terça-feira, janeiro 24

Mariano Gago e o Ensino Superior

Os exames ad-hoc são exames nacionais que permitem a alguém com mais de vinte e cinco anos entrar na universidade sem ter de completar o décimo segundo ano. Estão longe de ser exames de sucesso. Só um em cada cinco alunos passa. O Expresso informa-nos que Mariano Gago prepara um diploma que descentraliza estes exames. O Processo de Bolonha é mais uma vez a desculpa. A experiência profissional e uma entrevista terão um papel importante na decisão de admitir ou não um candidato. Terá de haver uma fiscalização muito apertada para não corrermos o risco de admitir alunos sem habilitações, diz o presidente do Conselho dos Politécnicos.
Não tenhamos ilusões. As instituições do ensino superior são financiadas em função do numero de alunos que conseguem colectar, independentemente de qualquer outro critério. A continuidade de muitos cursos superiores está em risco. Confrontados com a opção entre a eliminação da licenciatura e aceitar alunos sem quaisquer conhecimentos, nenhuma escola terá dúvidas sobre a opção a tomar.
À tutela não interessa a qualidade do curso, o seu interesse que para o desenvolvimento do país, a percentagem de licenciados que arranjam um emprego compatível com as habilitações supostamente obtidas. Até agora exigia-se aos alunos um mínimo de conhecimentos. Agora nem isso. Se não forem bons chumbam. Quem sabe como funcionam as coisas, sabe que não é bem assim.
A década de noventa foi um período de vagas gordas. Os fundos europeus pareciam não ter fim, os jovens lutavam para conseguir um lugar numa universidade. Sabia-se muito bem como iria evoluir a piramide demografica durante a década seguinte. Não havia necessidade de muito mais instituições de ensino superior. As pressões dos autarcas e a leviandade dos políticos levaram em poucos anos à sua multiplicação obscena.
Uma universidade passou a ser um edificio com alunos interessados em obter um diploma. As instituições de ensino superior deixaram de ser entendidas como instrumento de desenvolvimento do país. Passaram a ser uma mais uma forma de satisfazer as clientelas regionais.
O abandono escolar provocado pelos erros grosseiros das políticas de "ensino" desenvolvidas no ensino secundário e a evolução demográfica levaram a que o custo per capita da formação de um aluno tenha pelo menos duplicado. A crise económica tornou esta situação insustentavel. O estado tem baixado os financiamentos do ensino superior de uma forma drástica, asfixiando grande parte das universidades. Em especial as que possuem um corpo docente mais qualificado, onde a percentagem do orçamento gasta em salários é maior.
O governo anunciou medidas duras. Entre elas a avaliação das universidades e o encerramento dos cursos com poucos alunos ou de qualidade duvidosa. A partir de agora haveria um critério de qualidade...
O diploma referido no Público deixa muitas dúvidas.
O MIT? fica para uma próxima oportunidade.

9 comentários:

/me disse...

Até hoje nunca vi nenhum governo acertar nas medidas para a Educação. No ensino secundário, sabe-se o que se passa: os professores deparam-se com alunos que não têm bases para aprender seja o que for, mas não os podem chumbar.

No ensino universitário havia ainda umas instituições de referência, que iam resistindo ao baixar da qualidade. Mas, é óbvio, com a perda de estudantes qualquer desculpa é óptima para concorrer pelo facilitismo e assim captar mais alunos.

O ensino em Portugal é uma fraude. Não há outra palavra para o descrever. Fraude.

Broken M disse...

Eu acho que o grande problema do ensino universitário vem desde o ensino primário.
O facto de todo o ensino em Portugal ser baseado na ideia de que todas as pessoas têm as mesmas capacidades intelectuais. Um ideal sobretudo comunista de que todos podem fazer o mesmo.
E não se pode. As capacidades são diferentes. E isso acaba por prejudicar a população inteira. O facto de não se distinguir escolas de elite das outras.

/me disse...

Concordo contigo, Madi, mas acrescentaria mais uma coisa.
Na presente sociedade, o mal já nem começa no deficiente ensino primário, mas sim no deficiente ou inexistente ensino pré-primário. Parece que hoje é preciso ensinar às crianças a estar sossegadas e sentadas. E aparentemente, aos 6 anos já é tarde demais.

Anónimo disse...

p/Madi: A questão das escolas de elite não pode ser posto nesses termos tão simples? O que seria uma escola de elite? Uma escola em que os alunos tivessem boas notas? Uma escola que recuperasse alunos quase marginais para uma escolaridade média?

Hugo

Anónimo disse...

Penso, agora mandando umas bocas para o ar, que o problema nem está tanto nos programas lectivos, mas mais nos professores e na evolução da sociedade. A principal ideia que me irrita é a que é terrível chumbar uma pessoa. Nesta sociedade de consumo em que tudo anda a um ritmo vertiginoso, é óbvio que os novos alunos não se consigam concentrar, e procurem sucesso imediato. Talvez por isso se ache tão terrível reter alguém por um ano? Por outro lado a fragilidade da figura do professor (também devido a umas ovelhas ranhosas no ensino) ainda piora as coisas. Isto tudo é muito bonito, mas... e medidas concretas? Bom, não tenho certezas de nada, nem tenho ainda muita experiência de vida, mas acho que se podia começar por nivelar o nível científico e pedagógico de professores. A pessoa não tem capacidades? Chumba! Onde é que está escrito que toda a gente tem de ter um curso? Etc etc etc, vou esperar comentários ao meu comentário antes de acrescentar mais qquer coisa (porra, que isto já vai longo!)
Hugo

Orlando disse...

Hugo,
uma escola de elite é uma escola onde os melhores podem desenvolver completamente as suas capacidades. Uma elite faz toda a diferença num pais. As Grandes Écoles francesas são o arquetipo das instituições universitarias de elite. E produzem resultados...

Anónimo disse...

p/on: percebi pelo que a madi disse que ela se estava a referir a escolas que demonstram ser de elite, e não a escolas criadas propositadamente para alunos de elite, e foi com base no que pensei que respondi. Quando a existirem escolas criadas com esse fim, acho também bom existirem, mas talvez só a nível universitário (penso que faz parte da aprendizagem de um jovem conviver com todo o tipo de situações/graus de inteligência). Claro que o grau de exigência em Portugal podia ser maior, mas isso é outra história...
Bom fds,

Hugo

Orlando disse...

Em França para entrar nas Grand Écoles é mais ou menos indispensavel entrar no liceu certo. Entra-se passando num exame mas daí até se poder falar numa meritocracia vai uma verta distância...

Anónimo disse...

Wonderful and informative web site. I used information from that site its great. »