O Blasfémias destaca hoje com grande relevo uma notícia do Portugal Digital: o facto de já terem morrido este ano 206 pessoas em acidentes de viação. A morte de uma só pessoa é razão de preocupação. Pergunto-me porém qual seria o número mínimo de mortos a partir do qual deveríamos dar este relevo à notícia. Porque é que 206 é um número alto? Compararam com os números de outro país? Compararam com os anos anteriores? Nada disso é dito na notícia. Será que com Sócrates o país está a ficar muito morno, não havia nada para noticiar e foi a primeira coisa que apareceu? Se fizessem uma análise dos dados se calhar até concluíam que estavam em presença de uma não notícia. Era uma chatice, tinham de começar puxar pela cabeça para escrever alguma coisa...
Embora exista uma cadeira de métodos quantitativos no curso de comunicação social da universidade nova nunca vi nenhum jornalista que desse sinais de a ter frequentado.
Caros blasfemos, ser liberal não significa só benzer-se três vezes por dia invocando as leis de mercado. Também é preciso saber interpretar o funcionamento do mercado. Isso faz-se através dos números, das estatísticas. Não é liberal quem quer...
Haverá algum liberal no Blasfémias?
Deixemo-nos de provocações baratas...
Dar um número fora de contexto é apenas uma das incompetências tipicas dos jornalistas portugueses. Quando se fala dos acidentes de trânsito no período do Natal ou da Páscoa é da praxe comparar o número de acidentes desse ano com o número do ano anterior. Se baixou está tudo bem, se subiu está tudo mal e as culpas vão para os automobilistas que guiaram pior este ano. Ninguém se lembra de referir que o número de carros que existem no país aumentou. Ninguém se lembra de comparar as condições metereológicas desse ano com o ano anterior. Devia-se fazer a comparação com o último ano com condições atmosféricas semelhantes.
Ninguém se lembra que existem variações que são completamente aleatórias. Comparar dois números tem um valor muito reduzido. Se se fizer um gráfico dos ultimos dez anos vê-se claramente qual é a tendência dominante. Se em 2005 o número de mortos aumentar em relação a 2004 mas fôr substancialmente inferior aos números de 2001, 2002 e 2003 o número de mortos de 2005 é um sinal positivo que confirma a tendencia de baixa. Se só olharmos para 2004 e 2005 tiramos a conclusão contrária. Um gráfico é uma imagem para mostrar na televisão. As pessoas gostam de imagens.
Porque é que as coisas não são feitas como deve ser? Uma das possíveis razões é porque dava muito trabalho. Melhorar a qualidade da informação quantitativa nas notícias seria um serviço público altamente significativo para o país. Os cidadãos passariam a compreender melhor o país em que vivem e seriam melhores cidadãos. Aceitariam melhor os sacrifícios quando eles fizessem sentido e seriam capazes de detectar mais fácilmente os demagogos.
Perguntei a um estatístico que encontrei alguns anos atrás no comboio para o Porto porque é que não organizava um curso de estatística aplicada para jornalistas. Ele arregalou os olhos e contou-me esta história.
Outro dia um pivot de telejornal bem conhecido anunciou que o tabaco ia aumentar em vinte por cento. Explicou em seguida o significado deste número: cada cigarro iria aumentar um por cento.
4 comentários:
Depois, há também aquela «notícia» típica informando que 50% dos portugueses são mais gordos que a média, ou mais pobres que a média, ou mais ignorantes que a média...
Concordo com a chamada de atenção para os critérios de comparação dos números de mortos nas estradas.
Chamo a atenção que não é somente neste domínio que não se faz qualquer comparação dos diversos factores.
Também na política, designadamente, quando se discutem as listas de espera só se tem em conta o número de pacientes em espera, ficando de fora factores importantes de comparação tais como doentes operados, novos doentes admitidos, n.º de médicos que realizam intervenções cirúrgicas.
O que pensa do assunto?
Tem razão. Todo o número tem de ser contextualizado por outros números. O caso dos acidentes de trânsito é particularmente simples. O caso das listas de espera é bastante mais complexo. Seria importante comparar o tempo de listas de espera em Portugal e noutros países, separando as especialidades. Não se pode comparar tempo de espera para um doente de oncologia com tempo de espera para cirurgia estética.
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