Até onde percebo Einstein sugeriu que há coisas que pensávamos que tinham que ser absolutas, como o tempo, e afinal não era tanto assim. Até o tempo que passa depende de quem o observa. A natureza continua a funcionar com leis rigorosas mas diferentes do que, durante séculos, se tinha imaginado.
Ratzinger, a 18 de Abril, afirmou: "estamos caminhando rumo a uma ditadura do relativismo, que não reconhece nada como definitivo e tem como seu maior valor o próprio ego e os próprios desejos". Na Wikipedia pode encontrar-se (em inglês) noções de relativismo e de relativismo moral.
Por vezes parece que se quer chamar relativista a quem pede uma "actualização" de certas posições da Igreja o que me parece excessivo e, por vezes, uma forma de calar a oposição.
Acho que há de tudo: há aqueles que discutem fundamentadamente determinadas posições e há aqueles que acham que basta uma maioria. Situo-me entre os primeiros.
Acredito num Deus absoluto e numa verdade absoluta, como acredito, de algum modo, numa natureza objectiva. Mas a expressão das verdades sobre Deus é feita com termos e ideias humanos, necessariamente limitados. A ciência mostra que até a natureza foge às nossas descrições mais sofisticadas, mas a ortodoxia católica continua a usar uma filosofia pré-científica para ter verdades absolutas sobre o Deus que criou a tal natureza.
A ciência aproxima-se cada vez melhor da natureza e penso que a Igreja vai conhecendo cada vez melhor o Deus que a chama. Não podemos reinventar a roda todos os dias. Contudo, ao ignorar-se as limitações da filosofia e ao optar-se pelo tomismo para exprimir a teologia, limita-se seriamente a possibilidade de comunicar com o mundo actual. Ao tentar-se usar esta filosofia para interagir com a ciência parece não se ter aprendido nada com o caso Galileu.
Ou então tem-se muito medo e não se confia o suficiente no Espírito de Deus, que nos conduz à Verdade.
Parece-me que as posições do Vaticano relativas à sexualidade e à procriação não têm que ver com a oposição ao relativismo mas com a recusa (ou incapacidade?) em incorporar o conhecimento que se vai descobrindo sobre o ser humano. Para mudar de posição o Vaticano não teria que abdicar de uma moral absoluta mas sim de uma visão da realidade agarrada a categorias de pensamento anteriores à ciência moderna.
Apesar disto ainda é possível ser católico hoje, porque acredito que a Igreja, comunidade de crentes, é tanto minha como de qualquer outro católico sério. Se eu me afastasse por causa de determinadas posições estaria a assumi-las como definitivas e eu não penso que o sejam.
Já depois de ter preparado este post, li o post da Palmira Silva no Diário Ateísta. Pelo que disse acima, acredito em invariantes mas não estou convencido que estes se encontrem por consenso. Provavelmente o direito de cada estado deve continuar a reflectir a ética consensual mas tendo a consciência que o consenso só por si não garante que a lei esteja bem feita.
Ratzinger, a 18 de Abril, afirmou: "estamos caminhando rumo a uma ditadura do relativismo, que não reconhece nada como definitivo e tem como seu maior valor o próprio ego e os próprios desejos". Na Wikipedia pode encontrar-se (em inglês) noções de relativismo e de relativismo moral.
Por vezes parece que se quer chamar relativista a quem pede uma "actualização" de certas posições da Igreja o que me parece excessivo e, por vezes, uma forma de calar a oposição.
Acho que há de tudo: há aqueles que discutem fundamentadamente determinadas posições e há aqueles que acham que basta uma maioria. Situo-me entre os primeiros.
Acredito num Deus absoluto e numa verdade absoluta, como acredito, de algum modo, numa natureza objectiva. Mas a expressão das verdades sobre Deus é feita com termos e ideias humanos, necessariamente limitados. A ciência mostra que até a natureza foge às nossas descrições mais sofisticadas, mas a ortodoxia católica continua a usar uma filosofia pré-científica para ter verdades absolutas sobre o Deus que criou a tal natureza.
A ciência aproxima-se cada vez melhor da natureza e penso que a Igreja vai conhecendo cada vez melhor o Deus que a chama. Não podemos reinventar a roda todos os dias. Contudo, ao ignorar-se as limitações da filosofia e ao optar-se pelo tomismo para exprimir a teologia, limita-se seriamente a possibilidade de comunicar com o mundo actual. Ao tentar-se usar esta filosofia para interagir com a ciência parece não se ter aprendido nada com o caso Galileu.
Ou então tem-se muito medo e não se confia o suficiente no Espírito de Deus, que nos conduz à Verdade.
Parece-me que as posições do Vaticano relativas à sexualidade e à procriação não têm que ver com a oposição ao relativismo mas com a recusa (ou incapacidade?) em incorporar o conhecimento que se vai descobrindo sobre o ser humano. Para mudar de posição o Vaticano não teria que abdicar de uma moral absoluta mas sim de uma visão da realidade agarrada a categorias de pensamento anteriores à ciência moderna.
Apesar disto ainda é possível ser católico hoje, porque acredito que a Igreja, comunidade de crentes, é tanto minha como de qualquer outro católico sério. Se eu me afastasse por causa de determinadas posições estaria a assumi-las como definitivas e eu não penso que o sejam.
Já depois de ter preparado este post, li o post da Palmira Silva no Diário Ateísta. Pelo que disse acima, acredito em invariantes mas não estou convencido que estes se encontrem por consenso. Provavelmente o direito de cada estado deve continuar a reflectir a ética consensual mas tendo a consciência que o consenso só por si não garante que a lei esteja bem feita.
9 comentários:
Por vezes parece que se quer chamar relativista a quem pede uma "actualização" de certas posições da Igreja o que me parece excessivo e, por vezes, uma forma de calar a oposição.
Dado que a doutrina Católica Apostólica Romana é baseada na tradição e desde Martinho Lutero um pouco mais nas sagradas escrituras, não é de esperar que esta mude no que concerne à sexualidade, à contracepção e ao aborto pois esta (doutrina) é baseada nas sagradas escrituras, muda-la aqui seria negar que estas são a fonte da verdade absoluta... O que desde Lutero é mais difícil de aceitar...
No que concerne ao casamento dos padres católicos apostólicos romanos, aí poderá haver uma "actualização" pois esta doutrina é baseada na tradição. De qq forma parece que foi o rebanho do Senhor que o exigiu no séc. X...
No que respeita ao sacerdócio das mulheres aí também poderá haver uma "actualização" pois esta doutrina é baseada na tradição.
"sexualidade, à contracepção e ao aborto pois esta (doutrina) é baseada nas sagradas escrituras"
Isto só é muito parcialmente verdade. O que existe na doutrina católica são interpretações, por vezes muito elaboradas e marcadas por elementos não bíblicos, de certas passagens da bíblia. O caso da contracepção é o mais notável, já que nem sequer se conheciam os detalhes da reprodução humana quando os textos da Bíblia foram escritos.
Caro ad,
é sempre possível arranjar argumentos para justificar o que se quiser. Como todos os textos são escritos por humanos, estamos todos condenados ao relativismo. A situação actual não vai ser resolvida com argumentos. Algumas pessoas vão acabar por morrer e as que vierem a seguir serão forçadas pelas circunstâncias a interpretar a palavra de Deus da forma mais conveniente. Aquilo que eu gostaria de saber é quais são as SUAS opções morais perante vários problemas:
A hecatombe que está a acontecer em África pelo facto de a igreja se opor ao uso do preservativo.
O facto de o Vaticano e o próprio Ratzinger estarem a proteger pedófilos.
Acha que a obediência o dispensará da responsabilidade pelas opções que toma?
Caro CA concordo quando diz que nem sequer se conheciam os detalhes da reprodução humana quando os textos da Bíblia foram escritos, no entanto já se conheciam suficientes detalhes para se compreender as afirmações presentes na história de Onã, como podes ver no seguinte documento:
* http://www.ebdweb.com.br/licoes/licao5_0302.htm
Caro ON eu acredito que o passado é um dos mais fidedignos previsores do futuro... eu apenas estou a expor o que espero da nomenclatura católica... Se tiver outra opinião, por favor partilhe.
Acha que a obediência o dispensará da responsabilidade pelas opções que toma? Se a religião não for mais do que uma meme (ver definição, em inglês, na wikipedia:)
* http://en.wikipedia.org/wiki/Meme
tb conhecida por virus da mente, ver webpage:
* http://www.christianitymeme.org/
a resposta é naturalmente não.
Cmpts AD
Caro AD, acho que no essencial estou de acordo consigo. Acredito no entanto que a igreja católica vai fazer cedências porque não vai ter outra hipótese. João Paulo II pôde agir impunemente da forma que agiu por causa do seu carisma. Este papa não pode esperar safar-se da mesma forma.
Caro ad
Ex. 21, 22 mostra que o aborto provocado merece apenas o pagamento de uma indemnização! Logo, a interpretação de que a morte de Onã resulta de ele ter morto uma pessoa parece-me abusiva.
De qualquer modo não creio que se descubra a vontade de Deus sobre um assunto actual andando à procura no antigo testamento de algum episódio vagamente relacionável.
Caro CA,
Ex. 21, 22 mostra que o aborto provocado merece apenas o pagamento de uma indemnização!
Com efeito tal parece ser o caso... a indemnização é uma pena de excomunhão que apenas pode ser retirada, se não estou em erro, pelo bispo da diocese, ou diáconos por ele indicados, mediante confissão e arrependimento...
Caro ON
Este papa não pode esperar safar-se da mesma forma
Este papa tem do seu lado os cardeais eleitores que foram escolhidos por João Paulo II, segundo o que me consta já só há uns dois ou três cardeais dos tempos do concílio Vaticano II... é de esperar que este papa continue a eleger mais cardeais da linha dura, posto isto eu não susteria o meu fôlego na convicção de que que a igreja católica vai fazer cedências... pelo menos nos domínios da sexualidade e contracepção:(
Cmpts AD
Caro AD,
estou certo de que este papa não vai ceder em nada. A questão é outra. João Paulo segundo tinha um grande carisma e ganhou crédito pelo seu apoio ao Solidariedade. Isso garantiu-lhe a neutralidade ou até o apoio de muita gente. Este papa pode gerar rapidamente uma atitude de antipatia da parte de vastas camadas da população e isso pode ter consequências a médio prazo. Se o número de fiéis nas igrejas e o número de padres ordenados continuar a cair algo terá de ser feito. O concílio Vaticano II surgiu num cenário muito mais conservador do que o actual.
Se o próximo papa não ceder, a influência da igreja comecará a cair mais rapidamente. Quanto pior melhor...
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