domingo, setembro 5

Como é que alguém consegue viver sabendo que é pedófilo?

Para um homem que vive só, até pode ser fácil. Quando se tem duas filhas, é inevitável que até se faça por esconder o facto de si próprio. Torna-se mais difícil fazê-lo quando todo o país conhece o seu segredo. É por isso que os advogados de Carlos Cruz dedicam quase tanto tempo a tentar ganhar o caso na secretaria como a tentar descredibilizar a justiça.
Os media adoram este reality show. A única maneira de manter a história viva é ir dando tempo de antena às "vítimas". Cruz afirma que tem um convite para um talk show. Não duvido que seja verdade. Clara de Sousa nunca seria capaz de atacar um colega de profissão. Quando o entrevistou, pouco mais fez do que parecer ser agressiva.
Era importante ouvir Carlos Cruz dizer uma vez mais que o facto de o seu assistente pessoal ser um pedófilo condenado e fugido á polícia foi uma simples coincidência. Pois claro que sim...
Convinha perguntar quando é que vão aparecer no blog do CC as denúncias de políticos de outros partidos que também são pedófilos. Ele ameaçou esta semana publicá-las imediatamente após a sentença, não foi? Já agora: se ele não é do meio, como é que tem essas informações?
Carlos Cruz afirma que já não paga há três anos aos advogados. O seu advogado principal anunciou no dia em que aceitou o trabalho que não ia receber um tostão, pois a acusação era demasiado ignóbil. Faz parte das regras do jogo aproveitar todas as hipóteses para obter mais uma vitimização e poupar nos impostos. Já agora, convém ser consistente.
Finalmente, Carlos Cruz vale mesmo a pena gastares todo o teu dinheiro a empatar, empatar, empatar? O O.J. Simpsom foi ilibado, não foi? Valeu a pena? É injusto seres o único português importante que não se escapou à nossa justiça de brincadeira? És suficientemente esperto para teres percebido que não havia escapatória. Tinhas outras opções. Agora já estava tudo acabado.
Quando nos encontramos numa enrascada destas, confiamos naqueles senhores tão simpáticos que nos prometem milagres. Mas esses senhores também têm interesses e uns bolsos muito grandes que nunca se sentem cheios. Serão realmente os teus maiores amigos?

16 comentários:

maria disse...

respondendo à tua pergunta...vi o Carlos Cruz na RTP na 6ª feira, do pouco que vi, pareceu-me alguém que faz tudo, absolutamente tudo, para se convencer que não é aquilo de que o acusam e pelo qual foi preso e condenado.

E o que é que nós temos a ver com isso? temos muito! muitas lições a tirar de tudo o que aconteceu. e que a fronteira entre sermos capazes de nos olharmos no espelho com um mínimo de respeito por nós próprios e o não sermos capazes de suportar o olhar, é muito, muito ténue.

O Carlos Cruz parece-me que ainda não percebeu isso. Fala do facto de ser um homem público e de ser pai de família, como se isso fosse escudo para alguma coisa.

Anónimo disse...

Todos nós temos uma opinião sobre o Carlos Cruz. A minha é que ele é culpado.

Viciado como sou no "Lie to me", reparei que na conferência de imprensa ele nunca disse que era inocente,apenas que tinha sido condenado sem provas. ;)

Hugo

Anónimo disse...

AhAh!
era só para entreter?
A chatice é que a série foi descontinuada...

on

Anónimo disse...

Vi uns quantos episódios e viciei-me completamente :)
Foi descontinuada, a sério? Ora bolas.

António Araújo disse...

Oh pá, não é que no outro dia apanharam-me em frente a uma TV precisamente no dia da sentença? Foi surreal, eu já nem me lembrava dessa história. Relembrei os benefícios de não ver televisão.

Sinceramente, a mim não me interessa nada. Assuntos de cama dos "famosos" e moralismos lusitanos aborrecem-me de morte. Tanto fascínio por essa história é natural num país tão cheio de pieguices católicas e tanta falta de jeito para o sexo. Pela minha parte não vejo porque é tão importante. Há crimes muito mais sérios para todos nós que passam impunes e ninguém se queixa. Quando arregalam os olhos é por crimezecos do futebol ou por assuntos de cama? Tenham então o que merecem.

Quanto ao Carlos Cruz, não vejo porque é que as suas preferências sexuais me deviam preocupar. No contexto de uns poucos milénios de História não é nada de anormal. Sabes do que é que o Platão, o Sócrates, e todos esses nossos doutos antepassados certamente gostavam, não sabes? Ah pois. E ainda há uns aninhos , não muitos, estariamos a ter esta histeria toda por alguém ser homosexual (era crime, ou já se esqueceram?). Que tal assim: "Deve ser dificil o Turing viver consigo próprio sabendo que é gay!"

Quanto a mim, se há coisas que não perdoo ao Carlos Cruz, são a bota botilde e o 1-2-3. Esses sim seriam crimes em qualquer época ou sociedade!

A.

Antiego disse...

O 1º anónimo disse uma coisa genial. De facto nunca vi algum dos arguidos declarar que era inocente. Muito menos mostrarem-se super-chocados por estarem a ser alvos de uma acusação desta natureza.

Haverá natureza de crime mais revoltante que a pedofilia? Como reagiriamos nós, caso fossemos acusados de pedofilia?

António Araújo disse...

ps: Tenho que acrescentar que estou (deliberadamente) muito mal informado acerca dos detalhes do caso. Mas julgo ter percebido que não estamos a falar de assaltos a berços. Isto é, julgo ter ouvido que os rapazes eram adolescentes? Se é assim (e corrige-me se não é), porque é que dizes que o CC é pedófilo? Eu sei que os jornalistas usam a palavra erradamente mas isso não é motivo para que as pessoas que foram à escola o façam também. :)

Pedofilia é uma condição muito bem definida (vamos à wikipedia? :)) e muito específica. Se os rapazes não eram pré-pubescentes, não foi um acto pedófilo, foi um acto de abuso de menores, que não terá necessariamente a ver com pedofilia mas decorre meramente da definição específica (que tem variado muito ao longo do tempo e de sítio para sítio) da idade do consentimento. E essa varia tanto aliás que nem faço ideia de qual é a idade corrente - 16? 18? As maezinhas histéricas de certas meninas gostariam que fosse 25, e as que procuram novo casamento até gostavam que fosse 50 para eliminar a concorrencia! :D vais ver que um dia quem namorar com uma miuda de 20 ainda vai ser apelidado de monstro e degenerado :)).

Há ainda a questão mais séria de se tratar de abuso de jovens à guarda do estado. Podemos discutir longamente até que ponto isso é grave (ou porque me deveria interessar a mim ou a ti mais do que tantos outros crimes que nao envolvem apresentadores de TV), mas seja como for não vejo porque motivo se trataria de pedofilia. É abuso de menores, e pronto. Não chega?

Acrescento ainda que pela definição habitual (talvez um pouco restritiva, mas é assim a vida) um pedófilo é alguém que *exclusivamente* sente atracção
por crianças pre-pubescentes. Penso que o CC terá tido relações com mulheres adultas (já que dizes que tem filhas) pelo que dificilmente será um pedófilo pela definição da palavra usada em psiquiatria. Parece-me mais provável que (se é culpado) seja meramente um gajo rico que já experimentou de tudo e quis tentar algo de novo. Oh, l'ennui de vivre...deve tornar-se aborrecido frequentar dia sim dia não aqueles bordéis de luxo recheados de top models, um pobre apresentador enfadado tem que variar :p

Em resumo, eis um assunto que a mim me interessa mais do que os crimes do CC: a histeria publica e as ofensas dos jornalistas ao bom uso da lingua (eh...da Portuguesa, bien entendu ;)).

Quanto ao facto do CC não admitir o crime (se for culpado), é fácil de perceber porquê: a "pedofilia" não é um mero crime, é a bruxaria do nosso tempo. Agora que já lhe ensinaram não pode atacar "os pretos" nem "os paneleiros", como era o seu costume, o zé povinho só tem os "pedófilos" para descarregar a sua ira boçal. É tramado, mas que raio, o povo tem sempre que ter um alvo para o seu ódio. Tu achas que não é um bom investimento para o CC manter nem que seja uma réstia de dúvida acerca da verdade? Pode ser a diferença entre ir ou não para a fogueira! O que eu acho giro é ver tantos homosexuais a juntarem-se à hate fest com o mesmo zelo e as mesmas palavras exactas com que há poucos anos atrás (e ainda hoje em alguns santos lares) usavam contra eles: "esses nojentos", "deviam ser todos castrados", etc, etc. É bom passar a ser mainstream, não é? Poder passar a fazer parte da comunidade, dar as mãos aos demais e odiar em unissono a bruxa da nossa era :). É sempre saudável.

Pá, deixem-se de tretas. Em todas as épocas é a mesma coisa, só mudam os nomes e os detalhes. Como costumam dizer os adolescentes: Don't be a hater, man! :D

António Araújo disse...

>De facto nunca vi algum dos arguidos >declarar que era inocente

Oh pá, eles são tipos sofisticados que falam em estrangeiro. Os americanos não dizem inocente, só dizem "not guilty" :)

Ou então é porque não são platónicos, são formalistas: o que é a verdade? É o que pode ser demonstrado :)

Anónimo disse...

:)
Eu logo respondo.
Até estive para não fazer o post por ser demasiado consensual. Qual é o interesse de andarmos aqui todos a dar palmadinhas nas costas um dos outros? Felizmente enganei-me.
Bem, por agora, são horas de trabalhar...

on

Anónimo disse...

Vamos lá a isto:

em geral não tenho nada contra actos consensuais entre duas pessoas. Desde que seja razoavel supor que as pessoas em questão têm maturidade quanto baste para saber o que estão a fazer. E concordo que em geral as idades de consentimento decididas pela sociedade são discutiveis.

Alguns colegas meus do Liceu precisavam de umas massas para comprar as coisas que costumavam fumar. Segundo se dizia arranjavam o dinheiro entrando nuns automoveis num sítio bem conhecido.
Tinham 14 ou 15 anos. Hoje são engenheiros ou doutores e tão funcionais ou disfucionais como qualquer outra pessoa que eu conheça.

O caso da Casa Pia é diferente. Havia todo um esquema montado para criar um supermercado. Várias crianças começavam a ser molestadas por volta dos onze anos. Crianças abandonadas pelos pais estão numa situação de fragilidade clara. Não se pode comparar com um miudo da classe média que quer ganhar mais umas massas.

Os abusadores sexuais tomavam conta de posições estratégicas a todos os níveis:
vários dos nomes referidos no processo tiveram as mais importantes posições no ministério da tutela;
um dos condenados era vice provedor;
Bibi é um antigo abusado que passou a abusador. Foi reintegrado depois de ter sido considerado culpado de actos de pedofilia.

Foram criadas as condições para que muitos miudos acabassem por "assinar contratos" de livre vontade.

on disse...

Ontem assisti a parte do Pros e Contras. Pro vítimas, não havia ninguém. Três no mínimo só falavam das verdades que podiam de alguma forma ajudar as "vítimas" condenadas. O bastonário da ordem dos advogados teve a desonestidade de comparar o tempo de antena dado à Catalina Pestana com o tempo dado ao Jorge Ritto.
O JR só não apareceu na tv porque não está interessado em dar nas vistas...

Isto chateia-me.

Sofia disse...

O que me chateia, a mim, é o seguinte:
Como é que alguém pode ter tantas certezas sem ter sequer lido o acordão?
Tantas criticas ao circo montado, mas nenhuma ao facto de estarem tantos a emitir juízos de valor com base no vazio...
É legítimo que cada um de nós tenha uma opinião sobre a culpa ou inocência dos condenados. O que já não me parece correcto, é que andem todos feitos doidos a agir como se tivessem sido vocês a recolher as provas.

Sofia disse...

Ah, e outra coisa:
Por que carga de água não esteve o Estado no banco dos réus?

Anónimo disse...

Claro que o Estado tinha de estar no banco dos réus. Parece que ninguém colocou essa acção. É normal que o Estado não tome essa iniciativa.

Sofia, não sei se já reparaste mas na maior parte dos casos que envolvem pessoas bem relacionadas, estas safam-se. O caso Braga Parques foi bem claro. Depois, há o senhor Paulo Pedroso.

"o réu é inocente até prova em contrário, esperemos pela decisão do tribunal" é um discurso que em que pouca gente ainda acredita. Embora a alguns dê jeito, às vezes.

Os réus foram considerados culpados. Deveria ser suficiente. Agora temos que ir ler o acordão para julgar a decisão do juiz?

Um dos acusados que brada aos céus que é inocente é casado com uma funcionária da minha faculdade. Adivinhem lá porque é que a senhora se divorciou dele...

As questões de cidadania interessam-me, mas nem é essa a maior motivação para o meu post.
Quando dicutimos estas historias projectamos nelas o que nos vai na alma. É um jogo intelectual/emocional (ou que lhe queiram chamar) fascinante.

Sofia disse...

Condenar sem provas é feio.
Mas pior do que isso: é perigoso.

Em alguns casos, a existir prova, ela está apenas dentro de quem acusou.
E se a prova é real, um pouco de Lisbeth fazia muito bem a muita gente...

Anónimo disse...

Quem é que condenou sem provas?