Normalmente nunca participava em manifestações. Limitava-me a discutir política com os amigos. Naquele dia era diferente. Passei a tarde em frente a um quartel entoando canções revolucionárias e exortando os soldados a saltarem o muro. Um esteve quase. Felizmente para ele, teve juízo. Ao fim da tarde fomos todos para casa. Era claro que a maré tinha mudado. Nada seria igual depois daquela tarde de 25 de Novembro de 1975. Tudo aquilo em que acreditávamos se desmoronava.
A explosão de energia despoletada pelo 25 de Abril não tinha só a ver com a política partidária. Milhares de pessoas entregaram-se frenéticamente a explorar o sexo, a filosofia, as artes marciais ou a cozinha macrobiótica. Quem assistia de fora a este extâse dionísiaco tinha necessidade de lhe pôr cobro para poder voltar às suas certezas. Agora tinha chegado a sua oportunidade de acabar com a festa. Não iam perdê-la e iam cobrar caro a quem nela participou.
Voltei para casa a pé. Andar três quilómetros ajudou-me a ver as coisas de outro prisma. Pouco a pouco foi-se impondo na minha cabeça uma idéia que me assustava, porque me transformava num traidor de todas as pessoas que tinham estado comigo em frente ao quartel. Dalí a dois anos ia para a universidade, queria aprender como se faz ciência. Sabia que a ciência se faz na ordem e não no caos. A festa não podia durar sempre. Esta idéia não afectou o meu desânimo nem o olímpico desdém com que enfrentei os outros, os vencedores, quando no dia seguinte os encontrei nas aulas.
Nessa noite muitas pessoas rangeram os dentes na cama e juraram que nunca na vida iriam aceitar as regras e os valores dos outros. O diabo nunca aparece com chifres, cauda e com o seu cheiro nauseabundo. Aparece sempre disfarçado, alimentando-se da nossa raiva. Nessa noite muitas pessoas perderam um pedaço das suas almas.
Algumas dessas pessoas generosas e boas dedicaram-se à educação. Aquilo que lhes interessava era construir uma escola diferente daquela que tinham tido, onde os professores sorrissem e fossem mais tolerantes. Algumas, ao negarem os princípios rígidos dos outros acabaram muitas vezes por deitar fora quase todos os valores que os outros defendiam. Acabaram por confundir autoritarismo com autoridade, prepotência com exigência. Acreditaram que a escola devia ser sempre agradável e fizeram todas a concessões necessárias para o conseguir. Dois anos depois de sair do fascismo era fácil acreditar que se podia voltar a ir para a prisão por delito de opinião, como alguns sugeriam à boca pequena. Num clima destes é difícil desenvolver os mecanismos de autocrítica que contrabalançam escolhas feitas num momento de raiva. Os anos passam, cometemos erros que são difíceis de assumir. Passamos a defender situações que são indefensáveis e e estamos apanhados na armadilha. Penso que os factos referidos atrás ajudam a compreender o estado actual do ensino em Portugal.
A explosão de energia despoletada pelo 25 de Abril não tinha só a ver com a política partidária. Milhares de pessoas entregaram-se frenéticamente a explorar o sexo, a filosofia, as artes marciais ou a cozinha macrobiótica. Quem assistia de fora a este extâse dionísiaco tinha necessidade de lhe pôr cobro para poder voltar às suas certezas. Agora tinha chegado a sua oportunidade de acabar com a festa. Não iam perdê-la e iam cobrar caro a quem nela participou.
Voltei para casa a pé. Andar três quilómetros ajudou-me a ver as coisas de outro prisma. Pouco a pouco foi-se impondo na minha cabeça uma idéia que me assustava, porque me transformava num traidor de todas as pessoas que tinham estado comigo em frente ao quartel. Dalí a dois anos ia para a universidade, queria aprender como se faz ciência. Sabia que a ciência se faz na ordem e não no caos. A festa não podia durar sempre. Esta idéia não afectou o meu desânimo nem o olímpico desdém com que enfrentei os outros, os vencedores, quando no dia seguinte os encontrei nas aulas.
Nessa noite muitas pessoas rangeram os dentes na cama e juraram que nunca na vida iriam aceitar as regras e os valores dos outros. O diabo nunca aparece com chifres, cauda e com o seu cheiro nauseabundo. Aparece sempre disfarçado, alimentando-se da nossa raiva. Nessa noite muitas pessoas perderam um pedaço das suas almas.
Algumas dessas pessoas generosas e boas dedicaram-se à educação. Aquilo que lhes interessava era construir uma escola diferente daquela que tinham tido, onde os professores sorrissem e fossem mais tolerantes. Algumas, ao negarem os princípios rígidos dos outros acabaram muitas vezes por deitar fora quase todos os valores que os outros defendiam. Acabaram por confundir autoritarismo com autoridade, prepotência com exigência. Acreditaram que a escola devia ser sempre agradável e fizeram todas a concessões necessárias para o conseguir. Dois anos depois de sair do fascismo era fácil acreditar que se podia voltar a ir para a prisão por delito de opinião, como alguns sugeriam à boca pequena. Num clima destes é difícil desenvolver os mecanismos de autocrítica que contrabalançam escolhas feitas num momento de raiva. Os anos passam, cometemos erros que são difíceis de assumir. Passamos a defender situações que são indefensáveis e e estamos apanhados na armadilha. Penso que os factos referidos atrás ajudam a compreender o estado actual do ensino em Portugal.
1 comentário:
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