quinta-feira, julho 24
segunda-feira, julho 21
Cortar o melao em fatias
Sempre acreditei que a melhor estratégia para resolver um problema é parti-lo em vários. Uma variante consiste em substitui-lo por um mais facil, mas que tenha algo a ver com o outro. Funciona sempre, para resolver um problema de matemática, para aprender a fazer um salto mortal ou para ... o que quiserem. Desde que o nosso engenho e arte saiba por onde meter a faca.
Até que se me deparou o seguinte problema. O sr. Hermenegildo zangou-se com o filho há muitos anos. Quer reatar relaçoes com ele. É o que mais quer na vida. A prima Hermengarda, sempre conciliadora, arranjou-lhe o número do telemovel. O Hermenegildo sabe que o filho tem bom feitio. Vai receber bem o seu telefonema. Só falta engolir aquele orgulho absurdo que o sufoca e ser capaz de marcar o número. Ele nem consegue levantar o auscultador. Também nao pode ligar ao filho num estado alterado. Aí o seu orgulho acabaria por traí-lo.
Como é que se corta este melao em fatias?
sexta-feira, julho 18
quinta-feira, julho 17
O avião
Depois de mil peripécias, que maravilha é fazer o check-in. O avião não parte sem nós, agora que já lá estão as nossas bagagens. Podemos passear calmamente pelas free-shops, sabendo que nos esperam umas horas de volta ao útero materno. Que maravilha voltar a ser irresponsável e inimputável. Se o avião cair, não é por minha culpa. Trazem-me a comidinha ao lugar com um sorriso. Só falta meterem-na na minha boca. Mas ainda era bem melhor nos bons velhos tempos em que não havia linhas low cost onde se tem de pagar a sandes. Nem comissários de bordo.
É claro que há os outros, aqueles que não gostam de abdicar da ilusão de controlarem as suas vidas. Os que dizem que têm medo de andar de avião.
É claro que há os outros, aqueles que não gostam de abdicar da ilusão de controlarem as suas vidas. Os que dizem que têm medo de andar de avião.
sexta-feira, julho 11
A Rainha de Copas
Crescer ao princípio é facil. É a biologia que nos lança desafios todos os dias. Aprender a andar, a falar, a namorar. Enquanto nós nao atingimos um dominio razoavel, embora ilusório, das forças da natureza, os desafios da biologia continuavam sempre: sobreviver aos animais que nos podiam caçar, às secas que nos podiam matar à fome, aos outros humanos que nos queriam escravizar. Até que um frigorífico cheio e uma conta bancária nos permitiram o luxo de vegetar em frente à televisao.
Quando a biologia deixa de nos obrigar a crescer, sociedade toma conta desse trabalho. O emprego, o doutoramento, a tropa. Até que chega o dia em que só continuamos a crescer se nos dermos a esse trabalho. Podemos increver-nos num curso de pintura (funciona por uns meses), fazer psicanalise (talvez funcione por uns anos) ou fazer paraquedismo.
Quando a biologia deixa de nos obrigar a crescer, sociedade toma conta desse trabalho. O emprego, o doutoramento, a tropa. Até que chega o dia em que só continuamos a crescer se nos dermos a esse trabalho. Podemos increver-nos num curso de pintura (funciona por uns meses), fazer psicanalise (talvez funcione por uns anos) ou fazer paraquedismo.
Pois, mas porque é que nos havemos de dar a esse trabalho? A verdade é que a alternativa ao crescimento nao é o nao crescimento, é começar a definhar. A vida é um grande funil. Por muito sucesso que tenhamos o número de possibilidades em aberto tem tendencia para decrescer. Deixamos de poder vir a ser ginastas de competiçao, jogadores de futebol, engenheiros, treinadores de futebol. Porque somos outras coisas, claro. Ter dinheiro para descer o elevador, entrar no automovel e larga-lo no estacionamento do nosso trabalho também significa que cada vez vemos menos pessoas que pensam de outra maneira e têm outros problemas. O tipo de movimentos que fazemos vai sendo também cada vez menor. As celulas do nosso cerebro que vao morrendo nao sao um grande problema. Bem pior sao as sinapses que se perdem por deixarem de ser usadas, e as poucas novas que sao criadas. É aí que começamos a definhar. Mesmo que ao principio nao se veja nada por fora. Somos como a rainha de copas: temos de correr muito, mesmo que seja só para ficar no mesmo sítio...
quinta-feira, julho 10
segunda-feira, julho 7
Crescer
Recuso-me a tal coisa! As jeans de quando andava no liceu ainda me servem. Ou ainda continuo a aguentar-me ao lado dos miudos no ginásio. Ou pelo menos o meu carro anda mais do que o teu. Crescer identifica-se a cair nas armadilhas em que caíram os nossos pais. A começar a ficar igualzinho ao pior lado deles. A envelhecer.
A estratégia da negaçao nao se aguenta por muito tempo. Que tal reinventar a palavra? Afinal crescer nao tem nada a ver com aquelas cicatrizes que às vezes a vida nos inflige e nos torna um pouquinho mais amargos. Cresecer afinal é bom. É saber mais. O suficiente para cair nas armadilhas em que caíamos a década passada. Mas será que aquelas em que caímos agora sao assim tao diferentes?
E afinal, qual foi a última vez que alguma coisa mudou em nós? Para melhor.
domingo, julho 6
If You Meet the Buddha on the Road, Kill Him!
Um excelente livro sobre crescimento pessoal. Para quem estiver interessado. Nem sequer tem muito a ver com psicoterapia.
sábado, julho 5
Crescer
Como é que a nossa vida cresce? Como é que se mede esse crescimento? Pergunta a Sofia. Será que nós crescemos? Claro que sim, até ao fim da adolescência. Depois, a maior parte do tempo, só envelhecemos. Porque desistimos de crescer. Durante alguns anos podemos distrair-nos vendo os nossos rebentos crescer. Julgamos que crescemos como eles. Mas esse é o tipo de crescimento que compartilhamos com os vegetais.
Medir aquilo que crescemos ao longo da vida adulta é muito facil. Bastam os dedos de uma mao. Nem sequer é obvio que vamos precisar de todos os dedos.
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