Da outra vez que o Sir Michael veio a Lisboa, fiquei impressionado com a sua energia extraordinária. Chegou de manhã, deu um seminário, falou com toda a gente que tinha alguma coisa para dizer. Continuou a falar a uma velocidade louca durante todo o jantar, sem se preocupar com as horas. No dia seguinte tinha um avião para apanhar às sete da manhã, onde um dia ainda mais agitado o esperava em Barcelona. O conteúdo científico de seminário não me ficou na memória. Afinal o Athiyah tinha setenta anos e a Matemática é suposta ser um young man's game.
Fui até à Gulbenkian sem grandes expectativas. Aos 82 anos o Athiyah passou a falar à velocidade de uma pessoa normal. O seu seminário, esse não tinha nada de normal. Deu uma das palestras mais loucas e belas a que assisti em toda a minha vida. O homem quer asssociar a cada particula elementar uma variedade de dimensão quatro e por as ideias do Donaldson a render. As partículas de carga nula são variedades compactas. As ideias são tão belas e complexas que é difícil não ficar entusiasmado. O objectivo: refundar a Física Nuclear. Compreender a fissão e (suponho eu) a fusão nuclear. Trata-se de um tema tabu falar na fusão, mas não acredito que ele não sonhe com isso.
Está claro que no fim foi bombardeado pelos físicos: então e os quarks? e o neutrino? Ele tinha resposta para quase tudo. Só o Tom Girard é que conseguiu marcar um ponto quando levou o Athiyah a reconhecer que ainda não sabia muito bem que fazer com o fotão, embora tenha apresentado boas razões para que essa seja a última peça do puzzle.
Caramba, o homem ainda nem publicou o primeiro artigo. O mais impressionante é ver um gajo de 82 a falar de um projecto para vinte anos (a primeira fase!) com a energia de um pos-doc. Não é caso único: este ano vou à conferência dos oitenta anos do Hironaka, que continua a correr atrás do teorema de resolução de singularidades em caracteristica positiva com se de tal necessitasse para obter a tenure.
Velhos são os trapos!