sexta-feira, julho 6

Informação e Ruído

Alguns meses atrás os jornais fizeram um grande alarido com o facto de Vítor Constâncio preferir ouvir música clássica a ouvir as notícias quando guia o seu automóvel. Precisamos mesmo de ser informados hora a hora do que se passa no mundo? Todas as manhãs sou informado pela Sic Notícias de que a bolsa está a subir ou a descer. Será que essa notícia contém alguma informação ou é apenas ruído?
Analisemos por exemplo a questão dos números de mortos em acidentes de tráfico ocorridos durante o Natal. O aumento do número de mortos em relação ao ano anterior é encarado como sinal de fracasso da política governamental em relação à segurança rodoviária. Fernando Gomes ameaçou demitir-se do governo caso o número de mortos na estrada aumentasse durante o Natal. Ora a variação em relação ao ano anterior depende acima de tudo da variação das condições atmosféricas. Para analisar a política governamental há que mostrar um gráfico dos últimos dez anos e ver qual é a tendência. O mesmo se aplica à política de combate aos incêndios.
Porque é que os jornalistas não apresentam este tipo de informação?
- Dá mais trabalho obter os dados e construir o gráfico.
- Perde-se o dramatismo: na maior parte dos casos nada se pode concluir do gráfico. Aliás, a notícia só interessa se o número de mortos aumentar em relação ao ano anterior. Tal acontecerá mais ou menos metade das vezes, independentemente das políticas serem boas ou más.
- O gráfico deixa claro o que é que a notícia vale: Muito pouco. É mais um número a juntar aos números dos dez anos anteriores.
Protejam-se do ruído e tentem obter informação onde ela se possa encontrar.

5 comentários:

lino disse...

A melhor ilustração do ruído que a informação-a-toda-a-hora representa é dada pelos anúncios de tráfego nas entradas ou saídas de cidades. Claro que o engarrafamento está na 2ª circular, na A5 ou na VCI, olha que novidade. E depois? Àquelas horas não há escape...

Anónimo disse...

Se a política de for boa, mais de metade das vezes o número deve descer, certo?

Jaime
www.blog.jaimegaspar.com

Orlando disse...

Jaime,
parece-me que "o mais" é quase desprezivel. O que se ganha em cada ano com uma boa política é muito pouco quando comparado com a variação que as condições climatéricas provocam.
Eu diria que num ano bom a mortalidade diminuiria mais do que aquiloque aumentaria num ano mau. Aí sim haveria uma diferença fácil de detectar.

Sofia disse...

E está encontrada mais uma excelente desculpa para justificar o aumento previsível de IVGs, este ano! Boa!
Vai ser só por acaso.
Já estou mesmo a ver: "As IVGs aumentaram 500% este ano. Este facto ficou a dever-se ao tempo."

Orlando disse...

Não é por acaso, Sofia.
Aumentam devido à boa política do governo!