Fiquei de explicar outro dia porque é que, embora sendo ateu, não considero necessáriamente bom que alguém abandone a religião cristã. Todos nós temos necessidade de um ponto de referência na vida. Pode ser uma das religiões, a astrologia, uma seita satânica, a heroína ou outra coisa qualquer. Quando se abandona uma religião acontece quase sempre cairmos nalguma crendice pior quando esbarramos na primeira dificuldade. Para isso mais vale ficarmos sossegados. Ser ateu implica um investimento intelectual bastante grande. Eu diria que um pouco maior do que aquele que é preciso fazer para se ser um bom cristão. Simplesmente, se o cristão não fizer o investimento não é grave. Alguém o fará por ele. (Não será mesmo grave?)
Quando se descobre que não temos de estar presos a uma série de constrangimentos sexuais e morais destituídos de sentido apetece-nos publicitar esse facto a toda a gente. Quando essa libertação se torna um dado adquirido deixamos de a achar tão importante.
Assumir a condição de ateu é escolher assumir até ao fim a nossa individualidade. É um processo muito semelhante ao que leva alguém a criar uma nova religião. Todos os dias temos de reconstruir o nosso sistema de valores, que é assim porque nós escolhemos que assim fosse. Deixamos também de fazer parte de uma comunidade, o que pode ser muito gratificante. Não existirão instituições a que um ateu possa pertencer que substituam a igreja católica? Existem sim senhor!
A instituição que mais se assemelha em Portugal à igreja católica é o PCP. Os membros do PCP também fazem parte de uma grande família da qual serão afastados caso percam a fé. O comité central funciona em moldes semelhantes à curia romana. As posições defensivas tomadas pelos seus membros quando foi eleito o novo dirigente máximo foram semelhantes. Muitos dos membros da instituição são também seus funcionários. Ambas as instituições começaram por ser minoritárias, criaram um panteão de martires, atingiram posições de relativa dominância e estão a ver a sua influência na sociedade diminuir. A grande diferença entre as duas é a escala temporal a que se movem. A escala da igreja mede-se em milénios, a do PCP em décadas. Algumas das analogias entre as duas começam a perder-se. A internacional comunista era uma instituição transnacional com sede em Moscovo. Ambas as organizações tinham um livro sagrado e uma promessa de um futuro onde todos os nossos problemas estarão resolvidos, razão pela qual vale a pena fazer sacrifícios. Será razoável considerar um comunista ateu? Como diria um físico, o PCP é um toy model da igreja católica...
Quando fazemos parte de um casamento, da igreja católica ou do PCP existe uma tendência para diluir a nossa individualidade no colectivo. Não ter que pensar em tudo é bom. Não pensar em nada e não discutir o essencial quando é preciso é perigoso. É perigoso porque nós temos as instituições que merecemos. Não costumo opinar sobre os clubes a que não pertenço. Nunca falei aqui sobre as crises do PSD e do PP por exemplo. Porque não me dizem respeito. Sou um ateu baptizado. Parece-me que a igreja acha que eu ainda pertenço ao clube. Acho que conto para algumas estatísticas como católico não praticante. Não me parece que a eleição do papa seja um assunto divino que não diz respeito aos homens. O papa é um chefe temporal cujas decisões podem matar (e matam) milhões de pessoas. Pois, estou a falar do preservativo. Muitas das regras anacrónicas da igreja não tem nada de divino: foram tomadas pelos homens, algumas vezes mais de um milénio após a morte de Cristo.
Quando se descobre que não temos de estar presos a uma série de constrangimentos sexuais e morais destituídos de sentido apetece-nos publicitar esse facto a toda a gente. Quando essa libertação se torna um dado adquirido deixamos de a achar tão importante.
Assumir a condição de ateu é escolher assumir até ao fim a nossa individualidade. É um processo muito semelhante ao que leva alguém a criar uma nova religião. Todos os dias temos de reconstruir o nosso sistema de valores, que é assim porque nós escolhemos que assim fosse. Deixamos também de fazer parte de uma comunidade, o que pode ser muito gratificante. Não existirão instituições a que um ateu possa pertencer que substituam a igreja católica? Existem sim senhor!
A instituição que mais se assemelha em Portugal à igreja católica é o PCP. Os membros do PCP também fazem parte de uma grande família da qual serão afastados caso percam a fé. O comité central funciona em moldes semelhantes à curia romana. As posições defensivas tomadas pelos seus membros quando foi eleito o novo dirigente máximo foram semelhantes. Muitos dos membros da instituição são também seus funcionários. Ambas as instituições começaram por ser minoritárias, criaram um panteão de martires, atingiram posições de relativa dominância e estão a ver a sua influência na sociedade diminuir. A grande diferença entre as duas é a escala temporal a que se movem. A escala da igreja mede-se em milénios, a do PCP em décadas. Algumas das analogias entre as duas começam a perder-se. A internacional comunista era uma instituição transnacional com sede em Moscovo. Ambas as organizações tinham um livro sagrado e uma promessa de um futuro onde todos os nossos problemas estarão resolvidos, razão pela qual vale a pena fazer sacrifícios. Será razoável considerar um comunista ateu? Como diria um físico, o PCP é um toy model da igreja católica...
Quando fazemos parte de um casamento, da igreja católica ou do PCP existe uma tendência para diluir a nossa individualidade no colectivo. Não ter que pensar em tudo é bom. Não pensar em nada e não discutir o essencial quando é preciso é perigoso. É perigoso porque nós temos as instituições que merecemos. Não costumo opinar sobre os clubes a que não pertenço. Nunca falei aqui sobre as crises do PSD e do PP por exemplo. Porque não me dizem respeito. Sou um ateu baptizado. Parece-me que a igreja acha que eu ainda pertenço ao clube. Acho que conto para algumas estatísticas como católico não praticante. Não me parece que a eleição do papa seja um assunto divino que não diz respeito aos homens. O papa é um chefe temporal cujas decisões podem matar (e matam) milhões de pessoas. Pois, estou a falar do preservativo. Muitas das regras anacrónicas da igreja não tem nada de divino: foram tomadas pelos homens, algumas vezes mais de um milénio após a morte de Cristo.
Uma perda de influência demasiado rápida da igreja católica na Europa criaria um vazio extremamente perigoso. Entendo este post como uma contribuição infinitesimal para que tal não aconteça.
3 comentários:
João Pereira Coutinho opina hoje no Expresso que os não católicos, que não deixam que a igreja entre na vida deles, não tem nada que se pronunciar sobre a vida da igreja. Acontece que a igreja entra dentro do corpo de todas as mulheres portuguesas sem dinheiro para uma viagem a Espanha.
A entrevista do bispo Januário Torgal Ferreira ao Expresso é bem clara. Não são só os incréus que estão descontentes com o papa.
"uma série de constrangimentos sexuais e morais destituídos de sentido"
Lendo os evangelhos é possível ver até que ponto esta ideia está longe da proposta de Jesus.
"Todos os dias temos de reconstruir o nosso sistema de valores"
Mesmo estando casado, todos os dias recomeço o meu casamento, renovo a minha opção. O cristão também recomeça todos os dias. A fé não é um dado adquirido, "congelado". É uma relação, nem sempre fácil, com alguém que nos transcende.
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