Duas gerações atrás não havia transportes públicos. Era normal uma pessoa fazer uma dúzia de quilómetros a pé por dia só para ir trabalhar. Essa caminhada proporcionava ao caminhante um momento de meditação. O efeito calmante desta actividade equipara-se a uma dose de Prozac, sem efeitos secundários.
No tempo da segunda guerra mundial, e não só, a comida não abundava. O que se poupava na Quaresma, ajudava a celebrar melhor a Páscoa. O jejum, nem sempre voluntário, era uma oportunidade de renovação espiritual. Usávamos o corpo todos os dias.
No dia em que passei a ter um carro só para mim, perdi um pouco mais de contacto com o meu corpo. Para o recuperar, tive de pagar bem caro para andar na passadeira do Health Club os quilómetros que deixei de andar a pé.
Não será a explosão de corporeidade de que fala o Manuel a soma das diversas tentativas de evitar os efeitos nefastos da diminuição da nossa actividade corporal no dia a dia? Esta diminuição levanta também novos problemas de natureza religiosa. É necessário encontrar formas alternativas de utilizar o corpo que nos ajudem a manter o equilíbrio espiritual.
Quando se tem de lutar pela sobrevivência, muita coisa é clara. Quando já não temos de o fazer, a vida complica-se sobremaneira. Até é preciso descobrir-lhe um sentido!
Muitos grupos religiosos descobriram que unir as palmas das mãos ajuda a atingir uma certa paz interior. O cristianismo também. Mas este acto é apenas o grau zero da interacção corpo-espírito.
Alguns grupos protestantes redescobriram a longa experiência do Zen nestas questões. Dentro da igreja católica quase só os jesuitas, herdeiros dos exercícios de Loyola, lhe dão a importância que merecem. Vale a pena que nos debrucemos um pouco mais sobre elas. Fica para breve.
No tempo da segunda guerra mundial, e não só, a comida não abundava. O que se poupava na Quaresma, ajudava a celebrar melhor a Páscoa. O jejum, nem sempre voluntário, era uma oportunidade de renovação espiritual. Usávamos o corpo todos os dias.
No dia em que passei a ter um carro só para mim, perdi um pouco mais de contacto com o meu corpo. Para o recuperar, tive de pagar bem caro para andar na passadeira do Health Club os quilómetros que deixei de andar a pé.
Não será a explosão de corporeidade de que fala o Manuel a soma das diversas tentativas de evitar os efeitos nefastos da diminuição da nossa actividade corporal no dia a dia? Esta diminuição levanta também novos problemas de natureza religiosa. É necessário encontrar formas alternativas de utilizar o corpo que nos ajudem a manter o equilíbrio espiritual.
Quando se tem de lutar pela sobrevivência, muita coisa é clara. Quando já não temos de o fazer, a vida complica-se sobremaneira. Até é preciso descobrir-lhe um sentido!
Muitos grupos religiosos descobriram que unir as palmas das mãos ajuda a atingir uma certa paz interior. O cristianismo também. Mas este acto é apenas o grau zero da interacção corpo-espírito.
Alguns grupos protestantes redescobriram a longa experiência do Zen nestas questões. Dentro da igreja católica quase só os jesuitas, herdeiros dos exercícios de Loyola, lhe dão a importância que merecem. Vale a pena que nos debrucemos um pouco mais sobre elas. Fica para breve.
29 comentários:
A ideia que tenho é que os exercícios de Loyola, embora não ignorem o corpo, não se concentram especialmente no corpo.
Quando falo dos exercícios de Loyola quero apenas referir que são a única tentativa sistemática de introduzir a meditação dentro da igreja católica. A procura de outros métodos semelhantes levou-os ao encontro das tradições orientais, onde o corpo tem uma papel muito mais importante.
É curioso que é costume afirmar que vivemos numa sociedade materialista e sensual, por oposição às sociedades orientais, mais viradas para o lado espiritual da vida.
Cá ficarei então á espera que se debrucem mais sobre este tema.
Este post foi raptado pelo Plagiadíssimo.
Passa porlá e fica bem.
Muito interessante, este texto.
Não é só o carro que nos tira momentos de reflexão e desporto. Também a televisão ou a máquina de lavar loiça o fazem. Ou por outra, não fazem, nós é que muitas vezes não sabemos ou não podemos aproveitar o tempo que ganhamos...
Pois é, /me,
aquilo que antes se conseguia de forma mais ou menos natural, só pode agora ser conseguido por muitos nós através de um esforço consciente. Não perdemos nenhuma idade de ouro. Apenas surgiram novas dificuldades e novas oportunidades, que temos de saber gerir.
Ou seja, a sobrevivência da espécie exige um salto evolutivo na nossa consciência?
Não me parece que a sobrevivencia da espécie esteja em causa:)
A nossa qualidade de vida, no sentido mais profundo da palavra, está.
A televisão só rouba tempo.
Não acrescenta.
On, às vezes exagero um bocadinho. :P
Olá ON,
Acho que percebo o que dizes.
Curiosamente, parece-me que, embora haja uma centralidade cultural do corpo (insisto!), isto näo significa uma melhor vivência pessoal da corporalidade. Basta pensar em todos os distúrbios psicológicos täo frequentes actualmente e que se centram, precisamente, na dificuldade de aceitar e assumir o corpo, como ele é. Säo doenças típicas do nosso tempo. Falo de anorexias, bulimias, vigorexias, problemas de auto-imagem, etc...etc...
Quanto ao que dizes da espiritualidade parece-me que as religiöes orientais sempre incluiram de uma forma mais positiva a corporalidade. O Ocidente prendeu-se a dualismos que estragaram tudo.
EStes temas merecem mais atençäo e cuidado do que os me posso permitir neste momento. Voltarei a eles, mesmo resmungando... :)
Manuel,
eu não estou a dizer que existe agora uma melhor vivencia pessoal da corporalidade. Estou a dizer precisamente o contrário.
Apresento é uma explicação para a degeneração presente das coisas que é diferente da habitual.
... E atribuo culpas á igreja por não estar a encontrar soluções para os novos problemas. O ritmo da mudança aumentou!
Não concordo com o uso da palavra "centralidade". Eu acho que há uma explosão fragmentada da presença do corpo. Podem haver algumas razões de natureza hedonistica por trás das mudanças. Mas isso não é o essencial.
olá!
gostei deste post e cá venho eu "pôr paninhos quentes":
- acho que é possível, nos dias que correm, levar uma vida equilibrada, de corpo e de espírito;
- para tal é preciso ter um SENTIDO para o fazer, um sentido a sério, não um sentido imediato, espontâneo, que produza felicidade rápida e fugaz;
- é preciso muito esforço, mas acho que é possível, desde que as motivações sejam grandes, desde que o objectivo seja tornar-me uma pessoa mais completa;
- "nem 8 nem 80", "o que é demais cheira mal", etc., são clichés que continuam a fazer sentido.
que acham?
ON, gostei muito da "explosão fragmentada da presença do corpo". Nem o Roland Barthes, nem o EPC se lembraram dessa!
:)
"há uma explosão fragmentada da presença do corpo".
Do corpo e de outras coisas. Uma das dificuldades de análise deste, como doutros temas, é a sua fragmentaçäo. Porque vivemos, precisamente, no tempo do fragmento. Rejeitam-se respostas globais, näo se buscam cosmovisöes, quando muito visöes ecléticas. A centralidade (cá volta a palavra) do indivíduo sobre o grupo dispensa os consensos e ajuda à relativizaçäo.
Neste contexto, claro que näo há uma centralidade clara de coisa nenhuma. Quando muito definem-se tendências. É aí que localizo a questäo que nos tem ocupado ultimamente.
Termino dizendo que estas tendências têm também, em meu entender, aspectos positivos importantes. A esses me referirei noutra ocasiäo.
Apenas para fazer alguns reparos:
- em termos de técnicas de consciencialização corporal, sem dúvida que temos muito a aprender com o Oriente; no entanto, em experiência contemplativa, o Ocidente também possui um grande tesouro.
- merecem destaque os métodos inacianos, pela forma como os jesuítas souberam lançar pontes com as sabedorias orientais; todavia, os métodos católicos da contemplação contam primariamente com a tradição beneditina (base da vida religiosa ocidental), com a tradição carmelitana (Teresa de Ávila e João da Cruz) e com a tradição cartuxana (herdeira dos padres do deserto).
- a diminuição da actividade física trouxe um maior conforto à nossa vida mas não necessariamente mais saúde. Não é por acaso que as ordens contemplativas mostram um saudável desprezo pelo conforto material e insistam tanto no valor do trabalho e da ocupação física. A contemplação tem de ser contrabalançada com a acção.
- também significativo é o valor que as ordens contemplativas dão ao contacto com a natureza, com a terra. A harmonia espiritual passa também por valorizar a nossa animalidade. Precisamos de ter contacto físico com a terra, com as árvores, com a água, com os outros animais. A vida citadina impede essa experiência corporal.
Esta da Civilização Oriental ser mais espiritual!
E a Igeja Católica ser o poço de todos os males!
Já foi a um acto religioso em Trás-os-Montes, no Ceará, em San Cristobal Verapaz,Cabo-Verde, en Chiapas, em La Antigua, em Las Flores,em S.Paulo de Luanda, em Boavista, em Maputo....?
Você ainda não percebeu nada a respeito de religiôes.
Cada uma são mil.
Vá ao cemitério de Curaçao aliás, Curação ( de curar)....
Para o on:
Quando atribuis tantas culpas à Igreja sobre a falta de soluções, estarás a ser justo? Não haverá, talvez, desconhecimento, da tua parte, daquilo que é a tradição da Igreja? Ou estarás à espera que a Igreja institua uma ditadura, de forma a obrigar toda a gente a adoptar uma vida saudável?...
Respondendo aos três ultimos comentarios:
O objectivo do post não era discorrer sobre as diversas formas de meditação. Para isso não chegava um livro. Nem estaria eu em condições de o escrever. O objectivo era analisar as causas e consequências da explosão da corporeidade referidas pelo Manuel.
Os metodos da meditação contemplativa não me parecem relevantes para esta questão.
Não estou a defender a diminuição da actividade física. Não estou a defender a vida citadina. Estou a constatar factos. Ocorreram mudanças na nossa sociedade que provocaram desiquilibrios. Se a igreja quer intervir na nossa sociedade e manter a sua relevancia deve encontrar soluções para esses desiquilibrios. Se não os propuser as pessoas vão procurar encontrar essas soluções noutro lado.
A igreja não tem de impor uma ditadura. Tem de propor soluções para estes novos problemas. Se as produziu, mostrem-mas...
Já agora vão ao Adro do Manuel e leiam A crise.
Carlos Indico, estarei eu a dizer que a igreja é a fonte de todos os males. Achas mesmo isso?
CI,no contexto deste post apenas me interessa o que se passa em Portugal e o que se possa trazer para cá que ajude a resolver os nossos problemas...
A ver se te percebo, on:
- Os métodos da meditação contemplativa não te parecem relevantes; mas és tu que falas da meditação zen...
- Não era teu objectivo discorrer sobre as diversas formas de meditação; mas és tu que destacas os jesuítas...
- Falavas dos desiquilíbrios gerados por uma vida sedentária e mais cómoda (o exemplo da caminhada versus carro é teu); mas quando se mencionam as intuições sobre vida saudável daqueles que vivem um aparente sedentarismo radical, não estás disposto a vê-las como soluções...
Afinal, em que ficamos?...
Os métodos da meditação contemplativa nõ me parecem relevantes para esta discussão, que em mais a ver com o corpo.
Falo dos jesuitas porque eles foram os unicos dentro da igreja catolica que se enteressaram por metodos que tem a ver com o corpo.
Acho optima a vida saudavel. Ir ao fim de semana passear à montanha...
As igrejas podiam organizar uns passeios:)
Mas é esse mesmo um dos problemas: rejeitar a contemplação em nome de um activismo corporal. Só que, sem contemplação, não há espiritualidade; e sem espiritualidade, o corpo é apenas algo de físico, de material, desumano.
Quando conheceres melhor o Anthony de Mello, perceberás melhor a importância da contemplação. Talvez quando leres o Sahdana...
Quanto às técnicas de consciencialização corporal, reitero o que tinha dito acima: nem por sombras os jesuítas são os únicos a interessar-se por elas. Sim, que o Oriente tem uma tradição mais desenvolvida nesse campo; sim, que os jesuítas, por força da sua acção missionária, souberam estabelecer pontos de contacto e captar muitas das riquezas das sabedorias orientais; mas basta ter um conhecimento mínimo das ordens contemplativas do Ocidente para ver como tais técnicas, mesmo que de forma mais rudimentar, são utilizadas há séculos e séculos. Um exemplo: o terço é de facto um mantra...
Caro anónimo,
sei perfeitamente que o terço é um mantra. É bom ouvir alguém provavelmente mais ligado à religião dizer tal coisa
(um pouco herético, ou talvez não?:)
Volto a repetir:
Não tem sentido fazer um post sobre um tema tão vasto como a meditação, nem seria eu a pessoa certa para tratar tal assunto.
Este post é apenas um afterthougth sobre o post do Manuel, mais nada.
É bom saber que há quem conheça o Padre Mello:)
Vou continuar a citá-lo.
Concordo com o que dizes: tb eu agora pago para fazer os km que deixei de andar a pé.
este quadro é maravilhoso ao vivo!
You have an outstanding good and well structured site. I enjoyed browsing through it botox injections treatment process and botox in testimonials on pt on seroquel withdrawal celebrex Celebrex coxibs cyclooxygnase vioxx Http fioricet online
Enviar um comentário