quinta-feira, março 31
A questão do aborto
quarta-feira, março 30
O aborto, quase em português
Há um estado, em que a vida humana (o espermatozoide é vida humana...) ainda não merece a nossa solidariedade e protecção, e há outro, em que ela a merece em todo o caso e a todo o custo. O que não vejo, é um ponto nítido e indiscutível entre estes dois estados que marca a fronteira categórica, e menos ainda que este tem de ser a fecundação.
Pessoalmente também penso que esse ponto não existe. E não é na bíblia ou na tradição cristã anterior ao século XIX que se vai encontrar essa revelação de Deus. A fixação desse ponto na concepção pela Igreja Católica é recente. É posterior ao conhecimento científico do processo de fecundação e parece resultar mais de uma necessidade filosófica do que teológica.
Só afirmo que para mim, a vida humana, representada por um espermatozoide, um embrião, uma criança, ou uma pessoa em coma, não é igual em todos os casos, se estou posto perante a questão se e quanto devo protegê-lo.
A prática geral tem sido esta. Apesar de todas as afirmações teóricas, quase ninguém se lembraria de propor que se penalizasse o aborto como homicídio premeditado. Também a nível de protecção médica, nem os mais radicais "pró-vida" parecem reparar que no convívio sexual de um casal se perdem naturalmente embriões. Se os considerassem como pessoas de pleno direito teriam que se preocupar com a investigação médica de modo a pôr termo a esta "mortalidade infantil". Se a procriação medicamente assistida vier, daqui a alguns anos, a conseguir gravidezes com menos perdas de embriões do que o processo natural, deverão ser os primeiros a proibir criminalmente a procriação natural e as relações sexuais desprotegidas.
uma pessoa que acha a decisão de abortar susceptível de ser ponderada em comparação com outros valores ou objectivos
Penso que se encararmos o valor da vida do embrião como algo que vai aumentando progressivamente podemos pensar em fazer este tipo de ponderações. E creio que nunca deveríamos esquecer a pessoa da mãe. Às vezes exagera-se absolutizando a mãe e esquecendo o feto. Outras vezes absolutiza-se o feto e esquece-se a mãe.
Há alguns aspectos que me parece que vejo de forma diferente do Lutz. Creio que uma criança após o nascimento deve ser defendida como pessoa humana de pleno direito, embora não tenha ainda muitas das características racionais que o Lutz enumera. E parece-me que deveríamos dar uma protecção muito elevada ao feto no fim da gravidez.
Entre a concepção e o fim da gravidez existem alguns marcos que podem ser usados para aumentar o estatuto da entidade que se desenvolve: nidação, desenvolvimento do sistema nervoso e viabilidade fora do útero. Falo de entidade porque nas primeiras duas semanas a entidade pode dividir-se ou fundir-se com outra e aí falta a individualidade para falar de pessoa ou mesmo de ser.
Para mim o ideal é que uma gravidez em que o embrião nidou chegue sempre ao nascimento de uma criança. E devo dizer que não me agrada a intercepção do processo depois da concepção. Penso que deveria ser sempre algo considerado como extraordinário, por haver conflito grave com outros valores. Acho normal que se percam embriões na procriação assistida porque há um objectivo superior (conseguir que algum dos embriões chegue a ser criança) e acho compreensível que haja abortos em fases mais avançadas por razões ponderosas. A partir de certo ponto parece-me que o único modo razoável de interromper uma gravidez é fazer nascer a criança.
Acho difícil que uma lei consiga caracterizar à priori equilíbrios tão delicados, mas a ideia de uma liberalização sem critérios, mesmo com um prazo definido (10 ou 12 semanas), não me parece boa. Por outro lado, a rigidez com que a lei actual tem sido interpretada também não contribui para que se aceite manter a lei.
Acho que o meio primordial de combate ao aborto devia ser a prevenção: estudar as razões que levam as mulheres a abortar e procurar combatê-las antes que o problema se ponha. De outro modo, mais do que defender a vida estaremos a combater a morte com mais morte.
CA
terça-feira, março 29
O blogue da semana
Um mês
sábado, março 26
sexta-feira, março 25
Segmentação de mercado
Qual a solução para resolver o problema: mais dinheiro?
Acontece que existem meia dúzia de zonas problemáticas no país. Tudo o que temos de fazer é identificar essas zonas e dar-lhes um estatuto especial. Os polícias que trabalharem nessas zonas devem ter um subsidio de risco substancialmente maior, estar bem equipados e bem treinados. Serão escolhidos entre os voluntários mais capazes. Se se arranja voluntários para o Iraque não será difícil arranjar voluntários para a Amadora. Os custos de melhorar as condições de trabalho nestas zonas são infinitesimais, se comparados com os gastos totais da PSP. Não podemos é continuar a enviar para as zonas de perigo os agentes que não conseguem arranjar colocação noutro lado como se fossem carne para canhão.
quarta-feira, março 23
Quanto vale uma vida humana?
Não sabiam os assessores do ministro que uma vida humana não tem preço? Parece ser um exercício gratuito de mesquinhez atribuir um valor em euros à vida de uma criança. Acontece porém que os recursos são escassos. Pode-se sempre fazer algo mais para evitar que se percam vidas humanas. Até onde é que vamos gastar? Como é que se compara a efectividade de duas medidas que possam ajudar a salvar vidas?
Todos os dias tomamos decisões que envolvem riscos para as nossas vidas. Quando compramos um automovel podemos comprar um motor com mais vinte cavalos de potência ou comprar mais um air-bag. Quando viajamos de avião escolhemos um bilhete mais barato num voo charter, onde a manutenção é um pouco mais espaçada, ou um bilhete mais caro numa companhia tradicional. Quando fazemos uma ultrapassagem para não perder o princípio do filme arriscamos a nossa vida. Estas decisões podem ser analisadas por métodos de econometria. Obtem-se assim um número que corresponde ao valor que implicitamente atribuímos às nossas vidas. Alguns de nós ficaríam admirados com o valor obtido. Se não aceitarmos este tipo de quantificação é impossível discutir racionalmente uma série de questões que serão decididas exclusivamente por critérios políticos.
Voltando à minha história (verídica). Os acessores concluíram que se devia realmente retirar o amianto das escolas. O ministro ficou ultrajado com a atribuição de um valor monetária à vida de uma criança. O parecer foi arquivado. O amianto ficou onde estava.
terça-feira, março 22
Tentações totalitárias
Tentações totalitárias II
As nossas opções políticas estão associadas aos modelos que usamos para interpretar a realidade. Se todos pensassem como nós, viveríamos numa sociedade menos capaz de criar soluções para enfrentar novos desafios.
segunda-feira, março 21
domingo, março 20
Jean-Paul Sartre
Todas as revoluções são libertações gigantescas de energias acumuladas que produzem idiotices e injustiças sem fim. Maio de 68 não fugiu à regra. Sem os escritos de Sartre durante as décadas anteriores a energia libertada em Maio de 68 poderia ter-se dissipado de uma forma totalmente inconsequente. Hoje fala-se pouco de Sartre porque o essencial daquilo porque ele lutava já não se discute. Tornou-se um património de todos.
A guerra da Argélia, terminada em 62, provocou divisões terríveis na sociedade francesa. O único grupo organizado da oposição era o partido comunista. No auge da guerra da Argélia tanto o governo como o partido comunista eram implacáveis a esmagar qualquer grupo que propusesse uma alternativa. As liberdades individuais tal como as reconhecemos hoje não eram respeitadas. Foi Sartre que ousou conceber a ideia da terceira via entre uma direita musculada que defendia uma guerra colonial e o partido comunista. Hoje essa terceira via é maioritária. A sua filosofia e a sua obra romanesca assentam na ideia da liberdade da escolha. A sua luta política também. As pressões (intelectuais e físicas) a que as pessoas eram submetidas na época eram gigantescas. Sartre cometeu alguns erros políticos. Só não os comete que está sentado na bancada a ver a história passar. No essencial ele estava correcto.
Cem anos depois do seu nascimento os seus romances já não são tão lidos como o foram até à década de 70. A sua obra filosófica terá talvez caído num relativo esquecimento. No entanto o seu legado político foi incorporado nos pilares da nossa sociedade.
Wellington
Cadeiras
O elogio do desconforto
Vivemos numa sociedade que evita a dor. Evitamos a nossa dor, a dor dos outros, a ideia de dor. Quanto a própria ideia de dor se torna insuportável, a dor acaba por vir em nosso socorro e cura-nos da nossa doença.
sábado, março 19
Anjos e demónios
Ao longo do livro vamos conhecendo em detalhe as duas instituições e cabe-nos descobrir qual das duas é a vilã. A minúcia com que as instituições são descritas contribui de forma essencial para dar credibilidade ao enredo. Antes de nos mostrar que a nota de um dólar está cheia de símbolos maçónicos no Código, Brown chama a atenção nos Anjos para o facto de o logótipo do CERN conter o símbolo da besta: 666. A grande inovação de Dan Brown na técnica de construir thrillers foi a introdução de mitos. O enredo do Código gira em volta do mito do Graal. O enredo de A&D resuscita uma sociedade secreta, os Illuminati, que é suposta lutar desde a renascença contra a igreja católica. Compre o livro como se compra uma embalagem de aspirinas. Fica lá em casa para quando for preciso. É um dos poucos medicamentos que já se vendem nos supermercados. Se pensa visitar Roma, então compre mesmo o livro. Revisitar os monumentos apresentados e discutidos em detalhe no livro é um atractivo suplementar para a sua viagem.
quinta-feira, março 17
Crisis, what crisis?
O erro de casting
António Borges e a Universidade
terça-feira, março 15
Sobreviver-lhes
Santana, não podes com uma gata pelo rabo! Se andasses a mini maratona de Lisboa não chegavas ao outro lado da ponte. Deixa-te de brincadeiras com a câmara de Lisboa e pede umas dicas à Cinha.
A pedofilia nunca existiu
Como é possível que os polícias que despoletaram o caso apito dourado tenham sido enviados para o fim do mundo? Quando é que vão ser condecorados? Quando é que o estado português os indemniza e lhes pede desculpa?
Num estado de direito democrático todos temos direito à inocência até prova em contrário. Mas será que vivemos realmente num estado de direito democrático? Suponhamos que um político influente é acusado de um crime e não é condenado. Nas circunstâncias presentes, podemos daí deduzir que foi vítima de uma conspiração ou de um engano com tal certeza que arrisquemos voltar a votar nele? Infelizmente para o próprio, não estou certo que a resposta seja sim.
Fazer bem as contas
segunda-feira, março 14
domingo, março 13
Fazer as contas
E ainda agora a campanha não começou.
sábado, março 12
Aspirinas
Dizem que Sócrates lançou a ideia da liberalização parcial do comércio de medicamentos para desviar a atenção das questões mais quentes. É verdade. Mas não me parece má ideia aliviar os bolsos dos portugueses antes de lhes pedir sacrifícios. Especialmente se for à custa de um cartel que nada fez para merecer os previlégios de que tem gozado.
So far
Governar um país já é suficientemente difícil. A Dra. Ana Gomes quer que o primeiro ministro governe o país ao pé coxinho, equilibrando uma bola no nariz. Quando ela ganhar umas eleições, mostra como é que se faz.
sexta-feira, março 11
Fazer as contas
Durante os últimos dois anos os funcionários públicos perderam seis a sete por centro do seu salário real. Para todos os efeitos, isso equivale a terem-lhes mantido o salário real e aumentado os impostos em sete por cento. Os funcionários públicos suportaram assim grande parte dos custos da crise. Aumentado o IVA, diminuía a pressão sobre o orçamento. Haveria espaço para o aumentado nominal dos salários que lhes manteria o salário real. O aumento de impostos seria dividido por todos.
Pactos com o Diabo II
Pactos com o Diabo I
A explosão de energia despoletada pelo 25 de Abril não tinha só a ver com a política partidária. Milhares de pessoas entregaram-se frenéticamente a explorar o sexo, a filosofia, as artes marciais ou a cozinha macrobiótica. Quem assistia de fora a este extâse dionísiaco tinha necessidade de lhe pôr cobro para poder voltar às suas certezas. Agora tinha chegado a sua oportunidade de acabar com a festa. Não iam perdê-la e iam cobrar caro a quem nela participou.
Voltei para casa a pé. Andar três quilómetros ajudou-me a ver as coisas de outro prisma. Pouco a pouco foi-se impondo na minha cabeça uma idéia que me assustava, porque me transformava num traidor de todas as pessoas que tinham estado comigo em frente ao quartel. Dalí a dois anos ia para a universidade, queria aprender como se faz ciência. Sabia que a ciência se faz na ordem e não no caos. A festa não podia durar sempre. Esta idéia não afectou o meu desânimo nem o olímpico desdém com que enfrentei os outros, os vencedores, quando no dia seguinte os encontrei nas aulas.
Nessa noite muitas pessoas rangeram os dentes na cama e juraram que nunca na vida iriam aceitar as regras e os valores dos outros. O diabo nunca aparece com chifres, cauda e com o seu cheiro nauseabundo. Aparece sempre disfarçado, alimentando-se da nossa raiva. Nessa noite muitas pessoas perderam um pedaço das suas almas.
Algumas dessas pessoas generosas e boas dedicaram-se à educação. Aquilo que lhes interessava era construir uma escola diferente daquela que tinham tido, onde os professores sorrissem e fossem mais tolerantes. Algumas, ao negarem os princípios rígidos dos outros acabaram muitas vezes por deitar fora quase todos os valores que os outros defendiam. Acabaram por confundir autoritarismo com autoridade, prepotência com exigência. Acreditaram que a escola devia ser sempre agradável e fizeram todas a concessões necessárias para o conseguir. Dois anos depois de sair do fascismo era fácil acreditar que se podia voltar a ir para a prisão por delito de opinião, como alguns sugeriam à boca pequena. Num clima destes é difícil desenvolver os mecanismos de autocrítica que contrabalançam escolhas feitas num momento de raiva. Os anos passam, cometemos erros que são difíceis de assumir. Passamos a defender situações que são indefensáveis e e estamos apanhados na armadilha. Penso que os factos referidos atrás ajudam a compreender o estado actual do ensino em Portugal.
quinta-feira, março 10
A minha pátria
quarta-feira, março 9
terça-feira, março 8
Poirot Probabilista 2
Discuti o case study seguinte na Escola. Os detalhes são inventados porque já passaram muitos anos mas penso que consegui reconstituir o essencial desta história verídica. Embora a estatística seja uma ciência exacta a sua aplicação na prática pode ter aspectos extremamente subtis. Mesmo para um especialista.
Um casal pára um carro descapotável de cor salmão perto de um indivíduo que está a passear o cão. O homem sai do carro e dispara dois tiros à queima roupa. Em seguida partem a grande velocidade. Uma senhora observa tudo da janela da sua casa e telefona à polícia. Descreveu as roupas do casal de forma bastante precisa e conseguiu fixar as três primeiras letras da matrícula. Não viu a cara dos criminosos. A polícia de Los Angeles lançou um alerta geral e conseguiu deter três horas mais tarde um casal que correspondia exactamente á descrição, guiando um carro da mesma côr, com as primeiras três letras da matrícula iguais. Decide acusá-los. Na falta de melhores argumentos contrata um estatístico. Este demonstra em tribunal que a probabilidade de existirem em Los Angeles naquele dia dois casais verificando todas aquelas condições era superior a um em quatro milhões. O júri condena o casal.
O advogado de defesa apresenta recurso e contrata um estatístico. Este admite que todo o raciocínio do seu colega estava correcto. Acontece porém que a probabilidade de haver dois casais naquelas circunstâncias, dado que havia um, era de um em mil e novecentos. Foi considerado que havia dúvida razoável e como tal o casal não foi condenado.
Poirot Probabilista
Joao Pinto e Castro pergunta no Blogoexisto qual é a probabilidade de o Benfica nos últimos nove sorteios da Taça de Portugal ter jogado sete vezes em casa, ser isento uma vez e ter jogado uma só vez fora? É certamente muito baixa. Pelas suas contas é de cerca de um por cento. Lembro que esta série de coincidências já ajudou o ano passado o Benfica a ganhar uma taça de Portugal e deixou-o este ano bastante bem colocado para ganhar outra.
Até que ponto é que podemos considerar este facto um eventual indício de corrupção? É possível tratar este assunto com rigor científico? Analisemos um caso que foi tratado nos termos propostos por João Poirot Castro. Quando eu vivia no Japão durante os anos oitenta toda a gente sabia que se fazia batota no Sumo. Num torneio de Sumo cada lutador luta uma vez por dia durante quinze dias. Se já chegou ao prestigioso e lucrativo posto de Ozeki (campeão) tem de uma vez em cada dois torneios obter Kashikoshi (ganhar oito das quinze lutas) para se manter no posto. Quando um lutador precisava de vencer no último dia para obter Kashikoshi era quase garantido que vencia. Normalmente quando encontrava o mesmo lutador no torneio seguinte, perdia.
Recentemente um senhor chamado Steve Levitt resolveu investigar o assunto e comprovou sem margem para dúvidas aquilo que toda a gente sabia. Podem ver na sua página web o resumo das suas conclusões. Lewit mostra por exemplo que quando os jornais começavam a falar muito no assunto o número de combates combinados diminuía...
O Economist de 10 de Janeiro de 2004 tem um excelente artigo sobre o sr. Lewitt. Ele é professor de economia em Chicago e acabou de ganhar a medalha John Bates Clark, o mais importante prémio para economistas de menos de quarenta anos. Está na calha para um Nobel daqui por mais umas décadas.Não sei se os métodos usados por João Castro são suficientemente poderosos ou não. Para além do mais a quantidade de dados ao dispôr de Lewit é considerávelmente maior. A questão que levanta faz porém todo o sentido. Gostaria de saber detalhes sobre a metodologia utilizada no sorteio.
Aproveito para lembrar uma regra existente na taça Davis que evita estes problemas. Quando dois países se encontram pela primeira vez sorteia-se quem joga em casa. A partir daí vão alternando quem joga em casa cada vez que o sorteio os junta.
O Blog da semana 2
segunda-feira, março 7
Estatísticas para o povo
domingo, março 6
Atiradores furtivos
Arquivo Sampaio
sábado, março 5
O logótipo da BMW
A Renault e a Fiat actualizaram o seu logótipo várias vezes nas última décadas. A BMW e a Audi não o fizeram. O número de mudanças de logótipo de uma marca de automóveis é proporcional ao número de crises por que a marca passou. Nenhum especialista de marketing seria capaz de impingir o emblema da BMW a uma empresa: está completamente desactualizado. No entanto isso não afecta a imagem de BMW. A estética em sentido estrito subordina-se aqui à imagem da marca. Como aquele emblema aparece naqueles carros, o emblema passa a ter classe. A FIAT não mudou de emblema por o anterior ser feio. O anterior ficou gasto porque foi usado em carros que não vingaram.
Vem isto a propósito do artigo A nossa língua e a língua dos outros publicado no Alerta Amarelo. Refere MJL que a IKEA, multinacional sueca do mobiliário, não hesita em utilizar a lingua sueca nos produtos que vende em Portugal. Pergunta porque é que as empresas portuguesas não usam o português nos produtos que exportam. Porque é que usamos tantas expressões inglesas that sound much better?
Não me parece que seja uma questão de falta de segurança ou de falta de vontade de afirmação que nos leva a comportar desta forma. Acho que agimos da forma mais racional possível.
Uma empresa portuguesa que queira exportar, se tiver um produto líder de mercado pode usar um nome português. São exemplos disso os Madre Deus e o Mateus Rosé, que fizeram subir a cotação da língua portuguesa nas suas áreas de influência. Uma empresa portuguesa que queira vender um produto de qualidade média numa área em que o nosso país ainda não se afirmou terá tudo a ganhar se se informar primeiro sobre quais são as línguas que estão a facturar no seu ramo de actividade.
Nós estamos a vender-nos todos os dias: as nossas personalidades, os nossos talentos, os nossos blogs... Usamos termos da língua que dá mais jeito na altura e não há que ter complexos com isso. Se formos bons naquilo que fazemos a nossa língua vai ganhar terreno, caso contrário...
O filho do sr. Encarnação, emigrante português na Alemanha, teve de ir estudar informática para os Estados Unidos. O seu pai tornou o nome Encarnação tão prestigioso no mundo da informática alemã que o filho preferiu ir para uma universidade onde pudesse ser um ilustre desconhecido.
A minha escola primária
sexta-feira, março 4
Escolaridade obrigatória I
Inicialmente a escolaridade obrigatória foi criada para garantir que toda a população activa de um país atingisse um certo nível de educação. Esse nível de educação mínimo era o requerido pelas necessidades de competitividade do país. A escolaridade obrigatória foi um motor de desenvolvimento essencial no Japão e nos países nórdicos durante o final do século XIX. A partir daí o número de anos de escolaridade obrigatória de um país passou a ser encarado como um indíce de desenvolvimento.
Recentemente é possível que alguns países tenham elevado o número de anos da escolaridade obrigatória por razões mais prosaicas: enquanto os jovens estavam na escola estavam ocupados, não consumiam tantas drogas, não roubavam, não estavam no desemprego.
Finalmente surgiu uma terceira razão para aumentar o número de anos da escolaridade obrigatória: Bastava decretar o aumento desta para melhorar este indíce de desenvolvimento e o país em questão julgar fazer boa figura junto dos colegas mais desenvolvidos.
Obviamente o decreto não resolvia todos os problemas. Um jovem para conseguir atingir um nível intelectual superior ao nível do seu agregado familiar tem em média de fazer um esforço suplementar: Numa sociedade onde o valor do esforço individual esteja descreditado é muito difícil convencer os jovens a trabalhar mais. Surgiram então alguns iluminados que descobriram a solução para o problema: bastava baixar um nadinha a fasquia, ninguém reparava, e os resultados melhoravam. Muitos pais acharam bem. Uns não tinham conhecimentos suficientes para ajudar os filhos. Outros não tinham tempo. Outros gostavam de ver televisão. Foi assim que Portugal conseguiu em tempo record aumentar a escolaridade obrigatória até aos nove anos com um esforço mínimo.
Recentemente começou-se a achar que para fazermos mesmo boa figura lá fora tínhamos de aumentar a escolaridade obrigatória para doze anos. Reparou-se então que, por razões altamente misteriosas, muitos alunos abandonavam a escola imediatamente após o nono ano! Como desvendar este mistério?
O blog da semana
So far so good
quinta-feira, março 3
Blasfémias sobre as presidenciais II
Santana quando se imaginava em Belém defendia um presidente absoluto. Quando se descobriu em São Bento passou a querer que Sampaio vestisse as saias da rainha de Inglaterra. Ao que parece no Blasfémias já não se acredita por aí além na hipótese de um candidato da direita vir a ganhar as presidenciais...
A votação das legislativas foi bem clara. O povo compreendeu que Sampaio despediu Santana com justa causa e reza para que não seja necessário a outro presidente tomar a mesma decisão. Os candidatos a presidente sabem o preço que Eanes continua a pagar pelos erros que cometeu e ninguém se atreverá durante as próximas décadas a dissolver uma Assembleia sem ter muito boas razões para o fazer.
Blasfémias sobre as Presidênciais I
O candidato ganhador serà alguém suficientemente forte para poder decidir resistir às pressões dos média até ao momento certo. A forma como Sócrates está formar o governo está a marcar pontos. Decidir não comunicar a decisão que se tomou ou pura e simplesmente decidir não decidir é uma prova de força. .