segunda-feira, abril 27

Greg House 2

A forma obsessiva com House tenta convencer os amigos sobre a importância de conhecer o lado mau das coisas é patética. Cai num negativismo sem sentido. Leva-nos a ignorar o caminho que House nos propõe.
O facto ele torturar constantemente os ajudantes é completamente diferente. Faz todo o sentido. Eles estão ali para aprender com ele. Aquilo que ele sabe e os outros médicos não sabem. O que é que o diferencia dos outros médicos? A sua aceitação do seu lado negro. Ele tem de os pôr em contacto com os seus lados negros. Eles querem aprender com House tudo, menos aquilo que mais precisam de aprender... Ele não lhes explica este facto? Por um lado eles não o levariam a sério. Se o levassem a sério, a táctica perdia a eficácia...
Porque é que Chase e Cameron abandonaram a equipa? Porque a sua capacidade de evoluir no contacto com as suas sombras estava esgotado. Foreman, que esteve preso por roubar carros e tem mais um par de anos, está em condições de continuar a evoluir.
Mal abandonaram a equipa Chase e Cameron passaram a ser pessoas mais confiantes. Temos aqui mais uma manipulação da série. Eles não se tornaram pessoas mais confiantes por terem abandonado o House mas por terem trabalhado todo aquele tempo com ele.
Porque é que o House passou uma época inteira a escolher pessoas? Sem dúvida que introduziu um novo ritmo na série. Parece-me no entanto que há uma razão mais profunda. Os autores não se sentiram seguros de construir personagens que garantissem uma progressão credível e interessante das suas personalidades durante várias épocas. Nunca ninguém tinha experimentado algo assim e eles já tinham tido um insucesso parcial com o casalinho de médicos. Criaram várias personagens, puseram-nas a interagir com o House e no fim escolheram as que tinham mais hipoteses de continuar a evoluir interiormente.
Um problema: as necessidades comerciais da série exigem que um dos assistentes do House seja uma mulher jovem e bonita. Demasiado jovem para mergulhar suficientemente fundo no seu inconsciente, uma tarefa para a segunda metade da vida. Como resolver o problema? A doença de Huntington dá um jeitão...

13 comentários:

sara monteiro disse...

Gosto muito do House. Não tenho seguido a série com a assiduidade com que gostaria, sobretudo depois de a equipa se ter desmembrado (o que muito me entristeceu, gostava muito da doce Cameron), porque nunca sei em que raio de canal é que passa.
Mas não compreendo porque dizes que a série é reacionária. Não é uma série centrada no House? Um médico brilhante? Inteligente? Que resolve problemas onde os outros falham? Intuitivo? Que ele não fosse solitário seria de estranhar. Deveria ser igual aos outros? Ir a festas? Ter mulher e filhos? Isso daria cabo do House, e faria da série qualquer coisa muito menos interessante. Sinceramnete não compreendo esta tua análise.
Estou a pôr o comentário no post errado? Era lá em baixo?

on disse...

Sara,
aqui está muito bem, mas convém que leias o meu último comentário no post abaixo.
Eu gosto imenso do House. É uma das melhores séries de sempre. O ponto central do post é usar o conceito Jungiano de Sombra para explicar alguns pontos do enredo - e usar o House para falar da Sombra. As questões políticas são secundárias. Acontece que já não falo sobre política há muito tempo. Não fui capaz de calar uma boca que só serviu para desviar a atenção do essencial. Burrice minha.

Vamos lá discutir a "política". Lá por uma série ser reaccionária, não quer dizer que eu não goste dela. Só tenho de filtrar a parte reaccionária, ou enganadora.
Acho que a série pode ter levado um jovem inteligente e ambicioso como o Hugo a acreditar que o House está certo, mas está errado.
Acho isso terrível. Exagerei ao falar de mensagem fundamental. Deveria ter falado de mensagem subliminar. De qualquer forma, acho que essa mensagem está lá.
Desde que me aperceba dessa mensagem e a denuncie, vejo o House tão deliciado como sempre. Sem me lembrar sequer dos comentários que aqui fiz...

Um exemplo: quando estamos a ver uma série de advogados eventualmente liberal como "Boston Legal" convém não esquecer nunca que a mensagem subjacente é que o papel dos advogados nos Estados Unidos não é assim tão mau como isso. Algo em que eu não acredito. Por mais queridos que as personagens da série possam ser...

sara monteiro disse...

ver comentário em baixo.

Hugo disse...

Então e o Lost, ein? Isso é que é uma série de suspense!

Ma disse...

Porque a doença de Huntington dá um jeitão?

Di disse...

carreguei no enter sem querer

MaDi disse...

Depois de ler o teu post fiquei a pensar se de facto a construção da série nesses termos teria sido intencional.

No meio disso tudo, descobri que o Hugh Laurie é formado em antropologia. Acho que dá jeito para a personagem.

O que a Sara diz de que se tem de ser solitário para se ser genial, não tenho a certeza. Acho que por ser genial, a pessoa torna-se solitária, pois muitas pessoas não conseguem acompanhar

Quanto ao abandono do Chase e Cameron, também não estou convencida. Acho que a Cameron talvez tenha chegado ao limite. Mas o Chase poderia ter ido mais longe...

Concordo contigo em relação ao facto de ele conhecer o seu lado negro e de o aceitar. Mas também acho importante realçar que o House não conseguiria ser o House, nem de facto colocar as coisas em prática, se não houvesse a Cuddy, o Wilson, a Cameron, etc.
O que eu quero dizer é que ele não está de facto sozinho. E nunca está...Qualquer das suas intuições aparece no contacto com as outras pessoas. Ele é miserável porque lida mal com a sua sombra. Sabe que ela existe, aceita-a, mas também a "diviniza", simplesmente não quer abdicar dela...

Talvez também não tenha percebido bem o que queres dizer, on...

Há um episódio que gosto muito. De uma miúda que foi violada e que só quer ser tratada pelo House. É extremamente interessante ver uma personagem completamente racional confrontada com alguém que é
completamente emotiva. Foi a primeira vez que o House de facto se interessou por um paciente assim.

on disse...

MaDi,
a doença de Huntington dá um jeitão porque a personagem é um jovem de vinte e muitos com uma esperança de vida de dez anos, o que a obriga a confrontar com questões que só a deviam preocupar muito mais tarde.

Concordo contigo, o Chase ainda podia mudar um pouco, mas é o menos interessante dos três ajudantes iniciais, acabou por se tornar na personagem de apoio da Cameron. Se ela caía, ele tinha de cair.

"House não conseguiria ser o House, nem de facto colocar as coisas em prática, se não houvesse a Cuddy, o Wilson, a Cameron, etc."

Claro que sim, ninguém consegue viver sózinho.

"Ele é miserável porque lida mal com a sua sombra."

Sim, talvez um dia destes consiga dizer algo mais preciso sobre isso.

"tem de ser solitário para se ser genial?"

É preciso saber lidar bem com a solidão, sem isso não se consegue fazer nenhum tipo de trabalho profundo.
Pascal dizia que toda a sociedade é um divertimento para nos distrair das coisas verdadeiramente importantes e potencialmente aterradoras da vida.
é incrível como ele se apercebia disso há dois séculos! Mas quando vejo um miudo de walkman, não posso deixar de me preocupar: ele nem sequer ouve os seus próprios pensamentos! Uns anos atrás tinha vários colegas que se recusavam a usar o mail. Não eram assim tão estúpidos. Como é possível fazer algum trabalho criativo com o telemovel a tocar a toda a hora?

MaDi disse...

Darwin tinha 7 filhos (dos 10 que nasceram). Diz-se que era óptimo pai. Conseguia dividir o seu tempo entre estar sozinho e concentrado e ter um tempo para a família.

Quando eu digo que não é necessário ser solitário para se ser genial é isso que eu quero dizer.
Claro que é necessário algum isolamento e calma.

Achas efectivamente que tens que te preocupar com os jovens? Já o Sócrates (o grego) achava que a juventude estava perdida.

on disse...

Madi,
ao que me parece o Darwin passou os segundos quarenta anos da sua vida em recolhimento, com uma semi-invalidez que lhe dava muito jeito para trabalhar. Numa familia patriarcal não se chateia o pater familias:)

on disse...

Estou com muito trabalho. Sé devo ser capar de fazer o próximo post lá para o fim de semana...

António Araújo disse...

O Darwin nao deixou a decisão de casar ao primeiro impulso! Fez uma lista (muito divertida alias) dos pros e contras.

Um excerto:

Pros:

-Children (if it Please God)

—Constant companion, (& friend in old age) who will feel interested in one,

— object to be beloved & played with.—better than a dog anyhow. —

Cons:

-to have the expense & anxiety of children — perhaps quarelling — Loss of time.

— cannot read in the Evenings —

-fatness & idleness — Anxiety & responsibility

— less money for books &c — if many children forced to gain one's bread. — (But then it is very bad for ones health to work too much)


o resto esta aqui:

http://darwin-online.org.uk/content/frameset?viewtype=side&itemID=CUL-DAR210.8.2&keywords=money+books+for+less&pageseq=1

MaDi disse...

Eu sabia disso...

Mas acabou por escolher casar-se.