Quando Veiga Simão criou universidades em Angola e Moçambique, procedeu como se esperaria que tivesse procedido. Convidou professores, abriu cursos de pós-gradução, formou um corpo docente. Só depois de criar um corpo docente de qualidade foram iniciadas as primeiras licenciaturas. Uma universidade serve para desenvolver um país, criar pessoas capazes de enfrentar desafios. Mesmo que um aluno não termine uma licenciatura, o simples facto de ter frequentado a universidade durante um ou dois anos deveria ter um impacto decisivo na sua personalidade e na sua capacidade de trabalho.
Durante os anos oitenta foi inventado em Portugal um novo conceito de instituição do ensino superior público. Uma universidade (ou um politécnico) é um prédio mais um grupo de interessados em obter um canudo. Uma vez constituída a universidade vamos procurar arranjar alguém para ensinar lá. O objectivo da universidade não é desenvolver o país, tornando-o mais competitivo. O objectivo principal que se pretende atingir é utilizar a universidade como solução parcial dos problemas de desenvolvimento de uma região através da criação directa e indirecta de emprego: corpo docente, funcionários, restaurantes, bares e discotecas. A solução funciona no curto prazo. No longo prazo maioria dos alunos produzidos por essa universidade não vai encontrar empregos num mercado competitivo. Os que e o encontrarem dificilmente terão as capacidades que se espera que um licenciado tenha. Não farão a diferença numa empresa ou numa escola. Os custos da multiplicação indiscriminada de universidades tornam-se insuportáveis e o sistema entra em colapso. As universidades mais antigas, com um corpo docente sólido, acabam por ser fortemente afectadas pelos problemas financeiros entretanto criados. É esta a situação actual da universidade em Portugal.
Alguns dos problemas referidos atrás verificaram-se antes noutros países. É dificil gerir a massificação do ensino superior. Na França e na Alemanha foram criadas na década de sessenta centenas de posições para as quais não existiam docentes qualificados. Esses lugares foram ocupados por pessoas subqualificadas que se estão a reformar agora. Esse problema surgiu em Portugal vinte anos mais tarde. Quem vai atrás tem de apanhar quem vai mais à frente evitando repetir os erros dos outros. Isso não foi feito entre nós. Portugal atingiu vinte anos mais tarde do que a França e a Alemanha um nível de desenvolvimento económico que permitiu que grande parte da população enviasse os filhos para a universidade. Por outro lado os factores que levaram à queda da natalidade fizeram-se sentir em Portugal ao mesmo tempo que nesses países. A conjugação destes factores tornou a impacto da queda da natalidade na saúde económica das universidades um problema muito mais agudo do que o ocorrido noutros países. Não tenho notícia de que alguma vez algum membro de algum governo ter compreendido este problema.
Abordaremos num futuro próximo algumas soluções parciais para a situação actual. Parece no entanto claro que não podemos esperar resolver o problema deitando-lhe dinheiro para cima.
2 comentários:
Mariano Gago compreendeu que alguns problemas não poderiam esperar pela apresentação de um pacote global sobre o ensino superior e já avançou com algumas medidas pontuais ligadas ao funcionamento dos mestrados.
So far so good.
Acorda cara, você está sonhando demais. Universidade não é tudo isso não; na verdade, é muito mais um repositório de mão-de-obra para o mercado de trabalho.
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