segunda-feira, setembro 5

Caixas pretas

O telemovel, o computador e a televisão são caixas pretas cujo funcionamento compreendemos cada vez mais vagamente. Apenas sabemos manipulá-las. Quando se avariam, vamos a um especialista, que se limita a mudar uma peça. É razoável que assim seja, mas a perda da compreensão do funcionamento das coisas pode tornar-se um risco para a nossa sociedade. Convém que continue a existir uma caixa preta que saibamos desmontar e voltar a construir, de forma artesanal. Para termos uma ideia de como funcionam as outras. Só assim teremos hipóteses razoáveis de tomar decisões informadas quando votamos, gerimos uma empresa ou ajudamos os nossos filhos a escolher um futuro.
A matemática é a caixa preta que nós podemos e devemos compreender. Para que assim seja é necessário que a matemática assente no conhecimento da tabuada e não noutra caixa preta: a calculadora.
É esta uma das razões da importância da matemática para o cidadão comum. Também lhe desenvolve a capacidade de raciocínio da mesma forma que ir ao ginásio lhe desenvolve os músculos. As outras caixas pretas só parecem mais simples porque não fazemos ideia de como funcionam.
O Programa Focus, um programa destinado a melhorar as qualificações dos professores do ensino secundário foi um desperdício total de dinheiro. Os professores obtinham créditos para progredir na carreira com base na sua presença nas aulas, não havendo qualquer avaliação da sua performance. Eu sou avaliado enquanto professor universitário cada vez que tento publicar um artigo. Não acho que este facto afecte de alguma forma a minha dignidade. O Programa Focus é apenas um exemplo das muitas ineficiências do sistema.
Agora que se anuncia um novo programa para melhorar os conhecimentos de matemática dos docentes do Ensino Básico, convém que não se repitam os erros do costume.
Convém também que convençam os professores da importância de (eles próprios) saberem a tabuada. E eu não estou a tentar fazer humor.

17 comentários:

Sofia disse...

Peço imensa desculpa, mas as duas últimas frases fizeram-me rir...
Não voltará a acontecer, prometo. :)... (isto não sou eu a rir)

...

(juro.)

Orlando disse...

Numa reunião de pais um professor do ensino básico de um colégio caro de Lisboa afirmou:
vejam lá o que se aprende com os alunos, no outro dia fui a uma loja comprar três canetas. Quando me disseram o preço de cada caneta eu, de repente, sem usar máquina de calcular, descobri quanto é que tinha de pagar.

Anónimo disse...

Este post de hoje traz-me à memória a trabalheira que eu tive para obrigar o meu filho a decorar a tabuada, pois que da escola primária não trazia esse hábito. Ainda por cima coincidiu com a nossa estadia de 2 anos em Inglaterra, tinha ele 8 anos, e aí é que a tormenta ainda foi maior, pois que a tabuada era de 12 e as exigências faziam-se sentir. E tudo isto por causa das variantes de ensino aligeirado que se seguiram ao 25 de Abril. Algumas ideias foram muito boas, mas aquela mania de evitar que as crianças decorassem fosse o que fosse foi um horror. Era preciso que se aprendesse com os erros do passado, mas parece que eles continuam ainda.

Orlando disse...

M, o ensino aligeirado pos 25 de Abril continuou a ser aligeirado.
Os professores actuais foram criados dentro da ideologia ligeira e muitos acreditam nela.

Anónimo disse...

E o pior, On, é que todos nós e o nosso país é que pagamos as favas. E o país é tão nosso e ás vezes até parece que não nos pertence... Fica assim uma coisa que nem é carne nem peixe, esta misturada de teorias e práticas de ensino. Não é?

Orlando disse...

O País é nosso? :))))))
É mais de outros do que nosso...

Orlando disse...

O País é nosso? :))))))
É mais de uns do que de outros...

Broken M disse...

Quando cheguei do Brasil fiquei estupefacta ao saber que se podia utilizar a máquina de calcular nas aulas. Para mim, era algo completamente proibido. Acho que não faz falta absolutamente nenhuma para os cálculos que são efectuados até ao 12º ano. Aliás, nas disciplinas de análise matemática e álgebra que tive na faculdade também não podia usar.
Quanto às caixas pretas, é tão verdade que até faz aflição. Todos os instrumentos de análise que eu utilizo, embora até possa saber qual o princípio que está por trás não faço a menor ideia do mecanismo. O meu orientador construiu ele próprio os instrumentos para as análises que precisava de fazer. Mas é certo que ele não tinha um período tão curto para realizar o doutoramento.

Anónimo disse...

Plenamente de acordo - os professores devem ser avaliados. A primeira grande dificuldade está em - por quem? Depois (ou antes) temos a definição dos critérios: competência científica? Algumas disciplinas do ensino secundário têm pouco de ciência. Competência pedagógica? O que é isso? Saber controlar os alunos? Conseguir despertar-lhes a curiosidade e o entusiasmo pelas matérias em estudo? É todo um sistema que tem de ser montado de raiz, isto para além do problema inicial - por quem? Onde estão os avaliadores competentes? No ME? Nas escolas? Alguns (os que passaram pelos exames de estado ou lá o que isso era) estarão ainda bem capazes na reforma. Talvez recuperá-los...
Mas, venha a avaliação que já tarda.
Prof. do Ens. Sec.

lino disse...

Há uns dias apareceu num telejornal um senhor (não me recordo se do ministério, se de um sindicato, mas tanto faz) a explicar que os professores do ensino básico iam agora aprender "novas metodologias" para melhorar o ensino da matemática, privilegiando não sei o quê em vez da memorização. Receio, portanto, que quem tem o poder de decidir não esteja a perceber nada do que aqui é importante. Não creio que seja necessária uma nova metodologia: os professores precisam é de entender uns conceitos mínimos de matemática para poderem contá-los às crianças. Por outro lado, demonizar a memorização prosseguirá os efeitos devastadores do terrorismo pedagógico que vem privando os alunos mais jovens do desenvolvimento de um "software" com que a natureza, certamente por boas razões, os equipou.

lino disse...

Só um detalhe: o programa que referes é o FOCO (não focus).

Sofia disse...

Isso é porque, mesmo sendo apenas um, o FOCO está a ter o efeito de muitos... :)

Broken M disse...

Existe também a ideia de que se deve valorizar a compreensão em vez da memorização. A memória é uma capacidade cognitiva como qualquer outra e portanto deve ser estimulada da mesma forma. Se conseguirmos armazenar uma boa quantidade informação, também somos capazes de ter uma base para produzirmos raciocínios mais complexos.

maria disse...

Acho útil e importante saber a tabuada. Mas de que serve a tabuada na ponta da língua se não a sabem aplicar? Se perante um problema dos mais corriqueiros não sabem que operação das quatro que aprenderam devem aplicar. É de mais? De menos? DE vezes? Dividir então nem todos sabem que existe.

Orlando disse...

A tabuada é uma condição necessária. não é suficiente.

Anónimo disse...

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Anónimo disse...

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