quarta-feira, dezembro 9

O argumento de Pascal

Foram propostas muitas provas da existência de Deus. Blaise Pascal propôs uma das mais originais, de natureza probabilistica: Que perdemos se acreditarmos em Deus, e Deus não existir? Nada! Que perdemos se não acreditarmos e ele existir? Tudo! Na dúvida, é mais seguro acreditar em Deus.
Rui Tavares repetiu o argumento de Pascal a propósito da questão das mudanças climáticas. Reconhece que há dúvidas sobre a sua existência, ou sobre o facto de serem provocadas pela industrialização. Que perdemos se os críticos tiverem razão? Nada! Se eles estiverem errados? Tudo! Será mesmo assim? Nem pouco mais ou menos. Rui Tavares comete o erro de confundir as mudanças provocadas pelo clima com o problema global do ambiente. Se quase todos os nosso recursos forem usados para resolver um pseudo problema, como vamos resolver todos os outros problemas do ambiente: chuvas ácidas, poluição das águas, acumulação de lixo e metais pesados nos ocenos, destruição das florestas equatoriais. Precisamos simultaneamente de mais recursos e de restringir o crescimento. Escolher a frente de combate errada é um erro que não nos podemos dar ao luxo de cometer.
Rui Tavares dia também que os cientistas acreditam na realidade do aquecimento global e quem se opõe são os leigos. Está mal informado. Há muita gente a tentar-nos convencer disso. Há mecanismos que contribuem para que muitos cientistas se calem. Há muitas verbas para investigar o aquecimento global. Quem falar publicamente contra fica excluido dessas verbas. Isso vai afectar a carreira do whistleblower e dos seus colaboradores. Os cientistas não são nem mais nem menos corajosos do que as outras pessoas. Não é por acaso que a pessoa que mais tem falado sobre o assunto em Portugal, o Professor Delgado Domingues, é reformado.
Não era sobre estes temas que eu gostava de estar a escrever, acreditem.

5 comentários:

Anónimo disse...

novo email revelado (este é que rebenta mesmo com tudo):

http://www.telegraph.co.uk/news/matt/?cartoon=6737442&cc=6695729

omwo

on disse...

Swine flu less lethal then expected:

http://www.guardian.co.uk/world/2009/dec/10/swine-flu-pandemic-less-lethal

Anónimo disse...

Nao se trata somente de gastarmos recursos, é mais grave que isso.

O problema do argumento de Pascal está na modelação. Assume implicitamente que só existem duas hipóteses. Quando colocas uma terceira (digamos, 1) O Deus Cristão existe, 2) O Deus Cristão não existe, 3) Deus existe mas não é o Deus Cristão e as suas exigências são as opostas desse) ou outras ainda, com as devidas recompensas/castigos em caso de escolheres a certa, a aposta ja nao funciona. E como o Deus do Pascal é só uma de entre um infinito numero de hipoteses fantasiosas poissiveis e mutuamente contraditórias, e como estas todas acarretam custos e se cancelam em termos de beneficios (porque nao sabes qual é a certa) então a unica boa aposta é jogar pelos observaveis. Essa é aliás a justificação para não seguir fantasias religiosas.

A hipotese do aquecimento global tem que ser justificada pelos factos antes de ser seguida, pelo mesmo motivo. Afinal de contas ha outro cenarios possivies, por exemplo o arrefecimento global. Imagina que o CO2 que produzimos está na verdade a impedir uma idade do gelo. Então é essencial emitir mais, ou pelo menos nao parar de emitir. O que é ou não poluição depende do que for a resposta certa. Não estamos de todo num caso em que a aposta de Pascal seja util. Quem tem o onus da prova é quem faz a proposta do cenario. Até a evidencia ser convincente não se deve agir só porque as consequencias previstas por um cenario nao demonstrado sao assustadoras. Ou entao teriamos que agir contraditoriamente para lidar com todos os cenarios catastroficos possiveis.

O argumento de Pascal ja devia ter sido re-baptizado de a falácia de Pascal ha muito tempo.

omwo

Diogo disse...

Então On? Já está convencido?

Anónimo disse...

Do quê?