma falha de carácter mas sim uma quase fatalidade histórica.
Sócrates tem a minha idade. Somos de uma geração de transição. Costumava criticar as gerações antes da minha por um certo idealismo lamechas à Ferro Rodrigues. A seguir à minha geração vem a primeira geração que já não viveu o 25 de Abril. Nasceu para a política com a primeira AD e ainda hoje vota PSD. Fala muito na família. Detesto estes tipos. Eles acham que o idealista sou eu. Expoente típico desta geração: José Mourinho. Se apanharmos um primeiro ministro tão eficiente como ele conseguimos dar a volta por cima...
No post anterior falo mais do que eu acho que se passava na cabeça das pessoas do que de factos, o que é bastante arriscado. Espero que os leitores deste blogue que já eram nascidos na altura contribuam com as suas visões sobre estes acontecimentos.