sexta-feira, junho 24

A luta de classes


Um pequeno grupo social controla os meios de produção e explora “os outros”.

Marx fala em controlar ou deter a propriedade? Nem fui verificar. Se no passado controlar e deter eram equivalentes, deixaram de o ser. Os accionistas de uma empresa dificilmente dão ordens ao CEO. O management da empresa acaba por absorver uma parte dos lucros que é comparável, ou superior à que acaba por chegar aos accionistas. Os nossos líderes políticos atribuem impunemente de um dia para o outro vários pontos percentuais do PIB aos credores do BPN. Afinal, toda a gente faz isso um pouco por todo o lado.

Finalmente, a coberto das antigas leis contra os exploradores, os pilotos da TAP arriscam a sobrevivência da companhia para sacar mais meia dúzia de privilégios e manter os antigos. Contra a opinião dos outros trabalhadores. Com o apoio dos muitos que ainda não perceberam que eles estão do outro lado da barricada. Será a atitude da Ryanair tão execravel assim?

23 comentários:

Carlos Albuquerque disse...

De que lado estão os gestores da Ryanair que tomam esta atitude?

on disse...

Hmmmm, responder com perguntas...
Eu acho que eles são uns tipos espertos que defendem os seus interesses egoistas. Acho que quem prejudica alguém objectivamente foi o pessoal de bordo. Achas que 1800 funcionários da Tap assinaram um papel porque os patrões mandaram?

Carlos Albuquerque disse...

"Eu acho que eles são uns tipos espertos que defendem os seus interesses egoistas."

Pois. Também o pessoal de bordo. E os gestores da Ryanair também vão prejudicar muita gente. A diferença é que possivelmente é de forma indirecta e diferida no tempo.

Hoje achamos bem a requisição civil na TAP porque achamos injustificada, amanhã somos nós que temos uma razão séria para fazer greve e entretanto alguém mudou a lei.

Finalmente, estive a rever as notícias: a petição não tem nada a ver com trabalhadores da TAP.

Anónimo disse...

OK. Não muda o essencial.
Eu acho que o pessoal de voo controla os meios de produção da mesma forma que os gestores controlam as empresas. São o inimigo.
A solução não seria a requisição civil mas sim uma mudança na lei da greve. Uma greve necessita do acordo de 20% dos trabalhadores.
Lá se ia a greve dos maquinistas...

on

Carlos Albuquerque disse...

O que me surpreende é a facilidade com que propões uma alteração da lei, apenas com base num caso muito específico, sem uma análise alargada dos possíveis impactos. Nem chego a perceber quem é que queres defender do quê.

Anónimo disse...

Carlos, há aqui uma (habitual) diferença de atitude que complica a comunicação.
Eu estou preocupado com ideias e os factos são meras ilustrações. Tu fazes o oposto.
Para começar, concordas ao não que a luta de classes faz sentido da maneira como eu a ponho?
O resto, logo se vê...

Carlos Albuquerque disse...

"Para começar, concordas ao não que a luta de classes faz sentido da maneira como eu a ponho?"

Bem, nem por isso. Que tem controle sobre um meio de produção qualquer vai tentar aproveitá-lo ao máximo em seu proveito. Mas isso não me parece que configure uma "luta de classes". Em média todos o fazem, em maior ou menor grau, desde que possam. Isto sem distinção de classes.

Anónimo disse...

Claro!
E é isso que precisa de ser controlado!
logo faz sentido controlar os pilotos e os maquinistas...
Os outros trabalhadores tem uma capacidade de controle infinitamente menor.

Eu trabalho com base em intuições, informação incompleta. Tu queres os dados todos. Às vezes só os temos tarde demais.

Olha como eu funcionei razoavelmente bem com poucos dados em relação ao MEP:)

Carlos Albuquerque disse...

On

Na sociedade portuguesa actual, ocorrem-me dúzias de situações bem mais graves em que é necessário controlar quem tem controle sobre meios de produção.

Em segundo lugar há um risco enorme de, ao controlares as poucas situações em que os trabalhadores têm um controlo efectivo dos meios de produção, aumentares ainda mais o controlo que proprietários e gestores já têm sobre todas as outras empresas.

Anónimo disse...

Tu estás a pensar na acção imediata, eu estou a discutir a teoria. Antes de começar uma discussão temos de esclarecer estas questões basicas:)
Podemos discutir a teoria por um momento, ou isso não te interessa?

A acção imediata é que é importante? Mas nós estamos tão longe dela...

Carlos Albuquerque disse...

"Podemos discutir a teoria por um momento"

OK. Mas então qual é a teoria?

Anónimo disse...

A ideia está expressa de uma forma concreta, como eu acho que se deve expressar algo vagamente "em construção".

1. Quem domina a nossa sociedade e consegue apropriar-se de uma parte cada vez maior da riqueza são os grupos que controlam os meios de produção e os fluxos de informação.

2. Pode-se controlar sem deter a propriedade e deter a propriedade sem controlar.

Quem controla sem deter? Higher management de uma empresa sem shareholders individuais maioritários, membros do governo/deputados, pessoal de voo das companhias de aviação, a Ophra.

3. Actualmente há cada vez menos exemplos de controle a 100%. Há um controle soft, que funciona de forma intermitente. De um momento para o outro alguns controladores deixam de o ser. No entanto o esquema é suficientemente eficaz para permitir o desvio de quantidades gigantescas de riqueza.

4. As nossas estratégias de luta devem ser revistas tendo em conta os pontos anteriores.

Carlos Albuquerque disse...

Os pontos 1 a 3 não me levantam grandes objecções.

O ponto 4 é que me parece que precisa de ser desenvolvido: estamos a lutar? com quem? com que objectivos?

Anónimo disse...

Bem, o que é que andamos a fazer na net com os blogs e tal? Não andamos a lutar por um Portugal melhor? Para que é que tu entraste para um partido? Não foi para lutar?

on

Orlando disse...

PS: Uma ida à praia lembrou-me um seminário a que fui outro dia. Disseram que depois de a onda rebentar a equação das ondas já não descreve o fenómeno. OK, mas deve haver uma amneira de o descrever! Tu percebes disto, não é?

Carlos Albuquerque disse...

Bem, se se trata de chegar a uma sociedade melhor em Portugal, talvez devamos começar um pouco mais atrás. Isto é: o que é que gostaríamos que fosse a sociedade e o que é que é possível fazer por uma sociedade.

Isto porque ainda que saibamos onde queremos chegar, pode não existir nenhuma maneira de mudarmos de onde estamos para chegarmos onde queremos.

Se introduzirmos a restrição de respeitarmos a democracia e os direitos humanos reduzimos ainda mais a nossa possibilidade de controlar a sociedade.

Em contrapartida poderemos apostar na reflexão e no poder da difusão das ideias, o que melhora ligeiramente a possibilidade de mudar algo.

Anónimo disse...

Começar por discutir a sociedade que queremos parece boa ideia, mas acaba por levar a divisões que podem ser inultrapassaveis. Parece-me mais facil chegar a um acordo sobre aquil que não queremos para a nossa sociedade. Por exemplo, queremos minimizar a cleptocracia.

"poderemos apostar na reflexão e no poder da difusão das ideias"

é o que estamos a fazer...

Carlos Albuquerque disse...

Poderemos chegar a acordo sobre o que não queremos, mas receio que assim não cheguemos a lado nenhum.

É que não basta definir o que se quer ou o que não se quer. É preciso saber se isso é possível e definir um caminho até lá.

Além disso, partindo do princípio que os fins não justificam os meios, ainda é preciso saber se aceitamos os meios disponíveis para chegar a um fim.

Anónimo disse...

Pois... continuas a pensar na RyanAir e na minha opinião sobre a greve da Tap. Temos de continuar isto ao vivo, um dia destes...

Anónimo disse...

On

A actualidade anda demasiado boa para não postares nada.
Sara

Anónimo disse...

Era uma pergunta.
Sara

on disse...

Olá Sara, muito, muito trabalho...
Vou ver se este fim de semana escrvo alguma coisa...

on disse...

Muito trabalho, Sara.
Vou ver se este fim de semana consigo escrever alguma coisa...