quarta-feira, setembro 30

Desta vez deu Cavaco

O homem irrita-me. Sempre me irritou. Para meu grande espanto, dei por mim a pensar antes das últimas presidenciais: espero que o Cavaco ganhe à primeira volta, senão ainda vou ter de votar nele. Lá por isso o homem continuou a irritar-me. Depois veio o estatuto dos Açores. Todos os partidos desceram até à mais rasteira das demagogias. Só Cavaco disse o que tinha de ser dito. Estas eleições o PS ultrapassou todos os limites da manipulação. Deu resultado. As pessoas até se esqueceram de como será dificil a Sócrates governar em minoria. Bastará que o PCP e o Bloco se abstenham para que o voto conjunto do CDS e do PSD derrote o PS. O PS só terá hipoteses de chegar ao fim da legislatura com um presidente da mesma cor. Sócrates sabe-o e provocou Cavaco. Cavaco mordeu o isco. Resta saber se Sócrates tem arcaboiço para pescar em aguas profundas.
Muitos acusaram Sócrates de muitas coisas. Algumas das acusações, embora não decisivas, estão provadas para lá de toda a dúvida. Quando o presidente se junta ao coro, muitos mais deixarão de ignorar que algo está podre no reino da Dinamarca.

Cavaco conquistou a sua primeira maioria absoluta devido ao seu especial talento para irritar Vitor Constancio, lider do PS à altura, levando-o a avançar para uma moção de censura suicida. Seria irónico que quem pela irritação matou pela irritação morra. Se Cavaco perder as eleições retira-se da política com um gosto amargo na boca, mas será apenas um epsilon na sua carreira política. Outros terão muito mais a perder.

Numa disputa entre o presidente e um partido sem maioria absoluta ninguém dúvida quem é que está em desvantagem. Quando essa disputa nos leva a comparar a integridade de dois homens, a quem é que nós compraríamos um carro usado? A intervenção de Cavaco pode ter sido desajeitada. Pela minha parte acho que a indignação de um homem honrado perante a perfídia vigente é altamente refrescante.
De momento estão todos contra Cavaco. Um ano em política é uma eternidade e o tempo joga a favor do presidente. Quem se desgasta todos os dias é o governo. Não sei quantos portugueses se sentiriam descansados com um governo Sócrates não vigiado. Vamos ter um ano bem interessante.
Quando surgiram problemas no final do primeiro mandato, todos os presidentes assobiaram para o lado. Cavaco não o fez. A sua coragem pode até vir a custar-lhe o segundo mandato. Mas terá certamente o meu voto.

domingo, setembro 27

Matemática Ilegal

584201=733 x 797 ? Parece que sim.
Mas cuidado, quando decompuserem um número nos seus factores primos podem estar a cometer uma ilegalidade.

sábado, setembro 26

Uma das mil razões porque eu não voto PS

Dentro em breve os jovens com dificuldades de aprendizagem vão passar a ser tratados condignamente pelo estado português. Até agora era-lhes negado o direito a estar numa aula com alunos normais, a viver a vida em sociedade. Essa injustiça tem os seus dias contados. Estou a falar de jovens com problemas leves mas também de autistas (e estava a ser ironico, caso não tenham reparado). Por acaso até parece que a maioria dos pais dessas crianças nem estão nada interessados no fim desta discriminação, antes pelo contrário. Esta medida humanitária tem ainda a vantagem de aliviar os cofres do estado. Se os pais não entendem as vantagens inerentes a este novo direito, eles que paguem do bolso deles para ter os seus filhos educados à parte.
O efeito desta medida sobre a qualidade do ensino só não é obvia para aqueles que são bem piores do que os cegos, porque não querem ver. Em tempos a escola pública permitia a um jovem inteligente proveniente de uma família sem grandes recursos económicos ou culturais ter as oportunidades que os seus pais não tiveram. Se hoje já não podemos dizer o mesmo, pior é sempre possível.
Só um país rico pode dar aos seus cidadãos mais desfavorecidos pela biologia a possibilidade de minorarem os handicaps com que nasceram. Os recursos são finitos. Portugal até é um país relativamente rico à escala mundial, mas está a empobrecer. A maior riqueza de um país é a educação dos seus cidadãos. Não é um tema com que se brinque ou com que se façam experiencias caprichosas. No fim são sempre os mais desfavorecidos a pagar a factura.

domingo, setembro 20

Como aprendemos, como comunicamos, como armazenamos informação?


Espreitem isto. Aprendi muito sobre como é que comunicava com as pessoas quando fiz um teste deste género. Qual é o vosso tipo?

terça-feira, setembro 15

O dever cívico

Suponhamos que era nosso dever cívico votar. Então tínhamos direito a exprimir a nossa opinião. Podíamos votar negro, o voto dos que não se sentem representados. O voto branco? Nada distingue quem vota em branco de quem coloca o cruzinha fora do sítio por displicencia ou imbecilidade. É claro que nenhum político quer que o eleitor possa manifestar-se contra o sistema. Os políticos formam uma casta mais ou menos fechada. A sua alternância e eventual sacrifício de um dos seus membros pouco mais é do que a ilusão que mantem a casta no poder.
À falta de melhor, esqueçamos a treta do dever cívico: o voto é um direito lúdico. Por exemplo: imaginem qual foi o prazer que me deu ver a cara do João Soares quando eu votei no Santana Lopes. O homem bem se queixou dos votos da esquerda que foram indevidamente parar ao Santana. Seria meu dever cívico votar nele? É verdade que eu não podia sonhar quanto é que me custaria a brincadeira. Como também não sei qual seria a conta que o João me apresentaria, mais vale lembrar-me que o consulado do Santana foi o mais divertido de sempre.
Azar, azar é a Manuela não ter graça nenhuma. Mas a cara do Pedro quinze dias depois, sempre pode equilibrar as coisas. Votar é um assunto sério? Votei no Socrates para tirar o país da bancarrota. Para depois ele nos endividar outra vez com aeroportos, TGV's para o Porto, BPN's e BPP's, rebentar com a educação e com a justiça. Não vale a pena chorar. As coisas sempre foram mais ou menos assim, e lá temos sobrevivido. Na dúvida, mais vale rir.

domingo, setembro 13

Mecanismos

Se se faz um teste a meio do semestre, vamos aceitar que vão ao teste alunos que tenham faltado a mais de 20% das aulas? Será que devemos antes colocar a fasquia nos 10%? Se nos decidirmos pelos 25%, um professor deverá ter liberdades para aceitar um aluno que tenha faltado a 26,3% das aulas? Haverá mesmo necessidade de deliberar colectivamente sobre estes temas e uniformizar tudo? Até ao mínimo detalhe? Que convicções destinguem um apoiante dos 20% de alguém que prefira os 25? Não podem ser assim tão profundas. Que leva algumas pessoas a baterem-se pela imposição destas regras?
Quais são as semelhanças e as diferenças entre estas questões e outras bem mais mediáticas, do tipo: Só se pode chamar casamento a uma união entre pessoas de sexos diferentes? Só se pode morrer de uma forma? Suicídio e eutanásia são crimes? Alguém pode decidir por nós sobre fazer um aborto? As touradas devem ser proibidas por toda a parte?
Dirão alguns que neste segundo caso estão em jogo convicções profundas.
No primeiro caso, quais são as motivações das pessoas? Basta ouvir as suas justificações. Se todos usarmos a mesma bitola, não podemos ser postos em causa pelos estudantes, os responsáveis das licenciaturas, o conselho pedagógico. Não temos de nos preocupar com os assuntos, não temos de pensar neles, não somos responsáveis. Era assim que funcionava a sociedade algumas gerações atrás. Em muitos países do mundo as pessoas continuam a não se perguntar se são felizes no casamento, se realmente fazem ou não sentido para elas toda uma série de rituais /obrigações que repetem/cumprem sem verdadeiramente os sentir, se estão realmente a fazer da sua vida aquilo que queriam fazer. Na nossa sociedade, a liberdade criou-nos a ansiedade da escolha. Ainda não aprendemos a lidar com ela.
Tenho dúvidas que os mecanismos que levam alguns de nós a querer decidir por mim como posso casar, ter filhos ou morrer, sejam muito diferentes dos mecanismos que levam outros de nós a querer decidir por mim que número é mais bonito: o 15, o 20 ou o 25?