A banca cipriota é treze vezes maior do que o resto da economia. Ou seja, a economia real da ilha representa 7% da sua economia. Chama-se a isto viver no fio da navalha. Se os bancos cipriotas fizerem uma asneira, não há maneira de a economia cipriota resolver o problema.
O povo cipriota escolheu este caminho? Sabia dos perigos que estavam a correr? Não escolheu, mas sabia o que se estava a passar: o afluxo de dinheiro lavado e de dinheiro que não paga impostos deu aos cipriotas durante décadas uma vida bem mais confortável do que que eles poderiam esperar. Não existem almoços grátis... Nunca se perguntaram como era possível? Não havia lá nenhum Medina Carreira a avisá-los? Provavelmente até havia.
E agora? Se os cipriotas não são capazes de resolver o problema, quem tem obrigação de o resolver? É agradável imaginar que todas as pessoas, países e instituições possuem um anjo da guarda ou um pai que lhes resolve os problemas. No mínimo, podemos usá-lo como bode expiatório quando as coisas correm mal. A União Europeia tem a obrigação de pagar? Bem, tem alguma obrigação de ajudar...
A economia cipriota pode esperar que os outros paguem para resolver as complicações que eles arranjaram? Sendo a economia real 7%, onde é que se pode ir buscar o dinheiro?
Provavelmente não me apercebi de algum aspecto do problema. Agradeço qualquer esclarecimento que me possam prestar.
Chipre não é caso único. O Luxemburgo tem o nível de vida mais elevado da Europa. Em grande parte à custa do dinheiro que para lá fugiu para não pagar impostos, do dinheiro que por lá é lavado. O peso da banca na economia do Luxemburgo é dez vezes o da economia real, cem, mil?
Felizmente a Suiça não faz parte da União Europeia. Mas a Bélgica faz. Qual é a cota parte do sector financeiro no milagre económico belga? Os islandeses não gostaram nada da brincadeira que lhes aconteceu, mas beneficiaram durante décadas da sua banca sobredesenvolvida.
A senhora Tatcher livrou os ingleses das industrias antiquadas, criando o mito de que um país pode sobreviver à custa do sector de serviços. Estamos agora a ver como isso é verdade. A Inglaterra sobrevive à custa da dos bancos da City, o maior centro financeiro do mundo. Quando Bush resolveu atacar o Iraque, Tony Blair nem pestanejou. Seguiu todas as ordens de Bush, sabendo perfeitamente que estava a destruir a sua carreira e comprometer para sempre a sua reputação. A verdade é que meia dúzia de telefonemas de um presidente dos estados unidos podem destruir numa semana a City e arruinar a economia inglesa durante várias décadas. Nenhum inglês educado pode dizer em consciência que ignora este facto.
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