sábado, agosto 27

A Blast from the Past – Memórias incómodas de outros terrorismos



Como as coisas mudam…ou não? Para aqueles que pensam que o terrorismo é uma invenção árabe, convém lembrar um outro dia em que o Reino Unido esteve de luto. Note-se como já nesse tempo o ataque foi apelidado de “um crime cobarde”. A retórica nunca muda, nem os crimes, o que muda são os autores:

Comunicado da British House of Commons:

"On July 22, 1946, one of the most dastardly and cowardly crimes in recorded history took place. We refer to the blowing up of the King David Hotel in Jerusalem. Ninety-two persons lost their lives in that stealthy attack, 45 were injured, among whom there were many high officials, junior officers and office personnel, both men and women. The King David Hotel was used as an office housing the Secretariat of the Palestine Government and British Army Headquarters. The attack was made on 22 July at about 12 o'clock noon when offices are usually in full swing. The attackers, disguised as Arabs, carried the explosives in milk containers, placed them in the basement of the Hotel and ran away.”

O atentado foi ordenado originalmente por David Ben Gurion, que no entanto o cancelou à última hora. Menachem Begin, líder do grupo Zionista Irgun, prosseguiu no entanto com o plano.

Ambos estes homens viriam a ocupar o cargo de Primeiro-Ministro de Israel, e Begin, juntamente com Sadat viria mesmo a ganhar o prémio Nobel da paz (frequentemente atribuído a carniceiros semi-regenerados) pelos acordos de Camp David mediados por Jimmy Carter.

Vê-se assim que não há qualquer objecção histórica à negociação com terroristas, nem à sua aceitação à mesa de jantar, mesmo na companhia dos convivas mais distintos.
Como tal, e era este o propósito deste post, venho desde já propor a candidatura antecipada de Osama Bin Laden ao prémio Nobel da paz de, digamos, 2012 ou 2013. You heard it here first, folks!

Estarei apenas a brincar? Veremos…

37 comentários:

António Araújo disse...

Porquê esperar tanto tempo?

Pelo mesmo motivo que me dirão alguns que eu não tinha nada que vir aqui referir "história antiga". Quando é que a história é "antiga"?
O massacre do King David Hotel é história antiga, isto é, irrelevante para a discussão dos assuntos presentes e das suas causas?

No entanto o Holocausto é muitas vezes referido como relevante. Que diabos, até a expulsão dos Judeus pelos Romanos ainda é tida por estes como um facto não consumado, e a "promessa do Senhor", essa parece ter validade eterna.

Alguém me pode oferecer a fórmula que determina a rapidez de decaímento da importância de um acontecimento com a passagem do tempo? Será uma exponencial decrescente? Qual a relação entre o número de mortos e o seu coeficiente de decaímento?

Será que em 2012 terão já os 3 mil mortos do "crime cobarde" do 9-11 passado à categoria de "história antiga"? Isto é, serão eles já apenas vítimas "irrelevantes para os assuntos presentes" e não justificações universais para outros "crimes cobardes"?

Anónimo disse...

Post muito interessante. Tudo é, ou se torna, ou se quer, relativo?

lino disse...

Com certeza que o acto também merece o adjectivo de cobarde (penso que te referes ao meu post http://righthandside.blogspot.com/2005/07/crime-cobarde-em-londres.html
que não acho que mereça tanta atenção...). Apesar de tudo há uma ligeira diferença: quase todos os relatos falam de um aviso telefónico, feito pelos autores do atentado, meia hora antes, tanto para o hotel como para o consulado francês próximo. O assunto é controverso porque as autoridades britânicas só nos anos 70 reconheceram a existência do aviso, embora afirmando que não houve tempo para a evacuação.

raiva disse...

Só quero dizer que acho de enorme e infeliz mau gosto um post relacionar bin Laden com Paz.

Creio que todos sabemos o que bin Laden pretende fazer de todos nós em nome do Califado...

António Araújo disse...

Raiva, creio que precisa de ler outra vez o post, por isso declino defender-me.

Não percebo sequer o problema, será que há uma objecção a clocar as duas palavras na mesma frase, ou a uma distância fixa de menos de n caracteres, n numero inteiro a especificar pelo bom gosto?

Como não compreendo, remeto-me ao silêncio.

António Araújo disse...

Lino,

este asunto já me andava na cabeça, daí a minha reacção ao seu post na altura. Acho que a democracia necessita de uma população que encare as coisas, incluindo a guerra, com realismo e racionalidade, e não com os reflexos condicionados mais adequados a uma ditadura.

A História dá uma optima perspectiva sobre as coisas.

Quanto ao tal aviso, ao que parece chegou ao oficial de serviço no exacto momento da detonação. Era mesmo para chegar a tempo ou para mitigar responsabilidades? Lembro que a principio o Irgun assumiu a responsabilidade e só depois afirmou que agia por ordens da Resistência Unida...

Enfim, se este atentado não chega, escolha outro aqui. De certeza que hà algum que lhe agrade. Este outro artigo da wikipedia também fornece outras escolhas, e este dá-lhe uma lista extensa de atentados à bomba do Irgun, sem avisos (honestos ou não) para confundir o assunto.

Se temos vários graus de terrorismo, e se isso faz asim tanta diferença, será que o terrorismo da ETA e do IRA e do Irgun era terrorismo "bom" e o da Al-Qaeda é terrorismo "mau"? E o terrorismo do estado de Israel que dispara misseis para o meio de populações civis? E o terrorismo dos mujahedin no Afeganistão, financiados por dinheiro americano, que matavam professores, enfermeiras, medicos, etc, e atacavam as escolas (que os Sovieticos tinham erigido pelos motivos obvios) por serem contra os preceitos do Islão?

Ainda me lembro de quando era moda fazer filmes do Rambo e do 007 em que os terrivies terroristas Afegãos de hoje eram os herois anti-comunistas de ontem, corajosos, exoticos, e sábios. Lembra-se disso?

Quando nos vamos deixar de palhaçadas destas?

Tomemos as nossas decisões politicas e estratégicas conscientemente. Se sujarmos as mãos de sangue, como teremos sempre que fazer, façamo-lo conscientemente. Chega de cry babies chocados com a violencia dos outros que não olham para a violência que os nossos aliados cometem, com a nossa ajuda. E que nós só não cometemos pessoalmente porque Portugal é um estado irrelevante de empregados de café, que vive à sombra das decisões dos países adultos.

Façamos as coisas de olhos abertos, é só o que eu digo. Então poderemos almejar, não a ter, mas talvez a merecer ao menos a tal segurança que damos por garantida, e o tal status de paises civilizados e educados. Leia os textos gregos, leia a guerra do Peloponeso de Tucidiades, e veja como os gregos, esses sim, foram em tempos civilizados não ao ponto de não cometer atrocidades, mas ao ponto de o fazer de olhos bem abertos.

António Araújo disse...

E, caro raiva, o meu post relacionava Bin Laden não com a paz mas com o premio Nobel da paz. O seu comentario é mesmo o tipo de reacção condicionada de que eu falava. Faz-se ofendido para desviar o assunto.

Em outros tempos não se podia chatear um comuna porque se ele se irritava chamava-nos logo de "FASCISTA!", e, claro, toda a gente se encolhia. Agora se chateamos um tipo de direita arriscamo-nos a que nos grite "TERRORISTA!". De novo não significa nada excepto que ele quer que a gente se encolha de medo e se cale. Demorou, mas aprenderam com os vermelhos. Mas lamento, a mim esse tipo de coisa não me faz nada, e por agora ainda não hà censura para me pôr na prisão. Por agora pelo menos, e é assim que eu pretendo que a coisa permaneça, mesmo que alguns pensem que isso pode "prejudicar a luta contra o terrorismo" (de que forma, exactamente, ainda não percebi).

Pergunto-lhe ainda, se objectou tanto a ver "Bin Laden" e "paz" no mesmo texto, porque não se irritou com a presença das palavras "Menachem Begin", "Irgun", e "Gurion"? Era esse precisamente o meu ponto.

Mais: eu fiz uma previsão. Não me pareceu nada estupida. Acha que é? Devo lembrar-lhe que Arafat também ganhou o prémio Nobel da palavra que eu não posso pronunciar nesta frase?

Anónimo disse...

Estou do seu lado, Omwo, o assunto é pertinente. Não seria de admirar que o Bin Laden pudesse vir a ser Nobel da Paz. Basta que o tempo passe e as coisas sejam interpretadas de outro modo. Lá está, o caso do Arafat... Não é que concordemos, repugna-nos a ideia, julgo que ao comum dos mortais, evidentemente, mas quem somos nós para conseguirmos opor-nos a algumas medidas tomadas por outros com mais poder?

António Araújo disse...

O prémio Nobel da paz é atribuido aos carniceiros que terminem por vontade propria as agressoes que não conseguimos terminar por eles ao fim de um tempo suficientemente longo. Para que obtenha o galardão basta a Osama sobreviver o tempo suficiente e continuar a causar estragos. George Bush também o merecia, mas como os mandatos são limitados no tempo penso que não será agraciado com esse prémio pelo qual ele tanto tem trabalhado...

Anónimo disse...

caro omwo,

se *por agora ainda não hà censura para o pôr na prisão*, isso deve-se a todas as forças progressistas que lutaram contra o fascismo de Salazar, em particular
ao partido comunista, que teve um papel muito importante na resistência à ditadura e nos acontecimentos que se seguiram ao 25 de Abril;
e aos militares de Abril, em particular a Vasco Gonçalves.

e isto é só para lhe dizer que essa história do *...chamava-nos logo de "FASCISTA!"* também é uma reacção condicionada, mas de um tipo diferente. do tipo "bora lá fazer um caricatura!"

António Araújo disse...

Caro anónimo,

referia-me ao pós-25 de Abril, em que o termo "fascista" era usado a torto e a direito por aqueles combatentes anti-fascistas que só passaram a sê-lo depois de tal se tornar conveniente. Os tais, que lutavam na clandestinidade nos cafés de Paris enquanto os lacaios do fascismo (isto é, o povo) ia para a guerra.

Os meus amigos comunas perdoam-me que os denomine dessa forma, tal como os meus amigos de direita me perdoarão agora que acho conveniente chamá-los de fascistas, só para ver se acordam. É que os "-ismos" chateiam-me, sabe...acho que a unica posição valida para quem está acordado é remar contra a corrente, quando ela começa a ser demasiado unidirecional...tão simplesmentre porque o pendulo politico oscila sempre entre os dois extremos da insanidade, e é preciso servir-lhe de atrito...

raiva disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
raiva disse...

Caro OMWO,

a sua primeira reacção, de se remeter ao silêncio, não durou muito...

Este tipo de crítica que me faz ("O seu comentario é mesmo o tipo de reacção condicionada de que eu falava. Faz-se ofendido para desviar o assunto.") é também infeliz.

Não é de bom tom classificar as opiniões adversas de "reacções condicionadas" ou usar processoas de intenção como "Faz-se ofendido para desviar o assunto".

A propósito de um seu outro post recente de q transcrevo uma frase:

"Dizem alguns que o objectivo final de Bin Laden é nada mais nada menos do que converter-nos todos a uma outra religião fundamentalista do Médio Oriente. O coliseu não funcionou da outra vez. O que fazer para evitar o “Califado”?"

devo dizer-lhe que não está ao corrente dos textos (antigos e recentes) da Al Qaeda. Não são "alguns", é bin Laden & Co que defendem exactamente isso.

Creio que devemos colocar um fim nesta conversa. As nossas divergências são claras e irredutíveis.

Anónimo disse...

eu não perdoo nada!

Anónimo disse...

mas continuo a ser muito amigo dele :)))

António Araújo disse...

Caro raiva,

eu não tenho grandes ilusões de saber o que quer verdadeiramente o Bin Laden ou o G. Bush independentemente do que eles escrevam ou digam (acredita que o que o Bush quer é a "liberdade" universal?). Não costumamos conversar ao café. Eu sei o que quero deles, nomeadamente que deixem de me chatear. Aceito perfeitamente essa conversa do Califado, pelo menos até prova em contrário. Porque achou que a estava a pôr em causa?

O que acho é que está muito irritado, como aliás muita gente. estamos muito mal quando todas as conversas começam com "estou chocado com a blasfémia que proferiu" e acabam com "vamos parar de falar porque as nossas divergencias são irredutiveis". Tanta conversa de terroristas e regimes absolutistas e findamentalismos anda a subir à cabeça das pessoas. O melhor era acabarmos com as conversas todas, definir de uma vez qual é a doutrina a seguir, e cuspi-la todos os dias no noticiario. E gajos chatos como eu, para a fogueira já, raio de traidores à patria, hereticos miseraveis!

Não precisamos do Bin Laden para estabelecer um "Califado". Já o estamos a fazer sozinhos.

>Não é de bom tom classificar as >opiniões adversas de "reacções >condicionadas" ou usar processoas de >intenção como "Faz-se ofendido para >desviar o assunto".

Continuo a não ver como poderia interpretar o seu comentário senão assim. Estava a chamar-me herético porque as regras dos textos sagrados da ortodoxia politica dizem que o nome do inominavel não poderia ser mencionado na mesma linha que o conceito patenteado da Paz. Que significado é que isto pode ter?

Sinceramente anda toda a gente a precisar de uns "downers" para se acalmar...

Hà uma guerra em curso hà muito tempo. Costumava ser lutada noutras partes geograficas. Agora bateu à porta do Ocidente. Ainda nem nos tocou a nós em Portugal, e já estão assim? Como vai ser se/quando rebentar a primeira? Julgavam que íamos viver para sempre em paz e a colher os beneficios enquanto papá americano fazia todo o trabalho sujo? ser romano -mesmo de quinta categoria- significa ter que suar e sangrar de vez em quando.

Não vale a pena ficarmos histéricos. Como dizia uma amiga minha: "Don't get stressed. It's just a little blood."

António Araújo disse...

Ola "amigo comuna" :)

Não te tinha visto aí :)

Um abraço!

Sofia disse...

"(...) estamos muito mal quando todas as conversas começam com "estou chocado com a blasfémia que proferiu" ...)"

Eu até podia deixar passar qualquer outra coisa. Mas isto, não.

Comentei, numa das primeiras vezes que o fiz aqui, usando o choque como expressão verbal do que sentia, quando algumas pessoas se lembraram de chamar nomes ao ON, porque (ainda por cima) tinham interpretado mal o que estava escrito no post. Fiquei chocada, porque achei que era uma falta de educação e de... enfim, de tudo! Levei uma resposta muito parecida com esta (a meu ver, pior, porque eu sou só uma menina), mas calei-me, porque achei que não valia a pena responder a brutos.

OMWO: Era o que faltava, alguém vir dizer-me, a mim, que não é bom ficar chocada, quando oiço, ou leio, ou vejo, qualquer coisa que me chateia ou com a qual não concordo. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Desde que isso não me impeça de analisar os factos, não vejo por que motivo não hei-de, ou não há-de quem quiser, ficar chocada...

... a não ser que me digam que ficar assim, é o mesmo que ficar fechada dentro de um ovo. A pseudo-claustrofobia não iria permitir-me sentir tal emoção...

António Araújo disse...

Sofia, mas tu não sabias já que eu não posso sequer cheirar a presença das heréticas brigadas do pelotão de choque ideológico? :)

Broken M disse...

Eu não acredito que perdi esta discussão.

Vou ter que ler os comments...

Broken M disse...

Não tive paciência para ler tudo. Mas vou dizer aqui umas coisas.
Primeiro: Não acho que seria muito estranho bin Laden receber o prémio Nobel daqui a alguns tempos. Aliás é do tipo de prémio que costuma ser mal atribuído.

Segundo: Considero uma grande burrice uma pessoa dizer que não se pode colocar duas palavras na mesma frase.

Terceiro: Será que o bin Laden é assim tão terrorista? Deve haver pessoas que não acham. Com isso quero dizer que sempre existem dois lados de um mesmo assunto. E se para nós uma coisa parece tão certa, pode-se ter a certeza que do outro lado parecerá também muito certa.

Toda esta história do terrorismo é a luta entre dois sistemas de vida distintos. Cada um considera o seu mais correcto que o outro. Qual deles é que está certo? Acho que não se consegue afirmar veementemente que é um. Toda vez que se faz isso é porque estamos a analisar as coisas segundo o nosso próprio sistema de valores, onde um ideal contrário ao nosso é estranho e portanto nos choca. Mas se isso acontece connosco, também acontece com eles.

Omwo, é por isso que estas também a tentar estabelecer uma analogia com a guerra fria? Dois sistemas distintos? (digo isto pela sequencia que tem havido dos posts).

O grande desafio é conseguir encontrar um consenso, ou um ponto de intersecção. Ou senão, um derrotar o outro. E é por isso que o omwo está a fazer as propostas que está..

lino disse...

Omwo: não me venhas ensinar que há terrorismos para além do de inspiração islâmica. Pela última vez, eu não posso concordar contigo - e com a maior parte do que aqui ficou dito - porque tu pões tudo ao mesmo nível, e eu acho que a guerra conduzida pelos terroristas islâmicos tem uma natureza diferente, mais cruel e mais abrangente: eles querem literalmente conquistar-nos para nos destruir como somos. Na minha visão eles são o perigo mais sério a curto prazo. Se me enganar, ficarei mais descansado. Não tenho sentimentos de culpa por nenhuma cruzada anterior, nem acho que a guerra da Al Qaeda seja de resposta a esta ou àquela aventura passada ou presente. Quando dizes que o califado já estamos nós a fazê-lo, julgo que tu não estás a levar a sério e estás a subavaliar o perigo. Sei que não te convenço mas tudo o que dizes também não me convence a mim.

António Araújo disse...

MaDi,
tudo o que se passa é que acho simplesmente insuportavel a forma como as pessoas encaram este conflito. Toda a conversa moralista sobre o terrorismo ultrapassa o suportável. É preciso compreender isto:

1-Estamos naquilo que se chama um "conflito assimétrico". Isso significa que o inimigo não tem uma força militar convencional (comparável à nossa) ao seu dispor. Assim sendo utiliza métodos que são naturalmente distintos do combate aberto. Estes métodos foram utilizados por outras forças noutros tempos, algumas das quais foram financiadas pelos EUA. Quando estão contra nós chamamos-lhes terroristas, quando estão do nosso lado chamamos-lhes "freedom fighters" (E às vezes até são os mesmos. Lembram-se dos nobres resistentes afegãos contra o comunismo que são os mesmos que os horriveis terroristas afegãos de hoje?)
É verdade que este é um terrorismo particularmente eficaz e mortifero. E depois? Mate-se 30 civis ou três mil com uma bomba, o principio é o mesmo. Afinal a imoralidade está no acto ou na eficácia do mesmo?

2-A constante utilização de adjectivos inadequados impede a compreensão da natureza do inimigo. Chamar "cobarde" a um inimigo que sacrifica a própria vida num ataque suicida é pefeitamente ilógico. Pode-se chamá-lo de "estupido" ou "fanático", mas nunca cobarde. Quem é corajoso? Um americano que dispara misseis, repousadamente a kilometros de distancia do alvo ou um piloto suicida ao serviço da Al-Qaeda?
Eu digo que devemos respeitar o inimigo se o queremos compreender, e se o queremos enfrentar de forma adequada. Comecemos por reconhecer: O 11 de Setembro foi uma manobra militar absolutamente brilhante. Chamá-lo de "atentado cobarde" só nos torna cegos. O Bin Laden conseguiu atingir o coração dos EUA no seu centro económico (WTC), militar (pentágono), e, ao que parece, pretendia atingi-lo também no seu centro político(aliás, argumentarei em breve que fê-lo de facto, mas isso fica para outro post). Lembram-se do Pentágono em chamas? Alguém imaginava isto como possivel? trata-se de uma manobra digna de Anibal (outro que os Romanos subestimavam) e ficará na historia como um dos maiores exemplos de táctica de guerra assimétrica de que há memória.
Porque é importante escamotear a brilhancia militar deste ataque? Porque é preciso esconder até que ponto é que a liderança dos EUA é por comparação perfeitamente incompetente - politica e militarmente.

Porque é que eu insito em compreender a natureza do inimigo? ( e antes de mais nada, quero dizer que sim, considero que Bin Laden é um inimigo, para quem tenha duvidas da minha posição ). Porque ao esconderem a sua natureza os senhores de washington asseguram que ele não será derrotado. Isto porque eles não o querem derrotar. Querem em vez disso usá-lo como desculpa para os seus próprios projectos militares e económicos. Quem compreenda minimamente a natureza de Bin Laden e da Al-Qaeda nunca aceitará como válida qualquer ligação entre a "guerra ao terrorismo" e a invasão do Iraque, por exemplo (a não ser no facto de que a segunda prejudicou a primeira seriamente). Ou com a "necessidade" de nos envolver num sistema cada vez mais restritivo das nossas liberdades individuais. Considere-se o exemplo do "Patriot act". O governo dos EUA não deixou de impedir o 9-11 por ter demasiadas restrições sobre a acção da sua "inteligencia" (o famoso relatório estava lá) mas porque o presidente e o seu staff ignoraram os avisos que lhes foram dados. A peça a trocar é evidente a quem tenha olhos...

O radicalismo Islamico é um perigo para a civilização Ocidental. Os principios em que se baseia, se infectarem a Europa, podem levar-nos de volta à nossa Idade Média. É inaceitavel a pretensão de instaurar na Europa uma religião que pretende restringir de novo a nossa individualidade e equacionar a Teologia com a lei. Eu compreendo esses perigos todos. E também compreendo outros...quem quer fazer disto uma cruzada ridicula não compreende nem uns nem os outros.

(Já agora, o meu post seguinte refere-se a isso - não é preciso matar o Islão, é preciso civilizá-lo. Da forma que se civilizou o Cristianismo. Da forma como se civiliza um gato de estimação-presumo que sabem qual é. Baixa-se-lhe os niveis de testosterona..)

Broken M disse...

Pois, omwo. Mas achas que se domestica o islamismo fanático a mostrar-lhe bundas sem celulite?

António Araújo disse...

Achas que com celulite vai melhor? Seja, exportemos as celuliticas. Tudo pela causa :)

Havia um certo toque de humor nesse post a que te referes, MaDi :)

Não é só assim, mas também.

Em todos os sitemas hà mais que uma facção.

Propostas:

Financiam-se e ajudam-se os lideres Islamicos moderados. O Islão não vai desaparecer de um dia para o outro, mas pode alterar-se subtilmente. Ajudemos esses moderados a ascenderem no poder. A sua própria ganância será nossa aliada.

Perseguem-se e abatem-se os lideres radicais que estão ligados ao "terrorismo" ou que nos são irredutivelmente hostis. Peça-se ajuda aos operacionais Israelitas, peritos em acções terroristas - oops, perdão, acções militares - e assassinatos - oops, perdão - acções policiais - se a CIA estiver enferrujada. Isto não é uma acção adequada aos B-52.

E, sim, "Infecta-se" a população que eles controlam - como os padrecos do crucificado nos faziam em tempos idos - com a curiosidade do "sonho Ocidental". O prazer da carne, a beleza do corpo, a ganância pelo dinheiro, pelo luxo, pelo progresso material. Sim, MaDi, isso são coisas superficiais (pelo menos a terceira e a quarta) mas são os primeiros passos cegos em direcção à civilização. É preciso estar de barriga cheia para aprender a esvaziá-la controladamente. A seguir infectamo-los com o prazer de poderem pensar, falar, e agir livremente. Aquele prazer que alguns dos nossos lideres nos parecem querer agora tirar para o nosso proprio bem.

Ah, e já agora - faz-se isto com sinceridade. A primeira condição para os convencer de que deviam estar do nosso lado é...que de facto isso seja verdade. Muitos destes povos estão um bocado fartos de serem enganados com promessas que so valem enquanto sao tacticamente convenientes...ou de serem tratados como sub-humanos sempre que convém...

Anónimo disse...

Os bárbaros e os civilizados
por Chandra Muzaffar

Não há dúvida de que os covardes ataques bombistas em Londres, em 7 de Julho de 2005, foram actos bárbaros. Não há outro meio de descrever o massacre planeado e premeditado de civis. É violência política, da espécie que constitui terrorismo nu.

Mas apesar de todos considerarem bárbaro o acto terrorista ocorrido em 7/Julho, alguns de nós ficariam profundamente perturbados por declarações atribuídas a responsáveis britânicos e americanos no rescaldo imediato da tragédia que procuravam apresentar-se a si próprios como homens que defendiam os cânones da conduta civilizada. Na visão deles — e do ponto de vista dos media — eram "defensores da civilização" sob o assédio de elementos bárbaros.

Nada pode estar mais longe da verdade. É bárbaro assassinar 52 civis em Londres, mas será civilizado matar 100 mil civis no Iraque? Pois este é o número de civis que morreram ali desde Março de 2003, devido à ocupação anglo-americana segundo estudo da Johns Hopkins University.

Será civilizado usar munições de fragmentação (cluster), bombas incendiárias, urânio empobrecido (depleted uranium, DU) e armas químicas contra uma população civil? Como membro do Júri de Consciência do Tribunal Mundial sobre o Iraque (TMI) que se reuniu em Istambul de 23 a 27 de Junho de 2005, foram-me apresentadas provas pormenorizadas de peritos que testemunharam "como a leucemia aumentou agudamente em crianças com idade inferior a cinco anos naquelas áreas que foram alvejada pelo DU". Ouvi relatos de como as forças de ocupação dirigiram ataques deliberados a hospitais, bairros residenciais, centrais eléctricas e instalações de purificação de água. A destruição total da cidade de Faluja é testemunho disto. É uma cidade onde até mesmo crianças, mulheres grávidas, pessoas idosas e civis feridos foram alvejados por balas.

E podemos nós esquecer a cruel e degradante tortura de prisioneiros não só em Abu Ghraib como também em Mossul, Camp Bucca e Bassorá? Será isto um marco de civilização? Será que pessoas civilizadas profanam a herança cultural e arqueológica de uma das mais antigas civilizações sobre a Terra? Será a maciça devastação ambiental e ecológica do Iraque provocada pela ocupação um acto de civilização?

A destruição "civilizada" do Iraque não começou com a sua ocupação em 2003. As severas e desumanas sanções económicas contra o povo do Iraque ao longo de um período de 12 anos, principiando em Agosto de 1990, já mataram pelo menos 650 mil criança. Como podem líderes civilizados presidir a tal desumanidade?

Mas o Iraque é somente a vítima mais recente do abraço "civilizado" dos grandes centros do poder imperial do ocidente. Ainda recordamos o Vietnam, cujo solo está encharcado com o sangue dos milhões de homens, mulheres e crianças que foram massacrados impiedosamente por resistirem aos franceses e depois à agressão americana. Estes últimos não tiveram escrúpulos em utilizar armas tão "civilizadas" como o Agente Laranja e o napalm na tentativa de esmagaram o "bárbaro" Vietcong.

Outras nações "bárbaras" na Ásia e na África têm as suas próprias histórias trágicas para contar acerca do preço colossal que tiveram de pagar quando tiveram de enfrentar os "civilizados" rapinantes do ocidente. Foi estimado que nas décadas de subjugação colonial dos dois continentes, pelo ocidente, foram perdidas cerca de 40 milhões de vidas. Mas o continente que sofreu mais nas mãos da civilização é ocidental é certamente a América Latina. Desde o extermínio dos povos indígenas a partir do século XV em diante (talvez uns 30 milhões de pessoas tenham sido mortas) à eliminação de oponentes do imperialismo americano no século XX, é um continente que tem suportado o peso principal da "missão civilizadora" de poderosos agressores.

A questão é simples. Líderes no ocidente, especificamente aqueles em Londres e Washington no actual contexto, não têm autoridade moral para falar de padrões civilizados. Deveria ser percebido que quando estes líderes matam civis isto invariavelmente é parte de algum plano nefando para conquistar a terra de alguém, ou para controlar os recursos de alguém, ou para estabelecer o poder hegemónico de alguém. Por outras palavras, a carnificina de civis tem sido uma dimensão integral das numerosas guerras de agressão que os centros de poder no ocidente têm empreendido no decorrer dos últimos mil anos, sendo a aventura do Iraque a mais recente. Estados não ocidentais, naturalmente, também embarcaram em guerras de agressão. Mas seja quem for o perpetrador, uma guerra de agressão é pela sua própria natureza um mal muito maior do que qualquer outra violência que conheçamos, como observou o Tribunal de Nuremberg. Segue-se daí que a matança de civis em tais guerras é, de uma perspectiva moral, mais bárbara do que qualquer violência sem sentido e irresponsável daqueles que estão a combater a subjugação e a ocupação por vezes possam cometer. Assim, em linguagem explícita, os ocupantes do Iraque têm sido mais bárbaros do que os bombistas de Londres.

Por que é que a maior parte das pessoas não está consciente disto? Por que é que os feitos bárbaros daqueles que apregoam serem civilizados não fazem parte da consciência popular? A principal razão é a realidade do poder global. Aqueles que se cobrem com o manto da civilização são os senhores do mundo neste momento crítico da história. Eles estão em posição de moldar o discurso global sobre o que é certo e o que é errado, quem é bom e quem é mau. O seu poder é tão esmagador que transformar o opressor em libertador, o agressor em vítima, o belicista em pacifista.

É por isso que hoje os bárbaros mascaram-se de civilizados.

O original encontra-se em Tehran Times , edição de 17/Jul/2005.

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

António Araújo disse...

Tenho que acrescentar que o mais mortífero de todos os atentados terroristas foi, evidentemente, o ataque nuclear, ou melhor, os dois ataques nucleares dos EUA ao Japão.

Antes que venham as objecções:

1- É evidente que se tratou de um ataque terrorista. Os objectivos eram os civis e o propósito era causar baixas massiças de forma a aterrorizar o inimigo e levá-lo a ceder. Não é esta a definição de um ataque terrorista?

3- Não se pode sequer argumentar a desculpa da necessidade devida a um conflito assimétrico. Aliás, a assimetria favorecia os EUA. Fizeram-no meramente por conveniencia. Apesar de poderem vencer convencionalmente preferiram poupar vidas dos soldados americanos à custa da chacina de civis japoneses.

4- Para quem insiste neste ponto, o ataque foi obviamente "cobarde" ja que aos japoneses não restavam sequer defesas que pudessem pôr em perigo os bombardeiros que largaram as bombas.

É evidente portanto que a doutrina dos EUA (pelo menos circa 1945) permite o terrorismo como táctica e que, por comparação a esses esforços pioneiros, Osama não passa de um amador. Só em Hiroshima, e só no primeiro dia, perderam-se 80 mil vidas civis. Até ao fim de 1945, 140 mil estavam mortos. Centenas de milhar ficaram afectados pela radiação e viriam a morrer mais tarde. O que são comparados com isto, os três mil mortos do WTC senão os esforços de um pobre amador?

António Araújo disse...

Em "americano":

O terrorismo dos EUA é "DELUXE"

O terrorismo do Osama é "Budget"

(isto é, impressiona apenas pela relação "preço-qualidade" )

Anónimo disse...

Só quero dizer que acho de enorme e infeliz mau gosto um post relacionar "`" e "ha". E se o meu sentimento não é um argumento, e pertinente para as questões levantadas, então não sei o que é um argumento. (... se calhar não sei mesmo, que raiva!).

Anónimo disse...

Eu sei que a coexistência denunciada não aparece no post mas aparecem uns "hà"s dispersos pelos comentários. E a pertinência nunca foi o meu forte! E a conversa fica por aqui porque as nossas visões são irredutíveis!( Eu nem tenho visão, só... raiva)

António Araújo disse...

:)

tem toda a razão. Peço desculpa, o meu numero de caracteres por segundo anda algo disparatado e depois saem coisas dessas. E nao foram as unicas. Cheguei a pensar pedir desculpa pelo estado dos posts, mas é a vida. Em tempo de guerra nao se etc etc...
Este vai sem acentos e tudo :P

(claro que a sua correccao, que eu hipocritamente agradeço em publico mas amaldiçoo em privado, prova que é mais um lacaio do imperialismo americano e vou declarar-lhe uma jihad a partir deste momento - nada de pessoal, claro. Alá é grande etc etc :) )

Sofia disse...

Ah, grande O Setúbal!! É assim mesmo! :)

António Araújo disse...

Tudo não era mais do que a primeira fase do meu plano diabolico para subverter a civilzação.
O próximo passo era perder o "h" e assim transformar todos os teoremas existênciais ( e.g. "Não há paciência!..." ) em palavras de ordem ( "Não à paciência!!!" )

Sofia disse...

OMWO... a tua medicação? Acabou? Não "hà?"... ou não "à"? :)))))

António Araújo disse...

Sofia, nunca lestes os cartazes dos comunas?

É sempre assim: "Não a isto, não a aquilo..."

São uns negativos...é uma canseira :)

(já vou levar porrada dos meus "amigos comunas que não perdoam nada"....:)))

Sofia disse...

Eu não sei se já te disse...

... mas eu sou COMUNA.

... e como criancinhas etc etc...

:)

Sofia disse...

... mas tu já não és criancinha, não é? Já deixaste de o ser, para aí há uns... quê...? 20... 30... 40...?

:)))