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terça-feira, setembro 15

O dever cívico

Suponhamos que era nosso dever cívico votar. Então tínhamos direito a exprimir a nossa opinião. Podíamos votar negro, o voto dos que não se sentem representados. O voto branco? Nada distingue quem vota em branco de quem coloca o cruzinha fora do sítio por displicencia ou imbecilidade. É claro que nenhum político quer que o eleitor possa manifestar-se contra o sistema. Os políticos formam uma casta mais ou menos fechada. A sua alternância e eventual sacrifício de um dos seus membros pouco mais é do que a ilusão que mantem a casta no poder.
À falta de melhor, esqueçamos a treta do dever cívico: o voto é um direito lúdico. Por exemplo: imaginem qual foi o prazer que me deu ver a cara do João Soares quando eu votei no Santana Lopes. O homem bem se queixou dos votos da esquerda que foram indevidamente parar ao Santana. Seria meu dever cívico votar nele? É verdade que eu não podia sonhar quanto é que me custaria a brincadeira. Como também não sei qual seria a conta que o João me apresentaria, mais vale lembrar-me que o consulado do Santana foi o mais divertido de sempre.
Azar, azar é a Manuela não ter graça nenhuma. Mas a cara do Pedro quinze dias depois, sempre pode equilibrar as coisas. Votar é um assunto sério? Votei no Socrates para tirar o país da bancarrota. Para depois ele nos endividar outra vez com aeroportos, TGV's para o Porto, BPN's e BPP's, rebentar com a educação e com a justiça. Não vale a pena chorar. As coisas sempre foram mais ou menos assim, e lá temos sobrevivido. Na dúvida, mais vale rir.

domingo, agosto 17

Mais do que compreender o mundo, é preciso transformá-lo?

Ron Suskind escreveu The Price of loyalty, a biografia de Paul O'Neill, secretário do tesouro durante a primeira administração de George W. Bush. Entre outras coisas, apresentou provas de que Bush tinha planeado a invasão do Iraque em janeiro de 2001. A Casa Branca não gostou. Uns anos depois descreveu na New York Times Review uma conversa que teve com um alto colaborador de Bush, provavelmente Karl Rove. Disse-lhe esse senhor que individuos como Ron pertenciam àquilo a que ele chama uma comunidade baseada na realidade. Pessoas que acreditam que as soluções dos problemas surgem a partir de um estudo judicioso da realidade discernível.
Suskind concordou.
O tal senhor explicou-lhe que já não é assim que o mundo funciona. Agora somos um império e quando actuamos criamos a nossa própria realidade. Enquanto você estuda essa realidade - judiciosamente - nós agiremos de novo, criando novas realidades, as quais você terá de estudar de novo. Nós somos os actores da história ... e vocês, a todos vocês caberá apenas estudar o que nós fazemos.
Parece que o tal senhor tinha uma visão incompleta acerca do funcionamento do mundo. Como entretanto se provou.
Temos aqui um exemplo particularmente explícito acerca de duas visões do mundo. Alguns procuram começar por o compreender, outros preferem a acção. Mas à misturas interessantes: Karl Marx, que passou a vida a contemplá-lo, escreveu a frase que aparece no título deste post. Sem ponto de interrogação, claro. Karl Rove e George W. Bush estão de acordo, mas acham mais facil manipulá-lo. Será esta atitude um exclusivo da direita? Olhem que não, olhem que não. Mas isso fica para uma próxima oportunidade.

terça-feira, junho 10

O dia da Raça

Senhor Presidente, o que é que isso quer dizer?

Já agora, ouviu aquele senhor que diz que Viana do Castelo não se pode comparar a Viana do Alentejo, mas tão só a Viena de Austria?
e que lembrou que el rei fulano de tal dormiu uma vez lá na terra? e que repetiu esse tipo de idiotices durante vários minutos?
O que é que ele estava lá a fazer?

Ahhh...
E é assim que vai aproximar os jovens da política?

domingo, junho 1

Parabéns Manuela!

Quando eu era miúdo não seriam de esperar grandes proezas atléticas de alguém acima dos quarenta. Em compensação um político só podia ter aspirações sérias a partir dos cinquentas. A televisão quer pôr todos aqueles que não são modelos fora da ribalta. Afinal não é assim tão poderosa. Agora temos uma avó com a idade de Harrison Ford a liderar um partido político.
O grande problema da deslocação de apoiantes do PS para o Bloco de Esquerda é o espectro da renovação do Bloco Central. Com a MFL o problema é um pouco (só um pouco) menos grave.

terça-feira, maio 13

Nota para o dia das eleições

As regras são para os outros...
Mais um ponta do iceberg. Por isso mesmo, não posso deixar que o Socrates tenha maioria absoluta pró ano.
Votar em quem? Talvez bloco de esquerda, se não estiverem com mais de 10%.

segunda-feira, maio 12

Manuela Ferreira Leite e os outros (2)

[...] esta semana houve a entrevista de Manuela Ferreira Leite a Judite de Sousa na RTP. Tudo foi bizarro no tratamento televisivo da entrevista, de tal maneira que todos se aperceberam de que havia qualquer coisa pouco habitual. Não me lembro de nenhuma [entrevista], nenhuma, que tivesse sido feita quase do princípio ao fim com um grande plano, um enorme plano do rosto de Manuela Ferreira Leite. Durante grande parte do tempo, o rosto nem cabia no ecrã, de tão próximo estava o olhar da câmara. Isto é objectivo; é só comparar as entrevistas.

Eu percebo muito bem a intenção do realizador. Não havia ruga, veia, movimento do olhar que não enchesse o ecrã, e o mais cruel dos planos escrutinava aquele rosto para lhe mostrar a fragilidade. É o mais violento dos olhares que a televisão é capaz, aquele que não permite que nada escape, que desapareça toda a reserva do corpo na sua parte mais exposta, a face. Aquele plano era todo um programa, tinha como objectivo mostrar uma mulher velha e cansada, com rugas, com o tempo na cara. Mostraria o mesmo em quase toda a gente, menos nos modelos de plástico que passam por homens e mulheres e que nasceram ontem com a pele limpa dos bebés. Mas não era toda a gente que estava ali, era Manuela Ferreira Leite. Aquele grande plano, excessivo e brutal, é todo um programa, insisto. Não há inocência.

Aquela face desprovida de qualquer defesa, exposta ao escrutínio quase incomodado dos espectadores, transmutou-se numa beleza muito especial, muito rara - a da verdade. É que debaixo daquela luz não há mentira que não se perceba, nem verdade que não se agigante.

Quando se lamenta muito a crise dos valores na nossa sociedade, aquela mulher frágil como todos nós, a quem chamam "de ferro", faz a melhor das pedagogias - a do exemplo.

Por tudo isto, agradeço aqui ao realizador da entrevista da RTP que não sei quem é. Fez a melhor das propagandas, mais rara, a mais difícil de fazer, a que não se encomenda, a que não se coreografa, a que não se imita. Fez da fragilidade uma força imensa. Não sei se chega para ganhar eleições no PSD, estou até mais convicto que chega mais facilmente para ganhar eleições no país, tão grande está o divórcio entre o partido e o país, mas estou de bem com esta maneira de ser. É o que mais faz falta.

quinta-feira, maio 8

Manuela Ferreira Leite e os outros

Pedro Passos Coelho lança uma frase e depois vê se pega. Será que ele acredita em alguma coisa? Santana Lopes já conhecemos, obrigado. Ontem Manuel Ferreira Leite lembrou-nos que ainda existem pessoas que fazem política e que têm convicções. Que até sabem do que falam. Que uma tal pessoa seja candidata à liderança do partido mais sem vergonha do nosso espectro político é uma daquelas ironias da vida que não sei explicar.

sexta-feira, abril 25

Da fragilidade das nossas ilusões

Roma continuou a ser Roma depois da queda de Roma. Quem tinha que aturar um imperador despótico passou a ter de hospedar em sua casa um dos lugares tenentes do último chefe barbaro que conquistou a cidade. Alguém tão belicoso e imprevisivel como alguns membros da família imperial, mas sem as suas boas maneiras. Fora isso nada tinha mudado, excepto que agora era mais dificil arranjar escravos. Até que um dia um desse barbaros resolveu destruir o aqueduto. Como ninguém teve a vontade e a capacidade de o reconstruir, todos os que o puderam fazer abandonaram a maior cidade da cristandade, que se transformou de um dia para o outro numa aldeia.
A nossa civilização é um pouco mais fragil do que parece. As nossas cidades e as nossas vidas estão organizadas como se o petroleo fosse um recurso inesgotavel. Algumas das medidas que têm sido tomadas para contrariar essa dependência têm efeitos colaterais que podiam ter sido antecipados. Veja-se por exemplo o caso da produção de biodiesel a partir de arroz, soja, trigo e milho, que nos trazem de volta o espectro da falta de alimentos. Pois é, há por aí muito rico que se tiver de escolher entre a sua gasolina e a comida do outro, prefere a sua gasolina. Alguém tem dúvidas sobre isso? A Constituição pode garantir tudo aquilo que nós quizermos, mas ninguém come a Constituição.
Pode-se discutir à vontade se o aquecimento global é a sério ou a brincar, mas só um louco pode usar esse debate para se tentar esquecer de que não podemos continuar a poluir o planeta impunemente.
Se queremos ter um mínimo de controle sobre o nosso futuro e o futuro dos nossos filhos não podemos deixar que as instituições democraticas continuem a degradar-se, se é que ainda funcionam. Se a democracia formal não está em risco, o que é que existe para além da ilusão da escolha? A aprovação do tratado cá na terrinha sem consulta pública e, pior que isso, sem discussão, não é perigosa por pôr em risco a soberania nacional, que há muito deixou de existir. É perigosa porque as instituições europeias não estão a ser controladas pelos europeus. A democracia é cada vez mais uma ilusão.
A crise do PSD pode dar vontade de rir, mas não tem graça nenhuma. Num sistema em que pouco mais se pode fazer do que escolher entre dois partidos e usar os outros como depositários do voto de protesto, se um entra em coma ficamos nas mãos dos dirigentes do outro.
É por isso que o 25 de Abril não é mais um feriado para comemorar uma vez por ano.

quarta-feira, abril 23

Vou a Cuba enquanto o Diabo esfrega um olho

O Dr. Pedro Nunes, bastonário da Ordem dos Médicos exprimiu ontem a sua raiva perante o facto de quatro camaras municipais portuguesas terem estabelecido protocolos com o governo cubano no sentido de enviarem a Cuba os seus municipes com cataratas e outros problemas oftalmologicos. Acusa as camaras de eleitoralismo. Até se esquece que está a tentar ser juiz em causa propria.
A globalização é um fenomeno inevitavel ao qual nos temos de resignar quando fecha uma fabrica de texteis no vale do Ave. Quando belisca os previlégios da classe dominante, já é outra história. Actualmente um americano pode ir à India fazer uma operação ao coração num hospital de luxo, com equipamentos da última geração, operado por médicos conceituados, passar a convalescença num resort cinco estrelas junto às aguas quentes do oceano Indico, fazer a viagem de ida e volta em primeira classe e mesmo assim gastar metade do dinheiro que teria de pagar só pela operação nos Estados Unidos. Por causa dos seguros contra problemas judiciais e por causa dos preços inflacionados a que a saude é vendida nos EUA. As portuguesas já descobriram que com o euro cada vez mais forte, os aviões cada vez mais baratos e os médicos cada vez mais caros, vale mesmo a pena ir passar uma férias ao Brasil e voltar de lá a fazer inveja às amigas. Com os empréstimos loucos que a banca faz(ia), nem foram só as ricas que o fizeram.
Quem necessitar de um tratamento dentário mais sério, colocar uma protese num joelho ou na anca, ou quiser fazer um check up completo, talvez valha a pena considerar a hipótese de o ir fazer à Argentina, à Costa Rica, à Malásia ou à África do Sul. O turismo médico é uma industria em explosão. Cuba atrai vinte mil turistas da saúde por ano. Não são todos enviados pela Camara Municipal de Vila Real de Santo António.
O estrangulamento das entradas nos cursos de medicina tornou o próprio governo refém da classe médica. As reformas antecipadas de medicos e/ou a sua passagem para o sector privado colocam em risco o funcionamento do serviço nacional de saude tal como o conhecemos. Não é muito bom, mas pode vir a tornar-se bem pior. Alguma coisa tem de ser feita. Quatro camaras municipais romperam o monopólio do Dr. Nunes. Que outras lhes sigam o exemplo.

quarta-feira, fevereiro 6

As guerras do copyright

Continua a greve dos argumentistas de Hollywood para receberem royalties resultantes da venda do seu trabalho através da net. E afinal as lei do copyright destinam-se a defender os interesses das grandes empresas ou a estimular e defender o trabalho intelectual? Se alguém tinha dúvidas sobre a resposta, acho que já está esclarecido.
A partir de 2006 a Suécia passou a ser o epicentro das guerras do copyrigth. A Pirate Bay poderá tornar-se brevemente no equivalente da Green Peace em questões de copyright e liberdade de expressão na net. A sua principal criação é o server do mesmo nome, destinado à partilha de ficheiros. Mantém também o um site onde podemos guardar fotos livre de censura, o BayImg. E o SlopBox, um serviço de e-mail descartável. Se lhe pedirem um endereço electronico, invente um na altura: kalkerkoisa@slopsbox.com. Quando desejar ler as respostas ao mail que inventou, basta ir ao site da Slopobox e escrever kalkerkoisa. As respostas são guardadas durante 24 horas. Privacidade e anonimato garantidos. A PB lançou recentemente The Video Bay, um server de vídeos livre de censura, ainda em fase experimental. O You Tube tem retirado vídeos apenas porque alguém fez contra eles uma vaga acusação de quebra de copyright, algumas vezes completamente ridícula. Tal não é suposto acontecer no VB.
A sede da Pirate Bay foi invadida pela polícia, que deitou o site abaixo durante três dias. O efeito principal desta acção foi a descentralização dos servidores e uma onda de apoio à Pirate Bay por grande parte da sociedade sueca. No dia 1 de Janeiro de 2006 Rickard Falkvinge lançou uma página web destinada a angariar assinaturas para a criação do Piratpartiet.

We have a lot in common with the environmental movement," he says. Where environmentalists see destruction of natural resources, the pirates see culture at risk. "(We) saw a lot of hidden costs to society in the way companies maximize their copyright.

Este partido concorreu às eleições nesse ano, tendo obtido 0,5% dos votos. A criação do partido teve várias consequências práticas imediatas: O partido ecologista mudou radicalmente de posição sobre as leis de copyright. Os partidos de esquerda mudaram de posição sobre a ilegalidade dos downloads da internet. Ambos os candidatos a primeiro ministro afirmaram que os downloads da internet feitos por jovens não deviam ser criminalizados. Entretanto o movimento pirata têm-se espalhado um pouco por todo o mundo.

segunda-feira, fevereiro 4

O efeito Nixon

Jimmy Carter foi o mais improvavel dos presidentes americanos das últimas décadas. A guerra do Vietnam e o caso Watergate tornaram este agricultor que dava aulas de catequese aos domingos no homem certo no lugar certo. As mentiras de George W e o atentado das Torres Gémeas recriam na sociedade americana a necessidade de tomar um duche que a lave da imundice. Só assim se compreende que um tipo decente como John McCain tenha praticamente assegurado a nomeação republicana. Um facto que me parece mais importante do que saber se o Obama vai ganhar à Hilary. Embora eu bem gostasse que tal acontecesse.

quinta-feira, janeiro 24

La Sapienza (2)

O caso do Papa na La Sapienza tocou, inesperadamente, nalgum nervo: de outra forma não consigo explicar-me que tantas pessoas, até umas de cujo juízo e boa fé normalmente não duvido, julgam estar perante um escândalo, um ataque vil contra a Igreja Católica e a liberdade de expressão dos crentes.

Não é estranho que também pessoas não católicas reconhecem ao Papa um tal estatuto que ele estaria, à partida, sempre bem vindo para discursar nos seus eventos. Mas a ideia de que todos têm obrigação de lhe reconhecer esse estatuto, é obviamente inadmissível e viola, ao querer impor um privilégio de um, a liberdade de expressão de outros.

Em 1990 Ratzinger citou Feyerabend para dizer que «A igreja na altura de Galileu foi muito mais fiel à razão que o próprio Galileu, e também considerou as consequências éticas e sociais da doutrina de Galileu. O seu veredicto contra Galileu foi racional e justo». Cientificamente, Galileu devia ter esperado por mais evidências antes de defender com tanto afinco o modelo de Copérnico. Cientificamente, isso justificava que o revisor do seu primeiro trabalho lhe pedisse que apresentasse mais dados. Mas não há nada de racional, científico, ou sequer minimamente aceitável em pôr o homem na prisão por causa disso. É isto que Ratzinger e os Católicos que o defendem varrem para debaixo do tapete, mas é isto que importa. A Igreja Católica tinha o direito de discordar de Galileu mas não tinha o direito de o prender por isso.
Ninguém quer fazer o mesmo ao Papa. O espírito académico de abertura e diálogo faz-me opor que ponham Ratzinger na prisão ou o torturem pelas tretas que diz. Mas é um disparate que o representante de uma religião inaugure o ano académico de uma universidade séria. A universidade não tem nada a ver com religião, não deve ter, e tinha-se poupado muito sofrimento a muita gente se nunca tivesse tido.

Já agora, leiam os posts do Luís M. Jorge sobre O Templo.

sábado, janeiro 19

La Sapienza

Da próxima vez que alguém contestar uma reunião dos G7, Bush e os seus colegas cancelam a reunião ultrajados perante o ataque à liberdade de expressão. Nunca mais ninguém vai ter a coragem de repetir a graça.

quarta-feira, dezembro 12

As lições de Chang

Ou tudo o que um cidadão bem informado deveria saber sobre economia em geral e a globalização em particular para entender o mundo em que vivemos. Um serviço público dos ladrões de bicicletas.
Indexado para nós pelo Daniel Oliveira.

Futebol e Economia

Por muito que nos custe, a maneira mais eficiente de organizar uma equipa de futebol é montar um bom sistema defensivo, um sistema de pressão alta, treinar as transições rápidas defesa-ataque, escolher dois ou três jogadores criativos que se complementem, e ser optimista. Por cada equipa que joga deliberadamente ao ataque, há duas que lhe dão a volta. O Barcelona do Cruyft levou 5-0 do Milan. A Holanda perde sempre com Portugal.
Por muito que nos custe, a médio prazo os economistas só sabem controlar a inflação e impedir a economia de aquecer demasiado, evitando as consequências nefastas do sobreaquecimento. Consequências que conhecemos várias vezes nas últimas décadas. É mais ao menos fácil estimular a economia e fazer um brilharete durante dois aos três anos. Depois vem a ressaca.
Muita gente boa anda a pedir a Sócrates que jogue mais ao ataque, com a melhor das intenções. Tenham cuidado com o que pedem, podem vir a consegui-lo.

terça-feira, dezembro 4

O medo comanda a vida?

É mais seguro ser temido do que ser amado.
Nicolau Maquiavel

Ninguém criticaria o pai Bush se este tivesse ido até Bagdad buscar a cabeça de Sadam. Ainda por cima era barato. Não o fez e explicou porquê: essa idiotice acabaria por sair cara, muito cara. Como pôde o filho convencer alguém inteligente do contrário? Pelo medo, claro.
A guerra fria permitia governar pelo medo. Durante décadas o poderio economico-militar da União Soviética foi sistematicamente sobreavaliado em termos comparáveis ao que se veio a fazer com o Iraque. O 11 de Setembro permitiu voltar a governar pelo medo.
Ao contrário de Putin, Chávez não mete medo a ninguém. Criticar Chávez é o ritual onde prestamos vassalagem ao nosso Príncipe.
O medo não é uma arma exclusiva dos senhores. Uma certa esquerda usa os problemas ambientais para conseguir através do medo aquilo que não conseguiu de outra forma. Que não sirva porém este facto para negar a existência desses problemas. A negação da realidade é tão só o medo de ter medo.

quinta-feira, novembro 29

Ebbsfleet United

Primeiro aprendemos a dar pontapés na bola. Depois começamos a organizar-nos em tribos, quero dizer: clubes. Esses clubes foram crescendo e foi o que se viu. Para mal dos nossos pecados, a democracia directa não funciona tão bem como nós gostaríamos. Alguns clubes começaram a ser controlados por demagogos, outros acabaram por ser vendidos a sociedades. Ou a tipos endinheirados com apetência por novos brinquedos. Os fãs das equipas da primeira liga inglesa deixaram há muita de ter uma palavra a dizer sobre os clubes.
O que está aqui em jogo é muito mais do que o futebol.
Entretanto surgiram jogos de computador como o Footbal Manager, cujo objectivo consiste em dirigir um clube de futebol e fazê-lo ganhar campeonatos. Dirigir não com o coração mas sim com a cabeça. Há sempre alguém pronto a descobrir um novo negócio. A empresa de internet MyFootballClub propôs-se arranjar 50.000 pessoas dispostas a pagar 50 euros por ano para ter uma palavra a dizer na gestão de um clube de futebol. Com esse dinheiro compraram o Ebbsfleet United. O ciclo fechou-se num ponto mais alto da espiral. Vamos agora ver se eles se entendem...
Para bem de nós todos, bom seria que esta experiência de democracia electrónica corresse um pouco melhor do que a anterior.

sexta-feira, novembro 23

oops!...

Quando um governo só se preocupa com a eficiência esquecendo-se de salvaguardar os direitos, acontecem estas coisas. Veremos o que nos espera.

Ao que parece as medidas de segurança iniciais foram descontinuadas para poupar umas libras...