sexta-feira, março 4

Escolaridade obrigatória I

Inicialmente a escolaridade obrigatória foi criada para garantir que toda a população activa de um país atingisse um certo nível de educação. Esse nível de educação mínimo era o requerido pelas necessidades de competitividade do país. A escolaridade obrigatória foi um motor de desenvolvimento essencial no Japão e nos países nórdicos durante o final do século XIX. A partir daí o número de anos de escolaridade obrigatória de um país passou a ser encarado como um indíce de desenvolvimento.
Recentemente é possível que alguns países tenham elevado o número de anos da escolaridade obrigatória por razões mais prosaicas: enquanto os jovens estavam na escola estavam ocupados, não consumiam tantas drogas, não roubavam, não estavam no desemprego.
Finalmente surgiu uma terceira razão para aumentar o número de anos da escolaridade obrigatória: Bastava decretar o aumento desta para melhorar este indíce de desenvolvimento e o país em questão julgar fazer boa figura junto dos colegas mais desenvolvidos.
Obviamente o decreto não resolvia todos os problemas. Um jovem para conseguir atingir um nível intelectual superior ao nível do seu agregado familiar tem em média de fazer um esforço suplementar: Numa sociedade onde o valor do esforço individual esteja descreditado é muito difícil convencer os jovens a trabalhar mais. Surgiram então alguns iluminados que descobriram a solução para o problema: bastava baixar um nadinha a fasquia, ninguém reparava, e os resultados melhoravam. Muitos pais acharam bem. Uns não tinham conhecimentos suficientes para ajudar os filhos. Outros não tinham tempo. Outros gostavam de ver televisão. Foi assim que Portugal conseguiu em tempo record aumentar a escolaridade obrigatória até aos nove anos com um esforço mínimo.
Recentemente começou-se a achar que para fazermos mesmo boa figura lá fora tínhamos de aumentar a escolaridade obrigatória para doze anos. Reparou-se então que, por razões altamente misteriosas, muitos alunos abandonavam a escola imediatamente após o nono ano! Como desvendar este mistério?



3 comentários:

João Pinto e Castro disse...

O ensino público gratuito não foi criado para «assegurar a competitividade», mas sim para cada fazer de cada indivíduo um cidadão capaz de votar e participar na vida pública do seu país.

Isso da competitividade é uma motivação recente que, aliás, está a destruir o tradicional conceito de educação, ou seja, está a substituir a educação pelo adestramento.

Orlando disse...

Acho muito bem. Mas não sou eu que vou explicar isso a um sujeito de quarenta anos que ficou desempregado e não tem grandes perspectivas de voltar a ganhar um emprego. Doque é que lhe serve ser um cidadão capaz de votar e participar na vida pública do seu país?

Anónimo disse...

Excellent, love it!
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