Se se faz um teste a meio do semestre, vamos aceitar que vão ao teste alunos que tenham faltado a mais de 20% das aulas? Será que devemos antes colocar a fasquia nos 10%? Se nos decidirmos pelos 25%, um professor deverá ter liberdades para aceitar um aluno que tenha faltado a 26,3% das aulas? Haverá mesmo necessidade de deliberar colectivamente sobre estes temas e uniformizar tudo? Até ao mínimo detalhe? Que convicções destinguem um apoiante dos 20% de alguém que prefira os 25? Não podem ser assim tão profundas. Que leva algumas pessoas a baterem-se pela imposição destas regras?
Quais são as semelhanças e as diferenças entre estas questões e outras bem mais mediáticas, do tipo: Só se pode chamar casamento a uma união entre pessoas de sexos diferentes? Só se pode morrer de uma forma? Suicídio e eutanásia são crimes? Alguém pode decidir por nós sobre fazer um aborto? As touradas devem ser proibidas por toda a parte?
Dirão alguns que neste segundo caso estão em jogo convicções profundas.
No primeiro caso, quais são as motivações das pessoas? Basta ouvir as suas justificações. Se todos usarmos a mesma bitola, não podemos ser postos em causa pelos estudantes, os responsáveis das licenciaturas, o conselho pedagógico. Não temos de nos preocupar com os assuntos, não temos de pensar neles, não somos responsáveis. Era assim que funcionava a sociedade algumas gerações atrás. Em muitos países do mundo as pessoas continuam a não se perguntar se são felizes no casamento, se realmente fazem ou não sentido para elas toda uma série de rituais /obrigações que repetem/cumprem sem verdadeiramente os sentir, se estão realmente a fazer da sua vida aquilo que queriam fazer. Na nossa sociedade, a liberdade criou-nos a ansiedade da escolha. Ainda não aprendemos a lidar com ela.
Tenho dúvidas que os mecanismos que levam alguns de nós a querer decidir por mim como posso casar, ter filhos ou morrer, sejam muito diferentes dos mecanismos que levam outros de nós a querer decidir por mim que número é mais bonito: o 15, o 20 ou o 25?
Quais são as semelhanças e as diferenças entre estas questões e outras bem mais mediáticas, do tipo: Só se pode chamar casamento a uma união entre pessoas de sexos diferentes? Só se pode morrer de uma forma? Suicídio e eutanásia são crimes? Alguém pode decidir por nós sobre fazer um aborto? As touradas devem ser proibidas por toda a parte?
Dirão alguns que neste segundo caso estão em jogo convicções profundas.
No primeiro caso, quais são as motivações das pessoas? Basta ouvir as suas justificações. Se todos usarmos a mesma bitola, não podemos ser postos em causa pelos estudantes, os responsáveis das licenciaturas, o conselho pedagógico. Não temos de nos preocupar com os assuntos, não temos de pensar neles, não somos responsáveis. Era assim que funcionava a sociedade algumas gerações atrás. Em muitos países do mundo as pessoas continuam a não se perguntar se são felizes no casamento, se realmente fazem ou não sentido para elas toda uma série de rituais /obrigações que repetem/cumprem sem verdadeiramente os sentir, se estão realmente a fazer da sua vida aquilo que queriam fazer. Na nossa sociedade, a liberdade criou-nos a ansiedade da escolha. Ainda não aprendemos a lidar com ela.
Tenho dúvidas que os mecanismos que levam alguns de nós a querer decidir por mim como posso casar, ter filhos ou morrer, sejam muito diferentes dos mecanismos que levam outros de nós a querer decidir por mim que número é mais bonito: o 15, o 20 ou o 25?
22 comentários:
Porque é que há quem decida por mim qual a velocidade a que posso circular de automóvel?
Aí, posso prejudicar outras pessoas, faz sentido que haja decisões gerais.
Agora há casos em que a liberdade da pessoa x não afecta a pessoa y. E no entanto...
Convem no entanto lembrar a historia da evolução do limite de velocidade na ponto 25 de Abril. Começou por ser 50 km, numa altura em que havia duas faixas de cada lado e pouco transito. A vigilancia era bastante estrita. Um dia aconteceu o buzinão que marcou o princípio do fim do cavaquismo. Os carros circulavam a baixa velocidade enquanto buzinavam. Nunca mais houve vigilancia policial na ponte e o limite de velocidade aumentou para 75 km. Isto apesar do o transito ter decuplicado, ter surgido a quinta faixa e ter sido eliminado o separador central.
Os limites de velocidade têm a ver com muitas coisas. Até têm a ver com a segurança rodoviária.
As restrições que algumas pessoas querem colocar têm também a ver com muitos factores.
O que não qur dizer que tenham sempre razão. Mas também não quer dizer que nunca tenham razão.
Pessoalmente acho que há muito trabalho de reflexão a fazer com as questões fracturantes.
Todos os lados da questão têm com frequência apresentado um sério défice de coerência e reflexão.
Não pretendo que o mecanismo que descrevo explique tudo. Acho no entanto que:
-explica muita coisa;
-muitas pessoas nunca o consideraram;
-é uma chega importante para a discussão.
"As restrições que algumas pessoas querem colocar têm também a ver com muitos factores."
é bla bla bla de político...
não diz nada...
"Os limites de velocidade têm a ver com muitas coisas."
"é bla bla bla de político..." ? :)
por "Bla bla de politico" quer-se dizer: não diz nada, é uma frase vazia de sentido.
"Os limites de velocidade têm a ver com muitas coisas."
não é uma frase vazia, por causa do contexto. O exemplo mostra que por vezes a relação entre os limites de velocidade impostos e a problemática da segurança é não existente.
Tu até podias concordar com o meu argumento relativamente a todos os exemplos, menos um. Que tal pegar o boi pelos cornos?
Pois, estava-me a esquecer que também não gostas da tourada...
"Tu até podias concordar com o meu argumento relativamente a todos os exemplos, menos um. Que tal pegar o boi pelos cornos?"
Não percebi o que queres dizer. Podes explicitar, por favor?
É um boi de 450 quilos, chamado Aborto.
Não é que valha a pena discutir isso agora.
On
Quando é que as leis devem começar a proteger a vida humana? Após o nascimento, o infanticídio deve ser crime?
Um aborto às 39 semanas sem necessidade médica deve ser crime?
É uma questão de ver onde é que se começa a proteger e com que intensidade.
Mas não basta: porque é que escolhemos um limite? O que é que caracteriza uma vida humana que deve ser protegida por lei? Os critérios são transferíveis para outras situações, como uma pessoa em coma? Porquê?
Uma pessoa pode ser obrigada a dar um rim para salvar outra? Pode ser penalizada por não prestar assistência a uma pessoa em perigo? O que é que destas situações pode ser transferido para a situação do aborto?
Creio que uma boa lei deveria levar tudo isto em conta e deixar claros os pressupostos em que se fundamenta.
Ninguém vai proibir um aluno que só faltou a uma aula de ir ao teste, pois não?
Sobre o essencial do post, não te pronunciaste...
On
Estou de acordo que o mecanismo que referes pode existir nas duas situações.
Olha! Um post novo...
O Mundo está como está por causa d... Eu gosto mais do 25. Não sei porquê, mas o 25 é mais bonito.
Abril ou Natal?
Um dos factores importantes é:
ha uma data de gajos que vivem de fazer regras. Eles precisam de justificar o salário. Alguns desses ainda por cima tomam um prazer especial em obrigar os outros a viver de acordo com as normas que criam. Nao importa que regras, é mesmo só pelo prazer de te obrigar a obedecer. É uma espécie de perversão. São por exemplo os admiradores incondicionais do Estado e de outros grupos amigáveis de gangsters (como os comités de ética e os departamentos de educação nas universidades).
Outro factor, menos escuro, é que todos queremos eliminar o custo cognitivo que decorre de em cada momento termos de pensar em cada escolha. Em geral até um mau método é melhor que método nenhum.
Eu sou um apologista de regras e métodos, pelo segundo motivo. Pelo primeiro motivo, acho que (sempre que minimamente razoavel) cada um deve escolher as suas.
O mundo está dividido por fronteiras arbitrárias definidas por acidentes geográficos e históricos. É pena ser tão dificil fazer um reboot, porque fazia muito mais sentido dividi-lo de acordo com as regras que estamos dispostos a seguir. Não há muito mal nesta ou naquela regra desde que seja voluntariamente acordada. O "contrato social" é uma fraude se o assinamos ao nascer. E a latitude que a democracia nos dá sobre ele não é mais do que a moral de "o meu bando de gangsters é maior do que o teu".
Pessoalmente eu só obedeço às leis desta terra porque ha gajos com armas que me obrigam. A força bruta é a unica coisa que agrega a sociedade, e é o medo da força é a medida total do meu respeito pelas regras inventadas pelos outros, especialmente pela politicalhada que determina a que velocidade posso conduzir ou que cor podem ter os toldos dos gajos que me vendem castanhas. Sempre que conduzo a 50 numa estrada vazia com um radar a brilhar como um robot maligno ou vejo o gajo das castanhas a bater a pala aos palhaços da ASAE como um lacaio medieval recordo-me do que faria se por acaso o meu bando de gangsters fosse maior do que o deles. Como nao tenho bando de gagsters porque nao gosto de bandos, contento-me em pelo menos perceber porque faço as coisas. Só ter isso claro já permite evitar muita palhaçada. Ainda ha algum espaço entre as regras, com jeitinho - embora esteja a ficar mais e mais estreito.
Noto que cada vez mais temos regras uniformes para tudo. Isto marca um desiquilibrio. É o grande cancro da UE. Quando os burocratas e fazedores de regulamentos (as leis dos pequeninos) tomam conta de tudo estamos em sarilhos. É gente sem creatividade que não percebe que ha quem precise de latitude. Dá origem a uma sociedade de contabilistas. E também derrota o lado bom das regras. Quando há regras a mais, impostas pelos outros, há um saldo cognitivo negativo. Passas tanto tempo a tentar descobrir quais são as regras arbitrárias que não fazes mais nada. Na minha universidade nao se faz outra coisa que não assinar papelada para alimentar secretariados. Não serve para mais nada. E, um optimo exemplo, já reparaste a condução "segura" que os radares impoem no tunel do marques? Toda a gente conduz a olhar para o velocimetro em vez da estrada. Se um dia aparece la um peao, estará mesmo mais seguro por causa do radar? Será que os robots automobilistas estão alerta a outra coisa que não a velocidade de caracol a que são obrigados a andar pelo seu policia robot?
omwo
:)
Pois, tinha-me esquecido desse...
Questões de Metodologia:
Carlos,
quando se discute um post, que tal começar pelo essencial? depois pode-se discutir os detalhes em que se dicorda ou não. se se começa por uma pontinha, pode parecer mais objectivo, mas acabamos por perder-nos em minudencias que rapidamente deixam de ser interessantes.
Está bem, se for assim ás vezes não há nada para discutir...
Durante o periodo de vigencia da tolerancia zero na IP que ligava Aveiro à fronteira toda a gente fazia a viagem a olhar para o conta quilometros. As guinadas sucediam-se. Finalmente os próprios imbecis que criaram a tolerância zero desistiram dela. Ainda por lá andam...
Eu sinceramente não sei do que se está a falar aqui... Existe alguma coisa sobre ir às aulas e poder ir aos testes ou isto é completamente metafórico?
Estamos a falar de alunos da faculdade?
nada metafórico, regulamentos universitários...
on
Existe um regulamento universitário para isso? Eu ainda pensei que se estivesse a falar em estudantes do secundário ou qualquer coisa assim...
Já não são grandes o suficiente para saberem o que querem da vida? Por que raio é que se deve ir as aulas? Há cadeiras que não pus os pés e tive notas bem elevadas... Será que é preciso ir às aulas para aprender?
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