domingo, março 20

O elogio do desconforto


É desconfortável para um farmacêutico perder oito por cento do seu monopólio. É desconfortável para cada um de nós ser questionado sobre o nosso trabalho. Não o podíamos fazer melhor, mais económicamente, mais rápido? É desconfortável quando a pergunta provém de um superior, de um subordinado ou mesmo de nós próprios.
É desconfortável andar uma hora a pé. É desconfortável levantar pesos. É desconfortável manter o equilíbrio numa posição menos comum. É desconfortável esticar o corpo para além daquilo a que estamos habituados. Se não testarmos os nossos limites todos os dias, estes limites vão-se encurtando e a dor que queríamos evitar acaba sempre por nos apanhar.
Vivemos numa sociedade que evita a dor. Evitamos a nossa dor, a dor dos outros, a ideia de dor. Quanto a própria ideia de dor se torna insuportável, a dor acaba por vir em nosso socorro e cura-nos da nossa doença.

1 comentário:

Anónimo disse...

intiresno muito, obrigado