sexta-feira, outubro 2

Greg House 3


Nel mezzo del cammin di nostra vita
mi ritrovai per una selva oscura
ché la diritta via era smarrita.

Da nossa vida, em meio da jornada,
Achei-me numa selva tenebrosa,
Tendo perdido a verdadeira estrada.

Assim começa a Divina Comédia. Dante confessa-nos que ao atingir a meia idade se sentiu perdido. A vida deixou de fazer sentido. As lembranças das causas porque lutou, daquilo que construiu, só lhe deixam um travo amargo na boca. A vida não passa de um desespero tranquilo. O poema é simultaneamente a história da sua auto-cura, contada de forma alegórica, e o remédio que o curou.
Dante começa por encontrar Virgílio, o autor da Eneida, o poema épico que ele espera emular ao escrever a Divina Comédia. Virgílio conduz Dante através do Inferno, levando-o até ao Purgatório. Virgilio representa a razão, o lado intelectual de Dante, o grande responsável pela situação actual de Dante mas também a única força que o mantem inteiro. Visitar o Inferno é ganhar consciencia total da sua situação. Dante está a viver o Inferno na Terra. É esse o primeiro passo da sua viagem interior.
Virgílio conduz Dante até às portas do Purgatório, onde Beatriz o espera. Dante apaixonou-se por Beatrice Portinari aos nove anos, tinha ela oito. Viu-a meia dúzia de vezes durante toda a sua vida. Beatriz casou aos vinte e um e morreu de peste aos vinte e quatro. Dante dedicou-lhe todos os seus poemas mais importantes e nunca a esqueceu. É através do seu lado feminino que um homem se relaciona com o seu inconsciente e produz trabalho criativo. Por isso se fala da musa inspiradora. Muitas vezes esse lado feminino ganha uma representação mais concreta. A musa ganha um rosto.
Beatriz conduz Dante através do Purgatório, ajudando-o a reencontrar o seu caminho. É aí que começa a Purga. Finalmente atingem o Céu, o extase momentaneo associado ao alivio de recuperar o sentido da vida.

House é a história da mid life crisis de Greg House, MD. Greg já completou a sua travessia do inferno e encontra agora a sua Beatriz, personificada em Amber, a ex-namorada do seu amigo James Wilson, morta num acidente. Cada um tem a musa que merece e Amber é bem diferente da doce Beatriz. Cada tipo de obra de arte tem as suas convenções. Nós vemos Amber em carne e osso, uma imagem bem definida. Não podia ser de outra forma. Não significa isso que seria assim que o House a sentia. Seria mais razoavel que o lado feminino de House se manifestasse através de uma voz interior e de uma sensação de presença indefinida.
House lida mal com o aparecimento do seu lado feminino. Pergunta-se se estará louco. O aparecimento de Amber é o ingrediente fundamental do gran finale da quinta série. Estou mais ou menos seguro que a sexta série vai começar com House de volta ao hospital, uns meses mais tarde. Vai ser curioso ver como a série evolui. Num one hour drama algo muda para que tudo fique na mesma. Mesmo na Divina Comédia, o Inferno é bem mais interessante do que o paraíso. Os autores não se podem dar ao luxo de deixar que House ultrapasse a crise da meia idade.
Convem no entanto salientar que o aparecimento de Amber faz bem mais sentido do que muitas outras leviandades que encontramos nos one hour dramas. É por isso que House é diferente.

House 1
House 2

5 comentários:

Hugo disse...

O fim do primeiro episódio da 6ª série é demasiado certinho, pouco a la House. Vejamos os desenvolvimentos.

Anónimo disse...

sacaste da net?
Por cá ainda não está a dar.
Não contes!

on

MaDi disse...

eu sei tudo...uma fanática de spoilers ;)

Anónimo disse...

ja estao os 3 primeiros na net, on :)

É assim: foi o mordomo! :D

omwo

Hugo disse...

é como diz o omwo. eu saco sempre, o house é a minha novela semanal :)