segunda-feira, janeiro 9

Ariel Sharon

O General António de Spínola era um ultraconservador. Era também um homem inteligente. Quando tomou conta das operações militares na Guiné entrou-lhe pelos olhos dentro que não havia possibilidade de ganhar a guerra ou controlar a situação. A solução tinha de ser política. Marcelo Caetano também apoiaria algumas mudanças nas antigas colónias portuguesas. Os outros, os que estão por detrás, os que não tem responsabilidades, negaram-se a aceitar a evidência. Spínola tirou daí as consequências. Demitiu-se do cargo e escreveu Portugal e o Futuro, um livro que ajudou a desencadear o 25 de Abril.
Rabin e Sharon eram dois falcões em muitos aspectos bem semelhantes a Spínola. Acabaram por compreender os dois à sua própria custa que as soluções em que acreditavam não iriam funcionar. O primeiro compreendeu-o antes de chegar a primeiro-ministro. O segundo depois de já lá estar. O primeiro só foi detido à bala. O segundo parece que nem a revolta do seu próprio partido o poderia deter.
Espero que ainda exista em Israel um falcão inteligente. Para bem dos israelitas. Nunca pensei vir a escrever meia dúzia de palavras simpáticas para com Ariel Sharon. Nunca acreditei que ele pudesse vir a tornar-se um novo Rabin. Nunca digas nunca.

8 comentários:

rui disse...

a história dos finais da colonização "clássica" (o vietname francês, a argélia, o vietname americano, as nossas colónias) mostrou há de trinta anos os limites da solução "deixem os militares fazer o seu trabalho".
Isso está de novo na moda e de certo modo levou-"nos" ao Iraque.
Conflito israelo palestiniano idem. Como é evidente existem detalhes que vão variando para que no essencial fique na mesma.
Spínola sobrestimou a sua força.
Rabin foi provavelmente o mais... positivo e a perda mais irremediável (não foi por acaso que foi uma morte violenta que talvez ainda não tenha sido plenamente justificada). Sharon foi o dois em um: primeiro Kaulza de Arriaga "militar competente" que "resolve tudo", depois apanhou o tal "choque da realidade" que o levou a soluções aparentemente conciliatórias ( aquilo do passo atrás dois passos em frente).
Segue-se provavelmente o sinistro Bibi e o recomeçar da dança.
Resultado não há fim à vista e quando houver é porque se alterou a relação de forças a nível global e os israelitas pagarão isso bem caro.

Anónimo disse...

Sharon estaria a recuar um passo para avançar dois? Nem ele sabia o que faria. A situação económica em Israel é insustentavel. Já não existem assim tantos emigrantes para entrar. Se alguns começarem a sair...

rui disse...

no caso de israel, falar em "situação económica insustentável" é sempre relativo.
o conservador/liberal típico, acha uma tragédia a subsidiação de uma economia como a nossa por exemplo, ( e até terão alguma razão), mas tanto o português como o americano acham tranquilo que o governo americano estoire milhões a alimentar aquilo que quando lhes convém classificam de "milagre económico".

Anónimo disse...

Apesar dos subsídios, a situação não é famosa.

/me disse...

Também eu tive de dar o braço a torcer quanto a Sharon... Nunca imaginei!

Se não levas a mal, vou "linkar-te".

Orlando disse...

Ora essa!

Anónimo disse...

Além da situação económica, penso que pior é a demográfica com os israelitas árabes a multiplicarem-se. De aqui a 20 anos como vão ser os votos? E o Estado confessional?
Parece-me que se vão entrematar.De qq modo os vizinhos têm todo o tempo que for preciso para entrar por ali dentro...e como para eles os mortos não contam. Um novo Dien-bien-puh?

António Araújo disse...

É "Phu", penso eu...

A demografia não é um problema apenas para os Israelitas. Onde se definem fronteiras, como forma de contenção demográfica, é sempre algo de muito delicado. O que se passou no Kosovo devia servir de lição...

mas eu estou de novo quasi-anacorético, não me vou sequer meter nisto...

Why can't we all just get along?...