The Second Leg Down of America’s Death Spiral
The Wheels Are Coming Off in MBS Land: All 50 State AGs Join Probe; Banks Abandoning MERS Foreclosures.
AD
O meu desejo não é de todo o colapso dos EUA ou da Europa, que, maus que possam ser, são ainda do melhor que temos nesta esterqueira. Não vejo com bons olhos a mudança do primeiro plano para a China ou afins, e muito menos um colapso generalizado. Roma , sendo Roma, é melhor que a barbárie. Sou daqueles papalvos que acreditam na civilização ocidental e não quero ver as bibliotecas em ruínas (agora, a "city", ou Wall Street, can both cry me a river).
Seria até a favor dos bail-outs se achasse que funcionavam, injustos como são. Mas acho que não funcionam, e que aumentar a magnitude do colapso quando ele ocorrer. Parece-me que há um ciclo crescente: Quando o Long term capital management rebentou, disseram que tinha que ser salvo porque podia fazer ruir o sistema financeiro. O bail-out foi de 5 bilioes, ou algo assim, organizado por outras instituições financeiras. Sabendo o que sabemos hoje, dá para levar a sério que isso teria causado o tal colapso global? Ou que simplesmente serviu para salvar uns amigos que tinham que ser salvos?
Desde então temos progredido de bolha em bolha, de bail-out em bail-out, e os números e as instituições em risco, e o tamanho dos bail-outs só cresce. Desta vez mede-se nos triliões de dolares e é a economia mundial que está em risco. O que eu me pergunto é: não teriam as coisas sido diferentes se tivessemos deixado cair o LTC, ou se o Greenspan não tivesse "salvo" a economia após cada bolha? O LTC - um único fundo! - era "too big to fail", diziam. Depois a AIG era "too big to fail" (pergunto-me, se ser "too big" é argumento, porque é que não salvaram o fundo do Madoff), agora, claro, a economia toda é too big to fail, e para salvá-la empenhámos o Estado. Mas o Estado, que é too big to fail, já só pode ser salvo por fundos globais. Será o FMI too big to fail? Estamos nas ultimas décadas na situação de um tipo que tem gangrena num dedo e que não o corta porque não aceita a perda; mas agora a gangrena já vai no pescoço, e chegamos ao ponto em que cortar já nem é uma opção.
Não existia nada "too big to fail". Isso não é compatível com o capitalismo. O que havia era instituições à frente das quais estavam pessoas com amigos nos lugares certos. O que havia era interesses que não podiam ser lesados, e para os salvar alastrou-se o dano exponencialmente, porque o estado inteiro tem que cair antes que os seus donos possam descer dos seus poleiros. Num sistema capitalista os incompetentes teriam falido antes de serem too big to fail, e os mais capazes teriam tomado o seu lugar. Em vez disso temos o Estado a pagar para perpetuar como lideres de mercado os falhados do mesmo.
Se acham que estou a dramatizar com "as bibliotecas em ruínas", vejam o que se passa no Reino Unido. Redução de 80% nos fundos para o ensino superior. Todo o género de cursos a fechar, e investigadores em migração. Estamos a falar do Reino Unido, a perda de património intelectual é catastrófica. Que miserável estado de coisas quando a maralha da city for too big to fail e o Queens College for um luxo descartável. Confesso que sempre que passei pela City e vi a maralhada pedante sempre apressada nos seus fatinhos (ou, mais terra a terra, certos putos pedantes do ISCTE que se acham sumidades mas não conseguem sequer fazer as suas somas na cadeira de contabilidade) sentia-me no meio de um daqueles filmes de zombies que estão a voltar à moda. Agora já sei porquê. Aquela gula toda tinha que acabar em mastigação de cérebros.
A.
A.
13 comentários:
Transformei em post os comentários do A e do AD. Só juntei o título.
Outro dia vi um 60 minutes. Nos EUA muitas famílias descobrem que são os felizes possuidores de um apartamento que vale bem menos do que aquilo que eles devem ao banco. O entrevistador questionava a moralidade das pessoas que nesta situação resolviam entregar a casa ao banco.
Alguns iam mais longe e paravam de pagar a hipoteca, ficando a viver à borla até ao dia em que o tribunal os punha da casa para fora. Algumas dessas pessoas até tinham dinheiro para pagar a hipoteca.
Vamos lá a ver: uma empresa tem lucro, pode continuar a pagar a um trabalhador. Descobre que se o despedir, ganha mais dinheiro. Nem hesita. Só tem de respeitar a lei, não é?
Então porque é que...?
Uma das razões para a vaga de falências que parece que aí vem é a nova atitude dos seus cidadãos referida no comentário acima. Ou seja, a vingança é um prato que se serve frio...
ON: Se não se tratasse de meros servos, dir-se-ia simplesmente que estavam a agir como "agentes racionais". Aliás, se fossem donos de companhias e não agissem assim seriam processados por não defender os interesses dos accionistas. Mas para os servos existe uma regra chamada "moral", cujo propósito é fazer com que os servos nunca possam ganhar o jogo.
Acerca do outro comentário, faço notar que não estou a brincar acerca do Madoff. Estima-se actualmente que se perderam 20 bilioes de dolares, que afectaram gravemente várias instituições importantes. Ora com o Long term capital management o rombo era de apenas 5 bilioes. Sendo assim porque é que se salvou um e não o outro? Ainda para mais, a estimativa inicial para o Madoff era de 50 biliões, portanto uma ordem de grandeza acima do LTC. Não vale dizer que não se pode salvar ponzis, em primeiro lugar porque se a questão é ser "too big to fail" então não interessa a natureza do negócio, tem que ser salvo sempre nem que seja para proceder a um desmantelamento ordeiro; e em segundo lugar, porque a história do imobiliário também era um ponzi. Faço notar ainda que a queda do Madoff não deitou nenhum mundo abaixo.
É preciso escolher se certas firmas são "too big to fail" ou não. Se não são então não devem receber bail-outs. Se são então podem ser salvas mas logo depois têm que ser desmanteladas. O motivo é simples: um agente que não pode falhar não pode existir num sistema capitalista sem o contradizer. Se o agente sabe que será salvo então a unica acção racional desse agente é optimizar os seus ganhos ignorando o risco de ruina, o que aumenta os seus ganhos durante algum tempo mas assegura a sua queda eventual no caso de uma flutuação inesperada (foi isto que aconteceu, aliás). Sendo assim é inevitável que ele falhe e que seja salvo. Isso ou arruina o estado que o tem que salvar ou então perpetua essa companhia num lugar inassaltável pelos competidores (que enfrentam o risco de ruína e portanto não podem optimizar tanto os ganhos), e ambas as opções são incompatíveis ou com a sobrevivência do sistema capitalista ou com a sua manutenção como tal (pois com lugares assegurados não existe mercado livre). Proponho portanto que todas as companhias que foram salvas por bail-outs sejam imediatamente dissolvidas (ordeiramente, claro, e com a perda do capital dos acionistas). É apenas razoável, para o bem da economia.
A.
A.,
Pelas tuas referências ao Ancien Régime era claro que o teu desejo se referia aos bancos e concordo com ele, era o que era moralmente correcto: cada um colhe o que semeia. A partir do momento em que os bancos se acham na posição de que a moral é só para os outros, é justo que os servos pagam na mesma moeda com defaults estratégicos ou não pagando. Não é só vir ensinar que não podem ter o bolo e comê-lo ao mesmo tempo.
Quanto aos EUA, diria que o destino já está traçado: o dólar deve ser a próxima moeda fiduciária a convergir para o seu valor intrínseco a la Voltaire. É o preço a pagar por ser a divisa de referência: a acumulação deste desde Bretton Woods I (1944) e devolução da agora principal exportação dos EUA tornada a batata quente devido á perda de confiança na economia americana, conforme profetizado por Triffin.
É caso para dizer: cuidado com o que desejas, pois pode se concretizar. A lição da divisa de referência foi bem aprendida por todos os governantes e estamos numa guerra cambial, onde nas últimas semanas 25 países desvalorizaram sucessivamente as suas moedas e onde a reunião do FMI o fim de semana passado para a solucionar se saldou numa boa demanda. Provavelmente a solução passará pela cisão das duas funções da moeda (suporte de poupança e meio de transacção) em duas moedas distintas: uma para poupar a outra para transaccionar. Com a progressiva irrelevância do FMI, que agora tem a concorrência do "FME" ("Fundo Monetário Europeu") e do "FMA" ("Fundo Monetário Asiático"), onde estes dois últimos blocos se mostram pouco interessados em se submeter ao FMI, deverá ser o ouro a emergir como a moeda de poupança, flutuando sobre as divisas nacionais.
A., dizem as más línguas que o LTCM era diferente pois estava curto em 400 toneladas de ouro e pouco tempo depois a Inglaterra vendeu o ouro da coroa.
Quanto a "Roma, sendo Roma, é melhor que a barbárie", no final os seus cidadãos não viam isso dessa maneira, chegaram a vender-se como escravos (os escravos não pagavam impostos) tal era a carga fiscal a que os cidadãos comuns estavam sujeitos e acolheram os bárbaros de braços abertos como os salvadores da triste situação em que se encontravam (cf. How Excessive Government Killed Ancient Rome), não muito diferente da queda de Bizâncio 1000 anos depois.
AD,
a esse propósito:
http://economistsview.typepad.com/timduy/2010/10/the-final-end-of-bretton-woods-2.html
É engraçado que há já uns anos que no nosso pequeno "clube" de curiosos discutia de vez em quando essa tese (da minha parte tinha-a lido pela primeira vez num livro do
James Dines) e de vez em quando falávamos sobre comprar algum ouro como hedging para a "coming currency war". Nunca o fiz e agora também não é relevante porque a minha meia dúzia de tostões já tem para onde ir. Mas um de nós, mais capitalizado e previdente, tem estado a cavalgar a uptrend alegremente. É fantástico ver tudo isto a acontecer de facto, e o passo a acelerar. Work those printing presses 'till we run out of trees.
É curioso como a todos os níveis estamos a ficar mais pobres este ano. Soube agora que o Benoit Mandlebrot morreu esta semana, ele que tinha durante tanto tempo criticado as famosas análises de risco praticadas pelos especialistas sérios, como aqueles senhores Nobel que estavam à frente do LTCM.
O Mandlebrot era muito criticado por frequentemente conjecturar mas não provar resultados, ou muitas vezes nem sequer definir bem os conceitos mas apenas observar as propriedades de objectos interessantes. Mas a verdade é que a necessidade de provar teoremas - porque só assim se progride na carreira - leva muitas vezes a que se abandonem os problemas reais ou interessantes em prol daqueles que se sabe resolver (já para não falar de um certo prazer por tudo o que seja aborrecido e uma desconfiança pelo que excita a curiosidade natural). É um caso de procurar debaixo do candeeiro porque lá se vê melhor. Isso resultou numa data de especialistas em cavalos esféricos a tentar prever o resultado de corridas a sério, e foi um dos motivos deste triste resultado. O Benoit parte, não sei se feliz, mas claramente vingado.
>chegaram a vender-se como escravos
...e antes deles os Gregos. Mas há tanta coisa a perder, e podíamos estar a ir tão longe, há uns anos íamos à Lua, agora salivamos como imbecis pelos iphones, daqui a pouco ficamos pelas batatas? How low can we go?
E por hoje já chega de deprimências. Dormir ainda é de graça.
A.
Isto leva-nos à questão: para que serve escrever os vossos comentários?
- Dá uma certa satisfação intelectual.
Sempre gostei de uma boa conversa.
- Dá para as difundir a meia dúzia de pessoas. Algo sem dúvida relevante.
Agora, vai mudar alguma coisa? Nem por isso. Enquanto o número de pessoas que consegue entender mais ou menso este discuso andar pelos 10%-15% da população, nada mudará.
A grande vantagem de ter uma população mais culta não é aumentar a produtividade mas diminuir a tolerância à correupção.
Cada pessoa que acaba uma licenciatura passa a fazer parte do clube? Infelizmente, não.
ON,
não tenho ideias megalómanas que possa salvar ou mudar o mundo, não obstante essa meia dúzia de pessoas poder assim tomar decisões racionais / informadas. Colectivamente não há salvação para o fim do dividendo demográffico aliado à dissipação dos efeitos da entrada das mulheres no mercado de trabalho.
ON, sou mais optimista, quando 10% - 15% da população compreender este discurso, já tudo terá mudado, não tanto pelo seu voto, mas sim pelos seus actos: An Open Letter to the Millennials/Gen-Y: Where Are You?
Já o Peak Oil não será só um problema, mas também a nossa salvação (nem que para isso as pessoas tenham primeiro de passar umas noites frias de inverno sem aquecimento e sem luz, até que tomem as decisões correctas) pois funcionará como uma tarifa sobre a importação de productos da China, acabando com os incentivos económicos que levaram as multinacionais a exportar os seus postos de trabalho para a Ásia.
Eu não diria que seja optimismo: não sei se é mais fácil arranjar 15% de pessoas que percebam estas coisas do que 50% que desmontem as aldrabices do políticos:)
Sobre o que a população conhece ou desconhece de finanças, saiu um estudo pago pelo Banco de Portugal.
Que mostra que a população nem sequer distingue os algarismos uns dos outros, quanto mais fazer contas...
All you need to know about the bail out in a single headline:
"Companies that received bailout money giving generously to candidates"
O artigo em si é supérfulo:
http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2010/10/24/AR2010102401561.html
A.
Tinha saudades de ler este blog... :)
Muito bem escrito.
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