domingo, março 8

Memes

A selecção dos genes produziu um mamífero a partir de organismos celulares. Richard Dawkins introduziu em O gene egoista a noção de meme. A selecção dos memes produz uma religião complexa a partir de algumas crenças básicas?
Um meme é um elemento de cultura, um simbolo ou uma pratica que não se pode dividir em elemento do mesmo tipo mais pequenos e que se transmite de uma pessoa para outra através da fala, de gestos ou outros fenómenos imitaveis. São exemplos de memes uma anedota, uma maneira de fazer o nó da gravata, um novo passo de dança. É este o processo de transmissão dos memes. Os memes estão sujeitos à selecção natural. Só as anedotas verdadeiramente engraçadas são repetidas. As melhores atravessam gerações e continentes, sofrem mutações, etc. Um novo estilo de música é um agregado de memes. Alguns têm a ver com acordes musicais, outros com passos de dança, outros com roupas, estilos de vida, etc. Esse estilo criou-se por selecção natural, mesclando memes de vários estilos de música e doutras proveniencias.
A memetica (o estudo dos memes e da sua evolução) não tem ainda um estatuto científico bem definido. Mas algumas das suas construções são interessantes. Dawkins está especialmente interessado em aplicá-la ao estudo da religião. Um dos aspectos interessantes da evolução das religiões é o facto de nascerem várias por ano. É assim mais fácil estudar a criação de uma religião do que a criação de uma espécie.
Dawkins argumenta que nem é preciso que uma religião tenha um efeito benéfico sobre os seus praticantes, basta apenas que os seus memes sejam especialmente bem adaptados à luta dos memes para a reprodução.
Acho que não estou completamente de acordo com as ideias de Dawkins. Uma teoria científica resulta de uma luta pela sobrevivência de memes. Se reduzimos tudo a uma luta de memes, caímos nas teorias pos-modernas que reduzem a ciência a uma moda. Convem tentar perceber porque é que um meme é mais resistente do que outro.
Analisemos um meme: ter fé é uma riqueza espiritual. As religiões com este meme sobrevivem melhor do que as outras num mundo onde cada vez mais tudo é posto em causa. Uma religião assenta num conjunto de crenças. Se o crente acreditar que a crença tem um valor em si propria, é menos provavel que as ponha em causa.
Que se quer dizer então quando se fala no valor da fé? Que valor é esse? O que é que isso realmente significa?

4 comentários:

Anónimo disse...

O valor de uma nota falsa?

Anónimo disse...

"Só as anedotas verdadeiramente engraçadas são repetidas."

O mais interessante no conceito de meme é precisamente que uma anedota bem sucedida nao tem necessariamente que ser muito engraçada. Ou de outra forma: não tem que ser boa a fazer rir. Só tem que ser boa a ser repetida, e isso pode depender de muitos outros factores que não a graça que ela tem. Esse é o ponto fulcral do Dawkins. Antigamente pensava-se que os genes bem sucedidos eram os que beneficiavam o fenotipo. Mas afinal basta beneficiarem-se a si proprios. Ha genes ancestrais que não fazem outra coisa senão copias de si proprios, até com certa probabilidade de se sobreporem a sequencias importantes uma vez por outra e liquidarem o organismo. As desvantagens para o gene decorrentes de prejudicar o fenotipo são contrabalançadas por outras vantagens decorrentes da sua cultura de "me first". O parasitismo começa logo dentro de cada um...

omwo

Anónimo disse...

OMWO,

eu sei que é essa a tese do Dawkins. Não sei é se estou completamente de acordo com ela, pelas razões que aponto no post.

O meme que dá à fé um valor intrinseco parece um exemplo típico de um meme que está lá mais para cooperar com os outros memes na sua autopreservação do que para beneficiar a pessoa. Acho que vale a pena discutir se é assim ou não.

Estive à espera de ver se alguém comentava isto, mas anda tudo muito ocupado, por isso ainda não apresentei o meu raciocínio. Vou ver se trato disso.

Anónimo disse...

Porque é que ter fé pode ser uma riqueza espiritual?
Tal como eu vejo as coisas a fé pode ser uma forma de nos ligarmos as nosso inconsciente, de manter algum equilíbrio. O indio pueblo que ajuda todos os dias o sol a renascer está na verdade a reparar cada dia todos os danos que o dia anterior deixou no seu espírito e no seu corpo.
Trata-se da forma mais elementar e mais essencial de manter o nosso equilíbrio. Que bom que seria que todos nós fossemos capazes de fazer isso.
Muitas senhoras gastam uma fortuna no cabeleireiro e na manicura tendo este objectivo em vista.

Até que ponto é que a religião ajuda nos dias de hoje os crentes a manter esse equilibrio?
E os ateus, como é que se desenrascam?

A fé serve muitas vezes para outros fins não menos importantes: para bloquear o nosso inconsciente e para poder ignorar a nossa vida interior.
Para esquecer que vamos morrer um dia e que não à volta a dar. Para ir despejar uns "pecados" no confessionário e fingir que os podemos ignorar.