1. O 25 de Abril de 1974. Provavelmente o acontecimento mais importante da minha vida. Ganhámos a liberdade de expressão. Ganhámos a possibilidade de nos juntar à Comunidade Europeia. Entrámos no jogo de ilusões da democracia, onde os governos se sucedem, só se pensa no presente e ninguém é responsável por nada.
2. A entrada na "CEE". Deixa de ser humilhante passar a fronteira da França ou da Inglaterra. Ainda passei por isso.
3. Os fundos estruturais. Entra muito dinheiro no país. As regras são bem claras: é difícil usar o dinheiro para tornar a nossa economia mais competitiva. Boa parte do dinheiro tem de ser propositadamente mal gasto ou gasto em obras de fachada. As regras facilitam o encher dos bolsos dos corruptos. Apesar de tudo cria-se um ambiente de prosperidade em que seria possível tomar decisões difíceis sem grandes custos para a população. Cavaco Silva prefere a solução mais facil, que lhe dá maiorias absolutas. Em vez de se estimular a produtividade, premeia-se deixar de produzir.
4. Criação do Euro. Uma moeda que não poderia nunca servir os interesses de todos os membros. Uma moeda que foi desenhada para servir os interesses dos mais fortes.
5. Alargamento ultra rápido da comunidade. Assim não havia hipóteses de assimilar os países menos desenvolvidos e fazê-los crescer. também não era isso que se pretendia.
6. Liberalização do comércio internacional. As vantagens para a economia portuguesa de ter livre acesso dos seus produtos aos países da comunidade desapareceram. Passamos a competir com países que usam mão de obra semi escrava e não têm quaisquer preocupações ambientais. Sabíamos que o problema estava ali a esquina e ignorámo-lo completamente.
7. Novas regras de voto dentro da comunidade. A comunidade ficaria ingovernavel se se continuasse a votar por unanimidade. Sobretudo, nada do que está a acontecer agora poderia ter acontecido, não é?
8. Os deficits orçamentais, consequências inevitáveis pelas regras estabelecidas pela criação do euro, obrigam os países periféricos a ajoelhar e perceber de uma vez por todas quem são os Senhores e quem são os servos. Nada nos prende à União Europeia. Podemos sair quando quisermos. Só que as condições da saída não foram pré-estabelecidas e serão decididas pelos Senhores.
9. ...?
Como vamos descalçar esta bota? Haveria soluções de curto prazo, caso tivéssemos outros políticos ou outra classe média. As que tenho visto até agora são pouco mais do que atitudes destinadas a conservar algum do nosso amor próprio. Quem não estiver a pensar em tentar arranjar um passaporte alemão, australiano ou brasileiro, deverá começar a pensar a médio prazo. A neocolonização é muito mais subtil do que as anteriores formas de dominação. Só uma mudança estrutural da consciencia social da classe média pode mudar alguma coisa.
Não há condições para isso? A austeridade vai mudar muita coisa...
Não vale a pena culpar os alemães pelo que está a acontecer. O homem é o lobo do homem. Se nós abrimos o flanco, os outros aproveitam. Como é possivel que nenhum dos principais candidatos a primeiro ministro tenha uma licenciatura por uma universidade decente ou tenha feito alguma coisa na vida para além de chafurdar na política? É agora a altura de deixar o conforto da poltrona e encontrar um caminho que nos dê alternativas em quem votar. Ou deixar que as poucas dezenas de milhares de pessoas que são membros dos principais partidos continuem a decidir por nós.
31 comentários:
"Como é possivel que nenhum dos actuais candidatos a primeiro ministro tenha uma licenciatura por uma universidade decente"
Já pensei muitas vezes nisto. É por isso que gosto do Louçã.
Hugo
Acho foleiro o "cv" dos candidatos.
se fosse eu não linkava. Com um "bom" canudo já se pode ser um bom candidato.
Maria, o problema do cv não está em não ter tirado uma licenciatura decente, o problema está em não haver mais nada...
O Lula também não é licenciado, mas tem uma passado que fala por si.
Mais importante ainda: ter uma licenciatura aldrabada é sinal de uma atitude perante a vida.
reportando-nos ao 1º ministro...(a menos q se ponham umas palas ideológicas)não há mesmo mais nada?
Que tal filiarmo-nos num partido? Já estive mais longe de o fazer (no BE).
Hugo
Maria, agora há toda a sua experiência de ministro primeiro ministro, claro. Se o nosso país fosse uma empresa, há muito que tinha ido à falência.
É claro que para ganhar o jogo de cotoveladas que leva alguém ao poder se tem de ter algumas qualidades. Acontece que não são essas qualidades que matém um país a flutuar...
Hugo,
Essa é uma opção a ter em conta.
É tempo de fazer alguma coisa.
O Carlos Albuquerque aguentou-se uns tempos no MEP. Chegou a dois anos?
Quando comecei este blog, há uns cinco anos, considerei vagamente a hipótese de entrar para o PS. Meu Deus, no que é que eu me ia meter? Acho que qualquer partido me expulsaria rapidamente das suas fileiras.
A verdade é que nem sei muito bem o que é que implica entrar para um partido. Acho que não tenho pachorra para discussões interminaveis sobre um assunto pontual. Tu talvez sejas capaz de lidar com esse tipo de situações. Para começar, era boa ideia alguém explicar o que é isso de ser militante de um partido. Carlos, andas por aí?
A verdade é que me parece que pomos logo muitos entraves e temos demasiadas ideias pré-concebidas (negativas) sobre a coisa. Parecem exactamente as desculpas que arranjo para não me filiar. Porque não experimentar? Na pior das hipóteses, voltamos a sair.
Lê um post do CA no Facebook. Uma discussão de 28 comentários com um tipo quadrado. Eu também faço umas intervenções. Num partido político não podia falar assim.
Tu estás numa fase decisiva da tua carreira...
As coisas têm de ser bem pensadas.
Para se estar num partido não é preciso ter discussões aborrecidas sobre temas específicos, excepto se se estiver a produzir um documento e for preciso discuti-lo em detalhe. Mas pode-se ser militante sem nunca fazer isso.
No fundo ser militante não é muito mais do que ser sócio de um clube: há umas quotas a pagar e tem-se uns direitos de voto. Se se for um militante de base provavelmente ninguém liga ao que escrevemos e para se ser expulso creio que será preciso pelo menos ir a eleições numa lista contra a do partido.
A frio, pode até ser uma maneira de ter um pouco mais de poder sobre o sistema político sem grandes compromissos. E dito assim parece que a única coisa relevante é escolhermos o partido com mais poder.
Contudo talvez seja mais construtivo pensar num partido como um conjunto de pessoas com alguns ideais comuns, que pretendem actuar na sociedade para a aproximar dos ideais.
Neste caso será preciso ver quais os princípios fundamentais mais básicos por que se rege o partido. Às vezes há uns manifestos ou uns documentos iniciais que dão o tom.
A questão mais premente quanto a estar-se num partido tem muitas vezes a ver com a avaliação que fazemos da nossa influência na sociedade através do partido. A pergunta é: será que estando no partido contribuo mais para os meus ideais do que estando fora do partido?
Claro que esta questão se coloca sobretudo a quem quer fazer mais do que o mínimo e muitas vezes estando num partido sentimos que não influenciamos quase nada o que o partido faz.
"Tu estás numa fase decisiva da tua carreira...
As coisas têm de ser bem pensadas."
Claro que têm, daí ainda não ter saído do meu canto. No entanto também acho que qualquer opção activa que se tome vai roubar tempo a outras coisas. Não há volta a dar. Não há mudanças, revoluções, etc, sem "perdermos tempo" nem deixarmos de lutar apenas pelos nossos objectivos pessoais.
Mas também acho que há sempre forma de arranjar um equilíbrio entre tudo, há muitas formas de estar num partido. Nem que seja para ver como a coisa funciona por dentro, já acho positivo. Depois logo se vê se nos queremos envolver mais ou não.
ok, vamos lá discutir o assunto com calma. Fui à página do Bloco e entrar até nem parece ser assim muito complicado, embora haja uma (natural) "ratificação". Depois logo se vê o que isso quer dizer...
"A Adesão ao Bloco de Esquerda é sujeita a ratificação e torna-se efectiva depois do pagamento da quota anual. A pessoa que adere ao Bloco participa na sua vida interna, nos seus núcleos e nas suas actividades, contribuindo com as suas ideias e intervenção para o desenvolvimento desta nova alternativa à esquerda."
Niguém mais quer considerar a tomada do poder no BE?:?
A, CA?
Há tipos que gostam de mandar e tipos que gostam de ser mandados, e depois há tipos que abominam ser mandados e ainda mais mandar.
Não vale a pena dizer "e se fossemos todos assim?", porque isso é não compreender que num ecossistema há lugar para muitos tipos de seres (imagina um tipo a ir chatear uma girafa na savana dizendo-lhe "e se fossem todos como tu?") - os tipos que usam esse argumento são os que gostam de mandar, e se fossemos todos como eles teríamos o mesmo problema que teríamos se fossemos todos como qualquer outro tipo...)
Sendo eu do tipo que sou, não me estou a ver a tomar conta do BE, ainda que o pudesse fazer, coisa para que certamente não estou apto. Além disso, se o fizesse, ele deixaria de ser o BE.
Nas minhas fantasias de adolescente até seria o Alexandre - é típico dos adolescentes; mas nas minhas fantasias adultas sou o Diógenes. Há um lugar útil no ecossistema para alguém que diga aos auto-denominados grandes líderes (vulgo, em psicologia, sociopatas), "eh, pá, podias sair da frente do sol?"
Não quer dizer que se me chatearem muito, e se já não tiver nada a perder, não acabe um dia destes a exortar as turbas a coleccionar escalpes. Ás vezes entusiasmo-me, e lá porque quero ser o Diógenes, não quer dizer que consiga sempre.
A.
Até há lugar para os cucos, se os outros pássaros deixarem.
>Até há lugar para os cucos, se os >outros pássaros deixarem
Ao que me recordo o Diógenes servia para apontar os cucos. São fáceis de detectar: em geral dizem que se andam a sacrificar pela coisa pública, que só mandam porque se preocupam, e exortam com grande superioridade moral à participação do povo todo na política - na posição exlusiva de máquina gratuita de colagem de cartazes.
Porque gostam tanto de acusar de falta de civismo quem não quer participar nas suas fraudes? É se calhar porque quem está de fora dos ninhos nota melhor o que se lá passa.
O cidadão que constrói alguma coisa não tem que ser obrigado a participar na política partidária. Se um tipo é padeiro, culpá-lo de não se meter num partido é patético quando não se culpa um político por não fazer pão - especialmente quando é o trabalho do padeiro que paga o salário do político. Se num determinado momento somos de facto todos obrigados a participar é precisamente porque os políticos lixaram tudo para lá do razoável. Mesmo assim há outras formas de participar que não a de nos juntarmos a um partido.
Não me sinto obrigado a tomar parte num jogo inventado por outros para a sua conveniência, jogado pelas suas regras, e para os seus fins.
Se me forçarem a tomar parte será, tanto quanto eu possa, pelas minhas regras.
A.
Diógenes empurrava a sua banheira energéticamente pelo monte acima. Lá chegado, empurrava-a pelo monte abaixo; depois, repetia. Perguntaram-lhe finalmente porquê.
"Anda toda a gente tão atarefada, não queria que me julgassem o único preguiçoso"
A.
A ideia de tomar o poder foi tentada há bem pouco tempo (há uns três anos) no CDS. Houve um grupo que promoveu a entrada de umas dezenas ou centenas de militantes com o objectivo de controlar a distrital de Lisboa. Os novos militantes só podiam votar depois de 6 meses de militância e as eleições na distrital foram antecipadas para evitar que eles pudessem ganhar. Não sei como ficou tudo depois disto.
Tomar o poder com o Hugo e vocês os dois? Acho que preciso pelo menos de mais duas ou três pessoas:)
dois? Mas eu não tinha dito que...
...espera lá...
Diogenes stood outside a brothel, shouting, "A beautiful whore is like poisoned honey! A beautiful whore is like poisoned honey! A beautiful whore . . . ". Men entering the house threw him a coin or two to shut him up. Eventually Diogenes had collected enough money and he too went into the brothel.
Está decidido, vou para político. :)
A.
>num ecossistema há lugar para muitos tipos de seres
Camarada, invocar um direito natural a se ser como se é? Porque não um direito divino?
Num ecosistema há lugar para quem dá o litro e sobrevive.
"Ah, eu sou o Diogenes e se vocês me não me aceitarem como eu sou..."
(então o quê? somos politicamente incorrectos?)
é um truque para aumentar a comodidade da nossa vida como
...
ir pra porta de um bordel e...
>"Ah, eu sou o Diogenes e se vocês me >não me aceitarem como eu sou..."
O camarada deve estar confundido.
As aspas usam-se para citar o que alguém disse, não para pormos na boca do outro o que nos apetece.
Ninguém lhe estava a pedir nada.
Estou-me a marimbar para o que o camarada aceita ou deixa de aceitar. E cago-me fragorosamente no politicamente correcto.
Estabelecido que ninguém lhe pediu nada, explique-me lá qual é o problema. Que calo lhe pisei?
Não se percebe o que está a dizer. A austeridade ainda não justifica que poupe tanto nas letras. Se me disser claramente qual é a sua tese eu prometo que lhe respondo.
A.
ps: quanto aos direitos, eles decorrem do equilibro de forças. por exemplo, "o povo" tem "direito" a não ser demasiado explorado porque se o explorarem demasiado tem a força necessária para pendurar uns tantos filhos da puta pelas goelas. Convinha que tomassem isto em conta na análise de risco. Mas todos sabemos que a análise de risco não tem sido bem feita pelos senhores atarefados das agencias de rating, que todos os dias apertam a gravata e dão o litro a fazer contas sobre modelos errados. Garbage in, garbage out, dando o litro, só significa mais garbage.
A., o meu último comentário era suposto ser irónico.
Já agora: quando escrevi “Niguém mais quer considerar a tomada do poder no BE?:?”
Era suposto ter escrito “Ninguém mais quer considerar a tomada do poder no BE?:)”
Acho que a proposta do Hugo merecia que mergulhassemos nela e lhe dessemos uma hipótese. É a melhor forma de racicionar com ele sobre o assunto. Discutir “racionalmente” a questão é muito menos produtivo. Até porque não é nada divertido. Bem, o mergulho falhou.
Passemos à frente...
On,
qual último comentário, o do anónimo? Pá, ironico ou não, ainda não lhe percebi o significado...fiquei na dúvida se tinha que colocar bosta na fisga!...you move around in the shadows, you may get hit by friendly fire :D
Acho muito bem que o Hugo tome conta do BE. A cada um o nicho onde acha que pertence. O meu nicho é cá fora, de onde se vê melhor, e de onde se está livre para gritar com todos, que é também uma função necessária.
Voto nele, e se ganhar, brindo ao Hugo como fazia o Galois: com um copo na mão para saudar a sua vitória, e com uma faca na outra, para "s'il devient traitre" :)
A.
ps: Além disso não quero fazer parte da vossa Troica...porque elas acabam sempre com um Augustus a matar os outros dois! :)
"Além disso não quero fazer parte da vossa Troica...porque elas acabam sempre com um Augustus a matar os outros dois!"
A sério?
A sério, and since I am not feeling lucky!...
(ando a ler o Edward Gibbon, e estatisticamente isso das troikas não me parece nada saudável)
A.
Vale a pena ver isto:
http://blocosantarem2011.blogspot.com/2011/05/entrevista-rtp-sobre-fmi-e-alternativas.html
Há li umas coisas no terceiro vídeo com as quais não concordo NADA. Nacionalizar a EDP não é, a meu ver, realista, e o próprio José Gusmão se parece engasgar com as perguntas do entrevistador.
Hugo
Também não percebo como se faria uma nacionalização que ignora o preço de mercado.
Mas concordo com o que ele diz acerca de se tratar de um monopólio natural, e possivelmente não deveria ter sido privatizada...mas não vejo como se pode voltar atrás sem consequências graves. Isto não é a Venezuela.
Sendo assim, e se o propósito é controlar os preços, não é mais natural atacar do lado da regulação? Um governo que fosse capaz de fazer uma nacionalização hostil também seria capaz de fazer, com custos políticos muito menores e sem custos financeiros, uma legislação que limitasse a liberdade de acção da empresa de forma a atingir os mesmos resultados em termos de preços. E tomar o controlo das entidades reguladoras actualmente ineficazes não deverá ser mais dificil do que tomar o controlo da empresa. Nacionalizar só faz sentido se o propósito é obter acesso às receitas. E mesmo esse acesso pode ser mais facilmente obtido através de impostos adequados do que através de uma nacionalização.
Quais foram as outras coisas que te arrepiaram, Hugo? Tirando esse ponto achei que a entrevista tinha corrido bem, e fizeram-se ali uma data de propostas que me pareceram sensatas e muito importantes. Acho que, na conta total, fiquei mais convencido a votar no BE. O que ouço da direita não faz sentido em termos económicos (basta ver como as coisas correram na Grécia para ver onde levam estas medidas) ou simplesmente não quer dizer nada, e o que ouço do PCP parece ser semelhante ao BE com a diferença de que não me convencem que saibam o significado do que dizem.
Essencialmente o que me fez muita comichão foi a questão da nacionalização, seja por não perceber de onde viria o dinheiro, seja pela injustiça que seria comprar as acções abaixo do preço de mercado. Ainda bem que o entrevistador relembrou o Gusmão que entretanto quem agora tem acções não é propriamente quem as comprou de início. Ele lá se engasgou e passou à frente (ele é economista, n é?). Enfim, é a velha luta contra os ricos só por serem ricos que sempre detestei no BE (e mais ainda no PCP).
Essa e a eterna luta patrões-empregados, como se uns e outros quisessem coisas completamente opostas.
Fora isso até gostei. Concordo contigo qdo dizes que o PCP não percebe aqui que defende (já ouvi algumas coisas do Jerónimo que não fazem mesmo sentido). Gosto da insistência do BE dizendo que é necessário renegociar a dívida. Gostei também do debate Louça-Sócrates de ontem, embora me comece a dar volta ao estômago de cada vez que oiço o segundo falar. Dá quase vontade de saltar para dentro do ecrã para lhe dar um par de estalos.
Posto isto, acho que volto atrás na minha decisão e sempre voto BE, apesar do meu desacordo com algumas medidas por eles tomadas.
Parece-me que o Blogger apagou tanto o meu último comentário como o do António. Enfim, paciência.
Enviar um comentário